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Enquanto o País Soviético se preparava para novos combates contra os intervencionistas estrangeiros, no Ocidente, na retaguarda e nas frentes dos países beligerantes, se produziam acontecimentos decisivos. A Alemanha e a Áustria iam ficando exaustas entre os tormentos da guerra e da crise de subsistência. Enquanto a Inglaterra, França e Estados Unidos mobilizavam novas reservas, a Alemanha e a Áustria esgotaram as últimas e exíguas reservas de que podiam dispor. Tal como estava a coisa, a Alemanha e a Áustria, esgotadas a mais não poder, tinham que ser derrotadas sem demora.
Entretanto, ia fermentando dentro desses países a indignação do povo contra aquela guerra interminável e aniquiladora e contra os governos imperialistas desses países que haviam conduzido o povo ao esgotamento e à fome. Também aqui se revelava a formidável influência revolucionária da Revolução de Outubro, de atos de confraternização entre os soldados soviéticos e os soldados austro-alemães na frente, antes mesmo da paz de Brest-Litovsk e, depois desta, a influência da própria terminação da guerra contra a Rússia Soviética e da paz concertada com ela. O exemplo da Rússia, onde o povo pôs fim à guerra mediante a derrubada do seu próprio governo imperialista, não podia deixar de servir de experiência aos operários austro-alemães. E os soldados alemães da frente Oriental que haviam sido transferidos para a frente Ocidental, depois da paz de Brest, tinham forçosamente que contribuir para decompor o Exército alemão ali destacado, com seus relatos acerca dos atos de confraternização com os soldados soviéticos e acerca do modo como estes souberam desembaraçar-se da guerra. Quanto ao Exército austríaco, começara a se decompor mesmo antes que o alemão, como resultado das mesmas causas. Todas estas circunstâncias contribuíram para aumentar nas tropas alemãs o anelo de paz, para fazer que já não dessem provas da mesma combatividade de antes e para que começassem a retroceder ante o arrojo das tropas da Entente; no interior da Alemanha, estalou, em novembro de 1918, a revolução, derrubando o Kaiser e o seu governo.
A Alemanha se viu obrigada a reconhecer sua derrota e a pedir a paz à Entente.
Deste modo, a Alemanha, potência de primeira ordem, ficava reduzida de repente, à situação de uma potência de segunda ordem.
Do ponto de vista da situação do Poder Soviético, este fato exerceu certa influência negativa, já que convertia os Estados da Entente, oragnizadores da intervenção contra o Poder Soviético na força dominante da Europa e da Ásia, dando-lhes a possibilidade de intensificar a intervenção e de organizar o bloqueio do País Soviético, apertando ainda mais as muralhas em torno do Poder dos Soviets. E isto foi, com efeito, o que ocorreu, como veremos adiante. De outra parte, porém, tinha uma importância positiva ainda mais considerável, que vinha aliviar radicalmente a situação do país dos Soviets. Em primeiro lugar, dava ao Poder Soviético a possibilidade de anular o tratado de paz bandido de Brest-Litovsk, de pôr fim aos pagamentos que lhe foram impostos a título de indenização e de desenvolver uma luta aberta, no terreno militar e político, para libertar a Estônia, a Letônia, a Bielo-Rússia, a Lituânia, a Ucrânia, e a Transcaucásia do jugo do imperialismo alemão. Em segundo lugar — e isto era o mais importante, — a existência no centro da Europa, na Alemanha, de um regime republicano e de Soviets de deputados operários e soldados, tinha necessariamente que repercutir de um modo revolucionário, como de fato repercutiu, nos países da Europa, circunstância que tinha de fortalecer a situação do Poder Soviético na Rússia. É certo que a revolução não era uma revolução socialista, senão uma revolução burguesa, e que os Soviets na Alemanha serviram de dócil instrumento ao parlamento da burguesia, já que a sua direção estava nas mãos dos social-democratas, que eram oportunistas da laia dos mencheviques russos, circunstância que explica especialmente, a debilidade daquela revolução. Quanto era débil a revolução na Alemanha o demonstra um só fato: o de que permitisse que, pelos guardas brancos alemães fossem impunemente assassinados revolucionários de tanto prestígio como Rosa Luxemburgo e Carlos Liebknecht. Porém apesar disso, era uma revolução; o Kaiser foi derrubado do trono; os operários romperam suas cadeias e, ainda que não se houvesse conseguido ou Ira coisa, isto tinha necessariamente que fomentar a revolução no Ocidente, não podia deixar de provocar o auge da revolução nos países europeus.
A revolução começou a avançar na Europa. Na Áustria vinha se desenvolvendo o movimento revolucionário. Na Hungria foi proclamada a República dos Soviets. A onda revolucionária fez aparecer os Partidos Comunistas na Europa.
Isto criou uma base real para a unificação dos Partidos Comunistas na Terceira Internacional, na Internacional Comunista.
Em março de 1919, em Moscou, no primeiro Congresso dos Partidos Comunistas de vários países, por iniciativa de Lenin e dos bolcheviques, foi fundada a Internacional Comunista. E ainda que o bloqueio e as perseguições dos imperialistas impedissem a muitos delegados chegar a Moscou, tomaram parte neste primeiro Congresso representantes dos mais importantes países da Europa e da América. O Congresso foi dirigido por Lenin. No seu informe sobre a democracia burguesa e a ditadura do proletariado, Lenin salientou a significação do Poder Soviético, como a autêntica democracia para os trabalhadores. O Congresso aprovou o Manifesto dirigido ao proletariado Internacional, no qual se fazia um apelo à luta pela ditadura do proletariado e pelo triunfo dos Soviets em todos os países. Neste Congresso se elegeu o Comitê Executivo do Comintern (C. E. da I. C.) órgão executivo da Terceira Internacional ou Internacional Comunista.
Assim foi fundada esta organização proletária revolucionária internacional de novo tipo, a Internacional Comunista, Internacional marxista-leninista.
Numa situação formada por circunstâncias contraditórias, em que se reforçava o bloco reacionário de Estados da Entente contra o Poder Soviético, de uma parte, e, de outra, se acentuava o auge revolucionário na Europa, principalmente nos países que saíram derrotados da guerra, circunstância que aliviava consideravelmente a situação do País Soviético, se reuniu, em março de 1919, o VIII Congresso do Partido bolchevique.
Neste Congresso tomaram parte 301 delegados com direito de palavra e voto, representando 313.766 filiados. Havia, além disso, 102 delegados com palavra, porém sem direito a votar.
Lenin consagrou as primeiras palavras do seu discurso de abertura à memória de I. M. Sverdlov, um dos melhores organizadores do Partido bolchevique, morto nas vésperas da abertura do Congresso.
Neste Congresso foi aprovado o novo programa do Partido.
Define-se nele o que é o capitalismo e sua fase culminante, o imperialismo. Comparam-se os dois sistemas de Estados: o sistema da democracia burguesa e o sistema Soviético. Assinalaram-se minuciosamente as tarefas concretas do Partido na sua luta pelo socialismo: levar até o fim a expropriação da burguesia, organizar a Economia do país segundo um plano socialista único, fazer com que os sindicatos intervenham na organização da Economia nacional, implantar a disciplina socialista do trabalho, utilizar os técnicos na Economia nacional, sob o controle dos órgãos soviéticos, incorporar gradualmente e segundo um plano os camponeses médios ao trabalho da edificação socialista.
O VIII Congresso aprovou por proposta de Lenin incluir no programa, não só a definição do imperialismo como etapa culminante do capitalismo, como também a descrição do capitalismo industrial e do regime de produção simples de mercadorias, que figurava no velho programa, aprovado já no II Congresso do Partido. Lenin considerava necessário que fosse levada em conta no programa a complexidade da Economia russa, e se assinalasse a existência no país de diversas formações econômicas, incluindo entre elas o regime de pequena produção de mercadorias, cujo expoente era o camponês médio. Por isso, ao se discutir o programa, interveio energicamente contra as idéias antibolcheviques de Bukarin, que propunha eliminar dele os pontos em que se falava de capitalismo da pequena produção de mercadorias e do regime econômico do camponês médio. As idéias de Bukarin representavam a negação menchevique-trotskista da importância do camponês médio para a edificação soviética. Ao mesmo tempo, Bukarin escondia o fato de que era o regime da pequena produção de mercadorias dos camponeses o que engendra e fomenta o desenvolvimento dos elementos "kulaks".
Lenin também combateu as idéias antibolcheviques de Bukarin e Piatakov sobre o problema nacional. Estes se manifestaram contra a inclusão no programa do ponto no qual se reconhece o direito de autodeterminação das nações e se pronunciaram contra a igualdade de direitos dos povos, sob o pretexto de que esta palavra de ordem estorvava, segundo eles, o triunfo da revolução proletária e difictdtava a unificação dos proletários de diversas nacionalidades. Lenin lançou por terra estas funestíssimas concepções absorventes e chovinistas de Bukarin e Piatakov.
Nos trabalhos do VIII Congresso do Partido, ocupou um lugar importante o problema da atitude que se devia adotar em face dos camponeses médios. Como resultado do célebre decreto sobre a terra, a aldeia se convertia cada vez mais em aldeia de camponeses médios. Agora, estes formavam a maioria dentro da população camponesa. O estado de espírito e a conduta dos camponeses médios, vacilantes entre a burguesia e o proletariado, tinham uma importância enorme para a sorte da guerra civil e da edificação socialista. O desenlace da guerra civil dependia, em boa parte, do lado para o qual se inclinasse o camponês médio, da classe que soubesse conquistá-lo, de que esta classe fosse o proletariado ou a burguesia. Se os tchecoslovacos, os guardas brancos, os kulaks, os social-revolucionários e os mencheviques lograram derrubar o Poder Soviético na região do Volga, no verão de 1918, foi porque contaram com o apoio de uma parte considerável dos camponeses médios. E o mesmo ocorreu nas sublevações organizadas pelos kulaks na Rússia central. A partir porém do outono de 1918, o estado de espírito das massas de camponeses médios começou a se orientar resolutamente para o Poder Soviético. Os camponeses viam que o triunfo dos brancos conduzia à restauração do poder dos latifundiários, com os conseqüentes despojos de terras, saques, torturas e espancamentos de camponeses. Para esta mudança operada quanto ao modo de pensar dos camponeses contribuiu também a atuação dos Comitês de camponeses pobres, que esmagou os kulaks. Em relação com isto, Lenin lançou, em novembro de 1918, esta palavra de ordem:
"Saber chegar a um acordo com os camponeses médios, sem cessar nem um minuto a luta contra os kulaks e tomando como sólido ponto de apoio somente os camponeses pobres". (Lenin, t. XXIII, pág. 294, ed. russa).
E certo que as vacilações existentes entre os camponeses médios não cessaram totalmente, porém este setor da população camponesa se aproximou mais do Poder Soviético e começou a lhe prestar um apoio mais firme. Para isso contribuiu, em boa parte, a política traçada no VIII Congresso do Partido, em relação ao camponês médio.
O VIII Congresso marcou uma mudança na política do Partido a respeito dos camponeses médios. No informe de Lenin e nas resoluções do Congresso, destacou-se a nova linha do Partido em face deste problema. O Congresso exigiu que as organizações do Partido e todos os comunistas estabelecessem uma rigorosa diferença e separação entre os camponeses médios e os kulaks, fazendo por atrair os primeiros para o lado da classe operária mediante uma política de atenção solícita às suas necessidades. Era preciso lutar contra o atraso dos camponeses médios com o método da persuasão, porém de modo algum com medidas de coação e de violência. Por isso, o Congresso traçou a norma de que, ao implantar medidas socialistas no campo (ao criar as comunas e os arteis agrícolas), não se permitisse a coação. Sempre que fossem feridos os interesses vitais dos camponeses médios, era necessário chegar a um acordo prático com eles e lhes fazer concessões quanto à fixação dos métodos de implantação das transformações socialistas. O Congresso resolveu aplicar uma política de sólida aliança com os camponeses médios, porém mantendo dentro dela o papel dirigente do proletariado.
A nova política de relações com os camponeses médios, preconizada por Lenin no VIII Congresso, exigia que o proletariado se apoiasse nos camponeses pobres, mantivesse uma sólida aliança com os camponeses médios e lutasse contra os kulaks. Até o VIII Congresso, o Partido havia seguido, em geral, a política de neutralizar os camponeses médios. Isto é, seu objetivo era conseguir que o camponês médio não se pusesse ao lado do kulaks, ao lado da burguesia, em geral. Porém, agora, isto já não bastava. O VIII Congresso passou da política de neutralização do camponês médio à política de uma sólida aliança com ele para lutar contra a intervenção dos guardas brancos e das tropas estrangeiras, assim como para a edificação vitoriosa do socialismo.
A linha traçada pelo VIII Congresso a respeito da atitude que se devia seguir com as grandes massas camponesas, com os camponeses médios, teve uma importância decisiva quanto ao desenlace vitorioso da guerra civil contra a intervenção estrangeira e os guardas brancos que lhe serviam de auxiliares. No outono de 1919, quando tiveram que escolher entre o Poder Soviético e Denikin, os camponeses apoiaram os Soviets, e a ditadura proletária derrotou o seu mais perigoso inimigo.
No VIII Congresso se apresentou também, com caracteres especiais, o problema da organização do Exército Vermelho. Neste Congresso, se destacou a chamada "oposição militar", na qual apareciam enquadrados não poucos dos antigos "comunistas de esquerda". Porém justamente com estes representantes do "comunismo de esquerda", já liquidado, a "oposição militar" englobava militantes do Partido que jamais haviam participado de nenhuma oposição, porém que estavam descontentes com a direção que Trotsky dava ao Exército. A maioria dos delegados militares estava acentuadamente contra Trotsky, contra sua admiração pelos técnicos militares procedentes do velho Exército czarista, uma parte dos quais traiu abertamente o Poder Soviético na guerra civil, contra a atitude arrogante e hostil de Trotsky para os velhos quadros bolcheviques dentro do Exército. No Congresso se aduziram exemplos da "forma prática" como Trotsky tentara fuzilar toda uma série de comunistas que ocupavam postos responsáveis na frente e que não lhe agradavam, fazendo com isso o jogo do inimigo, e como, só graças à intervenção do Comitê Central e aos protestos dos militantes ativos da frente, se conseguira evitar a morte desses camaradas.
Entretanto, ainda que lutando contra o desvirtuamento da polícia militar do Partido por Trotsky, a "oposição militar" defendia concepções falsas a respeito de uma série de problemas da organização do Exército. Lenin e Stalin intervieram resolutamente contra a "oposição militar" que defendia as sobrevivências da guerrilha dentro do Exército e lutava contra a criação de um Exército Vermelho regular, contra o emprego dos técnicos militares, contra essa disciplina férrea sem a qual não pode existir um verdadeiro Exército. Combatendo a "oposição militar", o camarada Stalin exigia a criação de um Exército regular, compenetrado do espírito da mais severa disciplina.
"Ou criamos — dizia o camarada Stalin — um verdadeiro Exército operário-camponês, e predominantemente camponês, um Exército rigorosamente disciplinado e defendemos a República, ou pereceremos".
Ao mesmo tempo, porém, que rejeitava uma série de propostas da "oposição militar", o Congresso assestou um golpe contra Trotsky, exigindo que se melhorasse a atuação dos organismos militares centrais e se reforçasse o papel dos comunistas dentro do Exército.
Como resultado do trabalho da comissão militar nomeada pelo Congresso, logrou-se que deste saísse uma resolução unânime sobre o problema militar.
As resoluções do VIII Congresso sobre o problema militar serviram para fortalecer o Exército Vermelho e estreitar ainda mais seus laços com o Partido.
O Congresso examinou, além disso, o problema da organização do Partido na atuação dos Soviets. Na discussão deste problema, o Congresso teve que rechaçar a posição do grupo oportunista Sapronov—Osinski, que negava o papel dirigente do Partido na atuação dos Soviets.
Finalmente, em relação com a enorme afluência de novos filiados, o Congresso tomou a resolução de melhorar a composição social do Partido e rever os ingressos.
Era o passo para a primeira depuração das fileiras do Partido.
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Inclusão | 09/01/2011 |