MIA> Biblioteca> Francisco Martins Rodrigues > Novidades
FRANCISCO MARTINS RODRIGUES, 60 anos. Em 1964, saiu do Partido Comunista para fundar o Comité Marxista-Leninista Português e a FAP, o que constituiu a primeira ruptura à esquerda com o PCP. Em 1974, foi um dos fundadores da UDP. Em 1975, foi um dos fundadores e a figura carismática do PC(R). Colocado, depois, em oposição, continuou como militante de base do PC(R)i donde saiu em 1984. Actualmente é o director da revista «Política Operária» e dirigente da Organização Comunista Política Operária. As nossas perguntas e as suas respostas:
1 — O Cunhal só agora soube dos erros (ou crimes) de Estáline. Tu soubeste deles quando?
— Em 1956, aquando do XX Congresso da URSS.
2 — Mas só criticaste o Estáline em meados dos anos 80...
— O facto de um regime matar milhares de pessoas não chega. As democráticas França e Inglaterra, nos anos 30, também mataram milhares de indianos e de egípcios e ninguém fala nisso. A mim, para criticar Estáline foi-me preciso perceber que o poder operário na URSS já no tempo dele estava furado, não havia poder revolucionário nenhum. Só quando percebi isso me demarquei.
3 — Foste, portanto, estalinista até há pouco?
— Eu ainda não estou bem destalinizado, porque reabilitar as democracias burguesas à pala de criticar Estáline não me serve.
4 — Mas o que é que criticas no estalinismo?
— Critico o facto de Estáline ter pretendido manter na URSS um compromisso entre os interesses da classe operária e da pequena burguesia, através de um poder burocrático e ditatorial. Isto não significa nenhuma adesão às baboseiras que o pretendem equiparar a Hitler e a URSS dos anos 30 à Alemanha nazi.
5 — Não criticas a repressão sobre os camponeses e os processos de Moscovo?
— Geralmente, essas críticas esquecem que a URSS foi obrigada — com todos os custos que isso implicou — a defender-se dos ataques do nazismo e da política das democracias ocidentais, que favoreciam aquele ataque. Os julgamentos de Moscovo parecem-me ter sido uma reacção histórica, de pânico, de um poder afinal frágil que «descobria» espiões em toda a parte, devido a essa pressão de uma ameaça militar.
6 — Em conclusão: Estáline foi ou não um revolucionário?
— Foi um revolucionário até que o esgotamento da revolução proletária na URSS, ainda nos anos 20, o levou a bloquear o desenvolvimento da luta de classes, através de um poder pretensamente socialista.
Inclusão | 10/06/2018 |