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Primeira Edição: A Guerra Social (Rio de Janeiro), número 5, 3 de Setembro de 1911.
Fonte: https://ultimabarricada.wordpress.com/neno-vasco/obras-de-neno-vasco/a-acao-direta/
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Emprega-se hoje geralmente esta expressão para designar, em sentido restrito, a ação da classe operária, sem interpostas pessoas, com os meios que lhe são próprios (greve, boicote, sabotagem, etc).
Analisando a ideia, vê-se facilmente que a ação sem interpostas pessoas, isto é, sem delegação de poder, tem aplicação em todos os campos, no económico e no político, tanto contra os patrões como contra as autoridades, abrange várias formas de atividade e resistência, e não é senão o anarquismo considerado como método.
E o método é o mais importante para um partido ou movimento, o que sobretudo o distingue, pois não basta ter boas intenções: é preciso saber o meio de as pôr em prática, de lhes dar realidade. A máxima: Todos os caminhos vão dar a Roma – não tem senso comum. Há-os que vão dar ao abismo.
A ação direta, no seu sentido mais largo, pode ser violenta ou pacífica, individual ou coletiva, mas deve sobretudo ser contínua, de cada dia, em qualquer das suas formas, e em todas as suas fases, propaganda, organização, realização.
Agindo-se, praticam-se erros, dão-se passos falsos, golpes incertos. Quem caminha, arrisca-se a tropeçar; sobretudo quando se começa, e falta a experiência, a musculatura, a elasticidade. Mas todos esses erros, incertezas, inabilidades, tropeços, são corrigidos pelo exercício, pela própria prática da ação, pela crítica serena e acertada. Pensamento e ação.
O que é necessário ter bem presente é que a ação não pode ser substituída. Só a ação produz o facto, só ela o mantém. Até os conservadores inteligentes o reconhecem (exemplo: Jean Cruet, A vida do direito e a impotência das leis).
Ainda supondo que a lei não fosse a expressão dos interesses das classes dominantes, pelo monopólio da riqueza, do poder e da influência, ela seria pelo menos inútil, pois não viria senão a reduzir a fórmulas (estreitas e incompletas sempre) os factos que só a ação direta, incessante, permanente de cada indivíduo e das coletividades interessadas origina e alimenta, em cada minuto e em cada metro quadrado do território. Todos os dias vemos direitos, escritos nas leis, desprezados por falta de resistência dos interessados e mais além, no mesmo país, respeitados, quando são defendidos. E a lei é a mesma!
E é ainda necessário evitar o que pode contradizer, desviar, diminuir a ação direta, a emancipação por suas próprias mãos. Nós queremos uma revolução social, isto é, não «emancipar o povo», mas que ele se emancipe, tome conta dos seus destinos, não se deixe roubar e mandar, não delegue poderes, organize e administre diretamente a produção.
Ora nada ataca mais esta obra de emancipação própria, de esforço pessoal, do que o parlamentarismo e o eleitoralismo, desvio de energias e de organização, porta aberta a todas as corrupções, a todas as infiltrações de ideias e interesses estranhos.