Um correspondente do “Globe,” de Toronto, Canadá, escreve o seguinte:
“A Índia está na armadilha mortal da doença e da fome. Nas províncias do Centro e do Norte, a morte espreita pela terra, levando um contingente que faz a lista de casualidades da grande guerra afundar em insignificância. Hoje, o número estimado de mortos por doença e fome no último ano é de mais de 32 milhões de pessoas. Os pobres ficaram sem comida e a condição física de milhares é tal que estão fracos demais para carregar suas jarras de água. Uma ideia do horrendo massacre pode ser alcançada pela seguinte comparação: se caixões para os 30 milhões de cidadãos indianos britânicos que morreram durante o último ano de fome e doença fossem colocados enfileirados, seria igual a distância de uma volta e um terço na linha do Equador. Palavras falham para descrever o horror dessa tremenda tragédia, e as fotografias são repulsivas demais para serem publicadas.”
O “London Times” admite que “a Índia foi deixada sem gêneros alimentícios para suprir as exigências da guerra.” De acordo com as estatísticas do Governo, exportações de cereais em 1917-18 aumentaram para 5,4 milhões de toneladas, cotadas em 36 milhões de libras. Para o mesmo ano, 1,5 milhão de toneladas de trigo foram exportadas. Em 1919, “a contribuição da Índia em gêneros alimentícios foi mantida em um nível ainda maior do que em 1917-18.” Durante este período o país foi devastado pela fome e por epidemias decorrentes da fome.
Apesar do fato de que muitos alertas chegaram à imprensa dos Estados Unidos, das condições de fome na Índia, o povo de lá, até agora, contribuiu muito pouco para aliviar as terríveis condições trazidas pela contribuição forçada para a “guerra da liberdade.” No final de maio, alguns poucos jornais canadenses publicaram um apelo para fundos de socorro para os milhões de moribundos na Índia, mas este apelo foi imediatamente suprimido por ordem do Governo, que desde então não permitiu a publicação de nenhuma notícia sobre a Índia.
A Índia, terra de riquezas e opulências proverbiais, foi amaldiçoada quando os vorazes exploradores europeus vieram para suas costas a procura de lucros. Desde os dias da Companhia das Índias Orientais até o momento presente, o povo indiano sofreu de fomes crônicas, desnutrição e doenças endêmicas que são os resultados inevitáveis de tal condição. Por natureza, educação e séculos de cultura, os indianos como uma raça são pacíficos e contrários ao derramamento de sangue. Capitalistas ingleses, tomando vantagem dessa característica bem conhecida, iniciaram um tipo de exploração, impiedosa, cruel e eficiente, que é calculada para aniquilar todo o povo indiano. Um sistema que logrou matar 32 milhões de seres humanos em um único ano fala por si mesmo, sem a necessidade de mais fatos condenadores. O povo que se revolta contra a sujeição a tal governo deveria receber ao menos o suporte moral de todo o mundo.
O Imperialismo Britânico está determinado a suprimir as justas aspirações do povo indiano a qualquer custo; sem vergonha ou culpa, tem empregado todas as armas da guerra moderna contra um povo completamente desarmado por 50 anos. Manter o povo indiano na sua condição atual de escravidão desesperada é uma necessidade vital para a existência futura do sistema capitalista inglês; o que os capitalistas perdem na sua luta contra os trabalhadores ingleses, eles vão mais do que recuperar pela sua exploração brutal dos desesperados e miseráveis trabalhadores indianos. Consequentemente, apesar do fato de que o proletariado inglês possa ganhar algo como resultado da guerra, ele nunca poderá derrubar seus opressores capitalistas enquanto os trabalhadores da Índia são seus para explorar ao bel prazer. Infelizmente, este fato manifesto é pouco considerado ou reconhecido pelo Partido Trabalhista Inglês, que nos seus próprios assuntos é extremamente liberal, mas em relação ao Imperialismo Britânico na Índia, nunca faz mais do que recomendar uma política mais generosa na administração do país. Aparentemente, o Partido Trabalhista Inglês não pode conceber a ideia de que a Inglaterra não tem direito nenhum, seja moral ou político, para se impor sobre os indianos, não importa o quão liberal seja seu governo. Ao aceitar o Imperialismo como justo e necessário para o bem-estar e grandeza da Inglaterra, eles se mostram tão imperialistas quanto seus mestres. Eles, e o resto dos trabalhadores ainda vão aprender que a luta pela independência indiana não é um assunto local, tendo como seu fim e propósito a criação de outro nacionalismo egoísta; a liberdade do povo indiano é um fato na política global, vez que a Índia é a pedra fundamental do Imperialismo Britânico, que constitui o maior e mais poderoso inimigo da Revolução Social e Econômica que existe hoje. Enquanto o capital inglês mantiver a posse absoluta de todos os imensos recursos naturais da Índia, com direito ilimitado para explorar sua mão de obra, continuará entrincheirado no poder com firmeza demais para ser derrubado pelo proletariado inglês.
E o capital inglês é mais do que apenas capital inglês – ele representa ao mesmo tempo a epítome e a fortaleza do sistema capitalista pelo mundo. Visto sob essa luz, se torna autoevidente que a liberação da Índia é mais do que um mero ato de justiça abstrata, ela significa um grande paço na direção da redenção do mundo das garras do sistema capitalista. É por essa razão que nenhuma nação, nenhum povo ou grupo de pessoas têm o direito de permanecer indiferente ao futuro da Índia, a sua causa de liberdade, ou ao sofrimento e a luta dos milhões de indianos que hoje apelam para o suporte moral e material da humanidade. – (De “Gale’s Magazine.”)