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Fonte: Edições em Línguas Estrangeiras, Pequim, 1975 de um artigo em Hongqi
Transcrição: Graham Seaman
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Por que é que Lénine disse que há que exercer a ditadura sobre a burguesia? Esta questão deve ser bem compreendida. Se o não for, cairemos no revisionismo. É necessário que ela seja levada ao conhecimento de todo o país.
MAO TSETUNG
No momento presente, o nosso país pratica o sistema mercantil, e o sistema de salários é desigual, há oito escalões de salários, etc. Tudo isso só pode ser restringido sob a ditadura do proletariado. É por isso que, se pessoas como Lin Piao acedem ao poder, é-lhes muito fácil instaurar o regime capitalista. Há, pois, que ler cada vez mais obras marxistas-leninistas. MAO TSETUNG
Lénine disse: “A pequena produção engendra o capitalismo e a burguesia constantemente, todos os dias, todas as horas, espontaneamente e em vastas proporções.” O mesmo se passa com uma parte da classe operária, com uma parte dos comunistas. O estilo de vida burguês manifesta-se tanto no seio do proletariado como entre o pessoal dos organismos. MAO TSETUNG
De há muito tempo que a questão da ditadura do proletariado constitui o ponto fulcral da luta entre o Marxismo e o revisionismo. Lénine disse:
“Só é marxista o que estende o reconhecimento da luta de classes até ao reconhecimento da ditadura do proletariado.”
Quando o Presidente Mao apela para que todo o país compreenda bem esta questão, é precisamente para que apliquemos o Marxismo, em teoria bem como na prática, e não o revisionismo.
O nosso país atravessa um importante período histórico do seu desenvolvimento. Após mais de duas décadas de revolução e edificação socialistas, e especialmente depois da Grande Revolução Cultural Proletária que destruiu os dois quartéis generais de burguesia, o de Liu Shao-chi e o de Lin Piao, a nossa ditadura do proletariado encontra-se mais sólida do que nunca e a nossa causa socialista respira prosperidade. No momento actual, animado de espírito combativo, todo o povo está decidido a transformar o nosso país num Estado Socialista poderoso antes do fim do século. Poder ou não exercer a ditadura do proletariado durante essa etapa, bem como no decurso de todo o período histórico do socialismo, é uma questão de importância primordial que condiciona o desenvolvimento ulterior do nosso país. A luta de classes em curso exige também que esta questão seja bem compreendida. “Se o não for, cairemos no revisionismo”, diz-nos o Presidente Mao. Não basta que um pequeno número de pessoas a compreenda, é absolutamente necessário que ela seja “levada ao conhecimento de todo o país”. Nunca é por demais acentuar o significado prático e duradouro de levar a bom termo este estudo.
Desde 1920, fundando-se na sua experiência prática adquirida como dirigente da Grande Revolução Socialista de Outubro e do primeiro Estado de ditadura do proletariado, Lénine indica com acuidade:
“A ditadura do proletariado é a guerra mais heróica e a mais implacável da nova classe contra um inimigo mais poderoso, contra a burguesia cuja resistência é decuplicada devido a ter sido destronada (ainda que num só país) e cujo poder não reside apenas na força do capital internacional, na força e na solidez das ligações internacionais da burguesia, mas também na força do hábito, na força da pequena produção. Porque, infelizmente, ainda continua a existir no mundo uma muito, muito grande quantidade de pequena produção: ora, a pequena produção engendra o capitalismo e a burguesia constantemente, todos os dias, todas as horas, espontaneamente e em vastas proporções. Por todas essas razões, a ditadura do proletariado é indispensável”.
E ele precisa que esta ditadura é uma luta insistente, sangrenta e não sangrenta, violenta e pacífica, militar e económica, pedagógica e administrativa, dirigida contra as forças e as tradições da antiga sociedade, que se trata duma ditadura integral sobre a burguesia. Ele sublinha repetidas vezes que é impossível vencer a burguesia se não se exerce sobre ela uma ditadura integral e prolongada. Estas frases de Lénine, e sobretudo as passagens que ele próprio sublinhou, já foram confirmadas pelas práticas ulteriores. Com efeito, novos elementos burgueses apareceram uns após outros. Eles estão personificados na clique dos renegados Kruschov e Brejnev. Em geral, de muito boa origem de classe, essas pessoas quase todas cresceram sob a bandeira vermelha, aderiram do ponte de vista da organização ao Partido Comunista, foram formados nas universidades e tornaram-se pretensos especialistas vermelhos. Ora, eles são novas ervas venenosas nascidas sobre o velho húmus do capitalismo. Depois de terem traído a sua própria classe, usurpado a direcção do Partido e do Estado e restaurado o capitalismo, tornaram-se os chefes de fila da ditadura que a burguesia exerce sobre o proletariado, conseguindo êxito em empreendimentos em que Hitler falhara. “Lançado o satélite, a bandeira vermelha caiu”, esta experiência histórica não devemos jamais esquecê-la e sobretudo no momento em que nos esforçamos por edificar um país poderoso.
É preciso ter plena consciência do facto de que a China continua exposta ao perigo de cair no revisionismo. Porque não só o imperialismo e o social-imperialismo nunca abandonaram os seus objectivos de agressão e subversão contra nós, não só os antigos senhores de terras e burgueses continuam presentes e não se resignam às suas perdas, mas também, como dizia Lénine, todos os dias, todas as horas, são engendrados novos elementos burgueses.
Alguns dos nossos camaradas afirmam que Lénine falava então de um fenómeno que existia antes da cooperação. É claramente evidente que essa opinião está errada. As teses de Lénine não estão ultrapassadas. Nós propomos a esses camaradas que leiam uma obra do Presidente Mao, publicada em 1957: “Sobre a Justa Solução das Contradições no Seio do Povo”. Ele analisa aí concretamente a situação no nosso país onde, depois da vitória fundamental alcançada na transformação socialista do sistema de propriedade — que inclui o estabelecimento de cooperativas — continuam a existir classes, contradições de classes e lutas de classes, situação em que as relações de produção e as forças produtivas, bem como a superstrutura e a infraestrutura económica, estão simultaneamente de acordo e em contradição. Ele faz aí um balanço da nova experiência da ditadura do proletariado adquirida depois de Lénine, responde sistematicamente a todas as questões que surgiram depois da mudança do sistema de propriedade, define as tarefas e as medidas políticas da ditadura do proletariado, lançando assim a base teórica da linha fundamental do Partido e da continuação da revolução sob a ditadura do proletariado. A prática destes últimos 18 anos, e em particular a da Grande Revolução Cultural Proletária, provam que a teoria, a linha e as medidas políticas avançadas pelo Presidente Mao são perfeitamente justas.
Recentemente, o Presidente Mao indicou:
“Numa palavra, a China é um país socialista. Antes da Libertação, era mais ou menos como o capitalismo. Ainda agora se pratica o sistema dos salários a oito escalões, a repartição segundo o trabalho, a troca por intermédio da moeda e tudo isso não difere muito da antiga sociedade. A diferença é que o sistema de propriedade mudou.”
Para aprofundar a nossa compreensão desta directiva do Presidente Mao, vamos lançar um golpe de vista sobre as mudanças que intervieram na China no sistema de propriedade, sobre a parte que os diversos sectores económicos ocupavam na indústria, na agricultura e no comércio em 1973.
Primeiro a indústria. O sector da propriedade de todo o povo constitui 97% das imobilizações, 63% do número de trabalhadores e 86% do valor global da produção industrial. E o sector de propriedade colectiva constitui 3%, 36,2%, e 14% respectivamente. Restam os artesãos individuais cujo número representa 0,8%.
Depois a agricultura. Quanto aos meios de produção, a parte da propriedade colectiva é de cerca de 90% para as terras cultivadas e o equipamento de drenagem e de irrigação, é aproximadamente de 80% para os tractores e gado grosso. A parte da propriedade de todo o povo é mínima. Assim, mais de 90% da produção nacional de cereais e de culturas industriais provêm da economia colectiva, e as herdades do Estado só intervém numa percentagem muito fraca. Por outro lado, conservam-se em proporções restritas, parcelas reservadas a uso particular dos membros das comunas populares bem como ocupações subsidiárias familiares.
Enfim, o comércio. No volume global da venda a retalho, o sector do Estado, o da propriedade colectiva e o dos pequenos comerciantes individuais representam respectivamente 92,5%, 7,3% e 0,2%. E nas regiões rurais, o comércio por intermédio das feiras tem ainda uma certa importância.
Ressalta destes números que a propriedade socialista de todo o povo e a propriedade colectiva socialista das massas trabalhadoras ganharam efectivamente de maneira brilhante no nosso país. A preponderância da propriedade de todo o povo afirmou-se ainda mais fortemente, e, na economia gerida pelas comunas populares, a parte aferente aos três escalões de propriedade — comuna popular, brigada de produção e a equipa de produção — também acusou mudanças. Tomemos os arredores de Xangai: os rendimentos ao escalão da comuna popular passaram de 28,1% em 1973 a 30,5% em 1974; no escalão da brigada de produção, eles passaram de 15,2% a 17,2% durante o mesmo período, enquanto que os das equipas de produção diminuíam de 56,7% para 52,3%. Assim se acentua cada vez mais nitidamente a superioridade da comuna popular, caracterizada pela amplitude do seu campo de actividade e o seu grau de socialização mais elevado. No decurso destes últimos 25 anos, eliminámos gradualmente as propriedades imperialista, capitalista burocrática e feudal, e transformámos passo a passo as propriedades do capitalismo nacional e dos trabalhadores individuais; e as duas formas de propriedade pública socialista foram progressivamente substituindo estas cinco formas de propriedade privada. Temos pois bases para afirmar, com orgulho, que no nosso país o sistema de propriedade mudou, que o proletariado e os outros trabalhadores se libertaram, no essencial, das grilhetas da propriedade privada e que a base económica do socialismo se desenvolveu e se consolidou gradualmente. A Constituição adoptada na IV Assembleia Popular Nacional regista em termos explícitos estas grandes vitórias que obtivemos.
Devemos contudo saber que o problema da propriedade não está ainda totalmente resolvido. Se dizemos frequentemente que está “resolvido no fundamental”, é precisamente porque não o está completamente, e que o direito burguês também não foi completamente suprimido do ponto de vista da propriedade. Os números acima mencionados permitem-nos constatar que a propriedade privada subsiste parcialmente na indústria, na agricultura e no comércio, que a propriedade pública socialista se apresenta sob duas formas, e não exclusivamente sob a forma de propriedade de todo o povo, e que a parte dessa propriedade de todo o povo ainda é muito fraca na agricultura, base da nossa economia nacional. Quando previam que na sociedade socialista, o direito burguês deixaria de existir no domínio da propriedade, Marx e Lénine supunham que todos os meios de produção pertenceriam já a toda a sociedade. Sem dúvida alguma que ainda não atingimos essa etapa. Não devemos perder de vista que a este respeito, tanto do ponto de vista teórico como do ponto de vista prático, a ditadura do proletariado enfrenta sempre uma tarefa muito árdua.
Devemos também saber que, tanto para a propriedade de todo o povo como para a propriedade colectiva, põe-se a questão da direcção sob a qual estão colocadas, isto é, a que classe pertencem, não nominalmente mas efectivamente.
A 28 de Abril de 1969, quando da I Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo IX Congresso do Partido, o Presidente Mao disse:
“Parece que se não se faz a Grande Revolução Cultural Proletária, as coisas não avançarão, porque a nossa base não é sólida. Tendo em conta o que observei, não dizemos na totalidade nem na esmagadora maioria, mas receio que numa bastante grande maioria das fábricas, a direcção não esteja nas mãos dos verdadeiros marxistas nem das massas operárias. Não é que não haja bons elementos entre os que dirigiam as fábricas. Há-os entre os secretários, os secretários adjuntos e os membros dos comités do Partido, há-os entre os secretários de célula. Mas eles seguem a linha outrora avançada por Liu Shao-chi, — simplesmente recorrer a incentivos materiais, pôr os lucros em primeiro lugar, não promover a política proletária, distribuir bónus e por aí adiante.” “Contudo, encontram-se efectiva- mente maus elementos nas fábricas.” “Isso mostra que a revolução não terminou.”
Estas afirmações do Presidente Mao indicam o quanto a Grande Revolução Cultural Proletária é necessária, fazem-nos também compreender mais claramente que tanto no que respeita à propriedade como em qualquer outra questão, não podemos limitar-nos a encarar as coisas na sua forma aparente, mas devemos discernir o seu conteúdo real. É perfeitamente correcto atribuir uma grande importância ao papel decisivo da propriedade nas relações de produção. Mas seria um erro não observar com toda a atenção se o problema da propriedade foi resolvido efectivamente ou apenas na aparência; seria um erro desprezar o efeito retroactivo sobre a propriedade dos dois outros elementos das relações de produção — as relações entre as pessoas e a forma de repartição —, e a retroação da superstrutura sobre a infraestrutura económica, pois estes dois elementos e a superstrutura desempenham um papel decisivo em determinadas condições. A política é a expressão concentrada da economia. A linha ideológica e política, a classe que exerce a direcção são os factores que determinam a que classe pertencem na realidade essas fábricas. Os nossos camaradas podem recordar-se de como uma empresa dependente do capitalismo burocrático ou do capitalismo nacional se transformava em empresa socialista: enviava-se-lhe um dos nossos representantes da comissão de controle militar ou do sector público, para a transformar em aplicação da linha e das medidas políticas do Partido, não é verdade? Toda a mudança importante no sistema de propriedade no decurso da história, tanto quando da substituição do esclavagismo pelo sistema feudal, como da substituição do feudalismo pelo capitalismo, começou invariavelmente pela tomada do poder, para passar em seguida, apoiando-se na força do poder conquistado, à transformação em grande escala da propriedade e à consolidação e desenvolvimento dum novo sistema de propriedade. Assim se passa, à fortiori, quanto ao sistema de propriedade pública socialista que, quanto a ela, não pode nascer sob a ditadura da burguesia. O capital burocrático — que intervinha em 80% na indústria da antiga China — só pôde ser transformado em propriedade de todo o povo depois da vitória do Exército Popular de Libertação sobre Tchiang Kai-chek. Do mesmo modo, a restauração do capitalismo começa necessariamente pela tomada do poder de direcção, pela alteração da linha e das medidas políticas do Partido. Não foi assim que Kruschov e Brejnev mudaram o sistema de propriedade em U.R.S.S.? E não foi assim que Liu Shao-chi e Lin Piao mudaram, em diferentes graus, a natureza dum certo número das nossas fábricas e das nossas empresas?
Devemos estar conscientes do facto de que o que nós praticamos actualmente é o sistema mercantil. O Presidente Mao diz:
“No momento presente, o nosso país pratica o sistema mercantil, e o sistema de salários é desigual, há oito escalões de salários, etc. Tudo isso só pode ser restringido sob a ditadura do proletariado. É por isso que, se pessoas como Lin Piao acedem ao poder, é-lhes muito fácil instaurar o regime capitalista.”
Este estado de coisas que o Presidente Mao sublinha não poderá mudar no imediato. Citemos o exemplo das comunas populares dos arredores de Xangai onde o desenvolvimento económico foi relativamente rápido ao escalão da comuna e ao da brigada de produção: nas imobilizações aferentes aos três escalões de propriedade, a comuna representa 34,2%, a brigada 15,1% apenas, e a equipa 50,7%. Se considerarmos unicamente as condições económicas das comunas populares, será necessário ainda muito tempo para que a unidade de contabilidade de base possa passar do nível da equipa de produção ao da brigada, e depois ao nível da comuna. E mesmo quando a comuna se tiver tornado a unidade de contabilidade de base, tratar-se-á ainda dum sistema de propriedade colectiva. Por consequência, a situação caracterizada pela coexistência das duas formas — propriedade de todo o povo e propriedade colectiva — não poderá modificar-se radicalmente dentro de breve prazo. Enquanto elas existirem, a produção mercantil, a troca por intermédio de dinheiro e a repartição segundo o trabalho serão inevitáveis. Visto que “tudo isso só pode ser restringido sob a ditadura do proletariado”, o desenvolvimento dos factores capitalistas nas cidades como no campo e a aparição de novos elementos burgueses são inevitáveis. Se não se lhes impõe restrições, o capitalismo e a burguesia conhecerão um desenvolvimento ainda mais rápido. Por esta razão, não devemos em caso algum abrandar a nossa vigilância sob o pretexto de ter alcançado uma grande vitória no domínio da transformação do sistema de propriedade e de ter feito uma Grande Revolução Cultural Proletária. É preciso ver bem que a nossa infraestrutura económica ainda não é sólida, que o direito burguês não foi totalmente suprimido do ponto de vista da propriedade, que ele se manifesta ainda seriamente nas relações entre os homens e que ocupa uma posição dominante na repartição. Nos diversos domínios da superstrutura, a burguesia detém agora virtualmente alguns sectores e aí se conserva em superioridade; e embora noutros sectores haja reformas em cursa, os seus resultados não estão consolidados; a velha ideologia e a velha força do hábito entravam insistentemente o desenvolvimento das novas realidades socialistas. Dado o desenvolvimento dos factores capitalistas nas cidades e nos campos, novos elementos burgueses aparecem uns após outros, a luta de classes entre o proletariado e a burguesia, entre as diversas forças políticas e entre as ideologias proletária e burguesa será ainda longa e sujeita a vicissitudes, e por momentos poderá mesmo tornar-se muito aguda. Mesmo quando os senhores de terras e os burgueses da velha geração se tiverem todos tornado em poeira, esta luta de classes ainda não terá acabado e ainda poderá acontecer que gente como Lin Piao suba ao poder e que a burguesia opere uma restauração. No seu discurso sobre “A Situação e a Nossa Política depois da Vitória na Guerra de Resistência contra o Japão”, o Presidente Mao disse que em 1936, perto de Paoan, sede do Comité Central do Partido, um bando armado contra-revolucionário dominava uma aldeia fortificada e recusava-se obstinadamente a render-se, e só quando o Exército Vermelho atacou e tomou a aldeia se resolveu a questão. Este episódio é de alcance universal, porque nos ensina que
“tudo o que é reaccionário é sempre igual: se não o golpeias, não cai. É como quando se varre o chão: como é natural, ali onde a vassoura não passa, a poeira não desaparece por si mesma.”
Hoje, são ainda muito numerosas as “aldeias fortificadas” que se encontram nas mãos da burguesia; quando se elimina uma ainda pode surgir outra; e mesmo que só existisse uma, nunca desapareceria por si própria, enquanto que a vassoura de ferro da ditadura do proletariado não tivesse passado por lá. O que Lénine disse está perfeitamente correcto:
“por todas estas razões, a ditadura do proletariado é indispensável”.
Da experiência histórica deriva o ensinamento seguinte: continuar a exercer a ditadura integral sobre a burguesia, em todos os domínios e em todas as fases do desenvolvimento da revolução, é um imperativo que garante que o proletariado triunfará da burguesia e que a China não se transformará num país revisionista. O que é a ditadura integral sobre a burguesia? A formulação mais lapidar encontra-se numa passagem duma carta dirigida por Marx a J. Weydemeyer em 1852, e que estudamos neste momento. Marx escrevia então:
“Quanto a mim, não me pertence o mérito de ter descoberto nem a existência de classes na sociedade moderna, nem a sua luta entre si. Muito antes de mim, historiadores burgueses tinham exposto a evolução histórica desta luta de classes e economistas burgueses tinham descrito a anatomia económica. O que eu trouxe de novo, foi demonstrar 1) que a existência de classes só está ligada a determinadas fases históricas do desenvolvimento da produção; 2) que a luta de classes leva necessariamente à ditadura do proletariado; 3) que essa ditadura em si própria representa apenas a transição à abolição de todas as classes e a uma sociedade sem classes”.
Lénine fazia notar que esta brilhante tese de Marx esclarece perfeitamente a diferença essencial e fundamental entre a teoria do Estado avançada por Marx e a da burguesia e põe bem em evidência a essência da teoria de Marx sobre o Estado. É de notar que a sua formulação sobre a ditadura do proletariado se escalona em três termos, correlativos e indissolúveis. Nenhum deles pode ser isolado dos outros. Porque a frase interpreta na sua integridade a evolução completa da ditadura do proletariado — nascimento, desenvolvimento e desaparição — de que resume todas as tarefas e o conteúdo concreto. Em “As Lutas de Classes em França (1848-1850)”, Marx especifica ainda que esta ditadura constitui um ponto de transição necessário para chegar à supressão das diferenças de classes em geral, à supressão de todas as relações de produção em que se baseiam essas diferenças de classes, à supressão de todas as relações sociais que correspondem a essas relações de produção, à subversão de todas as ideias que emanam dessas relações sociais. Marx utiliza aqui as expressões “todos” ou “em geral” por quatro vezes! Ele não diz em parte, nem em grande parte, nem muito grande parte, ele diz na totalidade! Não há aí nada de espantoso, pois o proletariado só poderá libertar-se definitivamente quando tiver libertado toda a humanidade. Para aí chegar tem necessariamente que exercer uma ditadura integral sobre a burguesia, prosseguir até ao fim a revolução sob esta ditadura, até ter atingido neste nosso planeta os quatro objectivos em questão, de modo a que a burguesia e as outras classes exploradoras não possam existir nem refazer-se de novo, e sobretudo há que não parar a meio de caminho no processo de transição. Em nossa opinião, só compreendendo bem isso se terá verdadeiramente assimilado a essência da teoria de Marx sobre o Estado. Reflitamos um pouco, camaradas. Se, em vez de compreender as coisas assim, nos aplicamos, na teoria como na prática, a limitar, truncar e distorcer o Marxismo, a fazer da ditadura do proletariado uma palavra vazia, a mutilar a ditadura integral sobre a burguesia, a fazer com que esta ditadura apenas se exerça em alguns domínios, apenas numa certa etapa (por exemplo antes da transformação do sistema de propriedade) e não em todas as etapas; por outras palavras, se, em vez de destruir totalmente todas as “aldeias fortificadas” da burguesia, se conservam algumas e se deixa que elas de novo alarguem os seus efectivos, isso não consiste em preparar as condições para a restauração da burguesia e fazer da ditadura do proletariado um guarda-vento da burguesia, nomeadamente da burguesia formada recentemente? Todo o operário, camponês pobre, camponês médio da camada inferior ou outro trabalhador que se recuse a cair de novo na miséria e nos sofrimentos de outrora, todo o membro do Partido Comunista decidido a consagrar toda a sua vida à luta pelo comunismo, todo o camarada que não quer ver a China transformar- -se num país revisionista deve gravar no seu espírito este princípio fundamental do marxismo: há que exercer uma ditadura integral sobre a burguesia e de modo algum parar a meio do caminho. É incontestável que um certo número dos nossos camaradas só aderiram ao Partido Comunista do ponto de vista da organização, e não do ponto de vista ideológico. A sua concepção do mundo ainda não ultrapassou o quadro da pequena produção e da burguesia. Eles são pela ditadura do proletariado em determinada etapa e num dado domínio, e alegram-se com algumas vitórias do proletariado, porque aí podem encontrar algumas vantagens. Mas, uma vez adquiridas estas vantagens, consideram que é tempo de se instalarem e de organizarem o seu ninho aconchegado. Ditadura integral sobre a burguesia? Primeiro passo de uma marcha de 10 000 li? Desculpe! Que outros se metam nisso, eu, por mim, paro aqui, desço do comboio. A esses camaradas daremos este conselho: Descer a meio do caminho é perigoso! A burguesia já vos está a chamar, fareis melhor de alcançar de novo o grosso das nossas forças e continuar a avançar!
A experiência histórica também nos ensina que perante as vitórias que a ditadura do proletariado alcança uma após outra, a burguesia dá-se a aparência de aceitar essa ditadura, mas nem por isso deixa de trabalhar, pelos seus actos, pela restauração da ditadura da burguesia. É precisamente o que fizeram Kruschov e Brejnev. Eles não mudaram o nome dos Sovietes, nem o do Partido de Lénine, nem o das Repúblicas Socialistas. No entanto, a coberto dos nomes que conservam, esvaziaram a ditadura do proletariado do seu conteúdo, e fizeram dela uma ditadura da burguesia monopolista oposta aos Sovietes, ao Partido de Lénine e às Repúblicas Socialistas. Avançaram um programa revisionista de Estado de todo o povo e de partido de todo o povo que trai abertamente o Marxismo. Mas, quando o povo soviético se levanta contra a sua ditadura fascista, hasteiam a bandeira da ditadura do proletariado para submeterem as massas à repressão. Coisas semelhantes se produziram no nosso país. Liu Shao-chi e Lin Piao não só propagaram a teoria da “extinção da luta de classes”; quando reprimiam a revolução, agitaram essa mesma bandeira. Lin Piao não tinha assinalado nos seus quatro pontos a “nunca esquecer”: “nunca esquecer a ditadura do proletariado”? Com efeito, ele nunca a esquecia, mas com a condição de inserir a palavra “derrubar”, o que dá: “nunca esquecer de derrubar a ditadura do proletariado”. Segundo as próprias confissões dessa gente, tratava-se de “atacar as forças do Presidente Mao, arvorando a bandeira do Presidente Mao”. Por vezes, mostram-se “submissos” ao proletariado e mostram mesmo um ar mais revolucionário do que quem quer que seja, lançando palavras de ordem de “esquerda” para fomentar perturbações e levar a actividades de sapa. Mas a maior parte das vezes é uma luta de taco a taco que fazem ao proletariado. Queres a transformação socialista? Ele apregoa que consolida a ordem da democracia nova. Queres o estabelecimento das cooperativas e das comunas populares? Ele diz que é demasiado cedo. Consideras que é necessário fazer a revolução na arte e na literatura? Ele sustenta que apresentar algumas peças fantasmas não fará mal algum. Queres restringir o direito burguês? Ele acha-o excelente e diz que é preciso expandi-lo. Estes campeões das coisas velhas zumbem, como um enxame de moscas, à volta do que Marx chamava os “estigmas” e os “defeitos” da antiga sociedade. Eles dão uma atenção muito especial a pregar aos jovens e aos adolescentes, aproveitando a sua inexperiência, que o incentivo material é como um queijo fermentado que embora cheire mal é bastante saboroso. E todas estas actividades abjetas eles as camuflam sob o nome de socialismo. Alguns canalhas, dando-se à especulação, à concussão e ao roubo, não pretendem estar a fazer cooperação socialista? E alguns instigadores criminosas, que envenenam os jovens e os adolescentes, não afectam testemunhar solicitude para com os continuadores da causa do comunismo? Temos que estudar as suas tácticas e sintetizar a nossa experiência para exercer ainda mais eficazmente a ditadura integral sobre a burguesia.
“Quereis fazer soprar um vento de ‘comunização’?” Alguns indivíduos recorreram recentemente à táctica que consiste em fazer este tipo de pergunta para fazer correr boatos. Nós podemos responder-lhes nitidamente: um vento de “comunização” como o de Liu Shao-chi e de Tchen Po-ta, não toleraremos que ele se levante nunca mais. Sempre considerámos que o nesse país, longe de ter mercadorias a mais, ainda não as tem em abundância suficiente. Enquanto as comunas populares não tiverem coisas bastantes para “praticar a comunização de bens” com as brigadas e as equipas de produção, e o sistema de propriedade de todo o povo não dispuser também de uma extrema abundância de produtos para aplicar, entre os nossos 800 milhões de habitantes, o princípio da repartição dos bens segundo as necessidades, terá forçosamente que se conservar a produção mercantil, a troca por intermédio de dinheiro e a repartição segundo o trabalho. Quanto aos efeitos prejudiciais que daí resultam, tomámos e continuaremos a tomar medidas adequadas para os limitar. A ditadura do proletariado é uma ditadura exercida pelas massas. Estamos convencidos de que, sob a direcção do Partido, as largas massas têm a força e a capacidade de combater e finalmente vencer a burguesia. A antiga China era um país literalmente submerso por um oceano de pequena produção. A educação socialista de centenas de milhões de camponeses sempre foi um problema sério, que exigirá esforços de várias gerações. Ora, entre centenas de milhões, os camponeses pobres e os camponeses médios da camada inferior são a maioria, e eles compreenderam, pela prática, que a única via radiosa para eles é de seguir o Partido Comunista e de seguir a via socialista. Apoiando-se neles para conseguir a união com os camponeses médios, o nosso Partido permitiu aos camponeses que se encaminhassem etapa por etapa até à comuna popular, passando por os grupos de ajuda mútua, a cooperativa agrícola de produção de tipo inferior e superior. Do mesmo modo estaremos perfeitamente em condições de os conduzir para que eles continuem na sua marcha em frente.
Gostaríamos de pôr em guarda os nossos camaradas quanto a isto: sopra hoje um outro tipo de vento, que se chama “emburguesamento”. Trata-se do estilo de vida burguês de que falou o Presidente Mao, do vento funesto que faz degenerar em elementos burgueses os alguns “uma parte” de que se tratou. E entre estes alguns “uma parte” em questão, o emburguesamento de uma parte dos comunistas e sobretudo duma parte dos quadros dirigentes é susceptível de nos causar os maiores prejuízos. Intoxicados por esta corrente sinistra, alguns indivíduos imbuídos de ideias burguesas lançam-se numa corrida desenfreada às honras e às riquezas, e longe de corar, gabam-se disso. Alguns chegaram já ao ponto de tudo converter em mercadoria, até mesmo a sua própria pessoa. Para eles, aderir ao Partido Comunista e trabalhar para o proletariado é apenas um meio de obter para a mercadoria que eles são uma vantajosa reclassificação e fazer-se pagar caro pelo proletariado. Os que apenas são comunistas de nome e na realidade são novos elementos burgueses apresentam os traços característicos do conjunto da burguesia em agonia e em putrefação. No decurso da história, quando a classe dos donos de escravos, a dos senhores de terras e a burguesia se encontravam no seu período ascendente, deram uma certa contribuição útil à humanidade. Hoje, virando totalmente as costas aos seus antepassados, os novos elementos burgueses apenas desempenham um papel prejudicial em relação à humanidade e são uma “nova” escória. Entre os que fazem correr boatos sobre o vento de “comunização” encontram-se novos elementos burgueses que, tendo-se apropriado dos bens públicos, receiam que o povo os “comunize”, e também indivíduos que gostariam de aproveitar a oportunidade para ganhar alguma coisa. Todos esses têm os sentidos mais apurados do que muitos dos nossos camaradas. Enquanto que alguns dos nossos camaradas consideram o estudo como uma tarefa flexível, eles sentem instintivamente que o presente movimento de estudo é uma tarefa imperiosa, tanto para o proletariado como para a burguesia. Pode acontecer que eles levantem verdadeiramente um ventinho de “comunização”, ou que urdam algumas maquinações tomando por sua conta uma das nossas palavras de ordem e suscitando deliberadamente confusões entre os dois tipos de contradições de diferente natureza. É um ponto que merece a nossa atenção.
Com as suas centenas de milhões de homens, o grande exército revolucionário proletário avança, sob a direcção do Comité Central do Partido presidido pelo Presidente Mao. Temos vinte e cinco anos de experiência prática da ditadura do proletariado, à qual se ajunta a experiência adquirida no plano internacional desde a Comuna de Paris. Desde que as centenas de membros do Comité Central do nosso Partido, e os nossos milhares de altos quadros dêem o exemplo, que estudem conscienciosamente com as massas e os quadros, procedam a inquéritos e investigações e façam um balanço da sua experiência, conseguiremos certamente materializar o apelo do Presidente Mao, adquirir uma boa compreensão da questão da ditadura do proletariado e garantir que o nosso país progrida vitoriosamente à luz do Marxismo-Leninismo-Pensamento Mao Tsetung.
“Os proletários nada têm a perder, excepto as suas grilhetas. Eles têm um mundo a ganhar.”
Esta perspectiva infinitamente radiosa encoraja e encorajará um número crescente de operários e de trabalhadores conscientes, e o seu destacamento de vanguarda, os comunistas, a perseverar na linha fundamental do Partido e na ditadura integral sobre a burguesia, e a prosseguir até ao fim a revolução sob a ditadura do proletariado! A burguesia e todas as outras classes exploradoras serão eliminadas e o comunismo triunfará, isso é algo de inevitável, inelutável, independente da vontade do homem.