Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), n.º 1. 3 de setembro de 1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 267-269.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
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Após o complô de Kornílov e a desagregação do poder, após o fracasso do complô e a criação do ministério Kerenski—Kíchkin, após a “nova” crise e as “novas” negociações de Tsereteli—Gotz com o próprio Kerenski, temos finalmente o “novo” (absolutamente novo!) governo formado por cinco membros.
Kerenski, Terechtchenko, Vierkhovski, Vierderevski e Nikítin formam o “diretório” dos cinco, e isso é o “novo” poder “escolhido” por Kerenski, aprovado por Kerenski, responsável perante Kerenski e independente dos operários, dos camponeses e dos soldados.
Diz-se, ainda, que esse poder é independente dos cadetes, mas é pura patranha. De fato a ausência dos representantes oficiais dos cadetes é somente a máscara da sua completa dependência dos cadetes.
Para salvar as aparências, comandante supremo o social-revolucionário Kerenski. Na realidade, o general Alexéev, pessoa da confiança dos cadetes, a quem foi confiado o estado-maior, isto é, toda a direção da frente.
Para salvar as aparências, um diretório “de esquerda”, independente (não se riam!) dos cadetes. Na realidade, pessoas da confiança dos cadetes que dirigem os ministérios e administram de fato todos os negócios do Estado.
Em palavras, a ruptura com os cadetes. Na realidade, o acordo com as pessoas da confiança dos cadetes no interior e na frente.
O diretório como anteparo que mascara a aliança com os cadetes; a ditadura de Kerenski como escudo que defende, da indignação popular, a ditadura dos latifundiários e dos capitalistas: eis a situação atual.
E se prevê uma nova conferência dos representantes das “forças vivas”, na qual os senhores Tsereteli e Avkséntiev, esses conciliadores encarniçados, esforçar-se-ão por transformar o acordo, secreto a que chegaram ontem com os cadetes em acordo manifesto e circunstanciado, para alegria e conforto dos inimigos dos operários e dos camponeses.
Nos últimos seis meses o nosso país atravessou por três vezes uma grave crise do poder. Todas as vezes a crise resolveu-se por um acordo com a burguesia e todas as vezes os operários e os camponeses foram engabelados.
Por quê?
Porque os partidos pequeno-burgueses, o partido social-revolucionário e o menchevique, intervindo na luta pelo poder, puseram-se todas as vezes ao lado dos latifundiários e dos capitalistas, resolvendo a contenda a favor dos cadetes.
O complô de Kornílov pôs a nu todo o caráter contrarrevolucionário dos cadetes. Por três dias os defensistas bradaram contra a traição dos cadetes, por três dias bradaram contra a falta de vitalidade da coalizão que se desmantelou ao primeiro choque com a contrarrevolução. E que aconteceu? Depois de tudo isso, não acharam nada de melhor que aceitar uma coalizão mascarada com aqueles mesmos cadetes que haviam insultado.
Ainda ontem a maioria defensista do Comitê Executivo Central decidiu, por votação, “apoiar” o diretório dos cinco, nascido em seguida aos acordos concluídos por trás dos bastidores com os cadetes em prejuízo dos interesses fundamentais dos operários e dos camponeses.
Neste momento, momento de crise aguda do poder, momento em que se desenrola uma luta encarniçada pelo poder e em que Kornílov foi derrubado no pó, os mencheviques e os social-revolucionários mais uma vez ajudaram os latifundiários e os capitalistas a manter o poder em suas mãos, mais uma vez ajudaram os cadetes contrarrevolucionários a engabelar os operários e os camponeses.
Esse e não outro é o significado político da votação verificada ontem no Comitê Executivo Central.
Saibam isso os operários, saibam-no os camponeses e daí tirem as devidas conclusões.
A coalizão mascarada de hoje é instável, assim como eram instáveis as coalizões abertas de ontem: não se pode concluir um acordo estável entre latifundiários e camponeses, entre capitalistas e operários. Por conseguinte, a luta pelo poder não só não acabou, como pelo contrário intensifica-se e agrava-se cada vez mais.
Saibam os operários que nessa luta eles serão inevitavelmente derrotados, enquanto os social-revolucionários e os mencheviques tiverem influência entre as massas.
Recordem os operários que para tomar o poder é necessário desligar dos conciliadores social-revolucionários e mencheviques as massas dos camponeses e dos soldados, agrupando essas massas em torno do proletariado revolucionário. Recordem essas coisas os operários e abram os olhos aos camponeses e aos soldados, fazendo-lhes ver a traição dos social-revolucionários e dos mencheviques.
Uma luta impiedosa contra a influência dos social-revolucionários e dos mencheviques entre as massas, um trabalho incansável para agrupar os camponeses e os soldados em torno da bandeira do Partido do proletariado: essa é a lição que devemos tirar da crise que acabamos de atravessar.