MIA > Biblioteca > Trotsky > Novidades
Transcrição autorizada |
Primeira Edição: Leon Trotsky, In Defense of Marxism, New York 1942.
Fonte: "Em Defesa do Marxismo", publicação da Editora "Proposta Editorial"
Direitos de Reprodução: © Editora Proposta Editorial. Agradeçemos a Valfrido Lima pela autorização concedida.
Querido camarada Stanley:
Respondo sua carta de 11 de outubro com certo atraso.
1. Você diz que "não pode haver sérias diferenças ou desacordos" sobre a questão russa. Se é assim, porque o alarme terrível no partido, contra o Comitê Nacional e portanto contra sua maioria? Você não deve substituir suas próprias concepções pelas dos membros minoritários do Comitê Nacional, que consideram a questão séria e suficientemente candente, a ponto de provocar uma discussão no início da guerra.
2. Não posso estar de acordo com você sobre o fato de que minha declaração não contradiz a do camarada M.S. A contradição diz respeito a dois pontos fundamentais:
a) a natureza de classe da URSS;
b) a defesa da URSS.
Sobre a primeira questão, o camarada M.S. coloca uma interrogação, o que significa que nega a antiga decisão e propõe a tomada de uma nova. Um partido revolucionário não pode viver entre duas decisões, uma eliminada e outra não apresentada. Na questão da defesa da URSS ou dos novos territórios ocupados, contra o ataque de Hitler (ou Grã-Bretanha), o camarada M.S. propõe uma revolução contra Stalin e Hitler. Esta fórmula abstrata significa negar a defesa em uma situação concreta. Tentei analisar este problema em um novo artigo enviado ontem ao Comitê Nacional, pelo correio aéreo.
3. Estou plenamente de acordo com você em que somente uma discussão séria poderia esclarecer o assunto, mas não creio que votar simultaneamente a favor da declaração da maioria e da do camarada M.S. possa contribuir para o necessário esclarecimento.
4. Em sua carta, você declara que o principal problema não é a questão russa, mas o "regime interno". Freqüentemente, desde o começo da existência de nosso movimento nos Estados Unidos, ouvi esta acusação. As formulações variam um pouco, os grupos também, mas uma série de camaradas sempre estiveram em oposição ao "regime". Por exemplo, eles estiveram contra a entrada no Partido Socialista (para irmos mais longe, no passado). No entanto, imediatamente aconteceu que a entrada não era o "principal problema", mas o regime. Agora, a mesma fórmula se repete com relação à questão russa.
5. Pessoalmente acredito que a passagem pelo Partido Socialista foi uma ação conveniente para o desenvolvimento completo de nosso partido, e que o "regime" (ou a direção) que assegurou este passo, foi correto contra a oposição que naquele momento representava a tendência ao estancamento.
6. Agora, ao início da guerra, surge novamente uma nova oposição agudizada sobre a questão russa. Afeta o nosso programa e a sua correção, elaborada através de inumeráveis discussões, polêmicas e debates, pelo menos durante dez anos. Logicamente que nossas decisões não são eternas. Se alguém da direção tiver dúvidas, e somente dúvidas, é sua tarefa frente ao partido, esclarecer-se ele mesmo através de estudos adicionais ou com discussões dentro dos organismos dirigentes do partido, antes de lançar os problemas no partido — não em forma de novas discussões elaboradas, mas em forma de dúvidas. Logicamente, desde o ponto de vista dos estatutos do partido, todo mundo, inclusive o Comitê Político, tem o direito de fazer isso, mas não acredito que este direito foi usado de forma a contribuir para o aprimoramento do regime partidário.
7. Muitas vezes, no passado, ouvi acusações de camaradas contra o Comitê Nacional em seu conjunto — sua falta de iniciativa e tudo o mais. Não sou o advogado do Comitê Nacional, e estou certo de que muitas coisas que deveriam ter sido feitas não o foram. Porém, quando insisti que essas acusações fossem concretizadas, pude ver que muitas vezes, o descontentamento com a atividade de sua própria localidade, com sua própria falta de iniciativa, haviam se transformado em acusações contra o Comitê Nacional, que se supunha, teria que ser Onipotente, Onipresente e Onibenévolo.
8. No presente caso, o Comitê Nacional é acusado de "conservadorismo". Acredito que a defesa da antiga decisão programática até que seja substituída por uma nova, é a obrigação elementar do Comitê Nacional. Acredito que tal "conservadorismo" está ditado pela autopreservação do próprio partido.
9. Assim, em dois dos mais importantes problemas do período passado, os camaradas descontentes com o "regime", tiveram, em minha opinião, uma atitude política falsa. O regime deve ser um instrumento para a política correta e não para uma política falsa. Quando a incorreção de sua política se torna clara, então freqüentemente, seus protagonistas estão tentados a dizer que o decisivo não é este ponto especial, mas o regime em geral. Durante o desenvolvimento da Oposição de Esquerda e da Quarta Internacional, nos opusemos, centenas de vezes, a essas substituições. Quando Vereecken ou Sneevliet, ou inclusive Molinier foram derrotados em todos os seus pontos de divergências, afirmaram que o problema real da Quarta Internacional não era esta ou aquela decisão, mas o seu mau regime.
10. Não quero fazer a analogia superficial entre os dirigentes da atual oposição em nosso partido americano e os Vereeckens, Sneevliets e todos os outros; sei muito bem que os dirigentes da oposição são camaradas altamente qualificados e espero sinceramente que continuemos trabalhando conjuntamente da maneira mais amigável. Porém, não posso ajudar estando inquieto pelo fato de que alguns deles repetem o mesmo erro a cada novo estágio de desenvolvimento do partido, com um grupo de seguidores pessoais. Acredito que na atual discussão, este tipo de atitude será analisada e severamente condenada pela opinião geral do partido, que agora tem tarefas tremendas para realizar.
Com as melhores saudações comunistas,
CRUX (Leon Trotsky)
P.S.: - Uma vez que nesta carta falo sobre a maioria e a minoria do Comitê Nacional, especialmente dos camaradas da resolução de M.S., envio cópia destas, cartas aos camaradas Cannon e Shachtman.
Inclusão | 28/04/2009 |