L. A. & Cª no meio da revolução

Texto de Maria Mata
Ilustrações de Susana Oliveira


Um fim de semana maravilhoso


capa

Nesse dia, o pai do Luís e da Ana chegou a casa mais cedo que o costume. A mãe ainda não acabara de fazer o jantar e ia-se cortando com a faca, ao partir os bifes, tal foi a sua surpresa.

— Não posso acreditar no que estou a ver! — exclamou.

— Se nem eu próprio acredito! — respondeu o Dr. Barroso, pousando a pasta em cima de um dos bancos da cozinha e dando um beijo à mulher. — Chama as crianças! Tenho uma proposta para fazer a todos!

Quando os filhos subiram de roldão as escadas, com os gémeos atrás, anunciou cansado, mas satisfeitíssimo:

— Acabei finalmente o projecto que tinha entre mãos! Finalmente! — e acariciava a pasta que descansava em cima de um banco.

— Caramba! — desabafou o Luís. — Já não era sem tempo!

— Estávamos fartos de te ver com um ar aluado a entrar pela casa dentro a correr, para te fechares no escritório!

— Até nós! — acrescentaram os gémeos, que quase faziam parte da família.

— E com peúgas diferentes e todo despenteado!

— Ih!! Que exagero! — disse a mãe, rindo.

Era evidente o seu alívio. Claro que, naquela situação, era sempre ela a mais sacrificada pois as alterações de hábitos do pai, nessas alturas, introduziam uma grande confusão na rotina doméstica.

— E agora, pai? E aquilo que nos prometeste? Já é possível, agora? — a Ana saltava, à volta dele, como um cachorrinho muito pequeno. — Já é possível, agora, pai?

— Ora! — respondeu o Luís, desanimado. — Agora as nossas férias já acabaram. Adeus Algarve!

— Pois é — disse o Filipe. — A nossa mãe também nos tinha prometido ...

— É verdade! — acrescentou o Nuno. — Fiquei com tanta raiva que só me apetecia fugir de casa! Nunca temos férias como os nossos colegas da escola!

— Nunca conseguimos ir a lado nenhum!

— Passamos o tempo enfiados nesta terrinha!

— Ora, ora — atalhou a mãe. — Não é agora altura para se lamentarem. Pelo contrário, deviam estar contentes ... Acho que o pai se prepara para vos dar uma boa notícia! E vocês deviam estar orgulhosos por terem um pai assim — acrescentou, olhando com ternura o marido sentado num banco, com a Ana ao colo. — E vocês, meninos, — disse, virando-se para os gémeos — o melhor é irem para casa porque a vossa mãe já deve estar à espera.

Quando os gémeos saíram, a correr, o dr. Barroso sentou os dois filhos, um em cada perna.

— Nem imaginam que bom que é chegar a casa a esta hora e ter tempo para estarmos todos juntos! — desabafou, enquanto a mulher tentava remediar a calda do arroz que entretanto se queimara. — Estes últimos dias foram de estoirar! Não via o fim da investigação. Mas agora, está tudo pronto e arrumado. E tenho uma notícia para todos vocês. Até que enfim vou ter férias! Uma semana inteira de férias. Como vocês não têm aulas ao sábado, se faltarem só sexta-feira, podemos partir para o Algarve ... talvez na quinta-feira à noite! Que dizes, Helena?

Os olhos da mãe brilharam.

— Quase que nem acredito que isto está a acontecer — exclamou o Luís. — Belisquem-me para eu ter a certeza que estou acordado!

— E os gémeos — lembrou a Ana. — Não podiam vir connosco, pai?

— Claro! — respondeu o Dr. Barroso. — Até já tínhamos combinado qualquer coisa com a mãe deles ... levamos os dois carros e aí vamos nós! Agora sinto-me livre como um passarinho. Hoje, de manhã cedo, os franceses vieram cá a casa buscar os resultados da investigação. Já levaram tudo.

Neste momento o nosso trabalho já deve estar em França. Ali estão apenas as cópias ... rematou deitando um olhar orgulhoso à pasta. Todos se riram, porque Carlota, a gata da Ana, tinha-se refastelado em cima, e olhava pachorrentamente a cena. Parecia ter a arte de se colocar sempre no centro das atenções.

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— E como vai ser pai? Já tiveste tempo para pensar onde é que vamos dormir?

— E se levássemos as tendas? Podíamos acampar!

— E é já nesta quinta-feira ?

— Podíamos partir logo às cinco e meia! As minhas aulas acabam às cinco e meia, à quinta-feira!

— E comer? Vamos comer sempre em restaurantes?

— Tenho uma ideia, pai! Porque não pedes ao avô o "boca de sapo?"

— Não é má ideia ... Que achas Helena? Sempre fazíamos uma viagem mais confortável!

— Já me estou a imaginar no banco de trás! — disse a Ana, fechando os olhos de prazer antecipado.

— Mas ... e os gémeos? A 4L deles não aguenta a velocidade do carro do avô. Um Citroen DS ... Voa! — lembrou o Luís.

— Levantam-se uma hora mais cedo ou então partem sem lavar a cara! Ih, Ih, Ih! — riu-se a Ana.

— Caluda, meninos — a mãe tentava a acalmar a excitação dos filhos, sem conseguir grandes resultados. — Não vêem como o pai está cansado? De certeza que ele ainda não teve tempo de pensar nesses pormenores todos. Vão mas é lá para fora ver se encontram os gémeos. A primeira coisa a fazer é saber ao certo se sempre vêm connosco! Não, esperem! Pensando melhor, isto é uma coisa para se combinar entre adultos. Digam só à Isabel que eu depois do jantar vou falar com ela.

Em casa dos gémeos reinava uma grande excitação. Embora aquela viagem fosse uma combinação entre gente grande, os dois ficaram logo a par de tudo. Nem acreditavam! Iam todos juntos passar um grande fim de semana no Algarve!

Estavam tão felizes que nunca mais pensaram na misteriosa bola de couro que ficara esquecida a um canto da cave do Luís e da Ana.


Inclusão: 29/04/2020