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Primeira Edição: Leon Trotsky, In Defense of Marxism, New York 1942.
Fonte: "Em Defesa do Marxismo", publicação da Editora "Proposta Editorial"
Direitos de Reprodução: © Editora Proposta Editorial. Agradeçemos a Valfrido Lima pela autorização concedida.
Querido camarada Dobbs:
É claro que daqui é difícil para mim seguir a febril evolução política da oposição. Mas estou de acordo em que cada vez mais dão a impressão de ser gente que está apressada em queimar todas as pontes atrás de si. O artigo "Ciência e Estilo" de Burnham não é, em si mesmo, inesperado. Mas a aceitação tranqüila do artigo por Shachtman, Abern, e os demais, é o sintoma mais decepcionante, não só do ponto de vista político e teórico, como também do ponto de vista de suas autênticas idéias sobre a unidade do Partido.
Pelo que posso julgar daqui, querem uma cisão sob o nome da unidade. Shachtman encontra, ou para melhor dizê-lo, inventa "precedentes históricos". No Partido Bolchevique, a oposição tinha seus próprios jornais públicos etc. Esquece unicamente que, naquele momento, o Partido tinha centenas de milhares de membros, que a discussão tinha como objetivo chegar a essas centenas de milhares de membros, e convencê-los. Em tais condições não era fácil limitar a discussão a círculos internos. Por outro lado, o perigo de coexistência dos jornais do Partido e da oposição atenuou-se pelo fato de que a decisão final dependia de centenas de milhares de operários, e não de pequenos grupos. O Partido americano tem, comparativamente, apenas um reduzido número de membros, e a discussão era e é mais do que abundante. As linhas de demarcação parecem ser muito firmes, pelo menos para o próximo período. Em tais condições, para a oposição, ter seu jornal ou revista próprios, é um meio, não para convencer o Partido. mas sim para chamar o mundo exterior contra o Partido.
A homogeneidade e coesão de uma organização de propaganda revolucionária como o Socialist Workers Party deve ser incomparavelmente maior do que a de um partido de massas. Estou de acordo com você que, em tais condições, a Quarta Internacional não deve, nem pode admitir uma unidade puramente fictícia sob cuja cobertura duas organizações independentes se dirijam ao mundo exterior com diferentes teorias, diferentes programas, diferentes palavras-de-ordem e diferentes princípios organizativos. Em tais condições, uma cisão aberta seria mil vezes preferível a tal unidade hipócrita.
A oposição refere-se também ao fato de que, em certas épocas, tivemos dois grupos paralelos no mesmo país. Mas tais situações anormais foram admitidas temporariamente só em dois casos: quando a fisionomia política dos dois grupos ou de um deles, não era suficientemente clara e a Quarta Internacional precisava de tempo para poder opinar sobre o assunto; ou a coexistência de dois grupos era admitida no caso de uma divergência concreta, limitada, mas muito forte (entrada no PSOP(1) etc.). A situação nos Estado Unidos é absolutamente diferente. Tivemos um partido unido, com uma tradição séria, agora temos duas organizações, uma das quais, graças à sua composição social e à pressão externa, entrou, no período de um par de meses, em conflito irreconciliável com nossa teoria, nosso programa, nossa política e nossos métodos organizativos.
Se eles estão de acordo em trabalhar com vocês na base do centralismo democrático vocês podem esperar e convencer e ganhar os melhores elementos pela prática comum. (Eles têm o mesmo direito de esperar convencê-los). Mas como organização independente, com seu próprio jornal, só podem evoluir na direção de Burnham. Neste caso, os interesses da Quarta Internacional serão, pelo contrário, forçar a oposição a fazer sua própria experiência, de forma absolutamente independente, não só sem proteção de nossa bandeira, como também pelo contrário, com a nossa mais forte advertência às massas.
E por isso que o Congresso tem, não só o direito, como também dever de formular uma alternativa clara e enérgica: ou uma autêntica unidade baseada no princípio do centralismo democrático (com garantias sérias e amplas para a maioria dentro do Partido) ou uma ruptura aberta, clara e ilustrativa, perante toda a classe operária(2).
Com as melhores saudações
W. RORK (Leon Trotsky)
Coyoacán (México), D.F.
P.S.: Acabo de receber a resolução de Cleveland sobre a unidade do Partido. Minha impressão: a base da minoria não deseja a ruptura. Os dirigentes estão interessados, não em uma atividade política, mas sim jornalística. Os dirigentes apresentaram uma resolução sobre a cisão do partido, sob o nome de uma resolução sobre a unidade do Partido, com o propósito de implicar os seus seguidores em uma ruptura. A resolução diz: As minorias do Partido Bolchevique, tanto antes como durante a Primeira Guerra Mundial tiveram seus próprios jornais públicos. Que minorias? Em que momento? Que jornais? Os dirigentes levam seus seguidores a um erro com o fim de mascarar as suas intenções cisionistas.
Todas as esperanças dos dirigentes da minoria estão baseadas na sua capacidade literária. Foi essa mesma, a esperança dos mencheviques russos, que, como fração pequeno-burguesa, tinham mais intelectuais e jornalistas capazes. Mas suas esperanças foram em vão. Uma caneta ágil não é suficiente para criar um partido revolucionário: é necessária uma base teórica granítica, um programa científico, uma firmeza no pensamento político e firmes princípios organizativos. A oposição, como oposição, não tem nada disto, e o oposto de tudo isto. E por esta razão que estou completamente de acordo com você: se eles desejam apresentar à opinião pública exterior as teorias de Burnham, a política de Shachtman, e os métodos organizativos de Abern, devem fazê-lo em seu próprio, nome, sem nenhuma responsabilidade por parte do Partido ou da Quarta Internacional.
W.R.
Notas:
(1) Parti Socialiste Ouvrier et Paysan (Partido Socialista Operário e Camponês). (retornar ao texto)
(2) O comitê Executivo Internacional deveria ter apresentado há muito tempo tal alternativa, mas infelizmente o CEI não existe (nota de Trotsky). (retornar ao texto)
Inclusão | 06/08/2009 |