A Dialética Marxista e a Conexão Mútua e a Interdependência dos Fenômenos da Natureza e da Sociedade

V. S. Molodtsov


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1955. págs: 46-90. A presente edição foi traduzida do original russo "Materialismo Dialético", Moscou, edição da Academia de Ciências da URSS, Instituto de Filosofia, 1954.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

No trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin nos dá uma formulação, insperada quanto à sua precisão e profundeza, das quatro características básicas do método dialético marxista.

O camarada Stálin começa a exposição das características do método dialético marxista com a doutrina da conexão mútua e da interdependência entre os fenômenos da natureza e da sociedade, indicando assim que o método dialético marxista exige que consideremos todo fenômeno da natureza e da sociedade em ligação com os demais fenômenos. Essa exigência do método dialético marxista reflete as relações essenciais entre os objetos e fenômenos do mundo material objetivo. No mundo não existe nada isolado, tudo está em relação mútua, em ligação recíproca. Lênin afirma:

"Há milênios que surgiu a ideia da ‘ligação de tudo', da ‘cadeia de causas'. A comparação entre as diferentes maneiras pelas quais, na história do pensamento humano, essas causas foram interpretadas, demonstraria de modo indiscutível a teoria do conhecimento."(1)

A doutrina marxista da conexão mútua entre os fenômenos da natureza e da sociedade é radicalmente oposta à metafísica que considera todos os objetos da natureza como existentes isoladamente. Formulando as características do método dialético marxista, o camarada Stálin opõe o método dialético à metafísica e revela a essência anticientífica e reacionária dessa.

Crítica, pela Filosofia Marxista da Negação Metafísica da Conexão Mútua entre os Fenômenos da Natureza e da Sociedade

O método dialético marxista se forjou na luta contra o idealismo e a metafísica. O camarada Stálin escreve:

"A dialética alcançou sua maturidade na luta contra a metafísica e nessa luta conquistou a glória (...)"(2)

Marx e Engels, fundadores da dialética materialista, desmascararam com firmeza todo gênero de teorias hostis ao socialismo proletário. Criticaram as diferentes concepções metafísicas burguesas e pequeno-burguesas (econômicas, políticas e filosóficas) e nessa luta aperfeiçoaram e desenvolveram o método dialético materialista.

Particular agudeza adquiriu a luta contra a metafísica na época do imperialismo, quando os agentes da burguesia, infiltrados no movimento operário, substituem a dialética marxista pela metafísica com o objetivo de impor à classe operária as concepções burguesas e limitar a amplitude de sua luta revolucionária. Desmascarando as teorias e correntes políticas hostis ao marxismo, Lênin e Stálin sempre revelaram a base metodológica dessas teorias e correntes, seu caráter metafísico.

Já num de seus primeiros trabalhos, O que São os "Amigos do Povo’’ e Como Lutam Contra os Social-democratas?, Lênin desmascarou a metafísica desses inimigos do marxismo — os populistas.

Separando os fenômenos sociais de suas condições históricas, os populistas afirmavam que a vida social é determinada pelas ideias e que as próprias ideias surgem casualmente, não são condicionadas pelo desenvolvimento econômico da sociedade; os populistas consideravam o processo social como acumulação de acontecimentos casuais. A separação metafísica entre as ideias e as condições materiais da vida da sociedade levou os populistas à interpretação subjetiva e idealista da história da sociedade. Do ponto de vista do populista, a sociedade é uma espécie de agregado mecânico de fenômenos sociais, arbitrariamente ligados pelos "indivíduos que pensam criticamente". O populista, escreve Lênin,

"concebe as relações sociais de um modo puramente metafísico, como simples agregado mecânico de tais ou quais instituições, um simples encadeamento mecânico de tais ou quais fenômenos. Isola um desses fenômenosa posse da terra pelo agricultor nas formas medievaise pensa que pode transplantá-lo a todas a: outras formas, como se transporta um tijolo de um edifício para outro. Isso não é, porém, estudar as relações sociais, mas mutilar o material a ser estudado."(3)

Desmascarando o método metafísico dos populistas, Lênin revela, de maneira genial, a essência do método dialético que exige que a sociedade seja considerada como um organismo vivo, completo, em que todos os fenômenos sociais são interdependentes e onde existe uma ligação regular entre os acontecimentos.

A negação metafísica da interdependência entre os fenômenos caracteriza a maioria dos sistemas idealistas. Em sua notável obra Materialismo e Empirocriticismo, que marcou época no desenvolvimento da filosofia marxista, Lênin, desmascarando o idealismo da filosofia machista, critica ao mesmo tempo com rigor seu método metafísico. Os machistas tentavam demonstrar que somente as sensações existem realmente; consideravam as sensações em si mesmas, desligadas da realidade, desligadas dos objetos e dos fenômenos circundantes. Assim, os machistas transformavam em ilusão o mundo exterior material. Nessa base surgiu a monstruosa e "estúpida filosofia" dos machistas, segundo a expressão de Lênin.

Lênin escreve:

"O sofisma da filosofia idealista reside em que a sensação não é considerada como um vínculo entre a consciência e o mundo exterior; mas como uma cerca, uma muralha que separa a consciência do mundo exterior (...).(4)

A crítica que Lênin fez ao machismo torna evidente que, na fundamentação de suas teorias idealistas e na luta contra as ciências naturais e a filosofia materialista, os machistas apoiavam-se na metafísica como método que permite deturpar a realidade.

Lutando incansavelmente contra as teorias hostis ao marxismo, Lênin e Stálin mostram que separar os fenômenos de sua conexão mútua leva inevitavelmente à deturpação idealista e metafísica da realidade e, no domínio da política, ao oportunismo.

A história da luta do Partido bolchevique contra os diferentes falsificadores do marxismo fornece inúmeros exemplos que mostram como o método abstrato e antidialético de abordar a realidade sempre serviu aos vis propósitos dos inimigos do Partido. Desmascarando os trotskistas e os bucarinistas — os mais ferozes inimigos da revolução proletária e do socialismo — o camarada Stálin afirmou por diversas vezes que esse bando de espiões e assassinos interpretava de maneira deturpada a realidade para atender aos seus abomináveis fins, substituindo a dialética marxista pela metafísica e pela escolástica.

Em 1925, quando, sob a direção do Partido bolchevique, o país terminava o período de restauração, quando a indústria socialista se tornava a força predominante, os trotskistas negavam o caráter socialista de nossa indústria, tentando apresentar a indústria socialista como indústria capitalista de Estado.

Discursando, em 1925, no XIV Congresso do P.C. (b) da URSS, o camarada Stálin. desmascarou a identificação, feita pelos trotskistas, da indústria socialista com o capitalismo de Estado. O camarada Stálin demonstrou que os trotskistas consideravam a questão do capitalismo de Estado

"de maneira escolástica, não dialética, desligada da situação histórica.”(5)

O camarada Stálin demonstrou que não se pode confundir dois períodos diferentes no desenvolvimento da indústria soviética:

"(...) falar hoje, em 1925, de capitalismo de Estado, como forma predominante de nossa economia, significa deturpar a natureza socialista de nossa indústria estatal, significa não compreender toda a diferença entre a situação passada e a atual, significa abordar o problema do capitalismo de Estado não de maneira dialética, mas de maneira escolástica, metafísica."(6)

Esse exemplo, retirado da história da luta de nosso Partido contra os inimigos do marxismo-leninismo, revela, de maneira evidente, como a metafísica era utilizada pelos inimigos do movimento revolucionário do proletariado com o objetivo de deturpar a realidade.

Nas condições atuais os propagadores das teorias antipopulares e reacionárias são ideólogos do imperialismo anglo- americano; exercem, também, as funções de porta-vozes do idealismo e da metafísica.

Ilustração evidente da deturpação metafísica da realidade é a chamada filosofia semanticista do moderno imperialismo americano. Os semanticistas lutam ferozmente contra o materialismo em geral e contra o materialismo dialético em particular . Os representantes dessa filosofia subjetiva e idealista (Karnap, Wittgenstein, Auer, Chase, etc.) ensinam que todas as contradições na vida têm sua origem na interpretação arbitrária das palavras e dos conceitos. Auer afirma que

"não existe a questão filosófica da relação entre o espírito e a matéria; existem apenas questões linguísticas a respeito da definição de alguns símbolos(...)".

Os semanticistas tentam nos convencer de que os conceitos "capitalismo”, "fascismo” são palavras fictícias que nada refletem de real.

Os semanticistas isolam metafisicamente os conceitos e os objetos, consideram os conceitos desligados dos objetos e como não refletindo os fenômenos do mundo material.

Embora essa filosofia seja extremamente primitiva, é, porém, amplamente utilizada pelos políticos profissionais para embotar a consciência das massas trabalhadoras. Os ideólogos do imperialismo tentam persuadir as massas de que, se se abolir a palavra "capitalismo", o sistema capitalista estará livre de calamidades e de abalos. Consolam-se com a ilusão de que essa sofistica lhes permitirá enganar os trabalhadores. Entretanto, por mais que os semanticistas tentem enganar as massas populares, o sistema capitalista inevitavelmente ruirá e só assim passará para a História o conceito capitalismo, odiado pelas massas.

As teorias metafísicas e idealistas da burguesia penetram às vezes também entre os homens soviéticos que ainda não se libertaram das sobrevivências do capitalismo. Pode servir como ilustração disso a penetração, em certos círculos de biologistas soviéticos, da concepção metafísica e idealista do weismannismo-morganismo. Considerando o organismo vivo desligado do meio, os weismannistas-morganistas tentaram demonstrar que as condições de vida do organismo não influem na hereditariedade, que essa é invariável e que é impossível transformar, de modo dirigido, as formas vegetais e animais.

O grande transformador da natureza I. V. Mitchúrin e seus discípulos demonstraram amplamente ser necessário considerar os organismos sempre em ligação indissolúvel com o meio que os cerca e que condiciona seu desenvolvimento, e fundamentaram a possibilidade da transformarão dirigida da hereditariedade das plantas e dos animais. Após derrotarem os weismannistas-morganistas, os mitchurinistas abriram amplo caminho ao desenvolvimento da ciência soviética, ao conhecimento de novas leis na evolução do mundo orgânico e à utilização das forças da natureza na construção do comunismo em nosso país.

O weismannismo-morganismo na biologia demonstra a essência reacionária da metafísica que freia a descoberta das leis do desenvolvimento da natureza.

Negando a interdependência entre os fenômenos da natureza, a metafísica atenta contra a possibilidade de conhecer a natureza como um todo único. Em seu trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin demonstra que a negação, pela metafísica, da conexão mútua entre os fenômenos da natureza e da sociedade origina inevitavelmente a ideia falsa da natureza e da vida social como um aglomerado casual de objetos e fenômenos isolados uns dos outros.

A Dialética Marxista e a Conexão Mútua e a Interdependência Entre os Fenômenos

Em oposição à metafísica, o marxismo-leninismo elaborou um método realmente científico de conhecimento e de transformação da realidade. Esse método exige, antes de tudo, considerar todos os fenômenos da natureza e da sociedade em sua conexão mútua e interdependência.

A dialética, escreve Engels,

"considera as coisas e seus reflexos intelectuais principalmente em suas relações, em seu entrelaçamento, em seu movimento, em sua origem e deperecimento (. . .)".(7)

Em seu artigo inacabado sobre a dialética, Engels estabeleceu a tarefa de

"desenvolver o caráter geral da dialética como ciência das conexões, em oposição à metafísica.”(8)

Lênin emprestava a maior significação à doutrina dialética da conexão entre os objetos e fenômenos do mundo material. Elaborando, em todos os seus aspectos, a dialética marxista, Lênin apontou a necessidade de considerar, na análise de uma coisa, todo "o conjunto das diferentes relações entre essa e as demais coisas." Na análise dialética da realidade Lênin incluía a exigência de descobrir a ligação multiforme e universal e a interdependência entre todos os fenômenos do mundo. Lênin afirmou que no conhecimento dos fenômenos do mundo material objetivo a ciência vai

"da coexistência à causalidade e de uma forma de conexão e interdependência a outra, mais profunda e mais geral."(9)

O camarada Stálin revelou, de maneira completa, a essência da tese marxista da conexão e interdependência entre os fenômenos da natureza e da sociedade, considerando a doutrina da conexão como primeira característica básica do método dialético marxista. O camarada Stálin afirma:

"Em aposição à metafísica, a dialética considera a natureza não como um conglomerado casual de objetos e fenômenos desligados e isolados uns dos outros, e sem nenhuma relação de dependência entre si, mas como um todo articulado e único, no qual os objetos e fenômenos se acham organicamente vinculados uns aos outros, dependem uns dos outros e se condicionam reciprocamente.

Por isso, o método dialético entende que nenhum fenômeno da natureza pode ser compreendido se o considerarmos isoladamente, sem conexão com os fenômenos que o rodeiam; pois todo fenômeno, em qualquer domínio da natureza, pode ser transformado em absurdo se o examinarmos sem conexão com as condições ambientes, desligado delas; e, pelo contrário, todo fenômeno pode ser compreendido e explicado se o examinarmos em sua conexão indissolúvel com os fenômenos circundantes e condicionado por eles.”(10)

Ao caracterizar a doutrina da conexão mútua e interdependência entre os fenômenos da natureza e da sociedade como traço básico do método dialético marxista, como a mais importante exigência para a análise científica da realidade, o camarada Stálin desenvolve a dialética marxista, enriquecendo-a com novas conclusões e teses.

A dialética marxista é o único método científico de conhecimento da realidade; as leis e teses da dialética não são transportadas para a natureza e para a vida social de fora para dentro, mas são um reflexo do mundo material objetivo. A tarefa tanto da compreensão da natureza como da compreensão da história da sociedade

"não reside em imaginar conexões, mas em descobri-las nos próprios fatos.”(11)

A exigência do método dialético marxista de que os fenômenos sejam examinados em sua interdependência é determinada, por conseguinte, pela circunstância de que na própria natureza e na vida social os objetos e fenômenos não existem isoladamente. No mundo real todos os objetos e acontecimentos são condicionados uns pelos outros, encontram-se em ação recíproca e graças a isso, como escreveu Engels,

"toda a natureza que nos é acessível forma um sistema, um conjunto coerente de corpos, sendo que consideramos aqui pela palavra corpo todas as realidades materiais, a começar pela estrela e a terminar pelo átomo (...).(12)

Somente o exame dos fenômenos em sua interdependência nos dá a possibilidade de compreender a natureza como um todo único.

A doutrina dialética marxista da unidade da natureza, da conexão e interdependência entre os fenômenos da natureza é brilhantemente confirmada em todos os domínios da ciência e, em particular, nas ciências naturais. Já no século XIX as ciências naturais se desenvolviam no sentido do conhecimento da conexão mútua entre os processos da natureza.

Engels escreve que sendo, até o fim do século XVIII, uma ciência compiladora de fatos, a ciência das coisas acabadas, a ciência da natureza se tornou, no século XIX, uma ciência dos processos, a ciência

"da origem e do desenvolvimento das coisas e da conexão, que liga esses processos naturais num grande todo.”(13)

A lei da conservação e da transformação da energia tem grande significação para demonstrar a ligação mútua entre os processos da natureza. Engels escreve a respeito dessa lei:

"A unidade de todo movimento na natureza já não é hoje uma afirmação simplesmente filosófica, mas um falo do domínio das ciências naturais.”(14)

A unidade da natureza orgânica foi demonstrada, de maneira clara, pela descoberta da estrutura celular da matéria orgânica que estabeleceu a unidade entre os mundos vegetal e animal e a ligação mútua entre os mesmos; e também pela teoria de Darwin que demonstrou que todos os organismos surgiram em consequência de uma longa evolução, a partir das formas vivas mais simples que, por sua vez (como foi demonstrado posteriormente) se formaram durante o processo de uma prolongada história do desenvolvimento natural da matéria.

Em seu livro Ludwig Feuerbach..., Engels se refere a três grandes descobertas — a célula, a lei da transformação da energia e a teoria evolucionista de Darwin — e ressalta sua grande influência sobre o desenvolvimento da concepção dialética da natureza. Engels manifestou também particular interesse pela descoberta de D. I. Mendelêiev. Em carta a Danielson, datada de 15 de março de 1892, Engels observa que entre os materiais recebidos da Rússia

"o trabalho de Mendelêiev desperta interesse participar."(15)

Na Dialética da Natureza, Engels observa que a criação, por Mendelêiev, do sistema periódico dos elementos

"representa uma proeza científica.”

O sistema periódico dos elementos químicos criado por D. I. Mendelêiev é uma importantíssima descoberta das ciências naturais que demonstra que a natureza é um todo articulado e único.

Mendelêiev descobriu a ligação entre os elementos, as leis de sua ação recíproca. Pôs fim à ideia metafísica, dominante na ciência, da existência dos elementos isolados e não vinculados entre si.

Ressaltando a particular significação das descobertas das ciências naturais para as generalizações da dialética materialista, Engels afirma que os dados alcançados empiricamente pelas ciências naturais permitem-nos

"ter, em forma mais ou menos sistemática, um quadro geral do entrelaçamento da natureza."(16)

As ciências naturais do século XX forneceram, nos diferentes domínios do conhecimento, muitos fatos novos que confirmam claramente as teses do materialismo dialético sobre a unidade da natureza e a interdependência entre os fenômenos e objetos da natureza.

O desenvolvimento das ciências na sociedade socialista soviética confirma a vitalidade e a importância científica dos princípios do materialismo dialético. Os sábios soviéticos Pávlov, Timiriázev, Mitchúrin, Lepechínskaia, Lissenko e muitos outros enriqueceram consideravelmente, com suas pesquisas científicas, nossos conhecimentos a respeito da unidade da natureza e suas infinitas conexões mútuas.

A ciência contemporânea demonstra, de maneira convincente, que toda nova descoberta confirma a doutrina marxista da conexão mútua entre os processos da natureza. Ao número dessas descobertas pertence a multiforme doutrina do grande fisiólogo russo I. P. Pávlov.

A solução, encontrada por I. P. Pávlov, do problema da ligação entre os fenômenos psíquicos e o meio exterior tem grande significação filosófica. A psicologia idealista tentou "conceber" os fenômenos psíquicos sem sair dos limites do mundo interior dos animais e do homem. Esse modo de abordar a pesquisa da atividade psíquica não permite elaborar nenhum critério objetivo para o exame dos fenômenos psíquicos e leva à concepção da "alma” como essência incompreensível.

Ao contrário dos psicólogos idealistas, I. P. Pávlov considerou como tarefa principal descobrir

"a relação mútua, infinitamente complexa, entre o organismo e o mundo que o cerca, sob o aspecto de uma fórmula exata e científica."(17)

Pesquisando a atividade nervosa superior, no animal e no homem, I. P. Pávlov criou a doutrina dos reflexos condicionados, demonstrando, de maneira cabal, que o mundo psíquico do animal e do homem se forma sob a influência do meio exterior e que em geral a atividade vital do organismo é uma unidade entre o externo e o interno. I. P. Pávlov entende por reflexos a reação regular do organismo às excitações externas. Do ponto de vista fisiológico, o conjunto dos reflexos constitui a base da atividade nervosa no homem e nos animais. Dessa forma, I. P. Pávlov estabeleceu a base materialista para a pesquisa dos fenômenos psíquicos através da descoberta do mecanismo da conexão mútua entre os fenômenos psíquicos e o mundo exterior.

Uma das mais modernas descobertas que revelam a conexão mútua — dialética — na natureza, é a teoria de O. B. Lepechínskaia sobre as formas não celulares de existência da matéria viva, da origem da célula a partir da substância viva não celular e do papel da substância viva pré-celular no organismo.

O. B. Lepechínskaia vibrou um golpe decisivo na teoria metafísica de Virchow, que vigorou na biologia durante longo tempo, e que pretendia que tudo que é vivo se origina da célula, que fora da célula não há vida e que o organismo vivo é uma soma mecânica de células, uma "federação” de células.

Refutando teorias metafísicas idênticas, já Engels se referia à existência de moneras sem estrutura, a formações pré-celulares.

Orientando-se pelos princípios da filosofia marxista-leninista, O. B. Lepechínskaia superou a concepção metafísica de Virchow e demonstrou experimentalmente a existência de formas não celulares da matéria viva. Em consequência de pesquisas realizadas durante muitos anos com a gema do ovo, Lepechínskaia conseguiu resultados científicos que comprovam cabalmente que a formação de novas células se verifica não só a partir da divisão da velha célula, mas também a partir de substância viva não celular. Sem negar a origem de novas células a partir de velhas células pelo processo de sua divisão, O. B. Lepechínskaia demonstrou que as novas células podem surgir não só de células, mas também do protoplasma. Caracterizando o protoplasma como ativo, capaz de metabolismo, O. B. Lepechínskaia demonstra que

"do protoplasma surgem diferentes formas de matéria organizadapelo menos as primárias.’’(18)

Os dados relativos à estrutura da matéria orgânica, conseguidos através das grandes pesquisas de O. B. Lepechínskaia, são uma nova confirmação da tese da dialética marxista a respeito da unidade da natureza, um novo passo à frente no caminho da descoberta experimental da conexão entre a matéria animada e inanimada, da transformação da matéria inorgânica em matéria orgânica.

A história da sociedade é uma evidente confirmação da doutrina da dialética marxista sobre a conexão mútua e a interdependência entre os objetos do mundo material.

Ao contrário das teorias idealistas do desenvolvimento social que reduzem a vida social a um caos de casualidades, o marxismo-leninismo criou uma autêntica ciência sobre a sociedade, considerando o desenvolvimento da sociedade como um processo natural e histórico.

Lênin escreve:

"Da mesma forma que Darwin pôs fim à ideia de que as diversas espécies de animais e plantas não estão ligadas entre si, são casuais, 'criadas por Deus' e invariáveis, e pela primeira vez colocou a biologia em bases completamente científicas, estabelecendo a variabilidade e a continuidade das espécies, assim Marx pôs fim à concepção da sociedade como um conglomerado mecânico de indivíduos sujeito a toda espécie de mudanças segundo a vontade da autoridade (ou, o que dá no mesmo, segundo a vontade da sociedade e dos governos), conglomerado que surge e se modifica casualmente, e pela primeira vez colocou a sociologia em bases científicas, formulando o conceito de formação econômico-social como conjunto de determinadas relações de produção e estabelecendo que o desenvolvimento dessas formações constitui um processo histórico-natural."(19)

Como aplicação do materialismo dialético ao conhecimento das relações sociais, o materialismo histórico revela a conexão mútua, que existe objetivamente, entre o ser social e a consciência social.

No trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin revela a conexão mútua entre as condições da vida material da sociedade e a consciência social. O camarada Stálin demonstra que a fonte de origem das ideias são as relações materiais entre os homens e que as diferenças entre as ideias e as instituições políticas nas diferentes épocas se explicam pelas condições diversas da vida material da sociedade. Por outro lado, a conexão mútua entre a consciência social e as condições materiais de vida da sociedade reside também na influência reversa das ideias sobre a vida material da sociedade.

A descoberta, pelo marxismo, da ligação mútua entre as condições materiais de vida da sociedade e as ideias sociais, a demonstração do caráter primário do ser social e do caráter secundário, derivado, da consciência social, o esclarecimento do papel das ideias no desenvolvimento da sociedade, têm imensa significação para a atividade prática do Partido marxista-leninista. O camarada Stálin escreve:

"(...) O Partido do proletariado deve apoiar-se numa teoria social, numa ideia social que reflita com acerto as necessidades do desenvolvimento da vida material da sociedade e que possa, em vista disso, colocar em movimento as amplas massas do povo, seja capaz de mobilizá-las e organizá-las no grande exército do Partido proletário, pronto a derrotar as forças reacionárias e abrir caminho às forças avançadas da sociedade.”(20)

No trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, o camarada Stálin submete a uma severa crítica a concepção primitiva e anarquista da sociedade como soma de fenômenos desligados entre si.

Os representantes da concepção primitiva e anarquista consideravam a luta de classes como índice da desagregação da sociedade, como ruptura da ligação entre classes hostis. O camarada Stálin revelou a inconsistência de tal ponto de vista. O camarada Stálin afirma:

"Enquanto existir o capitalismo, os burgueses e os proletários estarão ligados entre si por todas os fios da economia, como elementos da mesma sociedade capitalista.’’(21)

A luta de classes do proletariado contra a burguesia não só não leva a sociedade ao colapso como, ao contrário, leva à derrocada do capitalismo e ao estabelecimento de uma formação econômico-social superior — o comunismo.

O camarada Stálin demonstra que sendo a língua um meio de comunicação entre os homens, só se pode compreendê-la e as leis do seu desenvolvimento em ligação com a história da sociedade, com a história do povo. Atribuindo à língua caráter de classe e identificando a língua com a superestrutura, os deturpadores do marxismo na linguística criaram a teoria de que a língua, no processo de seu desenvolvimento, sofre explosões. O camarada Stálin demonstrou que se trata no caso de uma teoria que rebaixa o marxismo e que uma tal e repentina liquidação da língua levaria fatalmente à ruptura das ligações entre os homens,

"à desordem total nas relações entre os homens”.

O camarada Stálin critica também a separação que Marr e seus discípulos fazem entre a língua e o pensamento. Marr e seus discípulos afirmavam que o pensamento pode se processar sem a língua. Criticando essa teoria metafísica, o camarada Stálin demonstra que os marristas separam o pensamento da língua e consideram possível a comunicação entre os homens sem a ajuda da língua.

Depois de demonstrar a inconsistência da teoria marrista da língua, o camarada Stálin revela, de maneira profunda, a dialética da língua e do pensamento, indicando que a língua e o pensamento só existem em ligação mútua. O pensamento se realiza obrigatoriamente à base do material linguístico. O camarada Stálin escreve:

"Não existem pensamentos nus, livres do material linguístico, livres da ‘matéria bruta' da língua. 'A língua é a realidade direta do pensamento' (Marx). A realidade do pensamento se manifesta na língua. Só os idealistas podem falar do pensamento desligado da ‘matéria bruta' da língua, do pensamento sem língua."(22)

Os princípios da doutrina da conexão mútua entre os fenômenos da natureza e da sociedade têm importante significação para a compreensão do processo do conhecimento. Ao contrário da metafísica que concentra a atenção apenas em objetos isolados, em particularidades, a dialética marxista afirma que na natureza e na sociedade todos os fenômenos estão ligados reciprocamente e por isso nos permite compreender a natureza e a sociedade como um todo único.

A Dialética Marxista e as Leis do Desenvolvimento da Natureza e da Sociedade

Considerando os objetos da natureza e os fenômenos sociais em suas múltiplas ligações, descobrimos a cadeia de relações mútuas entre as coisas e os acontecimentos históricos, a sequência de sua origem e a interdependência de sua existência.

O método dialético marxista caracteriza esse estado de conexão universal entre os fenômenos da natureza e da sociedade como lei do desenvolvimento da natureza e da vida social. O camarada Stálin afirma que

"os múltiplos e variados fenômenos do mundo são diferentes formas e modalidades da matéria em movimento; a conexão mútua e a interdependência entre os fenômenos, que o método dialético revela, são as leis de acordo com as quais se desenvolve a matéria em movimento (...)”.(23)

A filosofia marxista reconhece, assim a existência das leis objetivas e da necessidade na natureza e na sociedade.

A doutrina marxista sobre as leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade é a base para o progresso do conhecimento. A lei expressa a lógica objetiva do desenvolvimento da natureza e da sociedade, reflete a conexão mútua e a interdependência entre os fenômenos, objetos e acontecimentos históricos, seu desenvolvimento sucessivo e lógico. V. I. Lênin observa que

"tudo aquilo que é isolado por milhares de transições se acha ligado a outro gênero de coisas, fenômenos e processos isolados.”(24)

Lênin afirma que

"as conexões naturais, as relações entre os fenômenos da natureza existem objetivamente (...)(25)

A lei e a necessidade são o elemento geral inerente aos diferentes fenômenos da natureza e da sociedade.

"A necessidade é inseparável do geral"(26)— observa Lênin.

Caracterizando o processo de nosso conhecimento, Engels escreve que

"todo conhecimento real, exaustivo, consiste somente em que elevamos, pelo pensamento, o singular da singularidade à particularidade e desta à universalidade; descobrimos e constatamos o infinito no finito, o eterno no efêmero.”(27)

Engels indica também que a lei é a forma que a generalidade assume na natureza.

Nos Cadernos Filosóficos, Lênin nos dá uma profunda caracterização da essência da lei e de seu papel no conhecimento. Definindo o conceito de lei, Lênin escreve:

"(...) conceito de lei é um dos graus do conhecimento, pelo homem, da unidade e da conexão, da interdependência e da integridade do processo universal”.(28)

Lênin caracteriza a lei como o elemento essencial, idêntico, estável (constante) no fenômeno. Lênin afirma que as leis, formuladas pela ciência, são o reflexo da essência dos diversos fenômenos do mundo material objetivo.

"A lei é o reflexo do essencial no movimento do universo''(29)— observa Lênin.

A interpretação marxista da lei distingue-se radicalmente de sua interpretação idealista. O idealismo nega o caráter objetivo das leis. São os representantes da filosofia subjetiva e idealista, particularmente da filosofia machista, que negam, em forma mais claramente expressa, as leis objetivas e a necessidade. Os machistas foram os pregadores do ponto de vista idealista, neokantista, da necessidade. Kant afirmava, em sua época, que no mundo objetivo não há necessidade, não há lei, e que a necessidade é uma categoria inerente apenas à razão. Os machistas adotaram essa linha de interpretação idealista da lei. Mach escreveu:

"Não há nenhuma necessidade por exemplo, a necessidade físicaalém da necessidade lógica”.

Outro machista, Pearson, afirmava que a necessidade pertence ao mundo dos conceitos e não ao mundo das percepções.

Os modernos filósofos obscurantistas, lacaios do imperialismo anglo-americano, manifestam zelo particular pela substituição das leis objetivas pela mística e pelo simbolismo. O "leitmotiv” da filosofia imperialista é o mistério, a mística, o além, o incompreensível, o incognoscível. Por exemplo, Fluelling, chefe da escola filosófica americana dos personalistas, declara que a natureza existe em virtude da vontade da personalidade divina, da pessoa suprema e todo-poderosa. Declara que não há nenhuma lei objetiva: tudo é orientado pela pessoa de Deus. A respeito de Fluelling pode-se repetir, com justa razão, o que Lênin disse a respeito de um filósofo obscurantista idêntico — o filósofo americano Carus:

"É perfeitamente evidente que estamos diante do líder da confraria de literatos velhacos americanos que trabalham para embriagar o povo com o ópio da religião.''(30)

Em sua obra Filosofia da História, o neokantista Rickert declara que "a realidade não conhece repetições.” O sentido social dessa teoria é perfeitamente claro: os escudeiros do imperialismo tentam demonstrar que não se pode conhecer as leis da vida social porque os acontecimentos sociais não se repetem.

O marxismo há muito refutou a teoria idealista de que os fenômenos sociais não se repetem e a vida confirmou a justeza da ciência marxista-leninista sobre o desenvolvimento da sociedade. A ciência marxista-leninista fundamenta a existência, nos fenômenos, do geral, do que se repete. Os acontecimentos históricos não se repetem em suas características particulares, individuais. Entretanto, uma vez que os acontecimentos históricos ligados entre si constituem uma cadeia ininterrupta no desenvolvimento da história da sociedade, segue-se que nos diferentes acontecimentos há algo geral, inerente a todos eles. É esse elemento geral que permite descobrir as leis do desenvolvimento da história da sociedade.

Lênin escreve:

"Até agora os sociólogos tinham dificuldade em distinguir, na complexa rede dos fenômenos sociais, os que eram importantes dos que não o eram (esta a raiz do subjetivismo na sociologia); não podiam encontrar um critério objetivo para essa distinção. O materialismo forneceu um critério perfeitamente objetivo, ao destacar as ‘relações de produção' como estrutura da sociedade e ao permitir que se aplique a essas relações o critério científico geral da repetição cuja aplicação à sociologia os subjetivistas negavam."(31)

Lênin afirma a seguir que a justa solução do problema da repetição nos fenômenos sociais torna possível a existência da ciência da sociedade.

No trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin revela detalhadamente a essência da interpretação materialista da História, afirmando que a base do desenvolvimento da sociedade é o modo de produção. Tal é o modo de produção, tais são as ideias, teorias e concepções da sociedade. Essa é uma lei objetiva do desenvolvimento social. Caracterizando o modo de produção e as três particularidades da produção, o camarada Stálin frisa sempre que as leis do desenvolvimento econômico da sociedade existem objetivamente.

Orientando-se pela compreensão materialista da História, o camarada Stálin descobre as leis do desenvolvimento da sociedade socialista. O camarada Stálin ensina que a lei econômica fundamental do socialismo é a garantia da máxima satisfação das necessidades materiais e culturais, sempre crescentes, de toda a sociedade, por meio do aumento e do aperfeiçoamento ininterruptos da produção socialista à base de uma técnica superior.

Os clássicos do marxismo-leninismo ensinam que as leis da natureza e da sociedade têm um caráter objetivo. As leis da ciência refletem processos objetivos que se verificam na natureza e na sociedade independentemente da vontade dos homens. Os homens descobrem e tomam conhecimento das leis objetivas do desenvolvimento do mundo material e as utilizam no interesse da sociedade. Os homens não podem, porém, revogar as leis objetivas.

A dialética marxista rejeita tanto a interpretação voluntarista das leis como a atitude fatalista em relação às mesmas. Os voluntaristas não levam em conta as leis objetivas e as interpretam de maneira idealista. Segundo o modo de ver dos voluntaristas, as leis não têm base objetiva e dependem inteiramente dos homens. É uma compreensão antimarxista, idealista, da lei. Os clássicos do marxismo desmascararam com firmeza a interpretação idealista da lei pelas diferentes seitas filosóficas.

Afirmando que a natureza e a vida social se desenvolvem segundo leis que lhes são inerentes, leis independentes da vontade dos homens, o marxismo-leninismo nega, ao mesmo tempo, a interpretação fatalista da necessidade e da lei e ressalta o papel das massas populares, das classes, dos partidos e dos indivíduos no desenvolvimento da sociedade. Os fatalistas afirmam que se no mundo, na natureza e na sociedade, domina a lei, a vontade dos homens é, então, agrilhoada. O destino dos homens é predeterminado pela cadeia, necessária e regular, do desenvolvimento dos acontecimentos — assim raciocinam os fatalistas. Essa interpretação da necessidade contradiz a realidade e, a par de outras teorias científicas falsas, serve aos inimigos da classe operária. Um dos propagandistas da teoria fatalista foi o célebre revisionista Bernstein que identificava a necessidade histórica com a situação forçada e desesperada dos homens.

Interpretando de maneira fatalista a necessidade, os revisionistas pregavam o seguidismo, visando a agrilhoar a energia revolucionária da classe operária.

O marxismo refuta o fatalismo. A interpretação marxista da lei contém o reconhecimento obrigatório de que as leis sociais manifestam-se através da atividade dos homens. Os homens fazem a História, o povo é o criador da História. No processo da criação histórica os homens descobrem leis que existem objetivamente, tomam conhecimento delas e em sua atividade prática apoiam-se nessas leis, utilizam-nas. Apresentando a solução dialética do problema da liberdade e da necessidade, Engels afirma que

"a liberdade, por conseguinte, reside nesse domínio sobre nós próprios e sobre o mundo exterior, domínio baseado no conhecimento das leis necessárias da natureza (Naturnotwendigkeiten) (...)”.(32)

O camarada Stálin ensina que os homens não podem ignorar as leis objetivas da História; não podem, arbitrariamente, saltar as etapas do desenvolvimento regular da sociedade, mas podem exercer influências sobre a marcha dos acontecimentos e utilizar as leis de seu desenvolvimento em prol de seus interesses. A construção do comunismo na URSS é um brilhante exemplo da utilização consciente das leis do desenvolvimento social.

O Partido bolchevique e o grande chefe da humanidade progressista, o camarada Stálin, conduzem com segurança o povo soviético ao comunismo pelo caminho traçado pelo exato conhecimento das leis do processo histórico.

A Dialética Marxista e a Dependência Casual Entre os Fenômenos

A conexão entre os objetos e fenômenos da natureza e da sociedade existe em variadas formas e se reflete, no conhecimento sob a forma dos diferentes conceitos e categorias. A ligação entre os fenômenos da natureza e da sociedade se expressa nas relações entre a qualidade e a quantidade, a forma e o conteúdo, o novo e o velho, o positivo e o negativo, o necessário e o casual. Existem também relações causais entre os fenômenos da natureza e da sociedade. As relações causais se distinguem de todas as outras relações, que expressam conexão entre os objetos, pelo fato de revelarem a origem dos fenômenos e dos objetos. Através da relação de causa e efeito revela-se a cadeia, ininterrupta e infinita, dos acontecimentos da natureza e da sociedade. A causalidade expressa o momento da conexão geral entre os fenômenos do mundo material.

Na história da filosofia a interpretação da causalidade sempre foi arena de luta intensa entre o materialismo e o idealismo. Lênin afirma:

"O problema da causalidade tem significação particularmente importante para a determinação da linha filosófica dos ‘ismos’ mais recentes (...).(33)

No Materialismo e Empiriocriticismo. Lênin desmascara com firmeza a interpretação machista, idealista, da causalidade. Os machistas negaram a significação objetiva das relações de causa e efeito e restabeleceram a concepção de Hume a respeito da causalidade. Procuravam impor a ideia mesquinha de que nos próprios fenômenos não há dependência causal e de que a sensação e a experiência nada nos dizem a respeito das relações causais. O ponto de vista subjetivo e idealista dos machistas a respeito da causalidade ainda predomina na moderna filosofia e nas ciências naturais da burguesia.

Os físicos idealistas da burguesia negam a objetividade das relações causais no mundo das partículas-micro e tentam refutar a existência de leis objetivas nos fenômenos intra-atômicos.

Os físicos idealistas afirmam, à maneira de Mach, que lidamos apenas com a experiência sensível e com cálculos matemáticos que nada dizem da existência do mundo material objetivo, independente da consciência. Essas afirmações por parte dos físicos burgueses não passam de traição à ciência, são uma expressão da desesperada crise que atravessam as ciências naturais burguesas.

Refutando as considerações dos físicos idealistas dos Estados Unidos e da Inglaterra, os físicos soviéticos negam a teoria idealista do indeterminismo (negação da lei e da causalidade dos fenômenos). Partem da consideração de que o princípio da causalidade que domina na mecânica clássica deve ser precisado em sua aplicação às partículas do micromundo e de forma alguma é desmentido pelas novas descobertas no domínio da física.

A dialética marxista reconhece o caráter objetivo da causalidade. A aplicação do problema fundamental da filosofia à interpretação da causalidade significa que essa categoria filosófica é um reflexo de relações causais inerentes aos fenômenos do mundo objetivo. As relações causais são gerais, inerentes a todos os fenômenos do mundo; na natureza e na sociedade não há fenômenos que não sejam causalmente condicionados.

Toda a multiforme atividade prática do homem comprova o caráter geral da causalidade. Engels afirma que o homem não só constata que a determinado movimento se segue outro movimento mas também cria novas formas de movimento; por exemplo: a indústria. Conhecendo as causas que condicionam o aparecimento de qualquer fenômeno, ficamos em condições de provocá-lo por nós mesmos.

"É graças a isso, graças à atividade do homem, que se forma a representação da causalidade, a ideia de que um movimento é causa de outro.”(34)

Lênin afirma que a descoberta das relações causais entre as coisas e objetos é condição importante para alcançar-se sua essência. Lênin escreve que

"o conhecimento real da causa é o aprofundamento do conhecimento, a partir da aparência exterior dos fenômenos até sua essência.”(35)

Lênin exige que ao analisar-se os fenômenos, sejam descobertas suas conexões causais e não considera a análise completa se não são descobertas as relações causais dos fenômenos.

A dialética marxista ensina também que a causalidade expressa a lei do desenvolvimento dos fenômenos da natureza e da sociedade. A causalidade expressa o aspecto mais característico da conexão mútua e interdependência entre os fenômenos da natureza e da sociedade; através da causa descobrem-se as condições em que se origina o novo.

Um brilhante exemplo de descoberta das leis do desenvolvimento dos acontecimentos sociais é a análise das causas do movimento stakhanovista, feita pelo camarada Stálin em seu discurso na Primeira Conferência Nacional dos Stakhanovistas. O camarada Stálin demonstra em seu discurso que na sociedade socialista o movimento stakhanovista é um fenômeno regular, é o movimento mais fecundo e insuperável da atualidade. O camarada Stálin aponta quatro causas cujo efeito foi o movimento stakhanovista:

Caracterizando a relação causal como expressão da lei do desenvolvimento dos fenômenos do mundo material objetivo, a dialética marxista considera a causalidade como uma partícula, como um dos aspectos da conexão universal que existe na realidade.

"A causa e o efeito são, por conseguinte, apenas momentos da interdependência universal, da conexão (universal), do entrelaçamento recíproco entre os acontecimentos, apenas elos na cadeia do desenvolvimento da matéria."(36)

Lênin afirma que

"a causalidade que concebemos comumente é apenas uma pequena partícula da conexão universal, mas partícula (acréscimo materialista) não de uma conexão subjetiva, mas de uma conexão objetivamente real."(37)

A dialética marxista reconhece as múltiplas formas da causalidade. Na análise dos diferentes fenômenos sociais Lênin e Stálin apontam a existência de causas externas e internas, de ação prolongada e de conjuntura, subjetivas e objetivas. Analisando a questão do amadurecimento da revolução em 1917, Lênin afirmou que

"as revoluções não se fazem por encomenda, não são marcadas para tal ou qual momento, mas amadurecem no processo do desenvolvimento histórico e começam no momento condicionado pelo complexo de toda uma série de causas internas e externas."(38)

Ao analisar-se os fenômenos sociais é necessário pesquisar suas causas subjetivas e objetivas. Assim, por exemplo, no Informe ao XV Congresso do PC (b) da URSS o camarada Stálin, analisando os processos de desenvolvimento da agricultura, afirmou que o Partido tomara então muitas medidas para empreender a coletivização da agricultura, mas as condições permitiam que ainda se fizesse muito mais. Indicando que os colcoses e sovcoses produziam na época, ao todo, pouco mais de 2 por cento de toda a produção agrícola, o camarada Stálin revela tanto as causas objetivas desse atraso como as subjetivas e estabelece um programa concreto de incorporação das explorações camponesas à construção do socialismo.

As relações causais caracterizam-se também pela duração de sua ação. No estudo concreto dos fenômenos sociais é importante distinguir as causas fundamentais das causas temporárias e de conjuntura. Por exemplo, analisando as causas da escassez de cereais ocorrida em 1928, o camarada Stálin destacou as temporárias e de conjuntura das causas fundamentais que haviam provocado a escassez e apontou o caminho real para a superação das dificuldades.(39)

Pesquisando os fenômenos sociais, ss clássicos do marxismo-leninismo sempre destacaram suas causas fundamentais e básicas. Referindo-se às causas do fracasso da II Internacional, Lênin afirmou que

"a causa básica desse fracasso é a predominância de fato, nela, do oportunismo pequeno-burguês, e que os melhores representantes do proletariado revolucionário de todos os países há muito haviam apontado seu caráter burguês e o perigo que representava.”(40)

Podemos citar muitos outros trabalhos de Lênin e Stálin pelos quais se vê que na análise dos acontecimentos sociais Lênin e Stálin destacam as causas básicas, fundamentais e profundas. Isso permite determinar com exatidão as tarefas concretas para a atividade prática do Partido.

Ao contrário da oposição metafísica entre a causa e o efeito, — quando se considerava que a causa e o efeito eram imutáveis e não se transformam um no outro — a dialética marxista estabelece que a causa e o efeito se convertem um no outro. Expondo a doutrina da dialética marxista sobre a causa e o efeito, Engels escreve:

"(...) a causa e o efeito são conceitos que só têm validade como tais na aplicação a determinado caso; porém, logo que consideramos esse caso isolado em sua ligação geral com o conjunto do universo, causa e efeito se confundem, entrelaçam-se no conceito de ação e reação universais onde causas e efeitos constantemente trocam de lugar, aquilo que aqui ou agora é efeito tornando-se em outro lugar ou em outro momento causa e vice-versa"(41)

É fácil ilustrar essa tese com o exemplo do movimento stakhanovista. Como indica o camarada Stálin, uma das causas da origem do movimento stakhanovista foi a considerável melhoria da situação material da classe operária. Após surgir, porém, o movimento stakhanovista elevou consideravelmente a produtividade do trabalho na economia nacional e transformou-se em causa de uma maior elevação do bem-estar material dos trabalhadores.

A dialética marxista ensina também que os fenômenos da natureza ou da vida social podem ser provocados por mais de uma causa. Assim, por exemplo, ressaltando o caráter extraordinariamente combativo e revolucionário do leninismo, o camarada Stálin aponta duas causas para isso. O camarada Stálin escreve:

"Essa particularidade do leninismo explica-se, porém, por duas causas: primeiro, pelo jato de que o leninismo saiu das entranhas da revolução proletária, cuja marca não pode deixar de trazer; em segundo lugar, pelo fato de que cresceu e se robusteceu nos embates contra o oportunismo da II Internacional. A luta contra o oportunismo foi e é uma condição preliminar necessária para a luta vitoriosa contra o capitalismo.”(42)

É assim que a dialética marxista nos obriga a estudar concretamente as diferentes formas da dependência causal na natureza e na sociedade.

A Dialética Marxista e a Variedade dos Tipos de Conexão na Natureza e na Sociedade

Os tipos e formas de conexão mútua dos objetos e fenômenos da realidade são extremamente variados.

Em seu trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, o camarada Stálin aponta a existência de conexões diretas e indiretas entre os fenômenos. Esclarecendo a diferença entre a superestrutura e a língua, o camarada Stálin demonstra que a língua se acha diretamente ligada à atividade produtiva do homem. A língua reflete diretamente as transformações que se verificam tanto na produção como na infraestrutura e na superestrutura. A superestrutura, porém, se acha ligada à produção indiretamente; só reflete as transformações na produção através da infraestrutura. Apontando a existência e o papel das conexões diretas e indiretas nos fenômenos sociais, o camarada Stálin enriqueceu a dialética marxista com nova tese, aprofundou e concretizou a doutrina da conexão e interdependência entre os fenômenos da realidade.

A doutrina dos vínculos essenciais e não essenciais na natureza e na sociedade é também importante tese da dialética marxista. Cada fenômeno da natureza e da vida social está sempre ligado, sob diversos aspectos, a outros fenômenos. Entretanto, somente as conexões essenciais revelam a natureza dos fenômenos. Por isso o método dialético marxista nos obriga a encontrar nos fenômenos os vínculos essenciais e a distingui-los das conexões não essenciais. Lênin afirmou por diversas vezes que as tentativas de caracterizar um objeto através de suas ligações não essenciais, a caça a particularidades, levam inevitavelmente à deturpação da realidade. Desmascarando o social-revolucionário Tchernov e outros "críticos” da doutrina econômica de Marx que ignoravam os traços essenciais do capitalismo e que concentravam a atenção em particularidades, Lênin escreveu:

"(...) quão característica é essa caça, tão em moda atualmente, caça quase realista, mas na realidade eclética a um catálogo completo de todos os sintomas isolados e ‘fatores’ isolados. Como resultado temos, evidentemente, a tentativa absurda de introduzir num conceito geral todos os sintomas particulares de fenômenos isolados, ou, ao contrário, de ‘evitar o choque com uma «extrema diversidade de fenômenos'tentativa que testemunha simplesmente a incompreensão elementar do que seja a ciêncialeva o ‘teórico’ a não ver, atrás das árvores, a floresta."(43)

A descoberta dos vínculos essenciais entre os objetos pressupõe seu exame completo, o esclarecimento de suas relações com outros objetos e um método dialético de abordar a realidade. Ao contrário, o esquecimento das ligações essenciais sempre se faz acompanhar da união eclética entre os diferentes aspectos dos fenômenos e leva inevitavelmente à deturpação da realidade e à substituição da dialética pelo ecletismo. Lênin e Stálin lutaram tenazmente contra aqueles que substituíam a dialética pelo ecletismo. Em vários de seus trabalhos Lênin ataca o método eclético dos kautskistas abordarem as questões do Estado. Nos anos anteriores à revolução, particularmente às vésperas da Grande Revolução Socialista de Outubro, os renegados da II Internacional, Kautsky e Vandervelde, "trabalharam” muito por deturpar a doutrina marxista do Estado. Tentavam dissimular nessa doutrina o elemento principal — a questão da ruptura, pela violência, da máquina estatal da burguesia, o problema da revolução proletária. Visando a esse objetivo, Vandervelde contornou de todas as maneiras a definição marxista do Estado como instrumento de violência de uma classe sobre outra e substituiu-o por uma definição abstrata e eclética tomada de empréstimo a fontes burguesas.

"Por um lado, por Estado pode-se subentender ‘o conjunto da nação' (...) por outro lado, por Estado pode-se subentender ‘o governo'' (...)”(44)

— escreveu Lênin a respeito das opiniões de Vandervelde sobre o Estado, caracterizando-as como

"doutrina da trivialidade.”

Lênin afirma que os ecléticos, deturpando a realidade, frequentemente "unem” o que não pode ser unido na vida dos fenômenos.

Citando Engels a torto e a direito, os oportunistas "uniram” os raciocínios de Engels sobre a revolução violenta com suas palavras relativas ao "desaparecimento" do Estado, silenciando sobre o fato de que Engels, quando fala do "desaparecimento” do Estado, se refere ao Estado proletário.

Trata-se de uma união de aspectos que na vida não se unem. Lênin escreve:

"Comumente unem um e outro por meio do ecletismo arrebatando arbitrariamente, pela ausência de princípios ou pelo sofisma (ou para agradar ao poder dos proprietários), ora um, ora outro raciocínio, sendo que em 99 por cento dos casos, se não mais frequentemente, apresenta-se em primeiro plano justamente o 'desaparecimento'. A dialética é substituída pelo ecletismo (...)".(45)

Em consequência desses artifícios sofísticos chega-se à conclusão de que o Estado burguês desaparece por si mesmo, sem a revolução violenta e sem a destruição da máquina estatal, enquanto que o capitalismo se transforma pacificamente em socialismo.

Restaurando as teses marxistas do Estado, Lênin demonstra que Marx e Engels indicaram a necessidade da revolução violenta contra o Estado burguês e que sua tese a respeito do desaparecimento do Estado refere-se apenas ao Estado proletário, que começará a desaparecer quando se criarem para isso as necessárias condições históricas.

Lênin desmascarou com firmeza a manobra trotskistabucarinista quanto ao problema dos sindicatos. Os degenerados trotskistasbucarinistas opunham o método econômico de abordar o problema ao método político, tentando demonstrar a igualdade de seu valor e de sua significação. Lênin, vociferavam eles, aborda os sindicatos politicamente, quando é preciso — afirmavam — abordá-los do ponto de vista econômico. Lênin demonstrou de maneira evidente que esses inimigos do comunismo resolviam ecleticamente o problema da correlação entre a política e a economia.

"‘Tanto um como o outro', ‘por um e por outro lado'eis a posição teórica de Bukhárin. Isso é o que chamamos ecletismo"(46)— escreveu Lênin.

A solução dialética da questão exigia que se encontrasse os aspectos essenciais das relações entre a política e a economia. Essa relação essencial entre a política e a economia reside em que a política, como afirmou Lênin, é a expressão concentrada da economia e por isso

"não pode deixar de ter primazia sobre a economia.”(47)

O inimigo do povo Bukhárin solucionava ecleticamente o problema do papel e das tarefas dos sindicatos. Definiu os sindicatos, por um lado, como escola, e, por outro lado, como aparelho. Lênin chamou essa definição de nulidade eclética, demonstrando que na definição eclética de Bukhárin não há nenhuma grama de marxismo.

Tomando para exemplo um copo, Lênin demonstrou a diferença entre a dialética e o ecletismo. O eclético não considera os aspectos essenciais da relação entre os objetos, mas toma arbitrariamente traços isolados dos fenômenos e os une mecanicamente; afirma, por exemplo, que o copo é um cilindro de vidro e um instrumento para a bebida. O eclético considera o copo sem relacioná-lo à sua utilização. O dialético, porém, considera que o copo tem uma quantidade infinita de propriedades, de aspectos e de relações mútuas com tudo o mais e define sua atitude em relação ao copo partindo de necessidades práticas concretas.

O copo pode ser um vaso para bebida, pode ter significação como valor artístico, pode servir de projétil, etc. O dialético determina sua atitude em relação ao copo de acordo com as necessidades. Se necessitamos do copo como vaso para bebida, então, a circunstância de que esse copo tenha fundo e não possa ferir os lábios adquire a principal significação. Se o copo é importante como valor artístico, pode exercer essa função embora não sirva para bebida. O dialético exige que se considere o objeto em ligação com as condições históricas concretas. O eclético une arbitrariamente aspectos isolados do objeto, sem levar em conta os objetivos práticos. Isso não permite encontrar o elemento principal dos fenômenos pesquisados.

Desmascarando os ecléticos, Lênin formulou quatro regras da lógica dialética:

"Para se conhecer realmente um objeto, é preciso, em primeiro lugar, abranger e estudar todos os seus aspectos, todas as suas conexões e 'elos intermediários'. Jamais conseguiremos isso totalmente, mas essa exigência nos evita erros e fracassos. Em secundo lugar, a lógica dialética exige que consideremos o objeto em seu desenvolvimento, em seu 'automovimento' e transformação. Em relação ao copo isso não se toma claro de repente; mas o copo não permanece invariável, modifica-se particularmente a função do copo, seu uso, sua conexão com o meio ambiente. Em terceiro lugar, toda a prática humana deve participar da 'definição' total do objeto tanto como critério da verdade quanto como definidor prático da ligação do objeto com o que é necessário ao homem. Em quaro lugar, a lógica dialética ensina que 'não há verdade abstrata: a verdade é sempre concreta' (...)”.(48)

Demonstrando os aspectos essenciais das relações entre os sindicatos, o Estado e o Partido, Lênin dá uma definição dialética dos sindicatos e afirma que no sistema do Estado proletário os sindicatos são, em todos os aspectos, uma escola de comunismo: escola de união, de solidariedade, de defesa dos interesses da classe operária, de administração, de governo.

Por conseguinte, as ligações não essenciais entre os objetos não nos revelam a essência dos fenômenos nem nos dão base para formular as leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade.

"(...) O não essencial, o aparente, o artificial, mais frequentemente desaparece, não se mantêm tão ‘solidamente’, não ‘se assenta tão fortemente', como a ‘essência'."(49)

E, ao contrário, a revelação das conexões essenciais e orgânicas entre os fenômenos da natureza e da sociedade permite descobrir e formular as leis do desenvolvimento do mundo material.

A Dialética Marxista e a Correlação entre a Necessidade e a Casualidade

Compreendemos o desenvolvimento regular dos fenômenos da natureza e da sociedade através da descoberta das ligações mútuas essenciais, das mais importantes relações recíprocas entre os fenômenos pesquisados com o mundo que os cerca. Entretanto, ao reconhecer o desenvolvimento regular do mundo objetivo, a dialética marxista não nega a existência dos fenômenos casuais e reconhece a influência da casualidade sobre a marcha dos acontecimentos.

Essa interpretação dialética da ação recíproca entre a necessidade e a casualidade não foi conseguida pelo materialismo metafísico e mecanicista.

Os materialistas franceses do século XVIII, por exemplo, negavam totalmente a casualidade e consideravam todos os fenômenos da natureza como necessários.

"(...) Tudo o que observamos é necessário ou não pode ser senão o que é (...)”(50)— escreveu Holbach.

Desta forma, Holbach pregava, realmente, a concepção fatalista da natureza e da vida social. Holbach escreve:

"(...) A necessidade que governa os movimentos do mundo físico, governa também os movimentos do mundo espiritual, no qual, por conseguinte, tudo está subordinado à fatalidade.” Mas, se tudo é apenas necessário, então a própria necessidade se reduz ao nível da casualidade, e "com uma necessidade desse gênero continuamos sem sair dos limites da concepção teológica da natureza.”(51)

A negação da existência objetiva da casualidade e a afirmação da necessidade fatal de todos os processos da natureza e da vida social leva ao reconhecimento de uma força do outro mundo em relação à natureza e à sociedade, força que impõe à natureza e ao homem sua vontade e que predetermina os destinos da humanidade.

A dialética marxista não confunde a casualidade com a necessidade mas também não as opõe de maneira absoluta. K. Marx escreve que

"a História teria um caráter bastante místico se a ‘casualidade' não representasse nenhum papel. Essas casualidades entram, evidentemente, como parte constituinte na marcha geral do desenvolvimento, equivalendo-se a outras casualidades.”(52)

O mesmo ressaltou F. Engels quando escreveu que a necessidade

"abre caminho através de uma quantidade infinita de casualidades (...)”.(53)

A necessidade e a casualidade, embora não se encontrem em oposição absoluta, diferenciam-se pelo seu papel nos processos do mundo material objetivo. A dialética marxista exige que se distinga a necessidade, a lei, da casualidade.

Os clássicos do marxismo-leninismo, analisando os fatos da natureza e da vida social, sempre consideraram a casualidade em correlação com a necessidade, com a lei. Caracterizando a distribuição das forças de classe na Rússia, no começo de 1907, Lênin escreveu:

"Não foi a casualidade, mas a necessidade econômica que provocou o fato de que, após a dispersão da Duma, o proletariado, o campesinato e os pequeno-burgueses pobres da cidade se tornassem profundamente esquerdistas e revolucionários, enquanto que os 'kadetes' se tornavam profundamente direitistas."(54)

Caracterizando o ascenso revolucionário de 1911-1912, Lênin ressalta que

"nesse ascenso nada há de casual, seu advento e perfeitamente regular e necessariamente condicionado por todo o desenvolvimento anterior da Rússia."(55)

O que é, portanto, a causalidade? Como caracterizar os fenômenos casuais e os fenômenos regulares, regidos por lei? A essa pergunta temos uma resposta completa se pesquisarmos atentamente em que sentido os clássicos do marxismo-leninismo empregam o conceito casualidade quando analisam os fenômenos sociais e históricos.

Revelando as características do capitalismo, Lênin afirma que

"o produto assume a forma de mercadoria nos mais diferentes organismos sociais de produção, mas somente na produção capitalista essa forma do produto do trabalho é geral e não uma exceção, um fato isolado e casual.”(56)

Assim, a casualidade se caracteriza pelo fato de que, primeiro, se contrapõe ao geral, e, segundo, identifica-se com o isolado, o singular. Lênin nos dá a mesma caracterização da casualidade quando critica os ataques dos struvistas contra a doutrina de Marx sobre o valor. Lênin escreve:

"Se o preço é uma relação de troca, então é inevitável compreender a diferença entre a relação singular de troca e o constante, entre o casual e o de massa, entre o momentâneo e o que abrange prolongados períodos de tempo. Uma vez que é assime indubitavelmente assim éde maneira igualmente inevitável nos elevamos do casual e singular ao estável e de massa, do preço ao valor."(57)

Vemos que, aqui também, Lênin caracteriza a casualidade como expressão da singularidade e contrapõe a casualidade aos fenômenos gerais e de massa que atuam durante longo tempo.

No artigo Uma Caricatura do Marxismo e o "Economismo Imperialista", Lênin demonstra que a guerra imperialista de 1914-1918 não foi um fenômeno casual, uma exceção, um afastamento do geral e do típico, mas um produto, determinado por leis, da época imperialista. Nesse caso, Lênin caracteriza a casualidade como afastamento do geral e do típico.(58)

Por conseguinte, por casual devemos compreender o que se afasta do geral, o não-típico, o que é individual, que não tem ligação orgânica com o todo.

Manifestando-se como não-típico, como exceção à regra, o casual não revela a essência dos objetos e dos fenômenos. Analisando a questão da dialética do geral e do particular, da casualidade e da necessidade, da essência e do fenômeno, Lênin afirma que na definição dos conceitos

"desprezamos vários indícios como casuais, separamos o essencial do aparente e contrapomos um ao outro."(59)

Desprezamos os indícios casuais porque não revelam a essência dos objetos.

Lênin e Stálin, caracterizando os fenômenos casuais, indicam também que o casual não tem raízes sólidas nos fenômenos. O camarada Stálin contrapõe o casual, como transitório e temporário, ao prolongado. No trabalho Lênin e a Questão da Aliança Com o Camponês Médio, o camarada Stálin escreve:

"(...) Lênin e o Partido não consideram a política de entendimento com o camponês médio como uma política casual e transitória, mas como uma política de longa duração."(60)

Assim, podemos chegar à conclusão de que o casual não tem raízes sólidas nos objetos e nos acontecimentos e é uma expressão dos vínculos temporários entre os fenômenos.

O camarada Stálin observou que os Estados de Ciro ou de Alexandre, por exemplo, não podem ser considerados como nações porque eram

"conglomerados casuais e debilmente ligados, grupos que se desagregavam ou se constituíam segundo os bons êxitos ou as derrotas deste ou daquele conquistador."(61)

Ao mesmo tempo a casualidade apresenta-se tanto como forma de manifestação da necessidade quanto como complemento da necessidade. A necessidade nem sempre se manifesta sob a forma de casualidade, mas há relações entre os acontecimentos em que a casualidade se apresenta como forma de manifestação da necessidade. F. Engels assinala que na sociedade capitalista os homens fazem a História sem se orientarem por uma vontade única, sem ter um plano único e, por isso, nesse tipo de sociedade, a necessidade econômica abre caminho através de uma multidão de casualidades, manifesta-se sob a forma de casualidade.(62)

Engels considera também como coisas e acontecimentos casuais aqueles cuja ligação interna é extremamente afastada.(63)

Assim, o casual manifesta-se em formas diversas; por casual a dialética marxista considera o que não tem raízes sólidas nos fenômenos, o que não expressa a essência dos objetos, o que é um afastamento do geral e do típico, o que não tem ligação orgânica com os fenômenos e em alguns fenômenos é a forma de manifestação da necessidade e o seu complemento.

E preciso também assinalar que um fenômeno casual não é um fenômeno sem motivo: toda casualidade tem causa. A dialética marxista rejeita fenômenos sem causas, quaisquer que sejam; no mundo tudo tem suas causas e nesse sentido a casualidade é também condicionada por causas. O limite entre a casualidade e a necessidade não é absoluto. O casual em algumas condições pode tornar-se necessário noutras, a casualidade pode transformar-se em necessidade. Por exemplo, no primeiro capítulo de O Capital, Marx revela como a troca de produtos do trabalho se transformou, nas condições da produção mercantil, em necessidade histórica, sem a qual a sociedade moderna não pode existir.

A justa compreensão do papel da casualidade na realidade objetiva tem imensa significação para o conhecimento e a descoberta das leis da natureza e da sociedade. Desmascarando os weismannistas-morganistas, T. D. Lissenko demonstrou que todas as "leis" do mendelismo-morganismo se baseiam exclusivamente na ideia da casualidade. Lissenko afirma:

"(...) A natureza viva é considerada pelos morganistas como um caos de fenômenos desligados e fortuitos, independentes de quaisquer conexões e leis necessárias. Por toda parte reina o acaso.”(64)

Ao contrário do weismannismo-morganismo, a biologia soviética desenvolve-se à base do domínio das leis da natureza, orienta-se pela regra que afirma que a ciência é inimiga da casualidade.

Uma vez que as casualidades representam fenômenos inerentes à realidade material objetiva e se encontram em determinada correlação com a necessidade, com a lei, a tarefa primordial reside em distinguir o casual do necessário.

No trabalho O Desvio de Direita no PC (b) da URSS, o camarada Stálin demonstrou que os inimigos do povo, Bukhárin e seus adeptos, tentaram considerar como fenômeno casual o aguçamento da luta de classes no período de transição do capitalismo ao socialismo. Substituíram a necessidade pela casualidade. O camarada Stálin demonstrou que o aguçamento da luta de classes no país não era uma casualidade. O aguçamento da luta de classes no período de transição é uma necessidade histórica que reflete a resistência dos inimigos de classe à construção do socialismo.

Considerando o aguçamento da luta de classes como fenômeno regido por leis, o camarada Stálin tirou daí importantes conclusões práticas.

''Qual deve ser a política do Partido diante de tal estado de coisas?

Deve ser a de pôr em guarda a classe operária e as massas exploradas do campo, elevar sua capacidade de luta e desenvolver sua agilidade de mobilização para a luta contra os elementos capitalistas da cidade e do campo, para a luta contra os inimigos de classe que oferecem resistência. A teoria marxista-leninista da luta de classes é boa, entre outras coisas, porque facilita a mobilização da classe operária contra os inimigos da ditadura do proletariado."(65)

Significação Prática da Tese Sobre a Conexão Mútua e a Interdependência Entre os Fenômenos da Natureza e da Sociedade

Particularidade fundamental da filosofia marxista-leninista é sua indissolúvel ligação com a prática, com a luta pelo comunismo. As teses teóricas do marxismo-leninismo surgem à base da generalização da atividade prática e, após surgirem, tornam-se instrumento de conhecimento e de transformação da realidade. No trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin demonstra de maneira evidente as importantes conclusões que podem ser tiradas de cada característica do método dialético marxista e do materialismo filosófico para a atividade do Partido marxista-leninista.

Da primeira característica do método dialético marxista decorre a necessidade de abordar-se de maneira concreta e histórica os fenômenos da realidade. O camarada Stálin escreve:

"Se no mundo não há fenômenos isolados, se todos os fenômenos estão vinculados entre si e se condicionam uns aos outros, é evidente que todo regime social e todo movimento social que surge na História deve ser julgado não do ponto de vista da 'justiça eterna' ou de qualquer outra ideia preconcebida, como frequentemente o fazem os historiadores, mas do ponto de vista das condições que deram origem a esse regime e a esse movimento social e com as quais eles estão ligados.”(66)

O camarada Stálin ressalta a particular importância do modo histórico de abordar os fenômenos sociais, porque tudo depende das condições, do lugar e do tempo.

A metafísica, negando o vínculo mútuo entre os fenômenos, origina inevitavelmente o modo abstrato de abordar a realidade, o que de fato leva a uma interpretação deturpada tanto dos fenômenos da natureza, como dos acontecimentos históricos.

Os inimigos declarados do povo — os trotskistas e os bucarinistas — deturpando, para atender a seus vis objetivos, os acontecimentos históricos, utilizaram a metafísica para uma interpretação falsa dos fenômenos da vida social. Considerando as teses do marxismo de maneira escolástica e dogmática, os trotskistas transplantaram arbitrariamente de umas condições a outras as análises feitas por Marx a respeito de determinados acontecimentos históricos.

O camarada Stálin afirmou que os inimigos do marxismo substituem o ponto de vista de Marx

"por citações de determinadas teses de Marx, considerando-as sem ligação com as condições concretas de uma determinada época."(67)

A dialética marxista exige que se aborde os acontecimentos considerando-os de maneira histórica e exige sua análise concreta. Ao examinar-se qualquer questão e qualquer acontecimento histórico é necessário partir de condições históricas concretas e somente uma tal análise da realidade é realmente científica, dando a possibilidade de refletir com acerto os acontecimentos e determinar nossa atitude em relação aos mesmos.

Lênin afirma que uma análise concreta de uma situação concreta é a alma viva do marxismo.(68)

O camarada Stálin afirma:

"É necessário que o Partido elabore suas palavras de ordem e suas diretivas não à base de jó,-mulas decoradas e de paralelos históricos, mas em consequência de uma cuidadosa análise das condições concretas, internas e internacionais, do movimento revolucionário, levando obrigatoriamente em conta a experiência da revolução em todos os países."(69)

Uma vez que todos os fenômenos da natureza e da sociedade se ligam e se condicionam reciprocamente, só é possível compreender esses fenômenos analisando-se as condições concretas de sua existência e desenvolvimento.

Criticando os escolásticos e os talmudistas em seu trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, o camarada Stálin uma vez mais chama nossa atenção para a importância de abordar-se de maneira concreta e histórica os fenômenos sociais.

O camarada Stálin afirma que a tese de Marx e Engels sobre a impossibilidade da vitória da revolução socialista num só país e a tese de Lênin sobre a possibilidade dessa vitória, embora se excluam entre si, são exatas — cada qual para determinadas condições históricas.

"Escolásticos e talmudistas que, sem penetrar na essência das coisas, jazem citações mecanicamente, desligando-as das condições históricas, poderão afirmar que uma dessas conclusões deve ser rejeitada como absolutamente errada, e que a outra, como absolutamente justa, deve ser estendida a todos os períodos do desenvolvimento. Entretanto, os marxistas não podem deixar de saber que os escolásticos e os talmudistas se enganam, não podem deixar de saber que ambas essas conclusões são justas, embora não de modo absoluto, mas cada uma delas para sua época: a conclusão de Marx e Engels para o período do capitalismo pré-monopolista, e a conclusão de Lênin para o período do capitalismo monopolista."(70)

Nesse mesmo trabalho o camarada Stálin critica aqueles que, escolasticamente, deturpam a tese de Engels a respeito do desaparecimento do Estado.

Engels afirmou que após a vitória da revolução socialista o Estado deve desaparecer. Partindo dessa consideração, os escolásticos e os talmudistas exigiram que se tomassem medidas para acabar com o Estado soviético. Nosso Partido e o camarada Stálin desmascararam os talmudistas e os escolásticos e demonstraram que a tese de Engels sobre o desaparecimento do Estado após a vitória da revolução socialista não pode ser aplicada em condições em que essa vitória se verificou apenas num sô país. O camarada Stálin demonstra que os marxistas soviéticos, partindo da consideração de que a revolução socialista venceu num só país, concluíram pela necessidade de reforçar o Estado soviético, os órgãos de segurança, o exército, para que nosso país não seja esmagado pelo cerco capitalista. O camarada Stálin escreve:

"Os marxistas russos chegaram à conclusão de que a fórmula de Engels tem em vista a vitória do socialismo em todos os países ou na maioria dos países, que é inaplicável ao caso em que o socialismo vence num só país, considerado isoladamente, enquanto em todos os demais países domina o capitalismo''.

Das duas diferentes fórmulas a respeito dos destinos do Estado socialista os talmudistas não puderam tirar uma conclusão justa; exigiram que uma dessas fórmulas fosse rejeitada e a outra estendida a todos os tempos e períodos da História. O camarada Stálin afirma, a seguir, que

"os escolásticos e os talmudistas se enganam porque ambas essas fórmulas são justas, não de modo absoluto, mas cada qual para sua época: a fórmula dos marxistas soviéticos, para o período da vitória do socialismo num só país ou em alguns países; a fórmula de Engels para o período em que a vitória sucessiva do socialismo em diferentes países leve à vitória do socialismo na maioria dos países e quando se criem, assim, as condições necessárias à aplicação da fórmula de Engels.”(71)

Respondendo a A. Colopov, J. V. Stálin critica o modo escolástico de abordar o problema do cruzamento das línguas. Em sua obra Do Marxismo na Linguística, o camarada Stálin, analisando a história passada da língua, afirma que, em consequência do cruzamento das línguas, uma delas é habitualmente vencedora, em consequência do que, com o cruzamento de duas línguas, não surge uma terceira língua qualquer, e sim conserva-se uma das línguas existentes. A. Colopov comparou essa tese do camarada Stálin com a tese apresentada pelo camarada Stálin no Informe ao XVI Congresso do PC (b) da URSS, onde se afirma que no comunismo as línguas se fundirão numa língua comum. Dogmaticamente, Colopov decide que é preciso rejeitar uma dessas teses e reconhecer a outra como absolutamente justa, independentemente das condições concretas e, assim, meteu-se num beco sem saída. O camarada Stálin escreve:

"É isso o que sempre acontece com os escolásticos e os talmudistas que, sem penetrar na essência das coisas, fazendo citações mecânicas, sem relação com as condições históricas a que se referem as citações, invariavelmente se metem num beco sem saída."(72)

O camarada Stálin explica que ambas as fórmulas são justas, desde que sejam consideradas de maneira concreta e histórica. A fórmula a respeito da impossibilidade do surgimento de uma nova língua, quando do cruzamento de duas ou mais línguas, refere-se ao período anterior à vitória do socialismo em escala mundial,

"quando ainda não há igualdade de direitos entre as nações, quando o cruzamento das línguas se efetua no decorrer da luta pelo domínio de uma das línguas, quando ainda não há condições para a cooperação pacifica e amistosa entre as nações e línguas, quando o que está na ordem do dia não e a cooperação e o enriquecimento mútuo das línguas, mas a assimilação de certas línguas e a vitória de outras. Compreende-se que, nessas condições, só pode haver línguas vencedoras e línguas vencidas."(73)

A condições históricas inteiramente diferentes refere-se a tese de que a fusão das línguas levará a uma língua comum, tese apresentada pelo camarada Stálin ao XVI Congresso do P.C. (b) da URSS Essa tese do camarada Stálin refere-se ao período posterior à vitória do socialismo em escala mundial, quando não houver imperialismo, quando os exploradores forem vencidos, o jugo nacional e colonial for abolido e for estabelecida a confiança recíproca entre as nações. Será um período em que

"a igualdade de direitos entre as nações for levada à prática, quando a política de opressão e de assimilação das línguas houver sido abolida, quando estiver organizada a colaboração entre as nações e quando as línguas nacionais tiverem a possibilidade de se enriquecerem mutuamente e com toda liberdade, por meio da cooperação. Compreende-se que, nessas condições, não se pode falar em opressão e derrota de umas línguas e em vitória de outras línguas. Não se tratará aqui de duas línguas, das quais uma será derrotada e a outra vencedora da luta, mas de centenas de línguas nacionais, das quais, em consequência de uma prolongada cooperação econômica, política e cultural entre as nações, se deslocarão primeiro as línguas únicas de zona, línguas essas mais ricas, e depois as línguas de zona fundir-se-ão numa língua internacional comum que, evidentemente, não será nem o alemão, nem o russo, nem o inglês, mas uma nova língua que terá absorvido os melhores elementos das línguas nacionais e de zona."(74)

Outra tese da dialética marxista que decorre da primeira característica ao método marxista e e extremamente importante para a atividade pratica do Partido marxista-leninista é a doutrina do elo fundamental na cadeia do desenvolvimento histórico. Uma vez que os acontecimentos históricos representam uma cadeia de fenômenos sociais ligados entre si, é muito importante, na atividade prática, saber encontrar nessa cadeia os elos particulares, decisivos. Revelando a essência da direção tática, o camarada Stálin ensina que é necessário encontrar em cada momento dado o elo particular

"na cadeia dos processos, elo que, sendo agarrado, permitirá segurar toda a cadeia e preparar as condições para conseguir-se o êxito estratégico."(75)

Analisando a história do Partido bolchevique, o camarada Stálin afirma que no período da formação do Partido operário marxista o elo fundamental na cadeia das tarefas dos marxistas russos foi a criação do jornal ilegal Iskra para toda a Rússia.

No período que se seguiu à Revolução de Outubro, durante a transição da guerra civil para a construção econômica, o elo fundamental foi o desenvolvimento do comércio, porque somente através do comércio era possível estabelecer a ligação entre a indústria e a agricultura.

A industrialização do país e a coletivização da agricultura foram os elos particulares na cadeia do desenvolvimento histórico que permitiram elevar nosso país a um nível mais alto. Colocando em primeiro plano, de modo consequente, esses elos particulares na cadeia do desenvolvimento da sociedade soviética, como elos principais e decisivos, o Partido de Lênin e Stálin levou o povo soviético a heroicos feitos no trabalho, feitos que foram coroados com a notável vitória do socialismo.

A exigência da dialética marxista no sentido de considerar a realidade de maneira concreta e histórica, de encontrar e colocar em primeiro plano os elos particulares, principais, na cadeia do desenvolvimento histórico ajuda a nos orientarmos com acerto nos acontecimentos, a resolvermos com êxito as tarefas concretas da construção socialista e a lutarmos contra o campo imperialista.

A doutrina da dialética materialista sobre a conexão mútua e a interdependência entre os fenômenos da natureza e da sociedade é um importante meio de conhecimento da realidade e de sua transformação revolucionária.


Notas de rodapé:

(1) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 294. (retornar ao texto)

(2) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. I, pág. 303; ver ed. bras., Ed. Vitória, Rio, 1952, pág. 275. (retornar ao texto)

(3) V. I. LêninOBRAS, 4ª ed. russa. t. I, págs. 171-172; ver Obras Escolhidas, Ed. Vitória, Rio, 1955, t. I, págs. 171-172. (retornar ao texto)

(4) V. I. LêninOBRAS, 4ª ed. russa. t. XIV, pág. 40. (retornar ao texto)

(5) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. VII, pág. 366. (retornar ao texto)

(6) Ibid., pág. 367. (retornar ao texto)

(7) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 22. (retornar ao texto)

(8) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, pág. 38. (retornar ao texto)

(9) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 193. (retornar ao texto)

(10) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 536; ver História do P. C. (b) da URSS, 2ª ed. bras. Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 44. (retornar ao texto)

(11) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, ed. russa, E.P.E., 1952. pág. 52. (retornar ao texto)

(12) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, pág. 45. (retornar ao texto)

(13) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, ed. russa, E.P.E., 1952. pág. 38. (retornar ao texto)

(14) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, pág. 155. (retornar ao texto)

(15) K. Marx e F. Engels — Cartas Escolhidas, ed. russa, E.P.E., 1948, págs. 449-450. (retornar ao texto)

(16) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, ed. russa, E.P.E., 1952. pág. 39. (retornar ao texto)

(17) I. P. Pávlov — Conferências Sobre Fisiologia, ed. russa. Editora da Academia de de Ciências Médicas da URSS, Moscou, 1912-1913 pág 55. (retornar ao texto)

(18) O. B. Lepechínskaia — A Origem das Células a Partir da Substancia Viva e o Papel da Substância Viva no Organismo, ed. russa. Editora da Academia de Ciências Médicas da URSS, Moscou, 1950, pág. 13. (retornar ao texto)

(19) V. I. LêninOBRAS, 4ª ed. russa. t. I, págs. 124-125; ver Obras Escolhidas, Ed. Vitória, Rio, 1955, t. I, págs. 113-114. (retornar ao texto)

(20) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 547; ver História do P. C. (b) da URSS, 2ª ed. bras. Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 49. (retornar ao texto)

(21) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa. E.P.E., 1952, pág. 19; ver revista Problemas. nº 28, pág. 45. (retornar ao texto)

(22) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, E.P.E., 1952, pág. 39: ver revista Problemas, nº 35, pág. 17. (retornar ao texto)

(23) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 541: ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 46. (retornar ao texto)

(24) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 329. (retornar ao texto)

(25) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 143. (retornar ao texto)

(26) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 319. (retornar ao texto)

(27) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, pág. 185. (retornar ao texto)

(28) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 126. (retornar ao texto)

(29) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 127. (retornar ao texto)

(30) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 213. (retornar ao texto)

(31) V. I. LêninOBRAS, 4ª ed. russa. t. I, pág. 122; ver Obras Escolhidas, Ed. Vitória, Rio, 1955, t. I, págs. 113. (retornar ao texto)

(32) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 107. (retornar ao texto)

(33) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 140. (retornar ao texto)

(34) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, pág. 182. (retornar ao texto)

(35) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 134. (retornar ao texto)

(36) Ibid.. pág. 134. (retornar ao texto)

(37) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 136. (retornar ao texto)

(38) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XXVII, pág. 506. (retornar ao texto)

(39) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. XI, pág. 179. (retornar ao texto)

(40) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XXI, pág. 2. (retornar ao texto)

(41) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 22. (retornar ao texto)

(42) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. VI, pág. 71. (retornar ao texto)

(43) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. V, pág. 130. (retornar ao texto)

(44) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t.XXVIII, pág. 299. (retornar ao texto)

(45) Id., t. XXV, pág. 372. (retornar ao texto)

(46) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t.XXXII, pág. 69. (retornar ao texto)

(47) Ibid., pág. 62. (retornar ao texto)

(48) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XXXII, pág. 72. (retornar ao texto)

(49) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 104. (retornar ao texto)

(50) P. Holbach — Sistema da Natureza, ed. russa, 1940, pág. 35. (retornar ao texto)

(51) P. Holbach — Sistema da Natureza, ed. russa, 1940, pág. 131.(retornar ao texto)

(52) K. Marx e F. Engels — Cartas Escolhidas, ed. russa, E.P.E., 1948, pág. 264. (retornar ao texto)

(53) Ibid., pág. 422. (retornar ao texto)

(54) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XII, pág. 153. (retornar ao texto)

(55) Ibid., t. XVIII, pág. 86. (retornar ao texto)

(56) Ibid., t. I, pág. 417. (retornar ao texto)

(57) Ibid., t. XX, pág. 182. (retornar ao texto)

(58) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIII, pág. 19. (retornar ao texto)

(59) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 329. (retornar ao texto)

(60) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. XI, pág. 110. (retornar ao texto)

(61) J. V. StálinOBRAS, ed. bras., Ed. Vitória, Rio, 1952, t. II, pág. 281. (retornar ao texto)

(62) K. Marx e F. Engels — Cartas Escolhidas, ed. russa, E.P.E., 1948, pág. 422-423. (retornar ao texto)

(63) Ibid., págs. 422-470. (retornar ao texto)

(64) T. D. Lissenko — Agrobiologia, 4ª ed. russa, 1948, pág. 652. (retornar ao texto)

(65) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. XII, pág. 38. (retornar ao texto)

(66) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 539: ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 46. (retornar ao texto)

(67) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. IX, pág. 89. (retornar ao texto)

(68) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XXXI, pág. 143. (retornar ao texto)

(69) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. VII, pág. 38. (retornar ao texto)

(70) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, págs. 49-50; ver revista Problemas, nº 35, págs. 52-53. (retornar ao texto)

(71) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, págs. 50-51; ver revista Problemas, nº 35, págs. 53. (retornar ao texto)

(72) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, págs. 52; ver revista Problemas, nº 35, págs. 54. (retornar ao texto)

(73) Ibid., pág. 53; Ibid., pág. 54. (retornar ao texto)

(74) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, págs. 53-54; ver revista Problemas, nº 35, págs. 54-55. (retornar ao texto)

(75) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. VI, pág. 163. (retornar ao texto)

Inclusão 14/02/2015