Programa de Transição da IV Internacional

Leon Trotsky


Contra o sectarismo


Sob a influência da traição e da degenerescência das organizações históricas do proletariado, nascem ou se regeneram, na periferia da IV Internacional, grupos e posições sectárias de diferentes gêneros. Sobre suas bases, está posta a recusa em lutar pelas reivindicações parciais ou transitórias, isto é, pelos interesses e necessidades elementares das massas operárias tais como são. Preparar-se para a revolução significa, para os sectários, convencer a si mesmos das vantagens do socialismo. Propõem voltar as costas aos “velhos” sindicatos, isto é, às dezenas de milhões de operários organizados, como se as massas pudessem viver fora das condições da luta de classes real! Permanecem indiferentes à luta que se desenvolve no seio das organizações reformistas, como se fosse possível conquistar as massas sem intervir nessa luta! Recusam-se a distinguir, na prática, a democracia burguesa do fascismo, como se as massas pudessem deixar de sentir essa diferença a cada passo!

Os sectários só são capazes de distinguir duas cores: o vermelho e o preto. Para não se expor à tentação, simplificam a realidade. Recusam-se a estabelecer uma diferença entre os campos em luta na Espanha porque os dois campos têm um caráter burguês. Pensam, pela mesma razão, que é necessário ficar neutro na guerra entre o Japão e a China. Negam a diferença de princípio entre a URSS e os países burgueses e se recusam, tendo em vista a política reacionária da burocracia soviética, a defender contra o imperialismo as formas de propriedade criadas pela Revolução de Outubro. Incapazes de encontrar acesso às massas, estão sempre dispostos a acusá-las de serem incapazes de se elevar até as ideias revolucionárias.

Uma ponte sob a forma de reivindicações transitórias não é absolutamente necessária a esses políticos estéreis, pois não se dispõem a atravessar para a outra margem do rio. Não saem do lugar, contentando-se em repetir as mesmas abstrações vazias. Os acontecimentos políticos são para eles ocasião de tecer comentários, mas não de agir. Tanto os sectários quanto os confusionistas e os milagreiros de toda espécie recebem a cada momento chicotadas da realidade, vivem em estado de contínua irritação, queixando-se sem cessar do “regime” e dos “métodos” e atolando-se em intrigazinhas. Em seus próprios meios, exercem ordinariamente um regime de despotismo. A prostração política do sectarismo apenas completa, como sua sombra, a prostração do oportunismo, sem abrir perspectivas revolucionárias. Na política prática, os sectários unem-se a todo instante aos oportunistas, sobretudo aos centristas, para lutar contra o marxismo.

A maioria dos grupos e grupelhos sectários desse gênero, que se alimentam das migalhas caídas da mesa da IV Internacional, leva uma existência organizativa “independente”, com grandes pretensões, mas sem a menor chance de sucesso. Os bolchevique-leninistas podem, sem perder seu tempo, entregar tranquilamente esses grupos à sua própria sorte.

Entretanto, as tendências sectárias encontram-se também em nossas próprias fileiras e exercem uma funesta influência sobre o trabalho de seções isoladas. Isso não pode ser admitido nem um dia a mais. Uma política correta quanto aos sindicatos é uma condição fundamental para a filiação à IV Internacional. Aquele que não procura nem encontra o caminho do movimento de massas não é um combatente, mas um peso morto para o partido. Um programa não é criado para uma redação, uma sala de leitura ou um clube de discussão, mas para a ação revolucionária de milhões de homens. O expurgo do sectarismo e dos sectários incorrigíveis das fileiras da IV Internacional é a mais importante condição dos sucessos revolucionários.