Dois Caminhos

J. V. Stálin

15 de agosto de 1917


Primeira publicação:Proletári” (“O Proletário”), n.° 2. 15 de agosto de 1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 211-214.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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A questão fundamental, na situação presente, é a questão da guerra. O esfacelamento econômico e o problema alimentar, a questão da terra e a liberdade política, são todas questões particulares da questão geral da guerra.

Que foi que determinou a crise alimentar?

— A guerra prolongada que desorganizou os transportes e deixou sem pão as cidades.

Que foi que determinou o esfacelamento econômico e financeiro?

— A guerra interminável que espremeu todas as forças e todos os recursos da Rússia.

Que foi que determinou as repressões na frente e no interior?

— A guerra e a política da ofensiva, que exigem uma “disciplina de ferro”.

Que foi que determinou a vitória da contrarrevolução burguesa?

— Todo o desenrolar da guerra, que requer novos bilhões, para o que a burguesia patrícia, apoiada pela burguesia aliada, recusa os financiamentos se não forem destruídas antes as conquistas fundamentais da revolução.

E assim por diante.

Por isso, resolver a questão da guerra significa justamente resolver todas as “crises” que atualmente sufocam o país.

Porém, como fazê-lo?

Dois caminhos abrem-se diante da Rússia.

Salvar o país significa nesse caso libertar os operários e os camponeses dos ônus financeiros da guerra, em prejuízo dos tubarões imperialistas.

O primeiro caminho leva à ditadura dos latifundiários e dos capitalistas sobre os trabalhadores, à imposição ao país de taxas extremamente gravosas, à venda gradual da Rússia aos capitalistas estrangeiros (por meio de concessões!) e à transformação da Rússia em uma colônia da Inglaterra, da América e da França.

O segundo caminho inaugura a era da revolução operária no Ocidente, despedaça os vínculos financeiros que amarram a Rússia, faz ruírem os próprios alicerces do domínio burguês e desimpede a estrada para a libertação efetiva da Rússia.

Esses são os dois caminhos que exprimem os interesses de duas classes opostas: da burguesia imperialista e do proletariado socialista.

Não existe um terceiro caminho.

Conciliar esses dois caminhos é impossível, como é impossível conciliar o imperialismo e o socialismo.

O caminho dos entendimentos (da coalizão) com a burguesia está condenado a um fracasso inevitável.

“A coalizão na base de um programa democrático: eis a saída”, escrevem os senhores defensistas a propósito da Conferência de Moscou (Izvéstia).(1)

É falso, senhores conciliadores!

Por três vezes fizestes bloco com a burguesia e todas as vezes topastes em uma nova “crise do poder”.

Por quê?

Porque o caminho da coalizão com a burguesia é um caminho falso, que esconde as chagas da situação atual.

Porque a coalizão ou é uma palavra destituída de sentido, ou é um instrumento nas mãos da burguesia imperialista para reforçar seu próprio poder pela mão dos “socialistas”.

O atual governo de coalizão, que tentou colocar-se entre os dois campos, não passou em seguida para o lado do imperialismo?

Por que foi convocada a “Conferência de Moscou”, senão para obter a sanção desse ato (e os financiamentos!) por parte dos “senhores da terra”, após haver consolidado as posições da contrarrevolução?

A que se reduz o discurso que Kerenski proferiu na “Conferência” com o convite às classes para fazerem “sacrifícios” e para serem “temperantes”, naturalmente no interesse da “pátria” e da “guerra”, senão ao reforçamento do imperialismo?

E a declaração de Prokopóvitch, segundo a qual o governo “não permitirá a ingerência dos operários (o controle operário!) na direção das empresas”?

E a declaração desse mesmo ministro, segundo a qual “o governo não empreenderá nenhuma reforma radical no campo da questão agrária”?

E a declaração de Nekrássov, segundo a qual “o governo não confiscará a propriedade privada”?

Que é isso, senão servir diretamente à causa da burguesia imperialista?

Não será talvez evidente que a coalizão é somente uma máscara útil e vantajosa para os Miliukov e os Riabuchinski?

Não será talvez evidente que o caminho da conciliação e da manobra entre as classes é o caminho do engano «e dos engôdos em detrimento das massas?

Não, senhores conciliadores! Chegou o momento em que não há lugar para as hesitações e para as conciliações. Em Moscou já se fala com certeza em um “complô” dos contrarrevolucionários. A imprensa burguesa põe em movimento o método experimentado da chantagem, espalhando boatos sobre a “rendição de Riga”.(2) Chegou o momento de escolher.

Ou com o proletariado, ou contra ele.

O proletariado de Petrogrado e de Moscou, boicotando a “Conferência”, convida a seguir o caminho da salvação efetiva da revolução.

Escutai a sua voz, ou desimpedi o caminho.


Notas de fim de tomo:

(1) Izvéstia Petrográdskovo Soviéta Rabótchi i Soldátskikh Deputátov (Notícias do Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado), jornal que iniciou a sua publicação a 28 de fevereiro de 1917. Após a constituição do Comitê Executivo Central dos Soviets dos Deputados Operários e Soldados no I Congresso dos Soviets de Toda a Rússia, o jornal tornou-se o órgão do Comitê Executivo Central e a partir de 1.° de agosto de 1917 (desde o n.° 132) foi publicado sob o título: "Notícias do Comitê Executivo Central e do Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado". Em todo esse período o jornal foi dirigido pelos mencheviques e pelos social-revolucionários e moveu uma luta encarniçada contra o Partido bolchevique. Após o II Congresso dos Soviets de Toda a Rússia o jornal tornou-se, a partir de 27 de outubro de 1917, o órgão oficial do Governo Soviético. Em seguida à transferência do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia e do Conselho dos Comissários do Povo, o jornal foi transferido, em março de 1918, de Petrogrado para Moscou. (retornar ao texto)

(2) A 19 de agosto de 1917 o exército alemão iniciou sua ofensiva demolidora da frente nas imediações de Riga. Riga foi cedida por Kornílov para criar uma ameaça contra Petrogrado revolucionária, obter o afastamento das tropas revolucionárias de Petrogrado e facilitar a execução do complô contrarrevolucionário. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024