Carta a Farrell Dobbs

Leon Trotsky

4 de Abril de 1940

logotipo

Primeira Edição: Leon Trotsky, In Defense of Marxism, New York 1942.
Fonte: "Em Defesa do Marxismo", publicação da Editora "Proposta Editorial"
Direitos de Reprodução: © Editora Proposta Editorial. Agradeçemos a Valfrido Lima pela autorização concedida.


Querido camarada Dobbs:

Quando você receber esta carta, o Congresso já terá terminado e você provavelmente terá uma idéia clara sobre se a ruptura é inevitável. Neste caso, a questão de Abern perderá interesse. Mas no caso da minoria se retratar, permito-me insistir sobre minhas propostas prévias. A necessidade de manter em segredo as discussões e decisões do Comitê Nacional, é uma questão muito importante, mas não a única e, na situação atual, não é o mais importante. Cerca de 40% dos membros do Partido crêem que Abern é o melhor organizador. Se eles ficarem no Partido, você não poderá evitar que Abern tenha a oportunidade de demonstrar sua superioridade em questões organizativas, ou comprometer-se. Na primeira sessão do Comitê Nacional, a primeira decisão deve estabelecer que ninguém tem o direito de divulgar os acontecimentos internos do Comitê Nacional, exceto o Comitê de conjunto, ou suas instituições oficiais (Comitê Político ou Secretariado). O Secretariado pode, por sua vez, concretizar as regras do segredo. Se, apesar de tudo isso, se filtra alguma informação, deve-se fazer uma investigação oficial, e se Abern for culpado, deve receber uma advertência pública; no caso de outra falta mais, deve ser afastado do Secretariado. Tal procedimento, apesar das suas desvantagens temporais, é, a largo prazo, incomparavelmente mais favorável do que deixar Abern, o organizador de New York, fora do Secretariado, e portanto, fora do controle do Secretariado.

Compreendo muito bem que você esteja satisfeito com o atual Secretariado. No caso de cisão, é possivelmente o melhor Secretariado que se pode desejar. Mas se a unidade se mantém, não pode haver um Secretariado apenas composto por representantes da maioria. Deverão ter mesmo, provavelmente, um Secretariado de cinco membros: três da maioria, e dois da minoria.

Se a oposição está vacilando, seria melhor que fosse informada informalmente: estamos dispostos a manter Shachtman como membro, não só do Comitê Político, como também de nossa equipe editorial; estamos mesmo dispostos a incluir Abern no Secretariado; estamos preparados para considerar outras combinações do mesmo tipo; a única coisa que não podemos aceitar ê a transformação da minoria em um fator político independente.

Recebi uma carta de Lebrun, do Comitê Executivo Internacional. Gente muito peculiar! Crêem que agora, no período de agonia mortal do capitalismo, em condições de guerra, e futura clandestinidade, o centralismo bolchevique deve ser abandonado em favor de uma democracia sem limites. Está tudo de pernas para o ar! Mas a sua democracia tem um significado puramente individual: as coisas acontecerão como eu digo. Lebrun e Johnson foram eleitos para o Comitê Executivo Internacional com base em certos princípios e como representantes de certas organizações. Ambos abandonaram os princípios e ignoram totalmente suas próprias organizações. Estes "democratas" atuaram totalmente como boêmios despreocupados. Se tivéssemos a possibilidade de convocar um Congresso Internacional, seriam demitidos, certamente, com a mais severa censura. Nem eles mesmo têm dúvidas. Ao mesmo tempo, consideram-se como senadores inamovíveis — em nome da" democracia!

Como dizem os franceses, adotemos medidas de guerra durante a guerra. Isto significa que devemos adaptar o organismo dirigente da Quarta Internacional à real relação de forças em nossas seções. Há mais democracia nisto, que nas pretensões dos senadores irremovíveis.

Se este problema surge na discussão, você pode citar estas linhas como sendo a minha resposta ao documento de Lebrun.

W. RORK (Leon Trotsky)
Coyoacán (México), D.F.


Inclusão 08/0/2009