A divisão do trabalho no Partido "Social-Revolucionário"

J. V. Stálin

22 de agosto de 1917


Primeira publicação:Proletári” (“O Proletário”), n.° 9. 22 de agosto de 1917. Artigo não assinado.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 245-247.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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Na última reunião do Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado os social-revolucionários votaram a favor da abolição da pena de morte e associaram-se à moção de protesto contra a prisão dos bolcheviques.

O que naturalmente é muito belo e louvável.

Há só uma pequena questão que nos permitimos apresentar aqui.

Quem introduziu a pena de morte na frente, quem prendeu os bolcheviques?

São precisamente os social-revolucionários (com a benévola colaboração dos cadetes e dos mencheviques!). Ao que nos é dado saber, o cidadão primeiro ministro, A. F. Kerenski, é membro do partido social-revolucionário. Com o seu nome se adorna a chapa dos candidatos do partido social-revolucionário, apresentada para as eleições da Duma citadina de Petrogrado.

Ao que nos é dado saber, o cidadão B. V. Sávinkov, subsecretário da guerra, é também membro do partido social-revolucionário.

E justamente esses dois eminentes “social-revolucionários” são os principais autores do restabelecimento da pena de morte na frente. (A eles é preciso acrescentar o general Kornílov, mas este último ainda não entrou para o partido social-revolucionário).

Sabemos, além disso, que o cidadão Tchernov, ministro da agricultura, ao que parece também é membro do partido social-revolucionário.

E por fim o cidadão N. D. Avkséntiev, ministro dos negócios internos, isto é, personagem que ocupa ao lado de Kerenski a posição mais eminente no ministério, também é membro do partido social-revolucionário.

Pois bem, todos esses respeitabilíssimos “social-revolucionários” instituíram a pena de morte na frente e mandaram prender os bolcheviques.

Pergunta-se: que vem a ser essa estranha divisão do trabalho nesse partido social-revolucionário, pela qual alguns de seus membros protestam com todas as forças contra a instituição da pena de morte e os outros instituem-na com suas próprias mãos?…

Coisa surpreendente! Mal derrubamos o regime autocrático, mal começamos a viver “à europeia” e já assimilamos instantaneamente todos os lados negativos do “europeísmo”. Tomai um partido radical burguês qualquer, por exemplo na França. Esse partido chama-se infalivelmente socialista: partido “radical socialista”, partido “socialista independente”, etc., etc. Esses partidos diante dos eleitores, diante das massas, perante a “base” espalham sempre a mancheias frases “de esquerda”, sobretudo na véspera das eleições e particularmente quando são premidos pela concorrência de um partido verdadeiramente socialista. E simultaneamente, “no vértice”, os ministros desse partido “radical socialista” e “socialista independente” fazem tranquilamente seus negócios burgueses, sem levar em conta no mais mínimo as aspirações socialistas de seus eleitores.

Assim agem agora os social-revolucionários.

Afortunado partido! Quem instituiu a pena de morte? Os social-revolucionários! Quem protestou contra a pena de morte? Os social-revolucionários! Há lugar para todos os gostos...

Os social-revolucionários esperam com essa conduta conservar a inocência (não perder a popularidade diante das massas) e arranjar um capital (conservar as pastas ministeriais).

Mas, poder-se-ia dizer, em todo partido existem dissensões: alguns membros do partido pensam de um modo, outros de maneira diferente.

Sim; mas existe dissensão e dissensão. Se uns são pelos carrascos e outros são contra, é bastante difícil conciliar essas “dissensões” dentro do mesmo partido. E se além disso são pelos carrascos justamente os líderes mais responsáveis do partido, os ministros que põem imediatamente em prática seu ponto de vista, então qualquer pessoa que raciocine politicamente julgará a política do partido precisamente segundo a atividade desses ministros e não segundo uma determinada resolução de protesto à qual se associaram simples adeptos.

A vergonha permanece. O partido social-revolucionário fica sendo o partido da pena de morte, o partido dos carcereiros, que mandou prender os líderes da classe operária. Mas os social-revolucionários poderão lavar a vergonha do restabelecimento da pena de morte desejado pelos membros mais eminentes do seu partido. Mas os social-revolucionários poderão lavar a vergonha de que lhes maculou o seu governo, alimentando as infames calúnias assacadas contra os líderes da classe operária, tentando criar um novo processo Dreyfus(1) contra Lênin...


Notas de fim de tomo:

(1) Caso Dreyfus: célebre processo organizado pelos círculos reacionários da França, em consequência do qual, em 1894 o judeu Alfred Dreyfus, oficial do estado-maior francês, foi condenado pelo tribunal militar à prisão perpétua sob a imputação notoriamente falsa de espionagem e de alta traição. O movimento que se desenvolveu na França em defesa de Dreyfus revelou a corrupção do tribunal e exacerbou a luta política entre republicanos e monarquistas. Em 1899 Dreyfus foi agraciado e libertado, e em 1906, após uma nova revisão do processo, foi absolvido. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024