Problemas organizacionais da socialdemocracia russa

Rosa Luxemburgo

1904


Primeira Edição: Die Neue Zeit (Stuttgart), 22º ano 1903/04, segundo volume, I: pp. 484-492(1); II: pp. 529-535(2).

Fonte: Problemas de organización de la socialdemocracia rusa. Obras Escogidas / Vol. I, Editorial Ayuso, Madrid, 1978, pp. 108-130(3).

Transcrição: José André Lôpez Gonçâlez, Dezembro de 2020.

HTML: Fernando Araújo.

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Uma das verdades mais permanentes e veneráveis ​​é que o movimento social-democrata nos países subdesenvolvidos tem que aprender com o movimento mais antigo dos países avançados. Diante dessa opinião, sustentamos outra: que os antigos e avançados partidos social-democratas podem se beneficiar igualmente dum contato mais próximo com os partidos irmãos mais novos. Assim como o economista marxista ─ ao contrário dos economistas burgueses clássicos e, especialmente, dos economistas vulgares ─ não considera que todas as etapas económicas anteriores à ordem económica capitalista são meras formas "subdesenvolvidas" em comparação com o pico da criação, mas formações históricas e diferentes tipos de formação económica por direito próprio, da mesma forma para o político marxista, os diferentes movimentos sociais são individualidades históricas concretas para si próprios nos seus diferentes graus de desenvolvimento.

E quanto mais identificamos as mesmas características fundamentais da social-democracia em toda a diversidade das suas diferentes circunstâncias sociais, quanto mais evidentes se tornam para nós o fundamento e a cousa principal do movimento social-democrata, mais determinados superamos todas as limitações provinciais do nosso ponto de vista. Não é à toa que o tom internacional vibra com tanta força no marxismo revolucionário e não é ao acaso que um particularismo nacionalista sempre se faz ouvir na concepção oportunista. Este artigo, escrito a pedido do "Iskra"(4), o órgão do Partido Social-Democrata Russo, também pode interessar ao público alemão.

I

A social-democracia russa tem a sorte de ter uma tarefa sem precedentes na história do movimento socialista mundial. É a tarefa de decidir qual é a melhor tática socialista num país ainda dominado pola monarquia absoluta. É um erro traçar um paralelo rígido entre a situação russa atual e a que existia na Alemanha em 1878-1890, quando as leis anti-socialistas de Bismarck estavam em vigor(5). Ambos têm um elemento em comum: a polícia. Fora disso, não têm nenhum ponto de comparação. Os obstáculos que a ausência de liberdades democráticas colocam no movimento socialista são de importância relativamente secundária. Na própria Rússia, o movimento popular conseguiu superar os obstáculos impostos polo Estado. O povo fez da desordem das ruas uma "constituição" (bastante precária, aliás). Se continuar neste curso, o povo russo, com o tempo, triunfará sobre a autocracia. A dificuldade mais importante que se coloca à militância socialista é a consequência do facto de que naquele país o domínio da burguesia está protegido por trás da força absolutista. Isso dá à propaganda socialista um caráter abstracto, enquanto a agitação política imediata assume uma aparência democrática revolucionária. As leis anti-socialistas retiraram o nosso movimento da estrutura das garantias constitucionais numa sociedade burguesa altamente desenvolvida, onde os antagonismos de classe já haviam florescido no debate parlamentar. (Aqui reside, aliás, o absurdo do projeto de Bismarck). A situação é muito diferente na Rússia. O problema aqui é como criar um movimento social-democrata numa época em que a burguesia ainda não controla o Estado.

Esta circunstância influenciou o agitamento no modo de transplantar a doutrina socialista para o solo russo. Também afeta peculiar e diretamente ao problema de organização partidária. Em circunstâncias normais ─ isto é, quando o domínio da burguesia precede a ascensão do movimento socialista ─ a própria burguesia infunde a classe trabalhadora com rudimentos de solidariedade política. Nesta fase, afirma o Manifesto Comunista, a unificação dos trabalhadores não é o resultado das suas aspirações, mas o resultado da própria atividade da burguesia, “que, para atingir os seus fins políticos, é obrigada a colocar o proletariado em movimento..."(6)Na Rússia, a social-democracia terá que suprir essa deficiência com os seus próprios esforços durante todo um período histórico. Deve conduzir os proletários russos da sua actual situação “atomizada”, que prolonga a vida do regime autocrático, a uma organização de classe que os ajude a tomar consciência dos seus objetivos históricos e a prepará-los para luitar por esses objetivos históricos. Os socialistas russos são forçados a assumir a tarefa de construir tal organização sem contar com as garantias que normalmente existem numa estrutura democrática formal. Eles não têm a matéria-prima política que a própria burguesia fornece noutros países. Como o Deus Todo-Poderoso, devem criar esta organização do nada, por assim dizer. Como efectuar a transição do tipo de organização característica das etapas preparatórias do movimento socialista ─ via de regra, grupos e clubes locais sem vínculos entre si ─ para a unidade duma grande organização nacional, adequada à ação política concertada no vasto território dominado polo Estado russo? Esse é o problema específico que a social-democracia russa vem estudando há algum tempo.

A autonomia e o isolamento são as características mais notáveis ​​da velha forma de organização. Entende-se, portanto, que o slogan de quem deseja uma ampla organização nacional seja: "Centralismo!" O centralismo é o eixo da campanha que o grupo “Iskra” desenvolve há três anos. O resultado dessa campanha foi o congresso de agosto de 1903, denominado Segundo Congresso da Socialdemocracia Russa, mas que foi, na realidade, a sua assembleia constituinte(7). No congresso do partido, ficou claro que o termo "centralismo" não resolve completamente o problema organizacional da social-democracia russa. Mais uma vez, aprendemos que nenhuma fórmula rígida pode ser uma solução para qualquer cousa no movimento socialista.

Um passo em frente, dous passos atrás de Lenine, o grande representante do grupo “Iskra”, é uma exposição metódica das ideias da tendência ultracentralista do movimento russo. O ponto de vista que este livro apresenta com incomparável vigor e rigor lógico é o do centralismo implacável. A necessidade de selecionar e organizar todos os revolucionários activos, distinguindo-os da massa desorganizada, embora revolucionária, que rodeia essa elite é elevada à altura dum princípio(8). A tese de Lenine é que o Comitê Central do partido deve ter o privilégio de eleger todos os corpos de liderança locais. Deve também ter o direito de eleger os executivos de tais órgãos, de Genebra a Lieja, de Tomsk a Irkutsk(9), e de impor todas as suas regras de conduta partidária. Deve ter o direito de decidir, sem apelação, questões como a dissolução e reconstituição de organizações locais. Desta forma, o Comitê Central poderia decidir à vontade a composição dos organismos mais importantes e do próprio Congresso. O Comitê Central seria o único órgão pensante do partido. Os outros seriam os seus braços de executor(10).

Lenine argumenta que a combinação do movimento socialista de massas com uma organização tão rigidamente centralizada constitui um princípio científico do marxismo revolucionário. Em apoio a esta tese, apresenta uma série de argumentos que consideraremos agora. De modo geral, é inegável que uma forte tendência à centralização é inerente ao movimento social-democrata. Essa tendência surge da estrutura económica do capitalismo, que geralmente constitui um factor centralizador. O movimento social-democrata desenvolve a sua actividade na grande cidade burguesa. A sua missão consiste em representar, dentro das fronteiras do Estado nacional, os interesses de classe do proletariado e contrapô-los a todos os interesses locais ou setoriais. Portanto, a social-democracia é geralmente hostil a qualquer manifestação de localismo ou federalismo. Busca unificar todos os trabalhadores e organizações de trabalhadores num único partido, acima das suas diferenças nacionais, religiosas ou laborais. A social-democracia abandona este princípio em favor do federalismo apenas em circunstâncias excepcionais, como no caso do Império Austro-Húngaro(11).

É claro que a social-democracia russa não deve se organizar como um conglomerado federativo de muitos grupos nacionais. Deve se tornar um partido único para todo o império. Mas não é isso que está em questão aqui. O que estamos considerando é o grau de centralização necessário dentro do partido russo unificado para lidar com a situação peculiar sob a qual deve funcionar(12).

Considerando-o do ponto de vista das tarefas formais da social-democracia no seu carácter de partido para a luita de classes, parece à primeira vista que o poder e a energia do partido dependem diretamente da possibilidade de centralizá-lo. No entanto, essas tarefas formais são válidas para todos os partidos militantes. No caso da social-democracia, são menos importantes do que a influência das circunstâncias históricas.

A social-democracia é o primeiro movimento na história das sociedades de classes que depende, em todos os momentos e para toda a sua actividade, da organização e mobilização directa e independente das massas. Em virtude disso, a social-democracia cria um tipo de organização completamente diferente daquelas comuns aos movimentos revolucionários anteriores, como a dos jacobinos ou dos partidários de Blanqui(13).

Lenine parece menosprezar este facto quando afirma no seu livro (p. 140) que o revolucionário social-democrata nada mais é do que "um jacobino indissoluvelmente ligado à organização do proletariado que se tornou consciente dos seus interesses de classe"(14). Para Lenine , a diferença entre a social-democracia e o blanquismo se resume ao comentário de que, em vez dum punhado de conspiradores, temos um proletariado com consciência de classe. Esquece que esta concepção envolve uma revisão total das nossas ideias sobre organização e, portanto, uma concepção completamente diferente do centralismo e das relações que prevalecem entre o partido e a própria luita.

O blanquismo(15)não contava com a acção direta da classe trabalhadora. Portanto, não precisava organizar o povo para a revolução. Esperava-se que o povo cumprisse o seu papel apenas no momento da revolução. A preparação da revolução preocupou apenas um pequeno grupo de revolucionários que se armaram para realizar o golpe. Além disso, para garantir o sucesso da conspiração revolucionária, considerou-se que a cousa mais sábia a fazer era manter as massas um tanto afastadas dos conspiradores. Os blanquistas podiam ter essa concepção porque não havia um contacto próximo entre a actividade conspiratória da sua organização e as luitas diárias das massas populares.

As tarefas e tácticas específicas dos blanquistas tinham pouco a ver com a luita de classes mais elementar. Eles os improvisaram livremente. Por isso os resolveram a priori e lhes deram a forma dum plano já preparado. A consequência foi que os militantes da organização se tornaram simples executores de armas, que cumpriam as ordens previamente estabelecidas fora do âmbito da sua actividade. Tornaram-se instrumentos do Comitê Central. Aqui está a segunda peculiaridade do centralismo conspiratório: a submissão cega e absoluta da base do partido à vontade do centro, e a extensão dessa autoridade a todos os sectores da organização.

Mas a actividade social-democrata ocorre em condições totalmente diferentes. Surge historicamente da luita de classes mais elementar. Espalha-se e desenvolve-se sob a seguinte contradição dialéctica: o contingente proletário é recrutado e se torna consciente dos seus objectivos no decorrer da luita. A actividade da organização partidária e a crescente consciência dos trabalhadores sobre os objectivos da luita e sobre a luita em si não são elementos distintos, mecanicamente e cronologicamente separados. São diferentes aspectos do mesmo processo. Excepto polos princípios gerais da luita, para a social-democracia não existe um conjunto detalhado de tácticas que o Comitê Central ensine ao partido da mesma forma que as tropas recebem a sua preparação no campo de treinamento. Além disso, a influência da social-democracia oscila constantemente com os altos e baixos da luita durante a qual o partido é criado e desenvolvido.

Por isso, o centralismo social-democrata não pode se basear na subordinação mecânica e na obediência cega dos militantes à direção. Por isso, o movimento social-democrata não pode permitir que se construa um muro hermético entre o núcleo consciente do proletariado que já está no partido e o seu meio popular, os sectores do proletariado sem partido.

Ora, o centralismo de Lenine repousa precisamente nestes dous princípios: 1) Subordinação cega, até o último detalhe, de todas as organizações ao centro, que é o único que decide, pensa e orienta. 2) Separação rigorosa do núcleo revolucionário organizado do seu ambiente social revolucionário. Este centralismo é uma transposição mecânica dos princípios organizadores do blanquismo para o movimento de massa da classe trabalhadora socialista. É deste ponto de vista que Lenine define o “social-democrata revolucionário” como “um jacobino unido à organização do proletariado que se tornou consciente dos seus interesses de classe”. Mas é um facto que a social-democracia não está unida ao proletariado. É o proletariado. E é por isso que o centralismo social-democrata é diferente do centralismo blanquista. Só pode ser a vontade concentrada de indivíduos e grupos que representam os sectores mais conscientes, activos e avançados da classe trabalhadora. É, por assim dizer, o "autocentrismo" dos setores mais avançados do proletariado. É a predominância da maioria dentro do próprio partido.

As condições indispensáveis ​​para a implantação do centralismo social-democrata são: 1) a existência dum grande contingente de trabalhadores formados na luita política, 2) a possibilidade de os obreiros desenvolverem a sua actividade política por meio de influência directa na vida pública, na imprensa partidária, nos congressos públicos, etc.

Essas condição não são fornecidas na Rússia. O primeiro ─ uma vanguarda proletaria, consciente dos seus interesses de classe, capaz de se autodirigir na luita política ─ está surgindo na Rússia. Toda agitação e organização socialista deve ter como objectivo apressar a formação dessa vanguarda. A segunda condição só pode existir num regime de liberdades políticas. Lenine discorda violentamente dessas conclusões. Está convencido de que as condições para a criação dum partido poderoso e centralizado já existem na Rússia(16). Declara que “não são mais os proletários, mas alguns intelectuais que precisam se educar em questões de organização e disciplina” (p. 145). Exalta a influência da fábrica, que, segundo ele, acostuma o proletariado à "disciplina e organização" (p. 147). Com isso, Lenine parece demonstrar mais uma vez que a sua concepção da organização socialista é bastante mecanicista. A disciplina que Lenine vislumbra já está sendo aplicada, não só na fábrica, mas também polo militarismo e pola burocracia estatal existente: por todo o mecanismo do Estado burguês centralizado. Usamos palavras erradas e nos enganamos quando aplicamos o mesmo termo ─ disciplina ─ a noções tão diferentes quanto a ausência de pensamento e vontade num corpo com mil mãos e pés que se movem automaticamente, e a coordenação espontânea de actos políticos conscientes dum grupo de homens. O que têm em comum a docilidade regulada duma classe oprimida e a autodisciplina e organização duma classe que luita pola sua emancipação? A autodisciplina da social-democracia não é a simples substituição da autoridade da burguesia dominante pola autoridade dum Comitê Central socialista. A classe trabalhadora conhecerá a nova disciplina, a autodisciplina livre da social-democracia, não como resultado da disciplina que lhe é imposta polo estado capitalista, mas pola erradicação dos velhos hábitos de obediência e servilismo.

O centralismo socialista não é um factor absoluto aplicável a qualquer estágio do movimento operário. É uma tendência que se concretiza na proporção do desenvolvimento e da formação política adquirida pola classe trabalhadora no decorrer da sua luita. Nem é preciso dizer que a ausência das condições necessárias para a plena realização desse tipo de centralismo no movimento russo constitui um enorme obstáculo. É um erro acreditar que é possível substituir "temporariamente" o poder absoluto dum Comitê Central (que actua dalguma forma por "eleição tácita") pola direção ainda inviável da maioria dos trabalhadores conscientes do partido e, assim, substituir o controle aberto das massas trabalhadoras sobre os organismos do partido polo do Comitê Central sobre o proletariado revolucionário.

A história do movimento russo aponta-nos para o valor duvidoso de tal centralismo. Um centro todo-poderoso investido, como quer Lenine, com o direito ilimitado de controlar e intervir, seria um absurdo se sua autoridade se limitasse a problemas técnicos como a administração das finanças, a distribuição de tarefas entre propagandistas e agitadores, transporte e divulgação da literatura. O objectivo político dum organismo com tão enormes poderes só é compreendido se esses poderes forem aplicados na elaboração dum plano uniforme de acção, se o centro revolucionário tomar a iniciativa duma grande atividade revolucionária. Mas qual tem sido a experiência do movimento obreiro russo até agora? A mudança mais importante e frutífera resultante da sua táctica política durante os últimos dez anos não foi o surgimento de grandes líderes, muito menos de grandes órgãos organizacionais. Isso sempre apareceu como uma consequência espontânea da fermentação do movimento(17). Foi o que aconteceu na primeira fase do movimento proletário na Rússia, que começou com a greve geral espontânea em São Petersburgo em 1896(18), evento que marca o início duma era de luitas económicas do povo russo. O mesmo aconteceu no período seguinte, iniciado polas manifestações de rua espontâneas dos estudantes de Petersburgo em março de 1901. A greve geral em Rostov em 1903(19), que deu início à próxima grande virada táctica do movimento proletário russo, foi também um acto espontâneo. A greve "por si só" levou a manifestações políticas, agitação nas ruas, grandes comícios ao ar livre, cousas com que o revolucionário mais optimista não teria sonhado alguns anos antes. A nossa causa avançou muito durante esses acontecimentos. No entanto, a iniciativa e a liderança consciente da social-democracia desempenharam um papel insignificante. É verdade que as organizações não estavam preparadas para eventos dessa magnitude. Não obstante, este facto não explica o papel menor dos revolucionários. Nem pode ser atribuído à ausência do aparelho central todo-poderoso do partido que Lenine exige. A existência de tal centro provavelmente teria aumentado a desorganização dos comitês locais ao acentuar a diferença entre o avanço ávido das massas e a linha prudente da social-democracia. O mesmo fenómeno ─ o papel insignificante desempenhado polos órgãos centrais do partido na formação da linha táctica ─ é observado hoje na Alemanha e noutros países. Em geral, não se pode "inventar" a táctica da social-democracia. É o produto duma série de grandes actos criadores duma luita de classes frequentemente espontânea em busca dum caminho a seguir. O inconsciente precede o consciente. A lógica do processo histórico precede a lógica subjetiva dos seres humanos que participam do processo histórico. Há uma tendência dos organismos que lideram o partido socialista desempenharem um papel conservador. A experiência mostra que cada vez que o movimento operário ganha espaço, esses organismos o mantêm até o último momento. Transformam-no ao mesmo tempo, numa espécie de bastião que impede ainda mais o avanço. A táctica actual da social-democracia alemã ganhou aprovação universal porque é tão flexível quanto firme. Este é um índice da adaptação do partido ao último pormenor da sua actividade quotidiana, ao regime parlamentar. O partido estudou metodicamente todos os recursos que esta área oferece. Sabe como usá-los sem modificar os seus princípios. No entanto, o aperfeiçoamento dessa adaptação fecha perspectivas para o partido. Há uma tendência nele para considerar que a táctica parlamentar é imutável e específica da actividade socialista. Recusa-se, por exemplo, a levar em consideração a possibilidade (levantada por Parvus(20)) de mudar a nossa táctica caso o sufrágio universal seja abolido na Alemanha, uma eventualidade que os líderes da social-democracia alemã não consideram inteiramente improvável. Essa inércia debe-se em grande parte ao facto de ser muito incômodo definir, no vácuo de hipóteses abstratas, as diretrizes e formas de situações políticas que ainda não existem. Obviamente, o que importa para a social-democracia não é a elaboração dum corpo de diretrizes já preparado para a política futura. É importante: 1) fazer uma avaliação histórica correcta das formas de luita que correspondem à situação dada, e 2) compreender a relatividade da etapa actual e o inevitável aumento da tensão revolucionária à medida que o objectivo final dessa luita se aproxima.

Se concedermos, como quer Lenine, poderes absolutos de carácter negativo ao órgão máximo do partido, fortalecemos perigosamente o conservadorismo inerente a esse organismo. Se a táctica do partido socialista não deve ser criada por um Comitê Central, mas por todo o partido, ou melhor, por todo o movimento operário, é claro que as secções e federações do partido precisam de liberdade de acção que lhes permita desenvolver a sua iniciativa revolucionária e usar todos os recursos que a situação oferece. O ultracentralismo que Lenine pede está repleto do espírito estéril do capataz, não dum espírito positivo e criativo. Lenine está mais preocupado em controlar o partido do que em tornar a sua actividade mais frutífera; estreitar o movimento em vez de desenvolvê-lo, amarrá-lo em vez de unificá-lo.

Na situação atual, tal experimento seria duplamente perigoso para a social-democracia russa. Estamos às vésperas de batalhas decisivas contra o czarismo. Está prestes a entrar ou entrou num período de intensa atividade criativa, durante o qual expandirá (como sempre acontece em situações revolucionárias) a sua esfera de influência e crescerá espontaneamente aos trancos e barrancos. Tentar deter a iniciativa do partido neste momento, rodeá-lo de arame farpado, é incapacitá-lo para o cumprimento das grandes tarefas do momento.

As ideias gerais que apresentamos sobre o problema do centralismo socialista não são suficientes para elaborar um projecto de estatuto do partido russo. Em última análise, um regulamento desse tipo só pode ser determinado polas circunstâncias em que a atividade do partido se desenvolve num determinado estágio. Na Rússia, trata-se de iniciar uma grande organização proletária. Nenhum projecto de estatuto pode ser considerado infalível. Tem que passar polo teste de fogo. Mas, da nossa concepção geral da natureza da organização social-democrata, acreditamos que se justifica deduzir que seu espírito exige ─ especialmente no início da formação do partido de massas ─ a coordenação e unificação do movimento e não a sua subordinação rígida a um regulamento. Se o partido possui o dom da flexibilidade política, complementada pola absoluta fidelidade aos princípios e pola preocupação com a unidade, podemos estar certos de que qualquer defeito do estatuto do partido será corrigido na práctica. Para nós, não é a letra, mas o espírito vivo que os militantes trazem para a organização que decide o valor desta ou daquela forma de organização.

II

Até agora examinamos o problema do centralismo do ponto de vista dos princípios gerais da social-democracia e, em certa medida, à luz das condições particulares da Rússia. No entanto, o ultracentralismo militar proclamado por Lenine e os seus apoiadores não é produto de opiniões diferentes. Diz-se que está relacionado com uma campanha contra o oportunismo que Lenine preparou até o último detalhe organizacional.

É importante ─ diz Lenineforjar uma arma mais ou menos eficaz contra o oportunismo”. (Ibid., p. 52). Acredita que o oportunismo surge da tendência característica dos intelectuais à descentralização e à desorganização, da sua animosidade em relação à disciplina rígida e à "burocracia" que é, em todo caso, necessária para o bem desempenho do partido.

Lenine diz que os intelectuais permanecem individualistas e tendem à anarquia mesmo depois de terem aderido ao movimento socialista. Segundo ele, só os intelectuais têm repulsa pola ideia da autoridade absoluta dum Comitê Central. O proletário autêntico, sugere Lenine, em virtude do seu instinto de classe encontra um certo prazer voluptuoso em abandonar-se às garras duma liderança firme e disciplina implacável. "Opor a burocracia à democracia", disse Lênin, "é se opor ao princípio organizador da social-democracia revolucionária com métodos organizacionais oportunistas". (Ibid., p. 151.) Ele declara que existe um conflito semelhante entre as tendências centralistas e autonomistas em todos os países onde o reformismo e o socialismo revolucionário se encontram frente a frente. Nota particularmente a recente controvérsia na social-democracia alemã sobre o problema do grau de liberdade de acção que o partido pode permitir aos representantes socialistas nas assembleias legislativas(21).

Vejamos os paralelos que Lenine traça. Em primeiro lugar, deve-se notar que elogiar o suposto génio dos proletários em questões de organização socialista e a desconfiança geral dos intelectuais como tais não é um índice duma mentalidade "marxista revolucionária". É muito fácil mostrar que tais argumentos são oportunistas. As tendências que apresentam o antagonismo entre os elementos proletários e não proletários do movimento operário como um problema ideológico são o semianarquismo dos sindicalistas franceses, cujo lema é “Cuidado com os políticos!(22)”; Sindicalismo inglês, que desconfia de "socialistas visionários"; e, se os nossos relatos estiverem corretos, o "puro economicismo", representado até recentemente na social-democracia russa polo Rabochaia Misl (Pensamento Operário)(23), publicado clandestinamente em São Petersburgo.

Na maioria dos partidos socialistas da Europa Ocidental, há indubitavelmente uma relação entre o oportunismo e os "intelectuais", bem como entre os intelectuais e as tendências descentralizadoras do movimento operário. Mas nada é mais estranho ao método histórico dialético do pensamento marxista do que separar os fenómenos sociais da sua estrutura histórica e apresentar esses fenómenos como fórmulas abstractas que podem ser aplicadas de forma absoluta e geral.

Raciocinando de forma abstrata, poderíamos dizer que o "intelectual", elemento social oriundo da burguesia e portanto alheio ao proletariado, não entra no movimento socialista por impulso das suas tendências de classe, mas antes por oposição a elas. É por isso que tem uma tendência maior do que o trabalhador para cair em aberrações oportunistas. O obreiro, dizemos, pode encontrar um verdadeiro apoio revolucionário nos seus interesses de classe, desde que não abandone o seu meio ambiente, ou seja, a massa trabalhadora. Mas a forma concreta que assume a tendência ao oportunismo do intelectual e, sobretudo, a forma como essa inclinação se expressa no campo organizacional são questões que dependem sempre do meio social em que se insere.

O parlamentarismo burguês é a base social dos fenómenos observados por Lenine nos movimentos socialistas alemães, franceses e italianos. Este parlamentarismo é o terreno fértil para todas as tendências oportunistas que existem na social-democracia ocidental.

O tipo de parlamentarismo que temos agora na França, Itália e Alemanha fornece a base para as ilusões do oportunismo de hoje, como a supervalorização das reformas sociais, colaboração de classe e partidária, crença numa evolução pacífica em direção ao socialismo e assim por diante. Isso ocorre colocando os intelectuais, como parlamentares, acima do proletariado e separando-os do proletariado dentro do próprio partido socialista. Com o crescimento do movimento operário, o parlamentarismo se torna um trampolim para os oportunistas políticos. É por isso que tantos fracassados ​​com ambições da burguesia correm para se proteger sob a bandeira dos partidos socialistas. Outra fonte do oportunismo contemporâneo são os grandes meios materiais de que dispõe a social-democracia e a influência das grandes organizações social-democratas.

O partido é o baluarte que defende o movimento de classe dos desvios parlamentares burgueses. Para ter sucesso, essas tendências devem destruir o baluarte. Devem dissolver o setor activo, consciente do proletariado na massa amorfa do "eleitorado". É assim que as tendências "autonomistas" e descentralizadoras emergem nos nossos partidos social-democratas. Vemos que essas tendências servem a fins políticos definidos. Não podem ser explicados, como gostaria Lenine, com referências à psicologia do intelectual, à sua suposta instabilidade inata de carácter. Só se explicam a partir das necessidades do político parlamentar burguês, isto é, pola política oportunista.

A situação é diferente na Rússia czarista. De modo geral, o oportunismo no movimento operário russo não é um subproduto da força social-democrata ou da descomposição da burguesia. É o produto do atraso político da sociedade russa.

O meio de onde vêm os intelectuais russos que ingressam no socialismo é muito mais desclassificado e menos burguês do que na Europa Ocidental. Somada à imaturidade do movimento operário russo, esta circunstância contribui para o desrespeito teórico, desde a negação total do aspecto político do movimento operário à crença total na eficácia de actos terroristas isolados ou na mais completa indiferença política, no pântano do liberalismo e idealismo kantiano(24).

No entanto, é difícil atrair o intelectual que faz parte do movimento social-democrata russo para a desorganização. É algo que vai contra a posição geral do ambiente em que o intelectual russo opera. Não há parlamento burguês na Rússia que favoreça essa tendência. O intelectual ocidental que agora pratica o "culto do ego" e dá às suas aspirações socialistas um tom aristocrático não representa a intelectualidade burguesa "em geral". Representa uma fase de desenvolvimento social. É o produto da decadência burguesa. Por outro lado, os sonhos utópicos ou oportunistas do intelectual russo que aderiu ao movimento socialista tendem a se nutrir de fórmulas teóricas nas quais o ego não é exaltado, mas humilhado, nas quais a moralidade da renúncia e do castigo constitui o princípio orientador. Os narodniki (populistas)(25)de 1875 convocaram a intelligentsia russa a se dissolver na massa camponesa. Os ultracivilizados partidários de Tolstoi falam em assumir a vida de "pessoas simples". Os partidários do "economismo puro" na social-democracia russa querem que nos curvemos às "mãos calejadas" do trabalhador.

Se, em vez de aplicar mecanicamente na Rússia as fórmulas desenvolvidas na Europa Ocidental, abordarmos o problema organizacional desde a perspectiva da situação russa, chegaremos a conclusões diametralmente opostas às de Lenine. Atribuir ao oportunismo uma preferência invariável por um determinado tipo de organização, a descentralização, não é compreender a sua essência. Quanto ao problema organizacional, ou qualquer outro problema, o oportunismo conhece apenas um princípio: a ausência de princípios. O oportunismo escolhe os seus métodos a fim de se adequar a determinadas circunstâncias, desde que esses meios pareçam levar aos fins pretendidos. Se definirmos oportunismo, com Lenine, como aquela tendência que paralisa o movimento revolucionário independente e o transforma num instrumento de intelectuais burgueses ambiciosos, devemos reconhecer também que na fase inicial dum movimento operário o que facilita a sua influência é a centralização mais rigorosa do que a descentralização. A extrema centralização coloca o movimento proletário jovem e sem educação nas mãos dos intelectuais que constituem o Comitê Central. Na Alemanha, no alvorecer do movimento social-democrata e antes do surgimento dum núcleo sólido de proletários conscientes e duma linha tática baseada na experiência, houve um confronto polêmico entre os partidários dos diferentes tipos de organização. A Associação Geral dos Trabalhadores Alemães, fundada por Lassalle(26), era a favor da centralização extrema. O princípio autonomista foi defendido polo partido que havia se organizado no Congresso de Eisenach, com a colaboração de Wilhelm Liebknecht e Auguste Bebel. A tática dos "Eisenacheanos"(27) era bastante confusa. No entanto, sua contribuição para o despertar da consciência de classe das massas alemãs foi muito maior do que a dos Lassallianos. Desde o início os operários tiveram um papel preponderante naquele partido (como comprovam as numerosas publicações operárias que surgiram nas províncias) e a influência do movimento se espalhou rapidamente. Ao mesmo tempo, os Lassallianos, apesar de todos os seus experimentos com os "ditadores", levaram os seus seguidores de desventura em desventura.

Em geral, o centralismo rigoroso e despótico tem as preferências dos intelectuais oportunistas no estágio em que os elementos revolucionários da classe trabalhadora carecem de coesão e o movimento avança por tentativa e erro, como é o caso agora na Rússia. Numa fase posterior, sob o regime parlamentar e em relação a um forte partido operário, as tendências oportunistas dos intelectuais manifestam-se a favor da "descentralização". Se aceitarmos o ponto de vista que Lenine considera seu e temermos a influência dos intelectuais no movimento, não podemos conceber um perigo maior para o partido russo do que o plano organizacional de Lenine. Nada contribuirá mais para a subjugação dum jovem movimento operário a uma elite intelectual faminta de poder do que esta camisa de força burocrática, que vai imobilizar o partido e transformá-lo num autômato manipulado por um Comitê Central. Por outro lado, não pode haver garantia mais eficaz contra a intriga oportunista e a ambição pessoal do que a acção revolucionária independente do proletariado, cujo resultado é que os trabalhadores adquirem um senso de responsabilidade política e autoconfiança.

O que hoje é um fantasma que assombra a imaginação de Lenine pode se tornar realidade amanhã.

Não esqueçamos que a revolução que está prestes a eclodir na Rússia será burguesa e não proletária. Isso perturba todas as circunstâncias da luita social. Também os intelectuais russos estarão imbuídos de ideologia burguesa. A social-democracia é actualmente o único guia do proletariado russo. Mas no dia seguinte à revolução veremos a burguesia, especialmente os intelectuais burgueses, tentando usar as massas como uma ponte para a sua dominação. O jogo dos demagogos burgueses será facilitado se, na fase actual, a acção espontânea, a iniciativa e o sentido político do proletariado forem prejudicados no seu desenvolvimento e restringidos polo protecionismo dum Comitê Central autoritário(28). Mais importante ainda é a falsidade fundamental da ideia por trás do plano de centralismo irrestrito: a ideia de que o caminho para o oportunismo pode ser fechado por artigos dum estatuto do partido.

Chocados com os acontecimentos ocorridos recentemente nos partidos socialistas da França, Itália e Alemanha, os social-democratas russos tendem a considerar o oportunismo como um elemento estrangeiro importado para o movimento operário polos representantes da democracia burguesa. Nesse caso, nenhuma sanção prevista no estatuto do partido poderia impedir essa invasão. A influência dos elementos não proletários no partido do proletariado é o resultado de profundas causas sociais, como o colapso económico da pequena burguesia, a falência do liberalismo burguês e a degeneração da democracia burguesa. É ingénuo esperar barrar essa corrente com uma fórmula escrita no estatuto do partido.

Um regulamento pode governar a vida duma pequena seita ou dum círculo privado. Uma corrente histórica, por outro lado, cruzará as redes do parágrafo estatutário. Além disso, não é verdade que rejeitar os elementos que a decomposição da sociedade burguesa leva ao movimento socialista significa defender os interesses da classe trabalhadora. A social-democracia sempre afirmou que representa não apenas os interesses de classe do proletariado, mas também as aspirações progressistas da sociedade como um todo. Representa os interesses de todos aqueles que sofrem a opressão do domínio burguês. Isso não deve ser entendido simplesmente no sentido de que todos esses interesses estão idealmente reflectidos no programa socialista. A evolução da história traduz essa afirmação em realidade. Como partido político, a Social-democracia torna-se um refúgio para todos os elementos descontentes da nossa sociedade e do povo como um todo, em oposição à pequena minoria dos senhores capitalistas. Mas os socialistas devem saber subordinar a angústia, o ressentimento e a esperança desse conglomerado heterogéneo ao objetivo supremo da classe trabalhadora. A social-democracia deve enquadrar a multidão de irados não proletários dentro dos limites da acção revolucionária do proletariado. Deve assimilar os elementos que o rodeiam. Isso só é possível se a socialdemocracia tiver um núcleo proletário forte e politicamente culto, com consciência de classe suficiente para poder, como na Alemanha, arrastar para fora os elementos desclassificados e pequeno-burgueses que aderem ao partido. Nesse caso, a maior rigidez na aplicação do princípio da centralização e a disciplina mais severa expressamente formulada nos estatutos do partido podem constituir uma barreira eficaz contra o perigo oportunista. Foi assim que o socialismo francês se defendeu da confusão jauresista (29). Emendar o estatuto da social-democracia alemã seria uma medida muito oportuna. Mas, mesmo nesta área, não devemos pensar que o estatuto do partido é uma arma que, de alguma forma, é suficiente por si só. Na melhor das hipóteses, pode ser um método de coerção para impor a vontade da maioria proletária no partido. Se essa maioria não existir, as sanções mais drásticas serão suficientes. No entanto, a influência dos elementos burgueses no partido está longe de ser a única causa das tendências oportunistas que se erguem na social-democracia. Outra causa é a própria natureza da militância socialista e as suas contradições internas. O movimento internacional do proletariado em direcção à sua emancipação total é um processo peculiar neste sentido: pola primeira vez na história da civilização o povo expressa conscientemente a sua vontade e em oposição a todas as classes dominantes. Mas essa vontade só pode ser satisfeita fora da estrutura do sistema vigente. Agora, as massas só podem adquirir e fortalecer essa vontade no curso da sua luita diária contra a ordem social existente: isto é, dentro dos limites da sociedade capitalista. Por um lado, as massas; do outro, o seu objectivo histórico, situado fora da sociedade vigente. Por um lado, a luita diária; do outro, a revolução social. Tais são os termos da contradição dialética por meio da qual avança o movimento socialista. Vai daí que o movimento pode avançar melhor oscilando entre os dous perigos que o ameaçam constantemente. Um é a perda do seu caráter massivo; o outro, o abandono do objectivo. Um é o perigo de virar ao status de seita; outro, o perigo de se tornar um movimento pola reforma social burguesa.

Por isso é ilusório, e vai contra a experiência histórica, esperar fixar duma vez por todas a orientação da luita socialista revolucionária com métodos formais, que deveriam defender o movimento operário de qualquer possibilidade de desvio oportunista. A teoria marxista é uma arma segura para reconhecer e combater as manifestações típicas do oportunismo. Mas o movimento socialista é um movimento de massa, os seus perigos não são o produto de maquinações insidiosas de indivíduos e grupos, surgem de situações sociais inevitáveis. Não podemos nos resguardar antecipadamente de todas as possibilidades de desvio oportunista. Só o movimento pode superar esses perigos, com a ajuda da teoria marxista, sim, mas só depois que esses perigos se tornaram tangíveis(30). Deste ponto de vista, o oportunismo aparece como um produto e uma fase inevitável do desenvolvimento histórico do movimento operário. A social-democracia russa surgiu recentemente. As circunstâncias políticas nas quais o movimento proletário se desenvolve na Rússia são bastante anormais. O oportunismo naquele país é em grande parte um subproduto da tentativa e erro da militância socialista, que tenta avançar num terreno diferente de qualquer outro na Europa. À luz disso, achamos incrível a afirmação de que o oportunismo pode ser evitado escrevendo certas palavras em vez de outras no estatuto do partido. A tentativa de afastar o oportunismo com um pedaço de papel pode ser extremamente prejudicial, não para o oportunismo, mas para o movimento socialista. Se o pulso natural dum organismo vivo é interrompido, se enfraquece e as suas possibilidades de resistência e o seu espírito combativo diminuem, neste caso não apenas contra o oportunismo, mas também (e isso é muito importante, aliás) contra a ordem social existente. Os meios propostos voltam-se contra os fins aos quais deveriam servir.

Na ansiedade de Lenine em estabelecer a liderança dum Comitê Central omnisciente e todo-poderoso para proteger um movimento operário tão jovem e promissor contra qualquer passo errado, reconhecemos os sintomas do mesmo subjetivismo(31) que já fez mais do que um truque no pensamento socialista da Russia. É divertido observar os obstáculos que o respeitável "ego" humano criou na história russa recente. Deitado no chão, quase reduzido a pó polo absolutismo russo, o "ego" vinga-se dedicando-se à actividade revolucionária. Tem a forma duma comissão de conspiradores que, em nome duma inexistente Vontade Popular(32), se senta numa espécie de trono e proclama a sua omnipotência. Mas o "objecto" acaba sendo o mais forte. O knut(33) triunfa porque o poder czarista parece ser a expressão "legítima" da história. Com o tempo, vemos entrar em cena um filho ainda mais “legítimo” da história: o movimento operário russo. Pola primeira vez, são lançadas as bases para uma verdadeira "vontade popular" em solo russo. Mas aqui novamente o "ego" do revolucionário russo! Fazendo piruetas de cabeça para baixo, autoproclama-se mais uma vez o todo-poderoso director da história. Desta vez com o título de Sua Excelência o Comitê Central do Partido Social Democrata Russo. O ágil acrobata não percebe que o único "sujeito" que merece o papel de director é o "ego" colectivo da classe trabalhadora. A classe obreira exige o direito de errar e aprender na dialéctica da história.

Vamos falar com clareza. Historicamente, os erros cometidos por um movimento verdadeiramente revolucionário são infinitamente mais frutíferos do que a infalibilidade do Comitê Central mais astuto.


Notas de rodapé:

(1) A primeira parte do artigo original em formato de PDF pode ser lido nesta ligação: http://library.fes.de/cgi-bin/nzpdf.pl?dok=190304b&f=481&l=512 e a segunda nesta: http://library.fes.de/cgi-bin/nzpdf.pl?dok=190304b&f=513&l=544 (retornar ao texto)

(2) O presente trabalho é baseado nas condições russas, mas as questões organizacionais de que trata também são importantes para a social-democracia alemã, não apenas por causa da grande importância internacional que o nosso partido irmão russo alcançou hoje, mas também por causa de problemas organizacionais semelhantes no momento. Portanto, compartilhamos com nossos leitores este artigo do Iskra. – A redação. [die Neue Zeit]. A coleção da revista alemã pode ser lida em linha da biblioteca Friedrich-Ebert-Stiftung (Fundação Friedrich Ebert). (retornar ao texto)

(3) O texto foi cotejado com a tradução em "O pensamento de Rosa Luxemburgo", Antologia de María José Aubet, Ediciones del Serbal, Barcelona, ​​1982, pp. 189-205. (retornar ao texto)

(4) O lema “A Chispa” foi apanhado do poeta russo Alexander Ivanovich Odoevsky (russo: Алекса́ндр Ива́нович Одо́евский, 26 de novembro (8 de dezembro), 1802, São Petersburgo, Império Russo ─ 10 de outubro (22) ou 15 de agosto (27) de 1839, Psezuape, agora Lazarevskoe, perto de Sochi, Rússia) no poema <RESPOSTA À MENSAGEM A.S. PUSHKIN "PARA A SIBÉRIA">, dentre 1828 e 1829, que em russo diz:

Наш скорбный труд не пропадет,
Из искры возгорится пламя,
И просвещенный наш народ
Сберется под святое знамя.

Tradução:
Nosso doloroso trabalho não será perdido
Uma faísca acenderá a chama
E nosso povo iluminado
Reunir-se-á sob a bandeira sagrada. (retornar ao texto)

(5) A lei anti-socialista foi promulgada por Bismarck em 1878 para impedir a ascensão parlamentar do SPD alemão. A causa oficial foram dous atentados contra Guilherme I e com os quais a Social-Democracia não tinha qualquer relação, mas que desencadearam uma histeria monárquica e anti-socialista (foram proibidas reuniões, associações, sindicatos e propaganda social-democratas). Mas isso não teve sucesso na remoção dos socialistas do parlamento, porque, segundo a Constituição de Bismarck, o candidato dum distrito não precisava ser formalmente um candidato do partido (embora, de facto, fosse) e Bismarck não teve sucesso nisso, além disso, o Reichstag concordou em negar o mandato a pessoas que eram membros dum partido proibido. A lei foi promulgada dous anos e meio depois, em 1880, até 1890. (retornar ao texto)

(6) A citação está incompleta. Diria: “Nesta fase, os trabalhadores formam uma massa espalhada polo país e fragmentada pola competição. Se os trabalhadores formam massas compactas, esta acção ainda não é consequência da própria unidade, mas da unidade da burguesia, que para atingir os seus próprios fins políticos deve ─ e por enquanto ainda pode ─ colocar todo o proletariado em movimento ”. K. Marx / F. Engels, Manifesto do Partido Comunista. (retornar ao texto)

(7) Rosa Luxemburgo refere-se ao Segundo Congresso do PSDR realizado em 1903 em Bruxelas e Londres. O facto de ser constituinte debe-se ao facto de que aqueles que participaram do Primeiro Congresso de Minsk de 1898 foram todos imediatamente detidos pola polícia czarista. (retornar ao texto)

(8) Lenine respondeu aos argumentos de Rosa Luxemburgo com o artigo: Um passo em frente, dous passos atrás. Resposta de N. Lenine a Rosa Luxemburgo, “A camarada Luxemburg diz, por exemplo, que no meu livro se exprimiu distinta e claramente a tendência de um «centralismo intransigente». A camarada Luxemburg supõe, deste modo, que eu defendo um sistema organizativo contra um outro. Mas de facto não é assim. Ao longo de todo o livro, da primeira à última página eu defendo os princípios elementares de qualquer sistema de qualquer organização partidária concebível. No meu livro não se analisa a questão da diferença entre este ou aquele sistema organizativo mas a questão de saber como se deve apoiar, criticar e corrigir qualquer sistema sem contradizer os princípios do partido. Rosa Luxemburg diz mais adiante que «de acordo com a sua (de Lénine) concepção, é atribuído ao CC o poder de organizar todos os comités locais do partido». De facto isto não é verdade. A minha opinião sobre esta questão pode ser documentalmente provada pelo projecto de estatutos da organização do partido por mim apresentado. Neste projecto não há nem uma palavra sobre o direito de organizar os comités locais. A comissão eleita pelo congresso do partido para elaborar os estatutos do partido incluiu neles este direito, e o congresso do partido ratificou o projecto da comissão. Para esta comissão, além de mim e de mais um partidário da maioria, foram eleitos três representantes da minoria do congresso do partido, e consequentemente nesta comissão, que atribuiu ao CC o direito de organizar os comités locais, eram precisamente três adversários meus que tinham a supremacia. A camarada Rosa Luxemburg confundiu dois factos diferentes. Em primeiro lugar, ela confundiu o meu projecto de organização, por um lado, com o projecto alterado da comissão, e, por outro lado, com os estatutos de organização adoptados pelo congresso do partido; em segundo lugar, confundiu a defesa de uma determinada exigência de um determinado parágrafo dos estatutos (não é de modo nenhum verdade que eu tenha sido intransigente nesta defesa, pois no plenário eu não me opus às alterações introduzidas pela comissão) com a defesa da tese (verdadeiramente «ultracentralista», não é verdade?) de que os estatutos adoptados pelo congresso do partido devem ser aplicados enquanto não forem modificados pelo congresso seguinte. Esta tese («puramente blanquista», como o leitor pode facilmente notar), realmente defendi-a «intransigentemente» no meu livro. A camarada Luxemburg diz que, em minha opinião, «o CC é o único núcleo activo do partido». De facto isto não é verdade. Eu nunca defendi esta opinião. Pelo contrário, os meus opositores (a minoria do II congresso do partido) acusaram-me nos seus escritos de eu não defender suficientemente a independência e a autonomia do CC e de o submeter demasiadamente à redacção do OC (1*) e ao Conselho do Partido [O Conselho do Partido, de acordo com os estatutos do partido adoptados no II Congresso do POSDR, foi criado como instituição suprema do partido, chamada a fazer concordar e a unificar a actividade do Comité Central e da redacção do Órgão Central e a representar o POSDR nas relações com outros partidos. O Conselho do Partido era composto por 5 membros, um dos quais era designado pelo congresso do partido, sendo dois enviados pelo CC e outros dois pela redacção do Órgão Central. Depois da conquista pelos mencheviques da redacção deste, o Conselho tornou-se um instrumento da luta contra os bolcheviques. Lénine lutou consequentemente no Conselho pela coesão do Partido e desmascarou a actividade desorganizadora e cisionista dos mencheviques. Segundo os estatutos adoptados pelo III Congresso do POSDR (1905), o Conselho do Partido foi suprimido], que se encontram no estrangeiro. A esta acusação respondi no meu livro que quando a maioria do partido teve a supremacia no Conselho do Partido nunca fez tentativas de limitar a autonomia do CC; mas isto aconteceu logo que o Conselho do Partido se tornou um instrumento de luta nas mãos da minoria). (retornar ao texto)

(9) Muitos socialistas russos operavam na Europa Ocidental, onde foram para o exílio para escapar da opressão czarista. Outros foram enviados polo governo para a Sibéria ou Ásia Central, onde gozavam de certas liberdades políticas. (retornar ao texto)

(10) Diante deste argumento Lenine respondeu: “A camarada Luxemburg diz que, em minha opinião, «o CC é o único núcleo activo do partido». De facto isto não é verdade. Eu nunca defendi esta opinião. Pelo contrário, os meus opositores (a minoria do II congresso do partido) acusaram-me nos seus escritos de eu não defender suficientemente a independência e a autonomia do CC e de o submeter demasiadamente à redacção do OC e ao Conselho do Partido, que se encontram no estrangeiro. A esta acusação respondi no meu livro que quando a maioria do partido teve a supremacia no Conselho do Partido nunca fez tentativas de limitar a autonomia do CC; mas isto aconteceu logo que o Conselho do Partido se tornou um instrumento de luta nas mãos da minoria". (retornar ao texto)

(11) Rosa Luxemburgo refere-se ao fato de que o Partido Social-Democrata Austríaco (SPÖ), fundado entre 30 de dezembro de 1888 e 1º de janeiro de 1889, liderado por Victor Adler e Karl Kautsky, era originalmente internacional, dentro da monarquia austro-húngara. Em 1897 foi separado em organizações nacionais. O partido era um defensor dos direitos das nacionalidades, sendo o teórico mais destacado da área Karl Renner. (retornar ao texto)

(12) Lenine alega: “A camarada Rosa Luxemburg diz que na social-democracia russa não existem nenhumas dúvidas da necessidade de um partido único e que toda a discussão se concentra em torno da questão de maior ou menor centralização. De facto isto não é verdade. Se a camarada Luxemburg se tivesse dado ao trabalho de tomar conhecimento das resoluções dos numerosos comités locais do partido que formam a maioria, compreenderia facilmente (isto vê-se de modo particularmente claro no meu livro) que a nossa discussão girou principalmente sobre a questão de saber se o CC e o OC deviam representar a tendência da maioria do congresso do partido ou se não deviam. A estimada camarada não diz nem uma palavra sobre esta exigência «ultracentralista» e «puramente blanquista», ela prefere declamar contra a subordinação mecânica da parte ao todo, contra a submissão servil, contra a obediência cega e outros horrores. Estou muito agradecido à camarada Luxemburg por explicar a ideia profunda de que a submissão servil é prejudicial para o partido, mas gostaria de saber se a camarada considera normal, se ela pode admitir, se ela já viu em qualquer partido que em órgãos centrais, que se intitulam órgãos do partido, domine a minoria do congresso do partido?” (retornar ao texto)

(13) A assimilação estabelecida por Rosa Luxemburgo entre jacobinos e blanquistas não é muito feliz. Em primeiro lugar porque o jacobinismo é, antes de mais nada, uma filosofia política mantida polos democratas radicais da Grande Revolução Francesa de 1789, baseando-se numa concepção estritamente moralista. Os blanquistas, por outro lado, apoiavam uma tática política em que os "revolucionários profissionais", uma "minoria audaciosa", se encarregariam de dar um golpe decisivo para estabelecer uma ditadura terrorista revolucionária. (retornar ao texto)

(14) Ao que Lenine retruca: “A camarada Luxemburg diz que eu, com a minha definição do social-democrata revolucionário como um jacobino ligado à organização dos operários com consciência de classe, caracterizei talvez mais agudamente o meu ponto de vista do que poderia fazê-lo qualquer dos meus adversários. Outra vez uma incorrecção factual. Não fui eu, mas P. Axelrod, quem primeiro falou de jacobinismo. Foi Axelrod quem primeiro comparou os nossos agrupamentos do partido com os agrupamentos do tempo da grande revolução francesa. Eu observei apenas que esta comparação só é admissível no sentido de que a divisão da social-democracia actual em revolucionária e oportunista corresponde em certa medida à divisão em montanheses e girondinos. Semelhante comparação foi muita vezes feita pelo velho Iskra), reconhecido pelo congresso do partido. Tendo em conta exactamente essa divisão, o velho Iskra lutava contra a ala oportunista do nosso partido, contra a corrente da Rabótchee Delo.” (retornar ao texto)

(15) Refere-se aos membros da Sociedade das Estações, depois Liga dos Justos, herdeiros dos seguidores de Babeuf e Auguste Blanqui. Veja-se o livro em espanhol : Justiceiros e comonistas. (retornar ao texto)

(16) Ao que Lenine replica: “A camarada Rosa Luxemburg atribui-me a ideia de que na Rússia já existem todas as premissas para a organização de um grande e extremamente centralizado partido operário. Novamente um erro de facto. No meu livro eu não só não defendi esta ideia em parte nenhuma como nem sequer a manifestei. A tese apresentada por mim exprimia e exprime algo diferente. A saber, eu sublinhei que existem já todas as premissas para que as decisões do congresso do partido sejam reconhecidas e que já passou há muito o tempo em que era possível substituir um colégio do partido por um círculo privado. Eu apresentei provas de que alguns académicos no nosso partido revelaram a sua inconsequência e falta de firmeza e de que eles não têm nenhum direito de imputar ao proletariado russo a sua própria falta de disciplina. Os operários russos já se pronunciaram, repetidamente e em diferentes circunstâncias, pela observância das disposições do congresso do partido. É perfeitamente ridículo que a camarada Luxemburg declare «optimista» semelhante opinião (não se deveria antes considerá-la «pessimista») e ao mesmo tempo não diz nem uma só palavra sobre a base factual da minha posição. A camarada Luxemburg diz que eu glorifico o significado educativo da fábrica. Isto não é verdade. Não fui eu, mas o meu adversário, quem declarou que eu imagino o partido sob a forma de uma fábrica. Eu ridicularizei-o como deve ser e demonstrei com base nas suas palavras que ele confunde dois aspectos diferentes da disciplina da fábrica, o que, infelizmente, também aconteceu à camarada R. Luxemburg. (retornar ao texto)

(17) Sob a liderança do Grupo para a Libertação da Classe Trabalhadora, cerca de 30.000 trabalhadores têxteis entraram em greve em Petersburgo no verão de 1896. Exigiram pagamento polo trabalho perdido nas férias e a redução da jornada de trabalho. Para evitar que a greve se transformasse em greve geral, as reivindicações dos trabalhadores foram parcialmente atendidas e a greve terminou após três semanas. (retornar ao texto)

(18) Na realidade, a greve de São Petersburgo em 1896 não foi a primeira. Houve outra antes. Em 1885, 8.000 trabalhadores de Orejovo-Suevo entraram em greve. A do verão de 1896 em São Petersburgo chegou a 30.000 obreiros, que entraram em greve a favor da redução da jornada de trabalho. O governo czarista teve de reduzir para onze horas e meia. (retornar ao texto)

(19) Essa greve generalizou-se, afetando quase todos os trabalhadores de Rostov. Trinta mil deles vieram se reunir em assembleias populares. (retornar ao texto)

(20) Parvus, cujo nome verdadeiro era Helfand, social-democrata russo que foi o primeiro a expor a teoria da revolução permanente que Trotski argumentaria mais tarde. (retornar ao texto)

(21) Rosa Luxemburgo se refere aqui à seção do livro de Lenine, A Nova Iskra. Oportunismo organizacional, no qual Lenine se refere à discussão iniciada no SPD por Wolfgang Heine, sobre o problema da autonomia dos distritos eleitorais, após a derrota eleitoral do SPD no distrito 20 da Saxônia. (retornar ao texto)

(22) "Méfiez-vous des politiciens!", em francês no original (retornar ao texto)

(23) O Pensamento dos Obreiros (outubro de 1897 a dezembro de 1902), órgão dos economistas, secção da social-democracia russa que rejeitava a luita política. (retornar ao texto)

(24) Adepto de Emmanuel Kant e das suas ideias. (retornar ao texto)

(25) Os populistas eram uma organização revolucionária russa operando na segunda metade do século XIX, apoiando o papel predominante dos camponeses na revolução. A autocracia cairia como resultado duma série de revoltas camponesas. Para isso, bastava que os revolucionários (na sua maioria jovens burgueses) praticassem a política de "ir ao povo" (daí o nome de "populistas"). (retornar ao texto)

(26) Ferdinand Lassalle, advogado e político alemão (1825-1864). Fundador da Associação Geral dos Trabalhadores Alemães em 1863, a que se refere Rosa Luxemburgo e que, na realidade, foi o primeiro partido socialista alemão. Lassalle estava interessado em conseguir um pacto que selasse a colaboração entre o estado prussiano e o movimento obreiro. (retornar ao texto)

(27) Eisenachianos é o nome dado aos participantes do Primeiro Congresso dos Sociais-democratas da Alemanha, Áustria e Suíça, em Eisenach em 1869. Desse Congresso surgiu o Partido Operário Social-democrata, que seguia a doutrina marxista mais de perto do que a organização de Lassalle. Ambos os partidos foram posteriormente unificados no Congresso de Gotha com um programa que Marx criticou. (retornar ao texto)

(28) Nota de Rosa Luxemburgo.- Na Inglaterra, são os fabianos, ou seja, os Web, os mais decididos defensores da centralização burocrática e os inimigos das formas democráticas de organização. (retornar ao texto)

(29) Rosa Luxemburgo refere-se à corrente que surgiu no Partido Socialista Francês no início do século, liderada por Jean Jaurés, que manteve a “liberdade de crítica” dentro do partido para rever os seus postulados estratégicos e tácticos. (retornar ao texto)

(30) Lenine insiste no seu escrito na resposta a Rosa Luxemburgo: “O leitor que se der ao trabalho de estudar as fontes da nossa luta no partido compreenderá facilmente que as declarações da camarada Rosa Luxemburg sobre o «ultracentralismo», sobre a necessidade de uma centralização gradual, etc., são concretamente e na prática uma zombaria sobre o nosso congresso, enquanto abstracta e teoricamente (se se pode aqui falar de teoria) são uma vulgarização directa do marxismo, uma deturpação da verdadeira dialéctica de Marx, etc.” (retornar ao texto)

(31) O "método subjetivo" é a base das doutrinas socialistas desenvolvidas por Piotr Lavrov e Nicolai Mikhailovski do Partido Socialista-Revolucionário. (retornar ao texto)

(32) Referência aos círculos conspiratórios que, de 1879 a 1883, luitaram contra o czarismo por meio de actos terroristas e que finalmente assassinaram Alexandre II, denominado partido da Vontade do Povo (Narodnaia Vólia). (retornar ao texto)

(33) кнут em russo. É um tipo de chicote usado no Império Russo para flagelar criminosos e culpados políticos. Por metonímia, também se refere à tortura ("dar o knut"). No sentido figurado, o knut designa uma situação tirânica ("viver sob o knut"). (retornar ao texto)

Inclusão: 24/02/2021