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Depois de se apoderar de todo o Poder, a burguesia começou a se preparar para esmagar os já impotentes Soviets e instaurar uma ditadura contra-revolucionária descarada. O milionário Riabushinski declarava cinicamente que só via uma saída para a situação, e que
"a mão descarnada da fome, a miséria do povo, agarrasse pelo pescoço os falsos amigos destes, os Soviets e Comitês democráticos".
Na frente faziam estragos os Conselhos de Guerra, distribuindo a pena de morte contra os soldados. A 3 de agosto de 1917, o general em chefe Kornilov pediu que se implantasse também a pena de morte na retaguarda.
A 12 de agosto, abriu-se no Grande Teatro de Moscou a Conferencia de Estado convocada pelo governo provisório para mobilizar as forças da burguesia e dos latifundiários. Assistiram a esta Assembléia, principalmente os representantes dos latifundiários, da burguesia, do generalato, da oficialidade e dos cossacos. Os Soviets estiveram representados nela pelos mencheviques e os social-revolucionários.
No dia em que a Conferência de Estado começava suas sessões, os bolcheviques organizaram em Moscou, em sinal de protesto, uma greve geral, na qual tomou parte a maioria dos operários. Estalaram também greves em outra série de cidades.
O Social-revolucionário Kerenski ameaçou fanfarronescamente, em seu discurso perante a Conferência, com o esmagamento "a sangue e fogo" de qualquer tentativa de movimento revolucionário, inclusive, as tentativas dos camponeses de se apoderarem por si e por sua própria responsabilidade das terras dos latifundiários.
O general contra-revolucionário Kornilov pediu sem rodeios que se "suprimissem os Comitês e os Soviets".
No Estado-Maior do general em chefe pululavam em redor do general Kornilov banqueiros, comerciantes e industriais, com promessas de dinheiro e ajuda.
Também se entrevistaram com ele os representantes dos "aliados", isto é, da Inglaterra e da França, exigindo que não se demorasse o ataque contra a revolução.
As coisas se combinavam para a conspiração contra-revolucionária do general Kornilov.
Esta conspiração preparava-se abertamente. Com o fito de desviar a atenção do que tramavam, os conjurados fizeram correr o rumor de que os bolcheviques de Petrogrado preparavam um levante para 27 de agosto, data em que se completariam os 6 meses do dia da revolução. O governo provisório, com Kerenski à frente, lançou-se a perseguir furiosamente os bolcheviques e acentuou o terror contra o Partido do proletariado. Ao mesmo tempo, o general Kornilov concentrava tropas para fazê-las marchar sobre Petrogrado, com o fito de acabar com os Soviets e instaurar um governo de ditadura militar.
Kornilov se pôs de acordo com Kerenski a respeito de sua projetada ação contra-revolucionária. Mas, no mesmo momento em que Kornilov começou a atuar, Kerenski, modificando sua orientação, mudou de frente e se separou de seu aliado. Temia que as massas do povo, depois de se levantarem contra os Kornilovistas e esmagá-los, varressem também, lançando-o no mesmo montão, o governo burguês de Kerenski, se este se desligasse a tempo dos autores da Korniloviada.
A 25 de agosto, Kornilov enviou sobre Petrogrado o 3°. Corpo de Cavalaria, sob o comando do general Krimov, e declarou que se propunha "salvar a Pátria". Como resposta à sublevação Kornilovista, o Comitê Central do Partido bolchevique fez um chamado aos operários e aos soldados para que opusessem uma resistência ativa e armada a contra-revolução. Os operários começaram a se armar e a se preparar rapidamente para a luta. Nesses dias, multiplicaram-se os destacamentos de guardas vermelhos. Os sindicatos mobilizaram seus membros.
As unidades revolucionárias de tropas de Petrogrado se prepararam também para o combate. Em torno de Petrogrado se abriram trincheiras, estenderam-se cercas de arame e se arrancaram os trilhos das vias férreas. De Kronstadt chegaram alguns milhares de marinheiros armados para a defesa da capital. Enviaram-se ao encontro da "Divisão selvagem", que avançava sobre Petrogrado, delegados que explicaram àqueles soldados montanheses a intenção do movimento Kornilovista, conseguindo que estas tropas se negassem a marchar sobre a capital. Enviaram-se também agitadores a outras unidades Kornilovistas. Foram criados Comitês revolucionários e Estados Maiores para a luta contra os sublevados em todos os lugares onde havia algum perigo.
Naqueles dias, os líderes social-revolucionários e mencheviques, entre eles Kerenski, mortos de medo, iam buscar amparo com os bolcheviques, convencidos de que estes eram a única força efetiva da capital capaz de esmagar Kornilov.
Mas, ainda mobilizando as massas para esmagar o movimento de Kornilov, os bolcheviques não cessaram sua luta contra o governo Kerenski, desmascarando perante as massas este governo e os mencheviques e social-revolucionários, que, com toda sua política, ajudavam objetivamente a intentona contra-revolucionária de Kornilov.
Graças a todas estas medidas, foi esmagada a intentona de Kornilov. O general Krimov suicidou-se com um tiro. Kornilov e seus cúmplices, Denikin e Lukomski, foram presos (se bem que logo fossem postos de novo em liberdade por Kerenski).
O esmagamento da intentona Kornilovista pôs a nu e clareou de chofre a correlação de forças entre a revolução e a contra-revolução. Demonstrou o fracasso total de todo o campo contra-revolucionário, desde os generais e o partido kadete até os mencheviques e os social-revolucionários, colhidos nas redes e prisioneiros da burguesia. Era evidente que a política de prolongamento daquela guerra esgotadora, que ao se prolongar provocava o desastre econômico do país, havia enfraquecido definitivamente a influência destes partidos entre as massas do povo.
O esmagamento da Korniloviada revelava, além disso, que o Partido bolchevique se havia convertido já na força decisiva da revolução, numa força capaz de desfazer os manejos da contra-revolução, quaisquer que fossem. O Partido bolchevique não era ainda um partido governante, mas durante os dias da Korniloviada atuou como uma verdadeira força de governo, pois suas instruções eram seguidas sem vacilar pelos operários e soldados.
Finalmente, o esmagamento da intentona Kornilovista veio demonstrar que daqueles Soviets que pareciam agonizantes, encerravam em seu seio, na realidade, uma grandiosa força de resistência revolucionária. Não se podia duvidar que tinham sido precisamente os Soviets e seus Comitês revolucionários que haviam detido a passagem das tropas de Kornilov e contra os quais se tinham aniquilado as suas forças.
A luta contra a Korniloviada infundiu novo alento aos desanimados Soviets de deputados operários e soldados, arrancou-os da política oportunista que os mantinha prisioneiros, empurrou-os para o largo caminho da luta revolucionária e os colocou junto ao Partido bolchevique.
A influência dos bolcheviques dentro dos Soviets era maior que nunca.
Começou também a ganhar terreno rapidamente a influência dos bolcheviques no campo.
A sublevação Kornilovista fez ver às grandes massas camponesas que os latifundiários e os generais, uma vez destroçados os bolcheviques e os Soviets, se cevariam logo depois nos camponeses. Por isso, as grandes massas de camponeses pobres começaram a se agrupar cada vez mais estreitamente em torno dos bolcheviques. Os camponeses médios, cujas vacilações tinham freiado o desenvolvimento da revolução durante os meses de abri! a agosto de 1917, depois da derrota de Kornilov, começaram a voltar-se de um modo decidido para o Partido bolchevique, unindo-se à massa dos camponeses pobres. As grandes massas camponesas começaram a compreender que o Partido bolchevique era o único que podia libertá-las da guerra, o único capaz de acabar com os latifundiários e o único que estava disposto a dar a terra aos camponeses. Os meses de setembro e outubro de 1917 registraram uma elevação enorme no número de terras de latifundiários das quais os camponeses se apoderavam. O cultivo das terras dos latifundiários por decisão dos próprios camponeses, adquiriu um caráter geral. Persuasões e expedições punitivas já não eram capazes de conter os camponeses em sua marcha esmagadora para a revolução.
A revolução ia em ascenso.
Começou a desenvolver-se a fase de animação e renovação dos Soviets, a fase de bolchevização dos Soviets. As fábricas e empresas industriais e as unidades militares, ao reelegerem seus deputados, já não enviavam mencheviques e social-revolucionários aos Soviets, mas representantes do Partido bolchevique. No dia seguinte ao esmagamento da intentona de Kornilov, 31 de agosto, o Soviet de Petrogrado se pronunciou a favor da política dos bolcheviques. O antigo Presidium do Soviet de Petrogrado, formado por mencheviques e social-revolucionários, com Chkeidse à frente, se retirou, deixando o posto livre aos bolcheviques. A 5 de setembro, o Soviet de deputados operários de Moscou passou para o lado dos bolcheviques. Também se retirou pelos fundos, deixando o caminho aberto aos bolcheviques, o Presidium social-revolucionário menchevique deste Soviet.
Isto significava que se davam já as premissas fundamentais necessárias para uma insurreição vitoriosa.
Voltava a estar na ordem do dia a palavra de ordem "Todo o Poder aos Soviets!".
Mas já não era a antiga palavra de ordem de passagem do Poder para as mãos dos Soviets mencheviques e social-revolucionários. Não; agora era a palavra de ordem da insurreição dos Soviets contra o governo provisório, com o fito de entregar todo o poder do país aos Soviets dirigidos pelos bolcheviques.
Começou a produzir-se a debandada entre os partidos oportunistas.
No seio do partido social-revolucionário se formou, sob a pressão dos camponeses de orientação revolucionária, uma ala esquerda, a ala dos social-revolucionários de "esquerda", que começaram a manifestar seu descontentamento pela política de compromissos com a burguesia.
Também no partido menchevique se definiu um grupo de "esquerda", o dos chamados "internacionalistas", que começavam a inclinar-se para os bolcheviques.
Os anarquistas, que constituíam um grupo insignificante quanto à sua influência, se cindiram definitivamente em vários grupinhos, dos quais uns se misturaram com delinqüentes vulgares e provocadores, com os dejetos da sociedade, enquanto outros se converteram em expropriadores "ideológicos", que roubavam os camponeses, e as pessoas modestas das cidades e arrebatavam aos clubes operários seus edifícios e economias, e outros, finalmente, passaram sem pejo ao campo contra-revolucionário, acomodando sua vida pessoal à escada de serviço da burguesia, todos eles eram contrários a qualquer classe de poder, mas muito especialmente ao Poder revolucionário dos operários e camponeses, pois estavam seguros de que este Poder revolucionário não lhes permitia despojar o povo nem espoliar os bens do povo.
Depois do esmagamento da intentona de Kornilov, os mencheviques e social-revolucionários fizeram uma nova tentativa para enfraquecer o progressivo ascenso da revolução. Com este fim, convocaram a 12 de setembro de 1917, uma conferência democrática de representantes dos partidos socialistas, dos Soviets oportunistas, dos sindicatos, dos Zemstvos, dos círculos comerciais e industriais e das unidades militares de toda a Rússia. Desta conferência saiu o Pré-parlamento (Conselho provisório da República). Com a ajuda deste Pré-parlamento os oportunistas confiavam em que poderiam deter a marcha da revolução e desviar o país da senda da revolução soviética para a do desenvolvimento burguês-constitucional, a senda do parlamento burguês. Foi uma tentativa desesperada daqueles políticos fracassados, que se empenhavam em fazer recuar o processo da revolução. Era uma idéia condenada ao fracasso, como, com efeito, ocorreu. Os operários, que zombavam da ginástica parlamentar dos oportunistas, puseram em ridículo o Pré-parlamento, batizando-o com um nome depreciativo ("antibanho").
O C. C. do Partido bolchevique resolveu boicotar o Pré-parlamento. E, se bem que a fração bolchevique deste organismo, em que figuravam indivíduos como Kamenev e Teodorovich, não quisesse abandonar seus bancos, o C. C. do Partido obrigou-os a deixá-los.
Kamenev e Zinoviev defenderam tenazmente a participação no Pré-parlamento, confiando em que com isso poderiam desviar o Partido do trabalho preparatório da insurreição. O camarada Stalin interveio energicamente na fração bolchevique da Conferência democrática de toda a Rússia contra a participação no Pré-parlamento, que qualificou de "aborto Kornilovista".
Lenin e Stalin consideraram um grave erro a participação no Pré-parlamento, se bem que tivesse sido por pouco tempo, já que aquilo podia infundir às massas a enganadora esperança de que aquele organismo era capaz de fazer alguma coisa pelos trabalhadores.
Ao mesmo tempo, os bolcheviques preparavam tenazmente a convocação do II Congresso dos Soviets, no qual esperavam contar com a maioria. E, apesar de todos os subterfúgios dos mencheviques e social-revolucionários encastelados no Comitê Executivo Central, ante a pressão dos Soviets bolcheviques, teve de ser convocado o II Congresso dos Soviets de toda a Rússia para a segunda quinzena de outubro de 1917.
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Inclusão | 24/12/2010 |