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Livro Primeiro: O processo de produção do capital
Quarta Secção: A produção da mais-valia relativa
Décimo terceiro capítulo. Maquinaria e grande indústria
Toda uma série de economistas burgueses, como James Mill, MacCulloch, Torrens, Senior, J. St. Mill, etc., afirma que toda a maquinaria que desaloja operários liberta sempre simultânea e necessariamente um capital adequado à ocupação dos mesmos e idênticos operários.(1*)
Suponhamos que um capitalista emprega 100 operários, p. ex., numa manufactura de papel de parede, a 30 lib. esterl. por ano cada um. O capital variável despendido anualmente é de 3000 lib. esterl. Que ele despede 50 operários e ocupa os restantes 50 numa maquinaria que lhe custa 1500 lib. esterl. Para simplificar, abstrai-se das instalações, do carvão, etc. Suponhamos, além disso, que a matéria-prima consumida anualmente custa, tal como antes, 3000 lib. esterl.(2*) Por esta metamorfose foi «libertado» algum capital? No antigo modo de funcionamento, a soma total despendida consistia em 6000 lib. esterl., metade capital constante, metade variável. Agora consiste em 4500 lib. esterl. (3000 lib. esterl. para matéria-prima e 1500 lib. esterl. para maquinaria) de capital constante e em 1500 lib. esterl. de capital variável. A parte do capital variável ou convertida em força de trabalho viva forma em vez de metade apenas do capital total. Em vez de libertação, tem aqui lugar uma vinculação de capital numa forma em que cessa de se trocar por força de trabalho, i. é, uma transformação de capital variável em capital constante. Agora o capital de 6000 lib. esterl. nunca mais pode, mantendo-se iguais as demais circunstâncias, ocupar mais de 50 operários. A cada melhoramento da maquinaria, ele ocupa menos. Se a maquinaria recém-introduzida custasse menos do que a soma da força de trabalho e ferramentas de trabalho por ela desalojadas, p. ex., em vez de 1500 lib. esterl. só 1000 lib. esterl., então um capital variável de 1000 lib. esterl. era transformado em, ou vinculado a, capital constante, enquanto um capital de 500 lib. esterl. era libertado. Este último, supondo o mesmo salário anual, forma um fundo de ocupação para cerca de 16 operários enquanto 50 são despedidos; aliás, para muito menos que 16 operários uma vez que as 500 lib. esterl., para a sua transformação em capital, têm de novo em parte de ser transformadas em capital constante, e portanto também só em parte podem ser convertidas em força de trabalho.
Suponhamos, entretanto, também que a construção de nova maquinaria ocupa um número maior de mecânicos; haverá isso de ser uma compensação para os produtores de papel de parede postos na rua? No melhor dos casos, a sua construção ocupa menos operários do que aqueles que o seu emprego desaloja. A soma de 1500 lib. esterl., que apenas representava o salário dos produtores de papel de parede despedidos, representa agora sob a figura de maquinaria:
Mais, uma vez pronta, a máquina não precisa de ser renovada até morrer. Portanto, para ocupar de modo duradouro o número adicional de mecânicos, um fabricante de papel de parede após outro tem de desalojar operários em favor de máquinas.
De facto, aqueles apologistas não se referem a esta espécie de libertação de capital. Eles referem-se aos meios de vida dos operários libertados. Não se pode negar que no caso acima citado, p. ex., a maquinaria não só liberta 50 operários e por isso os toma «disponíveis», como simultaneamente suprime a sua conexão com meios de vida no valor de 1500 lib. esterl. e assim «liberta» estes meios de vida. O facto simples, e de modo nenhum novo, de que a maquinaria liberta de meios de vida o operário significa, portanto, economicamente, que a maquinaria liberta meios de vida para o operário ou transforma os meios de vida em capital para empregar aquele. Como se vê, tudo depende do modo de expressão. Nominibus mollire licet mala[N143].
Segundo esta teoria, os meios de vida no valor de 1500 lib. esterl. eram um capital valorizado pelo trabalho dos 50 operários de papel de parede despedidos. Este capital perde consequentemente a sua ocupação logo que os 50 começam as férias e nunca mais descansa enquanto não encontrar uma nova «colocação» onde os referidos cinquenta o possam de novo consumir produtivamente. Mais cedo ou mais tarde, capital e operários têm portanto de se encontrar de novo e, então, há a compensação. Os sofrimentos dos operários desalojados pela maquinaria são, portanto, tão transitórios como as riquezas deste mundo.
Os meios de vida no montante de 1500 lib. esterl. nunca estiveram como capital face aos operários despedidos. O que estava diante deles como capital eram as 1500 lib. esterl. agora transformadas em maquinaria. Analisando mais de perto, estas 1500 lib. esterl. representavam só uma parte dos papéis de parede produzidos anualmente por intermédio dos 50 operários despedidos, que eles recebem do seu empregador como salário sob a forma de dinheiro em vez de in natura(3*). Com os papéis de parede transformados em 1500 lib. esterl., eles compravam meios de vida no mesmo montante. Estes existiam para eles não como capital, mas como mercadorias, e eles próprios existiam para estas mercadorias não como assalariados, mas como compradores. A circunstância de a maquinaria os ter «libertado» de meios de compra, transforma-os de compradores em não-compradores. Daí, diminuição de procura para aquelas mercadorias. Voilà tout(4*). Se esta diminuição de procura não for compensada por outro lado por aumento de procura, o preço de mercado das mercadorias baixa. Se isto dura mais tempo e num volume maior, segue-se então um deslocamento dos operários ocupados na produção daquelas mercadorias. Uma parte do capital, que antes produzia meios de vida necessários, é reproduzido noutra forma. Durante a queda dos preços de mercado e o deslocamento de capital, também os operários ocupados na produção dos meios de vida necessários são «libertados» de uma parte do seu salário. Portanto, em vez de provar que a maquinaria, pela libertação dos operários de meios de vida, transforma simultaneamente estes últimos em capital para empregar os primeiros, o senhor apologista, com a lei comprovada da oferta e da procura, prova inversamente que a maquinaria atira os operários para a rua não só no ramo de produção em que é introduzida, mas também naqueles ramos de produção em que não foi introduzida.
Os factos reais travestidos pelo optimismo económico são estes: os operários desalojados pela maquinaria são atirados para fora da oficina para o mercado de trabalho, e aí aumentam o número de forças de trabalho já disponíveis para a exploração capitalista. Na sétima secção mostrar-se-á que este efeito da maquinaria, que aqui nos é apresentado como uma compensação para a classe operária, é, pelo contrário, o mais terrível flagelo para o operário. Aqui digo apenas isto: os operários postos fora de um ramo de indústria podem, sem dúvida, procurar ocupação num outro qualquer. Se encontram uma e se restabelecem o vínculo entre eles e os meios de vida com eles libertados, então isso acontece por intermédio de um capital novo adicional que procura colocação e nunca por intermédio de um capital que já antes funcionava e agora está transformado em maquinaria. E mesmo se encontrarem, como são escassas as suas perspectivas! Estropiados pela divisão do trabalho, estes pobres diabos valem tão pouco fora do seu velho círculo de trabalho que só têm acesso a poucos ramos de trabalho inferiores e por isso permanentemente superlotados e infrapagos(5*). Para além disso, cada ramo de indústria atrai anualmente uma nova corrente humana, que lhe fornece o contingente para uma substituição e crescimento regulares. Logo que a maquinaria liberta uma parte dos operários até aí ocupados num determinado ramo de indústria, a equipa de substituição é repartida de novo e absorvida noutros ramos de trabalho, enquanto as vítimas originárias, no período de transição, em grande parte se vão arruinando e definham.
É um facto indubitável que a maquinaria por si não é responsável pela «libertação» do operário de meios de vida. Ela embaratece e aumenta o produto no ramo que atinge, e primeiro deixa inalterável a massa de meios de vida produzida noutros ramos de indústria. Tal como antes da sua introdução, a sociedade possui, portanto, tantos ou mais meios de vida para os operários deslocados, já não falando da parte enorme do produto anual que é esbanjada pelos não-operários. E é este o cume da apologética económica! As contradições e antagonismos inseparáveis da aplicação capitalista da maquinaria não existem [, dizem,] porque não provêm da própria maquinaria, mas da sua utilização capitalista! Uma vez que, portanto, a maquinaria, considerada em si, encurta o tempo de trabalho, enquanto aplicada de modo capitalista prolonga o dia de trabalho; em si, facilita o trabalho, aplicada de modo capitalista, sobe a sua intensidade; em si, é uma vitória do homem sobre a força da Natureza, aplicada de modo capitalista, subjuga o homem à força da Natureza; em si, multiplica a riqueza do produtor, aplicada de modo capitalista, pauperiza-o, etc. — o economista burguês declara simplesmente que a consideração da maquinaria em si prova, com toda a precisão, que todas as contradições palpáveis são mera aparência da realidade comum, mas que em si, e portanto também na teoria, não existem de modo nenhum. Poupa a si próprio, assim, mais quaisquer quebra-cabeças e imputa além disso ao seu adversário a estupidez de combater não a aplicação capitalista da maquinaria, mas a própria maquinaria.
O economista burguês não nega de maneira nenhuma que daí também resultam inconvenientes temporários; mas onde há uma medalha sem reverso? Uma outra utilização da maquinaria que não a capitalista é, para ele, impossível. Exploração do operário pela máquina é, para ele, portanto, idêntico a exploração da máquina pelo operário. Quem, portanto, descobrir o que na realidade se passa com a aplicação capitalista da maquinaria não quer em geral a sua aplicação, é um adversário do progresso social!(6*) Exactamente o raciocínio do famoso corta-pescoços Bill Sykes:
«Senhores jurados, não há dúvida de que a goela deste caixeiro-viajante foi cortada. Mas isso não é culpa minha, é culpa da faca. Teremos nós, por causa deste inconveniente temporário, de abolir o uso da faca? Vejam só! Onde é que estariam a agricultura e o comércio sem a faca? Não é ela tão salutar na cirurgia quanto conhecedora em anatomia? E além disso uma ajuda que se deseja à mesa do festim? Se abolem a faca — lançam-nos de volta nas profundezas da barbárie.»(8*)
Ainda que a maquinaria desaloje necessariamente operários nos ramos de trabalho em que é introduzida, pode provocar, no entanto, um acréscimo de ocupação em outros ramos de trabalho. Este efeito, porém, não tem nada de comum com a chamada teoria da compensação. Uma vez que cada produto das máquinas, p. ex., um côvado de tecido feito à máquina, é mais barato que o mesmo produto à mão por ele desalojado, segue-se como lei absoluta: se o quantum total do artigo produzido à máquina permanecer igual ao quantum total do artigo produzido artesanal ou manufactureiramente por ele substituído, então reduz-se a soma total do trabalho aplicado. O acréscimo de trabalho requerido para produção do próprio meio de trabalho, da maquinaria, carvão, etc., tem de ser menor que o decréscimo de trabalho operado pela aplicação da maquinaria. Senão o produto à máquina seria tão caro ou mais caro do que o produto à mão. Mas, em vez de permanecer igual, a massa total do artigo produzido à máquina por um número menor de operários cresce efectivamente muito para além da massa total do artigo artesanal desalojado. Suponhamos que 400 000 côvados de tecido à máquina foram produzidos por menos operários do que 100 000 côvados de tecido à mão. No produto quadriplicado está encerrada quatro vezes mais matéria-prima. A produção de matéria-prima tem de ser, portanto, quadriplicada. Mas no que diz respeito aos meios de trabalho consumidos, tais como instalações, carvão, máquinas, etc., os limites dentro dos quais o trabalho adicional requerido para a sua produção pode crescer alteram-se com a diferença entre a massa do produto à máquina e a massa do produto à mão fabricável pelo mesmo número de operários.
Com a extensão do funcionamento com máquinas num ramo de indústria sobe, portanto, primeiro a produção nos outros ramos que lhe fornecem os seus meios de produção. O quanto por esse facto cresce a massa de operários empregues depende, dada a duração do dia de trabalho e sua intensidade, da composição dos capitais empregues, i. é, da relação das suas partes componentes constante e variável. Esta relação, por seu lado, varia muito com o volume em que a maquinaria atingiu já ou atinge aqueles mesmos ofícios. O número de homens condenados a trabalhar nas minas de carvão e de metais aumentou enormemente com o progresso do sistema de máquinas inglês, apesar de o seu aumento ter sido retardado nos últimos decénios pelo uso de nova maquinaria para a indústria mineira(9*). Uma nova espécie de operário nasce com a máquina: o seu produtor. Já sabemos que o funcionamento com máquinas se apoderou deste mesmo ramo de produção numa escala cada vez mais massiva(10*). Além disso, no que diz respeito à matéria-prima(12*), não há qualquer dúvida, p. ex., de que a marcha impetuosa da fiação de algodão acelerou como em estufa o cultivo do algodão nos Estados Unidos, e com ele não só acelerou o tráfico de escravos africanos como simultaneamente fez da criação de negros o principal negócio dos chamados estados escravistas fronteiriços. Quando, em 1790, foi feito o primeiro censo de escravos nos Estados Unidos o seu número ascendia a 697 000; em 1861, em contrapartida, eram cerca de quatro milhões. Por outro lado, não é menos certo que o florescimento da fábrica mecânica de lã, juntamente com a transformação progressiva de terra arável em pastagens, provocou a expulsão massiva e a «conversão em supranumerários» dos operários agrícolas. A Irlanda atravessa ainda neste momento o processo de reduzir ainda mais a sua população — já reduzida quase por metade desde 1845 — na medida que corresponde exactamente à necessidade dos seus landlords(13*) e dos senhores fabricantes de lã ingleses.
Se a maquinaria atinge estádios prévios ou intermédios que um objecto de trabalho tem de percorrer até à sua forma última, com o material de trabalho aumenta a procura de trabalho nas oficinas, ainda funcionando artesanal ou manufactureiramente, em que o produto fabricado à máquina entra. A fiação com máquinas, p. ex., fornece o fio tão barato e tão abundantemente que os tecelões manuais podiam primeiro trabalhar a tempo inteiro sem aumento de despesas. Assim, os seus rendimentos subiam(14*). Daí, afluência de pessoas à tecelagem de algodão, até que por fim os 800 000 tecelões algodoeiros chamados à existência, p. ex., em Inglaterra, pela jenny, throstle e mule foram novamente esmagados pelo tear a vapor. Assim, com o excedente de tecidos para vestuário produzidos à máquina, cresce o número dos alfaiates, modistas, costureiras, etc., até aparecer a máquina de costura.
Correspondendo à massa crescente de matérias-primas, produtos semiacabados, instrumentos de trabalho, etc., que o funcionamento com máquinas fornece com um número de operários relativamente escasso, a elaboração destas matérias-primas e produtos semiacabados divide-se em inúmeras subespécies, cresce portanto a multiplicidade dos ramos sociais de produção. O funcionamento com máquinas leva a divisão social do trabalho incomparavelmente mais longe do que a manufactura porque aumenta a força produtiva dos operários por ela atingidos num grau incomparavelmente maior.
O resultado mais próximo da maquinaria é aumentar a mais-valia e, simultaneamente, a massa de produtos em que ela se apresenta; portanto, aumentar, com a substância de que a classe dos capitalistas juntamente com os seus apendênces se alimenta, estas próprias camadas sociais. A sua riqueza crescente e a diminuição relativamente constante do número de operários requerido para a produção dos meios de vida de primeira necessidade produzem, com uma nova necessidade de luxo, simultaneamente novos meios para a sua satisfação. Uma parte maior do produto social transforma-se em sobreproduto, e uma parte maior do sobreproduto é reproduzida e consumida em formas refinadas e diversificadas. Por outras palavras: cresce a produção de luxo(16*). O refinamento e diversifição dos produtos brota igualmente das novas ligações do mercado mundial que a grande indústria cria. Não só são trocados mais meios de fruição [Genußmittel] estrangeiros por produto nacional como também entra uma massa maior de matérias-primas, ingredientes, produtos semiacabados, etc., estrangeiros na indústria nacional como meios de produção. Com estas ligações no mercado mundial sobe a procura de trabalho na indústria do transporte, e esta última cinde-se em numerosas novas subespécies(17*).
O aumento de meios de produção e de meios de vida, acompanhado por uma relativa diminuição do número de operários, leva à extensão do trabalho em ramos de indústria cujos produtos — tais como canais, cais de mercadorias, túneis, pontes, etc. — só dão fruto num futuro mais longínquo. Formam-se ramos de produção totalmente novos, e consequentemente novos campos de trabalho, ou directamente na base da maquinaria ou então na base do revolucionamento industrial geral que lhe corresponde. O espaço que ocupam na produção total não é, no entanto, de maneira nenhuma significativo, mesmo nos países mais desenvolvidos. O número de operários ocupados pelos novos ramos de produção sobe na razão directa em que a necessidade de trabalho manual mais rude é reproduzida. Como principais indústrias dessa espécie podem considerar-se presentemente a produção de gás, telegrafia, fotografia, navegação a vapor e caminhos-de-ferro. O censo de 1861 (para Inglaterra e País de Gales) dá na indústria do gás (fábricas de gás, produção dos aparelhos mecânicos, agentes das companhias de gás, etc.) 15 211 pessoas, na telegrafia 2 399, na fotografia 2366, no serviço de navegação a vapor 3570 e nos caminhos-de-ferro 70 599, dos quais cerca de 28 000 são cavadores «não especializados» ocupados de um modo mais ou menos permanente, a par de todo o pessoal administrativo e comercial. Portanto, número total dos indivíduos nestas cinco novas indústrias: 94 145.
Finalmente, o extraordinário aumento da força produtiva nas esferas da grande indústria — acompanhado, como é, por subida intensiva e extensiva de exploração da força de trabalho em todas as restan- tes esferas da produção — permite empregar improdutivamente uma parte maior e sempre crescente da classe operária e assim reprodu- zir de um modo sempre mais massivo designadamente os velhos escravos domésticos sob o nome de «classe serviçal», como criados, criadas, lacaios, etc. De acordo com o censo de 1861, a população total da Inglaterra e País de Gales constava de 20 066 224 pessoas, das quais 9 776 259 homens e 10 289 965 mulheres. Se deduzirmos desta população todos os que são demasiado velhos ou demasiado novos para o trabalho, todas as mulheres, jovens e crianças «não-produtivos», depois os estados [Stände] «ideológicos» (como governo, padres, juristas, militares, etc.), além de todos aqueles cujo negócio exclusivo é o consumo de trabalho alheio sob a forma de renda fundiária, juro, etc., e por fim os indigentes, vagabundos, criminosos, etc., ficam, em números redondos, 8 milhões de pessoas de ambos os sexos e das mais diversas idades, incluindo todos os capitalistas que de alguma maneira funcionam na produção, no comércio, na finança, etc. Entre estes 8 milhões contam-se:
pessoas | |
Operários agrícolas (incluindo pastores, criados e criadas de lavoura que moram com rendeiros) | 1 098 261 |
Todos os ocupados nas fábricas de algodão, lã, estambre, linho, cânhamo, seda e juta e na fabricação mecânica de meias e rendas | 642 607(18*) |
Todos os ocupados em minas de carvão e metais | 565 835 |
Ocupados em todas as metalurgias (altos fornos, fábricas de laminagem, etc.) e manufacturas de metais, de toda a espécie | 396 998 (19*) |
Classe serviçal | 1 208 648(20*) |
Se juntarmos os ocupados em todas as fábricas têxteis ao pessoal das minas de carvão e de metal temos 1 208 442; se lhes juntarmos o pessoal de todas as metalurgias e manufacturas obtemos o número total de 1 039 605: das duas vezes, menos do que o número dos escravos domésticos modernos. Que edificante resultado da maquinaria explorada de modo capitalista!
Notas de rodapé:
(1*) Ricardo partilhava originariamente também desta perspectiva, mas, com a sua imparcialidade científica e amor da verdade característicos, abjurou dela mais tarde expressamente. Ver 1. c., ch. XXXI, «On Machinery». (retornar ao texto)
(2*) NB: dou esta ilustração totalmente ao modo dos economistas acima referidos. (retornar ao texto)
(3*) Em latim no texto: em géneros. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(4*) Em francês no texto: Eis tudo. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(5*) Um ricardiano observa a este respeito contra as sensaborias de J. B. Say: «Onde a divisão do trabalho está bem desenvolvida, a especialização do trabalhador é aplicável somente nesse ramo particular em que ela foi adquirida; ele próprio é uma espécie de máquina. Portanto, não ajuda nada papaguear que as coisas têm tendência para encontrar o seu nível. Olhando à nossa volta não podemos senão ver que durante muito tempo elas são incapazes de encontrar o seu nível; e que quando efectivamente o encontram, o nível está sempre mais baixo do que no começo do processo.» (An Inquiry into those Principies Respecting the Nature of Demand, etc., Lond., 1821, p. 72.) (retornar ao texto)
(6*) Um virtuoso deste cretinismo presunçoso é, entre outros, MacCulloch. «Se é vantajoso», diz ele p. ex., com a ingenuidade afectada de uma criança de 8 anos, «desenvolver mais e mais a especialização do operário de modo a que ele seja capaz de produzir, com a mesma ou menor quantidade de trabalho, uma quantidade de mercadorias constantemente crescente, tem também de ser vantajoso que ele possa beneficiar do auxílio da maquinaria que mais efectivamente o ajudará no alcançar desse resultado.» (MacCulloch, Princ. of Pol. Econ., Lond., 1830, p. 182(7*).) (retornar ao texto)
(7*) Nas edições inglesa e francesa: p. 166. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(8*) «O autor da máquina de fiar o algodão arruinou a Índia, o que pouco nos toca.» (A. Thiers, De la propríété [, p. 275].) O senhor Thiers confunde aqui a máquina de fiar com o tear mecânico, «o que pouco nos toca». (retornar ao texto)
(9*) Segundo o censo de 1861 (vol. II, Lond., 1863) o número de operários ocupados nas minas de carvão da Inglaterra e País de Gales era de 246 613, dos quais 73 546 com menos de 20 anos e 173 067 com mais. Da primeira rubrica constam 835 de cinco a dez anos, 30 701 de dez a quinze anos, 42 010 de quinze a dezanove anos. O número dos ocupados em minas de ferro, cobre, chumbo, estanho e outros metais é de 319 222. (retornar ao texto)
(10*) Na Inglaterra e no País de Gales, na produção de maquinaria ocupavam-se, em 1861, 60 807 pessoas, incluindo os fabricantes, juntamente com os seus vendedores, etc., ditto(11*) todos os agentes e comerciantes nesta especialidade. Excluem-se, em contrapartida, os produtores de máquinas mais pequenas, como máquinas de costura, etc., bem como os produtores das ferramentas para as máquinas de trabalho, como.fusos, etc. O número total de engenheiros civis era de 3329. (retornar ao texto)
(11*) Expressão de origem italiana que significa: o mesmo, idem. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(12*) Sendo o ferro uma das mais importantes matérias-primas, assinale-se aqui que, em 1861, na Inglaterra e no País de Gales, os fundidores de ferro eram 125 771, dos quais 123 430 eram homens e 2341 mulheres. Dos primeiros, 30 810 tinham menos de 20 anos e 92 620 mais. (retornar ao texto)
(13*) Em inglês no texto: senhores da terra. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(14*) «Uma família de quatro pessoas adultas» (tecedores de algodão) «com duas crianças como dobadeiras (winders) ganhavam, no fim do século passado e princípio deste, por dez horas de trabalho diário £4 por semana. Se o trabalho fosse muito urgente, podiam ganhar mais... Antes disso, eles sempre tinham "sofrido de um fornecimento deficiente de fio.» (Gaskell, 1. c., pp. 34, 35(15*).) (retornar ao texto)
(15*) Nas edições inglesa e francesa: pp. 25-27. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(16*) F. Engels em Lage, etc., refere o estado lastimoso precisamente de uma grande parte destes operários do luxo. Sobre isto, nova documentação massiva nos relatórios da Child. Empl. Comm. (retornar ao texto)
(17*) Na Inglaterra e no País de Gales, em 1861, ocupavam-se na marinha mercante 94 665 marinheiros. (retornar ao texto)
(18*) Destes, só 177 596 são do sexo masculino com mais de 13 anos. (retornar ao texto)
(19*) Destes, 30 501 do sexo feminino. (retornar ao texto)
(20*) Destes, são do sexo masculino 137 447. Exclui-se do 1 208 648 todo o pessoal que não serve em casas particulares. Suplemento à 2.a ed. De 1861 a 1870 o número de serviçais masculinos quase duplicou. Chegou aos 267 671. No ano de 1847 havia 2694 monteiros (para as tapadas da aristocracia); em contrapartida, em 1869, 4921. — As rapariguinhas, que serviam em casa do baixo pequeno-burguês [beim kleinen Spiefibiirger] londrino, chamavam-se na linguagem popular «little slaveys», pequenas escravas. (retornar ao texto)
Notas de fim de tomo:
[N143] Nominibus molliere licet mala (Ao mal convêm-lhe suavizar-se com palavras) - palavras da obra de Ovídio, A Arte de Amar, livro II, verso 657. (retornar ao texto)
Inclusão | 17/09/2013 |