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O Capital
Crítica da Economia Política
Karl Marx

Livro Primeiro: O processo de produção do capital

Quarta Secção: A produção da mais-valia relativa
Décimo terceiro capítulo. Maquinaria e grande indústria


5. Luta entre operário e máquina


capa

A luta entre capitalista e assalariado começa com a própria relação de capital. Continua a agudizar-se durante todo o período manufactureiro(1*). Mas só a partir da introdução da maquinaria é que o operário combate o próprio meio de trabalho, o modo material de existência do capital. Ele revolta-se contra esta forma determinada do meio de produção como base material do modo de produção capitalista.

Quase toda a Europa viveu durante o século XVII revoltas operárias contra os chamados Bandmühle (também chamados Schnurmühle ou Mühlensthul), uma máquina para tecer fitas e passamanes(2*). No fim do primeiro terço do século XVll uma serração movida a vento, instalada perto de Londres por um holandês, sucumbiu aos excessos da populaça. Mesmo ainda no início do século XVIII, em Inglaterra as máquinas de serrar movidas a água sobreviveram a muito custo à resistência popular, apoiada pelo Parlamento. Quando Everet, em 1758, construiu a primeira máquina de tosar lã movida a água, 100 000 pessoas que tinham ficado sem trabalho deitaram-lhe fogo. 50 000 operários que tinham até essa altura vivido da cardagem de lã apresentaram uma petição ao Parlamento contra os scribbling mills(3*) e as máquinas de cardar de Arkwright. A destruição em massa de máquinas nos distritos manufactureiros ingleses durante os primeiros 15 anos do século XIX, nomeadamente no seguimento da exploração do tear a vapor, sob a designação de movimento ludista, foi o pretexto para as medidas violentas mais reaccionárias do governo antijacobino de um Sidmouth, Castlereagh, etc. É preciso tempo e experiência para que o operário aprenda a distinguir a maquinaria da sua utilização capitalista e a dirigir os seus ataques não contra os próprios meios materiais de produção, mas contra a sua forma social de exploração.(4*)

As lutas pelo salário no interior da manufactura pressupõem a manufactura e não são de maneira nenhuma dirigidas contra a sua existência. Na medida em que a formação de manufacturas é combatida, isso acontece por parte dos mestres das corporações e pelas cidades privilegiadas, não dos assalariados. Escritores do período manufactureiro tratam a divisão do trabalho predominantemente como meio de substituir virtualmente operários, mas não de desalojar realmente operários. Esta diferença é evidente. Se se disser, por ex., que seriam precisos em Inglaterra 100 milhões de pessoas para fiar, com a velha roda de fiar, o algodão que é agora fiado por 500 000 pessoas com a máquina, isto não quer dizer naturalmente que a máquina tirou o lugar a estes milhões que nunca existiram. Só quer dizer que muitos milhões de operários seriam necessários para substituir a maquinaria de fiar. Se, em contrapartida, se disser que o tear a vapor na Inglaterra lançou para a rua 800 000 tecelões, não se fala de maquinaria existente que tivesse de ser substituída por um determinado número de operários, mas sim de um número de operários existentes que foram facticamente substituídos ou desalojados por maquinaria. Durante o período manufactureiro o funcionamento artesanal, ainda que desagregado, permaneceu a base. Os novos mercados coloniais não podiam ser satisfeitos pelo número relativamente reduzido de operários urbanos legados pela Idade Média e as manufacturas propriamente ditas abriram simultaneamente novos domínios de produção à população rural expulsa das suas terras pela dissolução da feudalidade da terra. Nessa altura, portanto, destacava-se mais o lado positivo da divisão do trabalho e da cooperação nas oficinas, porque tomavam os operários ocupados mais produtivos(5*) Em muitos países, muito antes do período da grande indústria, a cooperação e combinação dos meios de trabalho nas mãos de poucos desencadeiam, aplicadas à agricultura, grandes, repentinas e violentas revoluções do modo de produção e, portanto, das condições de vida e meio de ocupação da população rural. Mas esta luta, originariamente, joga-se mais entre grandes e pequenos proprietários de terra do que entre capital e trabalho assalariado; por outro lado, na medida em que os operários são desalojados por meios de trabalho, por ovelhas, cavalos, etc., actos de violência imediata formam aqui, em primeira instância, o pressuposto da revolução industrial. Primeiro são expulsos das terras os operários e depois vêm as ovelhas. O roubo de terras em grande escala, como aconteceu na Inglaterra, cria primeiro para a grande agricultura o seu corpo de aplicação(6*). Nos seus começos, este revolucionamento da agricultura teve portanto mais a aparência de uma revolução política.

Como máquina, o meio de trabalho toma-se logo concorrente do próprio operário(7*). A autovalorização do capital através da máquina está na razão directa com o número de operários, cujas condições de existência ela aniquila. Todo o sistema da produção capitalista assenta no facto de o operário vender a sua força de trabalho como mercadoria. A divisão do trabalho unilateraliza esta força de trabalho [reduzindo-a] à destreza totalmente particularizada de manejar uma ferramenta parcelar. Logo que o manejo da ferramenta passa a ser feito pela máquina extingue-se, com o valor de uso, o valor de troca da força de trabalho. O operário toma-se invendável, como uma nota posta fora de circulação. A parte da classe operária que a maquinaria transforma em população supérflua, i. é, já não imediatamente necessária para a autovalorização do capital, por um lado, sucumbe na luta desigual do velho funcionamento artesanal e manufactureiro contra o [funcionamento] mecanizado; por outro lado, sobreinunda todos os ramos de indústria mais facilmente acessíveis, superlota o mercado de trabalho e faz portanto descer o preço da força de trabalho abaixo do seu valor. E há-de ser um grande consolo para os operários pauperizados que, em parte, os seus sofrimentos sejam apenas «temporários» («a temporary inconvenience»(8*)), em parte, que a maquinaria só gradualmente se apodere de todo um campo de produção, com o que volume e intensidade do seu efeito aniquilador são quebrados. Um consolo dá cabo do outro. Onde a máquina atinge gradualmente um campo de produção, produz miséria crónica na camada de operários que com ela concorrem. Onde a transição é rápida, ela opera em massa e de um modo agudo. A história universal não oferece espectáculo mais honrível do que o declínio gradual dos tecelões manuais de algodão ingleses, que se arrastou por decénios e se decidiu finalmente em 1838. Muitos deles morreram de fome, muitos vegetaram durante muito tempo com as suas famílias com 2 1/2 d. por dia(9*). Um efeito agudo teve, pelo contrário, a maquinaria inglesa para trabalhar o algodão na Índia Oriental, cujo govemador-geral constatava em 1834/35:

«A miséria dificilmente encontra paralelo na história do comércio. Os ossos dos tecelões do algodão estão a embranquecer as planícies da Índia.»

Sem dúvida, na medida em que estes tecelões deixaram este mundo temporário a máquina apenas lhe causou «inconvenientes temporários». De resto, o efeito «temporário» da maquinaria é permanente, na medida em que constantemente atinge novos domínios da produção. A figura autonomizada e alienada que o modo de produção capitalista, em geral, dá às condições de trabalho e ao produto do trabalho face ao operário desenvolve-se então com a maquinaria em oposição completa(11*). Daí, com ela, pela primeira vez, a revolta brutal do operário contra o meio de trabalho.

O meio de trabalho esmaga o operário. Esta oposição directa aparece sem dúvida do modo mais palpável sempre que maquinaria recém-introduzida entra em concorrência com funcionamento artesanal ou manufactureiro tradicionais. Mas mesmo no interior da grande indústria, o melhoramento contínuo da maquinaria e o desenvolvimento do sistema automático operam de um modo análogo.

«O objectivo do melhoramento da maquinaria é diminuir o trabalho manual [...] ou a conclusão de um elo numa manufactura com a ajuda de um aparelho de ferro em vez de humano.» «A adaptação da energia à maquinaria até aqui movida à mão é uma ocorrência quase diária... os mais pequenos melhoramentos na maquinaria — tendo por objectivo economia de energia, a produção de melhor trabalho, a obtenção de mais trabalho no mesmo tempo ou por substituição do lugar de uma criança, uma mulher ou um homem — são constantes e embora por vezes não sendo aparentemente de grande peso, têm, no entanto, resultados de algum modo importantes.» «Quando um processo requer peculiar destreza e firmeza de mãos é retirado logo que possível ao operário habilidoso, que é propenso a irregularidades de muitos tipos, e é posto a cargo de um mecanismo peculiar, tão auto-regulado que até uma criança o pode superintender.»(17*) «No esquema [plan] automático o trabalhador especializado é progressivamente suplantado.»(18*) «O efeito dos melhoramentos na maquinaria — não apenas ao suplantar a necessidade de emprego da mesma quantidade de trabalho adulto do que antes em ordem a produzir um dado resultado, mas ao substituir uma espécie de trabalho humano por outra, o mais especializado pelo menos especializado, o adulto pelo juvenil, o masculino pelo feminino — causa uma nova perturbação na taxa dos salários.»(19*) A maquinaria «manda embora» incessantemente adultos da fábrica(20*).

A extraordinária elasticidade do sistema de máquinas — na sequência da experiência prática acumulada, do volume de meios mecânicos já disponíveis e do constante progresso da técnica — mostrou-nos, sob a pressão do encurtamento do dia de trabalho, a sua marcha impetuosa. Mas quem é que em 1860, ano zénite da indústria inglesa do algodão, teria adivinhado o galopante melhoramento da maquinaria e a correspondente destituição [Deplacierung] de trabalho manual, que os três anos seguintes, sob o aguilhão da guerra civil americana, suscitaram? Basta aqui um par de exemplos tirados dos relatórios oficiais dos inspectores fabris ingleses sobre este ponto. Um fabricante de Manchester declara:

«Anteriormente tínhamos 75 máquinas cardadeiras, agora temos 12 a fazer a mesma quantidade de trabalho... Estamos com menos 14 braços, poupando em salários £10 por semana. A nossa poupança em desperdícios estimada é de cerca de 10% da quantidade de algodão consumido.»

Numa fiação fina de Manchester,

«através do aumento da velocidade e da adopção de alguns processos automáticos foi feita uma redução, em número, de um quarto num departamento e mais de metade noutro, e a introdução da máquina de pentear, em vez da segunda cardação, reduziu consideravelmente o número de braços anteriormente empregues na sala de cardação.»

Uma outra fábrica de fiação calcula a sua poupança geral de «braços» em 10%. Os senhores Gilmore, fiandeiros de Manchester declaram:

«Consideramos que no nosso departamento de foles (blowing department) as nossas despesas com nova maquinaria são bem um terço menos do que as despesas com salários e braços... na sala de instrumentos para bobinar e estirar (jack-frame e drawing-frame room) cerca de um terço menos em despesas e igualmente um terço menos em braços; na sala de fiação cerca de um terço menos em despesas. Mas não é tudo; quando o nosso fio vai para os manufactureiros é de tal modo melhor pela aplicação da nossa nova maquinaria que eles produzirão uma quantidade maior de tecido e mais barato do que com o fio produzido por maquinaria velha.»(21*)

O inspector fabril A. Redgrave observa a este respeito:

«A redução de braços com aumento de produção está de facto constantemente a ter lugar; nas fábricas de lã começou há algum tempo e continuará; há alguns dias atrás, o professor de uma escola nos arredores de Rochdale disse-me que o grande abandono na escola de raparigas é causado não só pela miséria, mas pelas mudanças de maquinaria nas fábricas de lã, em consequência das quais teve lugar uma redução de 70 empregados a tempo reduzido [short-timers].»(22*)

A tabela a seguir[N141] mostra o resultado total do melhoramento mecânico na indústria inglesa do algodão devido à guerra civil americana:

Número de fábricas
  1856 1861 1868
Inglaterra e País de Gales
2046
2715
2405
Escócia
152
163
131
Irlanda
12
9
13
Total Reino Unido
2210
2887
2549
Número dos teares a vapor
Inglaterra e País de Gales
275590
367125
344719
Escócia
21624
30110
31864
Irlanda
1633
1757
2746
Total Reino Unido
298847
399992
379329
Número de fusos
Inglaterra e País de Gales 25818756 28352125 30478228
Escócia 2041129 1915398 1397546
Irlanda 150512 119944 124240
Total Reino Unido 28010217 30387467 32000014
Número de pessoas ocupadas
Inglaterra e País de Gales
341170
407598
357012
Escócia
34698
41237
39809
Irlanda
3345
2734
4203
Total Reino Unido
379213
451569
401064

De 1861 até 1868 desapareceram, portanto, 338 fábricas de algodão; i. é., maquinaria mais produtiva e maior concentrou-se nas mãos de um número menor de capitalistas. O número dos teares a vapor diminuiu 20 663; mas o seu produto tinha-se multiplicado simultaneamente, de tal modo que um tear aperfeiçoado produzia agora mais do que um velho. Finalmente, o número de fusos aumentou 1 612 547 enquanto o número dos operários ocupados diminuiu 50 505. A miséria «temporária» a que a crise do algodão sujeitou os operários aumentou e consolidou-se através do rápido e permanente progresso da maquinaria.

A maquinaria, contudo, actua não só como concorrente prepotente do operário assalariado como está sempre a ponto de o tomar «supérfluo». É como potência inimiga dele que é proclamada e manejada, aberta e tendencialmente, pelo capital. Toma-se o mais poderoso meio de guerra para reprimir os periódicos levantamentos operários, strikes, etc., contra a autocracia do capital(24*). Segundo Gaskell, a máquina a vapor era já uma antagonista da «força humana», que habilitava o capitalista a esmagar as crescentes reivindicações dos operários, que ameaçavam de crise o incipiente sistema fabril(25*). Podia escrever-se toda uma história das invenções que desde 1830 vieram à luz meramente como meios de guerra do capital contra motins operários. Recordamos sobretudo a self-acting mule porque inaugurou uma nova época do sistema automático.(27*)

Na sua declaração perante a Trades’ Union Commission, Nasmyth, o inventor do martelo a vapor, relata como segue os melhoramentos da maquinaria que ele introduziu no seguimento das grandes e longas strikes dos operários [de constmção] de máquinas em 1851:

«O traço característico dos nossos melhoramentos mecânicos modernos é a introdução de maquinaria-ferramenta automática. O que todo o operário mecânico tem agora de fazer e que qualquer rapaz pode fazer não é ele próprio trabalhar, mas superintender o belo trabalho da máquina. Toda a classe de operários que depende exclusivamente da sua especialização é agora posta de parte. Antes empregava quatro rapazes por cada artífice [mechanic]. Graças a estas novas combinações mecânicas reduzi o número de homens adultos de 1500 para 750. O resultado foi um aumento considerável dos meus lucros.»[N142]

Ure diz de uma máquina para estampar cores nas estampagens de calicós:

«Finalmente, os capitalistas procuraram libertação para esta intolerável servidão» (a saber: as condições contratuais, para eles gravosas, dos operários) «nos recursos da ciência e foram rapidamente reinstalados no seu legítimo poder, o da cabeça sobre os membros inferiores.»

De uma invenção para encolar a urdidura cujo motivo imediato fora uma strike diz:

«Então os descontentes conluiados, inexpugnavelmente intrincheirados por detrás das velhas linhas da divisão do trabalho viram os seus flancos contornados e as suas defesas tornadas inúteis pelas novas tácticas mecânicas e foram obrigados a renderem-se incondicionalmente.»

Da invenção da self-acting mule diz:

«Uma criação destinada a restaurar a ordem entre as classes industriosas... Esta invenção confirma a grande doutrina, já proposta, de que quando o capital alista a ciência ao seu serviço, ao braço refractário do trabalho será sempre ensinada a docilidade.»(28*)

Embora a obra de Ure tenha aparecido em 1835, portanto numa altura em que o sistema fabril relativamente ainda estava fracamente desenvolvido, continua a ser a expressão clássica do espírito fabril, não só devido ao seu cinismo franco como também por causa da ingenuidade com que ele divulga as irreflectidas contradições do cérebro capitalista. Depois de, p. ex., desenvolver a «doutrina» de que o capital, com a ajuda da ciência por ele posta a soldo, ensina sempre o braço refractário do trabalho à docilidade, indigna-se «porque ela» (a ciência físico-mecânica) «tem sido acusada de se entregar ao rico capitalista como um instrumento para atormentar o pobre.»

Depois de ter pregado por toda a parte como era vantajoso para os operários um rápido desenvolvimento da maquinaria, adverte-os de que a sua obstinação, as suas strikes, etc., aceleram o desenvolvimento da maquinaria.

«Revulsões violentas desta natureza», diz ele, «revelam um homem de vistas curtas no carácter desprezível de um autotorturador.»

Algumas páginas antes ele afirma o contrário:

«Se não tivessem sido as violentas colisões e interrupções resultantes de perspectivas erróneas entre os operários fabris, o sistema fabril teria sido desenvolvido ainda mais rápida e beneficamente para todos os interessados.»

Depois exclama de novo:

«Felizmente para o estado da sociedade nos distritos do algodão da Grã-Bretanha, os melhoramentos na maquinaria são graduais.» «Diz-se que ele [o melhoramento da maquinaria] baixa a taxa de ganhos dos adultos ao substituir uma porção deles e tornando assim o seu número superabundante em comparação com a prrocura do seu trabalho. Aumenta certamente a procura de trabalho de crianças, e incrementa a taxa dos salários daqueles.»

O mesmo dispensador de consolos defende, por outro lado, a pequenez dos salários das crianças pelo facto de impedir «os pais de mandarem os filhos cedp demais para a fábrica». Todo o seu livro é uma apologia do dia de trabalho ilimitado e que a legislação proiba que crianças de 13 anos se matem a trabalhar mais de 12 horas por dia isso faz a sua alma liberal lembrar-se dos tempos mais sombrios da Idade Média. Isto não o impede de apelar aos operários fabris para que dêm graças à Providência, que, através da maquinaria, lhes proporcionou tempo livre para meditarem nos seus «interesses imortais».(30*)

continua>>>


Notas de rodapé:

(1*) Ver, entre outros, John Hougton, Husbandry and Trade Improved, Lond., 1727. The Advantages of the East Índia Trade, 1720. John Bellers, 1. c. «Os patrões e os seus operários estão, infelizmente, em guerra perpétua uns com os outros. O invariável objectivo dos primeiros é ter o trabalho feito o mais barato possível; e não recuam a usar qualquer artifício para este propósito, enquanto os últimos estão igualmente atentos a qualquer ocasião para compelir os seus patrões a uma aquiescência a exigências maiores.» An Enquiry into the Causes of the Present High Prices of Provisions, 1767, pp. 61, 62. (Autor Rev. Nathaniel Forster, inteiramente ao lado dos operários.) (retornar ao texto)

(2*) O Bandmühle foi inventado na Alemanha. O italiano Abbé Lancelloti, numa obra publicada em Veneza em 1636, conta: «Em Danzig, cidade da Prússia, Antonio Moler referia, ainda não há 50 anos» (L. escrevia em 1629) «ter visto com os próprios olhos um artifício engenhosíssimo com o qual se faziam trabalhar por si próprias quatro, seis peças [...] Mas porque muitos pobres homens que viviam do tecer iriam morrer de fome, esta invenção foi proibida pelo magistrado daquela cidade e o autor foi mandado secretamente afogar.»[N140] Em Leyden, a mesma máquina foi utilizada pela primeira vez em 1629. Os motins provocados pelos tecelões de passamanes coagiram o magistrado primeiro a proibi-la; vários decretos dos Estados Gerais em 1623, 1639, etc, haviam de limitar a sua utilização; foi finalmente permitida, em certas condições, pelo decreto de 15 de Dezembro de 1661. «Nesta cidade», diz Boxhorn (Inst. Pol, 1663) sobre a introdução do Bandmühle em Leyden, «inventaram há cerca de vinte anos atrás, um certo instrumento para tecer, com o qual um só podia confeccionar mais pano e mais facilmente do que [antes] muitos em tempo igual. Isto levou a distúrbios e protestos por parte dos tecelões até que o uso deste instrumento foi proibido pelo magistrado.» A mesma máquina foi proibida em Colónia em 1676, enquanto a sua introdução na Inglaterra causava simultâneos distúrbios entre os operários. Por edicto imperial de 19 de Fevereiro de 1685 foi a sua utilização proibida em toda a Alemanha. Em Hamburgo foi queimada em público por ordem do magistrado. O imperador Karl VI renovou a 9 de Fevereiro de 1719 o edicto de 1685 e o Eleitorado da Saxónia só permitiu o seu uso público em 1765. Esta máquina, que tanto alarido fez no mundo, foi de facto a precursora da máquina de fiar e de tecer, portanto, da revolução industrial do século XVIII. Ela permitia a um jovem totalmente inexperiente na tecelagem pôr em movimento todo o tear com todas as suas lançadeiras por um mero empurrar para a frente e para trás uma biela motora e, na sua forma melhorada, produzia de uma vez entre 40-50 peças. (retornar ao texto)

(3*) Em inglês no texto: moinhos de carmear. ´(Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(4*) Nas manufacturas antiquadas ainda hoje se repetem de vez em quando as formas grosseiras de rebelião operárias contra a maquinaria. É o caso, p. ex., dos picadores de limas em Sheffield em 1865. (retornar ao texto)

(5*) Sir James Steuart também é da mesma opinião relativamente ao efeito da maquinaria. «Considero portanto as máquinas como meios de aumentar» (virtualmente) «o número das pessoas industriosas que não se é obrigado a alimentar... Em que é que o efeito de uma máquina difere do de novos habitantes?» (Trad. franc., t. I, 1. I, ch. XIX.) Mais ingénuo é Petty que diz que ela substituiu a «poligamia». O ponto de vista acima referido aplica-se, no máximo, a algumas partes dos Estados Unidos. Em contapartida: «Raramente a maquinaria pode ser usada com êxito para reduzir o trabalho de um indivíduo; seria perdido mais tempo na sua construção do que o que podia ser poupado na sua aplicação. Ela só é realmente útil se actua sobre grandes massas, quando uma só máquina pode apoiar o trabalho de milhares. Em conformidade, é nos países mais populosos, onde há mais homens desocupados, que ela é mais abundante... Começa-se a utilizar a maquinaria não pela escassez de homens, mas pela facilidade com que estes podem ser levados a trabalhar em massa.» (Piercy Ravenstone: Thoughts on the Funding System and its Effects, Lond., 1824, p. 45.) (retornar ao texto)

(6*) (À 4ª ed. — Isto vale também para a Alemanha. Onde a grande agricultura existe no nosso país, nomeadamente no Leste, ela só se tomou possível em consequência da «expropriação dos camponeses» [«Bauernlegen»], desde o século XVI, mas nomeadamente desde 1648. — F. E. (retornar ao texto)

(7*) «Maquinaria e trabalho estão em constante concorrência.» (Ricardo, 1. c., p. 479.) (retornar ao texto)

(8*) Em inglês no texto; «um inconveniente temporário». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(9*) A concorrência entre tecelagem manual e tecelagem mecânica na Inglaterra, antes da introdução da lei dos pobres de 1834, foi prolongada pelo facto de os salários, caídos muito abaixo do mínimo, terem sido complementados por subsídios paroquiais. «O Rev. Sr. Tumer era, em 1827, pároco de Wilmslow no Cheshire, um distrito manufactureiro. As perguntas do Comité de Emigração e as respostas do Sr. Tumer mostram como é mantida a concorrência do trabalho humano(10*) contra a maquinaria. “Pergunta: O uso do tear mecânico não superou o uso do tear manual? Resposta: Sem dúvida tê-lo-ia superado muito mais do que fez se os tecelões manuais não tivessem sido postos em condições de se submeterem a uma redução dos salários.” “Pergunta: Mas ao submeterem-se, não aceitaram salários que são insuficientes para os sustentar e não consideraram a contribuição paroquial como o restante para o seu sustento? Resposta: Sim, e, de facto, a concorrência entre o tear manual e o tear mecânico é mantida à custa das taxas para auxílio aos pobres.” Este pauperismo degradante ou expatriação é o benefício que o operário [industrious] recebe de introdução da maquinaria: ser reduzido de artífice [mechanic] respeitável e em certo grau independente ao desgraçado submisso que vive do degradante pão da caridade. A isto chamam eles inconveniente temporário.» (A Prize Essay on the Comparative Merits of Competition and Co-operation, Lond., 1834, p. 29.) (retornar ao texto)

(10*) Na edição alemã: Handarbeit, trabalho manual. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(11*) «A mesma causa que pode aumentar os rendimentos do país» (i. é, como Ricardo explica no mesmo passo, the revenues of landlords and capitalists(12*) cuja wealth(13*) economicamente considerada é, em geral = wealth of the nation(14*), «pode ao mesmo tempo tomar a população redundante [redundant] e determinar a condição do trabalhador.» (Ricardo, 1. c., p. 469.) «O objectivo constante e a tendência de cada melhoramento na maquinaria(15*) é, de facto, acabar totalmente com o trabalho do homem ou baixar o seu preço, substituindo o trabalho de homens adultos pelo de mulheres e crianças ou o de operários especializados pelo de não especiahzados.» (Ure [, 1. c., p. 23(16*)].) (retornar ao texto)

(12*) Em inglês no texto: os rendimentos dos proprietários de terras e capitalistas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(13*) Em inglês no texto: riqueza da nação. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(14*) Em inglês no texto: riqueza. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(15*) Marx traduz: mecanismo, talvez por, como na Miséria da Filosofia, se servir neste passo da versão francesa da obra de Ure. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(16*) Na edição inglesa: t. I, p. 35. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(17*) Ure, 1. c., p. 19. «A grande vantagem da maquinaria empregue na fabricação de tijolos consiste nisto: o empregador toma-se totalmente independente dos trabalhadores especializados.» (Ch. Empl. Comm., V. Report, Lond., 1866, p. 130, n. 46.).
Suplemento à 2.“ ed. O sr. A. Sturrock, superintendente do departamento de máquinas da Great Northern Railway diz, referindo-se à construção de máquinas (locomotivas, etc.): «Operários Ingleses caros (expensive) estão a ser cada dia menos usados. A produção [...] está a ser aumentada pelo uso de ferramentas aperfeiçoadas e estas ferramentas são, por sua vez, servidas por uma baixa classe de trabalho (a low class of labour)... Anteriormente o seu trabalho especializado produzia necessariamente todas as partes das máquinas a vapor. Agora as partes das máquinas a vapor são produzidas por trabalho com menor especialização, mas com boas ferramentas. Por ferramentas, eu entendo maquinaria de construção [engineers’s machinery].» (Royal Commission on Railways. Minutes of Evidence, n. 17 862 e 17 863, London, 1867.)(retornar ao texto)

(18*) Ure, 1. c., p. 20. (retornar ao texto)

(19*) L. c., p. 321. (retornar ao texto)

(20*) [Cf.,] 1. c., p. 23. (retornar ao texto)

(21*) Reports of Insp. of Fact., 31st Oct., 1863, pp. 108 sqq. (retornar ao texto)

(22*) L. c., p. 109. O rápido melhoramento da maquinaria durante a crise do algodão permitiu aos fabricantes ingleses, logo depois do fim da guerra civil americana, superlotar de novo num abrir e fechar de olhos o mercado mundial. Os tecidos tomaram-se praticamente invendáveis durante os últimos 6 meses de 1866. Assim começou a consignação de mercadorias para a China e Índia, o que naturalmente tomou a «glut»(23*) ainda mais intensiva. No início de 1867 os fabricantes recorreram ao seu subterfúgio habitual; redução dos salários em 5%. Os operários e declararam, o que teoricamente está bastante certo, que o único remédio era trabalhar durante pouco tempo, 4 dias por semana. Após uma longa teima, os autodesignados capitães de indústria tiveram de se decidir a isso, nalguns sítios com redução de sálario de 5% e noutros sem. (retornar ao texto)

(23*) Em inglês no texto: «saturação». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(24*) «A relação de patrão e homem no negócio de garrafas de vidro soprado corresponde a uma greve (strike) crónica.» Daí a ascensão da manufactura do vidro prensado, em que as operações principais são levadas a cabo por maquinaria. Uma firma em Newcastle, que ao antes produzia anualmente 350 000 libras de cristal, produz agora 3 000 500 libras de vidro prensado.» (Ch. Empl. Comm., IV. Rep., 1865, pp. 262, 263.) (retornar ao texto)

(25*) Gaskell, The Manufacturing Population of England, Lond., 1833, pp. 11, 12(26*). (retornar ao texto)

(26*) Na edição francesa e inglesa: pp. 3, 4. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(27*) O Sr. Fairbaim descobriu algumas aplicações muito significativas de máquinas para a construção de máquinas na sequência de strikes na sua própria fábrica de máquinas. (retornar ao texto)

(28*) Ure, 1. c., pp. 367-370(29*). (retornar ao texto)

(29*) Na edição inglesa: pp. 368-370. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(30*) Ure, 1. c., pp. 368, 7, 370, 280, 321, 281(31*), 475. (retornar ao texto)

(31*) Na edição inglesa: 370. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

Notas de fim de tomo:

[N140] Marx cita aobra de Secondo Lancellotti: L'Hoggidì overo gl'ingegni non inferiori a' passati segundo o livro: Johann Beckmann, Beyträge zur Geschichte der Erfindungen. Band I, Leipzig, 1786, S. 125-126. Os dados sobre a obra de Lancellotti vai Marx buscá-los também a esse livro de Beckmann. (retornar ao texto)

[N141] O quadro foi estabelecido com base em dados de três documentos parlamentares sob o título geral de Factories. Return to an Address of the Honourable the House of Commons, Dated 15th April 1856; Return to an Address of the Honourable the House of Commons, Dated 24th April 1861; Return to an Address of the Honourable the House of Commons, Dated 5th December 1867. (retornar ao texto)

[N142] Tenth Report of the Commissioners Appointed to Inquire into the Organization and Rules of Trades Unions and Other Associations: Together with Minutes of Evidence. London, 1868, pp. 63-64. (retornar ao texto)

Inclusão 18/10/2012