MIA > Biblioteca > Marta Harnecker > Novidades
O capitalismo, representa um grande avanço no desenvolvimento da sociedade, em comparação com os sistemas sociais anteriores. Isto faz com que o sistema capitalista apareça como o único sistema capaz de proporcionar ao homem o maior bem-estar possível. No entanto basta-nos observar a realidade da sociedade capitalista para nos darmos conta de que não é assim.
Se pensarmos no extraordinário aumento de capacidade produtiva que se atingiu neste sistema, concluiremos que dele deveria ter resultado a abolição das privações e da miséria. Mas não foi esse o resultado, nem mesmo nos Estados Unidos, o país capitalista mais avançado e mais rico do mundo.
Nos Estados Unidos, tal como em qualquer país capitalista, existe fome no meio da abundância, pobreza no meio da riqueza.
Tem de existir algo de fundamentalmente errado num sistema económico em que existem tais contrastes.
Efectivamente, alguma coisa está mal. O sistema capitalista é ineficaz e destrutivo, irracional e injusto.
É ineficaz e destrutivo, porque mesmo nos anos em que funciona melhor uma quarta parte da sua capacidade de produção não está a ser utilizada.
É ineficaz e destrutivo porque periodicamente está em crise, em inflação ou em deflação. E quando chega a crise já não é um quarto mas mais de metade da capacidade produtiva que fica paralisada.
Os mais velhos recordam-se da crise de 1930 durante a qual o mundo capitalista atravessou a miséria mais espantosa. Já estamos todos habituados à inflação e ao desemprego periódicos.
O sistema capitalista é ineficaz e destrutivo porque é incapaz de dar trabalho útil a todos os homens e mulheres que o desejam e ao mesmo tempo permite que milhares de pessoas física e mentalmente sãs vivam sem nunca terem trabalhado, é incapaz de desenvolver os recursos do país, de aproveitar a totalidade do potencial humano, é incapaz de resolver a contradição da existência de terras incultas ao lado de camponeses sem terra.
É ineficaz e destrutivo, porque ocupa muitos homens e equipamento na produção dos bens de luxo mais extravagantes, não produzindo os bens mais elementares para a vida do povo.
É ineficaz e destrutivo porque, no delírio de aumentar os lucros, em vez de satisfazer as necessidades humanas destrói as colheitas e os bens em geral para lhes aumentar a procura e assim subir os preços.
Se bem que seja incrível, no Brasil chegou-se a queimar colheitas inteiras de café. Noutros países, deita-se leite aos rios ou deixa-se apodrecer a fruta nas árvores para conseguir aumentar os lucros vendendo mais caro.
Mas a maior fonte de desperdício e dissipação de bens do capitalismo é a guerra.
Como a economia capitalista funciona com muita dificuldade em situações de paz, os capitalistas conseguem revitalizar a actividade económica recorrendo ao armamento e à guerra. Na guerra, e somente na guerra, o capitalismo consegue dar trabalho aos seus milhões de desempregados, utilizar as máquinas e os materiais, fazer trabalhar a todo o vapor a economia.
Mas qual é o preço desta actividade? A destruição mais espantosa! A destruição das esperanças e sonhos de milhões de seres humanos; a destruição de milhares de escolas, hospitais, linhas de caminho-de-ferro, pontes, portos, minas, redes eléctricas; a destruição de milhares de quilómetros quadrados de terras cultivadas e bosques.
Quanto mais desenvolvido se encontra um país capitalista, mais se acentuam os males assinalados.
Esta ineficácia e destruição não é um simples defeito que se possa corrigir, mas sim uma característica da natureza do sistema capitalista. Estes males só desaparecerão quando o sistema capitalista for varrido da face da Terra.
Mas para que isto seja possível, para que os homens sejam capazes de destruir este sistema e substituí-lo por outro que ultrapasse definitivamente estas contradições, não basta enumerar as contradições que vemos no sistema capitalista, é necessário conhecer-lhes as causas profundas. Neste Caderno de Educação Popular, propomo-nos estudar o mecanismo fundamental que explica porque é que na sociedade capitalista existe um pequeno grupo de pessoas que possui tantas riquezas e goza uma vida fácil, enquanto a grande maioria dos trabalhadores vive numa situação muito difícil, tendo em muitos casos apenas o que necessita para comer.(1)
De onde vem a grande riqueza deste grupo minoritário?
Qual a origem da pobreza do grupo maioritário?
Para responder a estas perguntas precisamos de dar uma grande volta, começando pelo estudo dum sistema económico muitos simples, até chegar ao complexo sistema capitalista.
Descobrir as verdadeiras causas, a chave da exploração capitalista, não é uma tarefa fácil. Mas contamos com um instrumento poderoso para o fazer: a teoria marxista da sociedade. Temos então que nos aplicar paciente e perseverantemente a este estudo que nos permitirá compreender a sociedade para a transformar.(2)
Notas de rodapé:
(1) Outros aspectos e contradições do sistema capitalista de produção serão desenvolvidos nos próximos Cadernos de Educação Popular. (retornar ao texto)
(2) Grande parte desta introdução foi tirada do livro de Leo Huberman, «Princípios Elementares do Socialismo». (retornar ao texto)