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Primeira Edição: Leon Trotsky, In Defense of Marxism, New York 1942.
Fonte: "Em Defesa do Marxismo", publicação da Editora "Proposta Editorial"
Direitos de Reprodução: © Editora Proposta Editorial. Agradeçemos a Valfrido Lima pela autorização concedida.
Queridos camaradas:
Os dirigentes da minoria, até agora, não responderam a nenhum dos nossos argumentos políticos ou teóricos. A inconsistência de seus próprios argumentos foi desmascarada nos escritos da maioria. Agora parece que os dirigentes da oposição passaram para a guerra de guerrilhas: é o destino de muitos outros exércitos derrotados. O camarada Goldman caracterizou corretamente, na sua circular de 12 de fevereiro, o novo método da oposição. Um dos exemplos mais curiosos desta nova guerra é o ataque, mais valente que sensível, do camarada Mac Donald, em relação ao meu artigo em Liberty. Como vêem, não encontrou neste artigo uma análise sobre o caráter contraditório do Estado Soviético e sobre o papel progressivo do "Exército Vermelho". Com a mesma lógica que mostra na edição da Partisan Review e em suas análises da rebelião de Kronstadt, descobre que sou "realmente" um minoritário, um Shachtmanista, ou um Mac Donaldista, pelo menos quando falo para a imprensa burguesa, e que minhas declarações contraditórias, capitulacionistas ao stalinismo, são feitas nos boletins internos com o fim de ajudar Cannon. Se tivéssemos que exprimir de uma forma mais articulada a descoberta de Mac Donald, esta significaria que: quando Trotsky deseja adaptar-se â opinião pública burguesa, tornar-se agradável aos leitores de Liberty, escreve como Shachtman, e quase como Mac Donald; mas quando fala ao Partido, converte-se em um anti-minoritário terrível. A Partisan Review está muito interessada na psicanálise, e permito-me dizer que o diretor desta revista, se se analisa um pouco a si mesmo, reconhecerá que descobriu seu próprio subconsciente.
Ninguém pede à minoria que analise em cada artigo e em cada discurso a natureza contraditória do Estado Soviético e o papel contraditório do Exército Vermelho. O que lhes pedimos é que entendam esta natureza e seu papel, e que apliquem adequadamente, em cada ocasião, esta compreensão. O meu artigo era dedicado à política de Stalin e não à natureza do Estado Soviético. Na imprensa burguesa mexicana, foi publicada uma declaração anônima afirmando "de fontes próximas a Trotsky" que eu aprovo a política internacional de Stalin e que estou procurando uma reconciliação com Stalin. Não sei se estas declarações apareceram também na imprensa dos Estados Unidos. É claro que a imprensa burguesa mexicana somente reproduziu, à sua maneira, a séria e terrível acusação de Mac Donald e companhia sobre minha capitulação a Stalin. Com o fim de impedir tal tergiversação da discussão interna por parte da imprensa burguesa mundial, dediquei meu artigo em Liberty a desmascarar o papel de Stalin na política internacional, e de modo algum às análises sociológicas sobre a natureza do Estado Soviético. Escrevi o que pensei ser mais urgente nesse momento. A política não consiste em dizer a cada momento tudo o que se sabe mas sim em dizer, em uma ocasião dada, apenas o que é necessário. E possível que eu concorde, portanto, com algumas afirmações da oposição, mas certamente as afirmações correspondentes da oposição foram só uma repetição de idéias que já expressamos milhares de vezes antes de que Mac Donald aparecesse em nosso horizonte.
Mas devemos passar a coisas mais sérias. A carta do camarada Abern dirigida a mim, é uma proclamação absolutamente clara da sua vontade de cindir. A justificação que dá. é, simultaneamente, lamentável e escandalosa: estas são as palavras mais suaves que posso encontrar. Como vêem, se a "camarilha de Cannon" tem a maioria no Congresso, transformará. Abern e seus associados em cidadãos de "segunda classe". É por isso que Abern prefere ter seu próprio Estado, onde ele, tal como Weisbord, Field e Oehler, será o primeiro dos cidadãos de primeira classe. Quem pode decidir sobre o lugar dos diferentes "cidadãos" no Partido? O próprio Partido. Como pode o Partido tomar uma decisão? Através de uma discussão livre. Quem tomou a iniciativa desta discussão? Abern e seus associados. Foi-lhes limitado, ou é-lhes limitado o uso da caneta ou da língua? De modo nenhum. Pela carta de Abern parece que não conseguiram convencer o Partido. Pior que isso: desprestigiaram-se um pouco aos olhos do Partido e da Internacional. Isto é muito lamentável, já que são gente valiosa. Agora só podem restabelecer a sua autoridade através de um trabalho assíduo e sério. É necessário tempo, firmeza e paciência. Mas parece que Abern perdeu toda a esperança de convencer o Partido baseado nos princípios da Quarta Internacional. A tendência cisionista é um tipo de deserção. É por isto que é tão lamentável.
Mas também é escandalosa! O tom subjacente é o desprezo da maioria proletária por parte dos elementos pequeno-burgueses: somos escritores, oradores e organizadores tão excelentes; e eles, gente inculta, são incapazes de nos apreciar em nosso justo valor. Tanto melhor para criar a nossa linguagem de almas elevadas!
Na Terceira Internacional insistimos com todas nossas forças para continuar a ser uma tendência ou uma fração. Perseguiram-nos privaram-nos de qualquer meio de expressão, inventaram as piores calúnias, prenderam e mataram nossos camaradas na URSS – apesar de tudo isso não quisemos nos separar dos operários. Consideramo-nos, até a última possibilidade, uma fração. E tudo isto, apesar da corrompida burocracia totalitária da Terceira Internacional. A Quarta Internacional é a nossa única organização revolucionária honesta no mundo. Nosso aparato não tem meio de coerção. Cada questão é decidida, e cada camarada é apreciado, através dos métodos da mais completa democracia partidária. Se a maioria dos membros do Partido estão enganados, a minoria pode, portanto, educá-los. Se não for antes do congresso do próximo Congresso, então que seja depois dele. A minoria pode atrair novos membros ao Partido e transformar-se em maioria. Só é necessário ter um pouco confiança nos operários, e um pouco de esperança em que os operários possam encher-se de confiança nos membros da oposição. Mas estes dirigentes criaram em seu próprio meio uma atmosfera de impaciência histérica. Adaptam-se à opinião pública burguesa; mas não querem adaptar-se ao ritmo de desenvolvimento da Quarta Internacional. A sua impaciência tem um caráter de classe, é a outra face do desprezo dos intelectuais pequeno-burgueses em relação aos operários. E por isto que a tendência rupturista expressa por Abern ê tão escandalosa!
O camarada Abern move-se pelo ódio, tanto na sua avaliação, como na sua perspectiva. E o ódio pessoal é um sentimento abominável em política. Estou certo de que a atitude de Abern e seus objetivos cisionistas não podem senão repelir membros sãos da oposição. Voltem ao Partido camaradas! O caminho de Abern é um beco sem saída. Não há outra via senão a da Quarta Internacional.
Leon Trotsky
Coyoacán (México), D. F.
Inclusão | 29/07/2009 |