Para a conferência da Liga da Juventude Socialista

Leon Trotsky

18 de julho de 1938


Observação: Esta é uma carta de 1938 de Leon Trotski para conferência da Liga da Juventude Socialista, a organização de jovens trabalhadores do Partido Socialista dos EUA. Na carta Trotski destaca os potenciais flamejantes da juventude, mas alerta para a importância da teoria para se tornarem verdadeiros revolucionários.

Fonte: Esquerda Diário - https://www.esquerdadiario.com.br/Para-a-conferencia-da-Liga-da-Juventude-Socialista

Tradução: Adeilton Ramos

Transcrição: Calvin Borges

HTML: Fernando Araújo.


Um partido revolucionário deve necessariamente se basear na juventude. Pode-se até dizer que o caráter revolucionário de um partido pode ser julgado, em primeira instância, por sua capacidade de atrair os jovens da classe trabalhadora para suas bandeiras. O atributo básico da juventude socialista – pensando na verdadeira juventude e não nos velhos de 20 anos - reside na vontade de se entregar total e plenamente à causa socialista. Sem sacrifícios heroicos, valor, decisão, a história, de modo geral, não avança.

Mas o sacrifício por si só não é suficiente. É necessário ter um entendimento claro do curso dos acontecimentos e dos métodos apropriados de ação. Isso só pode ser obtido através da teoria e da experiência vivida. O entusiasmo mais flamejante esfria e evapora rapidamente se não encontrar a tempo uma compreensão clara das leis do desenvolvimento histórico. Observamos com frequência como jovens entusiastas, atingidos na cabeça, tornam-se sábios oportunistas; assim como ultra-esquerdistas desencantados logo se tornam burocratas conservadores; assim como pessoas “fora da lei” se corrigem e se tornam excelentes policiais. Adquirir conhecimento e experiência e, ao mesmo tempo, não perder o espírito de luta, o auto-sacrifício revolucionário e a vontade de ir até o fim, é a tarefa da educação e auto-educação da juventude revolucionária.

A intransigência revolucionária é uma qualidade preciosa quando dirigida contra a adaptação oportunista à burguesia, contra a debilidade teórica e a hesitação medrosa de todos os tipos de oficiais, de oradores comunistas e socialistas do tipo de Browder, Norman Thomas, Lovestone(1) e similares. Mas a "intransigência" se torna seu oposto quando só serve de conforto para os sectários e confusionistas por sua incapacidade de se ligar às massas.

A fidelidade às bandeiras ideológicas é a qualidade fundamental do revolucionário autêntico. Mas, infeliz de quem transforma essa "fidelidade" em teimosia doutrinária, na repetição de formulas prontas, decoradas, como se fosse estáticas, incapazes de prestar atenção à vida e responder às suas exigências. Uma verdadeira política marxista significa levar as ideias da revolução proletária a massas cada vez maiores, através de combinações das condições históricas que estão em continuas transformações e muitas vezes são situações novas e inesperadas.

O principal inimigo dentro das fileiras do proletariado é, obviamente, o oportunismo, especialmente em sua forma mais nociva, o stalinismo, essa sífilis do movimento operário. Mas para ter êxito na luta contra o oportunismo precisamos banir os vícios do sectarismo e da fraseologia pedante de nossas próprias fileiras. A história da Quarta Internacional, incluindo a seção nos Estados Unidos, nos deu muitas lições a esse respeito; devemos entendê-las e aplicá-las. Os gregos antigos faziam Hilotas bêbados desfilarem para os jovens a fim de tirar a juventude do alcoolismo. Todos os Oehelers, Fields, Vereecken(2) e Cia., são Hilotas do sectarismo que fazem caretas e acrobacias como se seu objetivo essencial fosse que nossos jovens rejeitassem o sectarismo estéril e irritante.

Temos a esperança de que a próxima conferência da Liga se converta em uma etapa importante no processo de aquisição de experiência política sobre as bases de granito do programa marxista. Somente nessas condições será assegurado o destino do grande movimento histórico do qual a Liga da Juventude é um de seus destacamentos de vanguarda.


Notas de rodapé:

(1) Norman Thomas (1884-1968): Pastor protestante pacifista, dirigiu o Partido Socialista norte americano durante os anos 30. Pressionado a esquerda apoiou a comissão de defesa de Trotski, mas logo depois expulsou os trotskistas do Partido Socialista. Jay Lovestone (n. 1898): Ex dirigente do PC dos EUA. Se ligou a Oposição de Direita de Bukharin, constituiu, depois de sua saída em 1929, a Communist Party (Oposição) e depois a Independent Labor League. Seus seguidores tinham influencia real em alguns novos sindicatos da Congress of Industrial Organizations (CIO), como o automotivo (UAW) (retornar ao texto)

(2) Hugo Oehler (1903-1983): Dirigiu uma sessão sectária do Socialist Workers Party (SWP) norte americano que se opôs a entrada no Partido Socialista. Ele e seu grupo foram expulsos em 1935 por violar a diciplina do partido e formara a League for a Revolucionary Workers Party (Liga revolucionária dos Trabalhadores); J. Field (1900-1977): Economista que dirigiu em 1934 a greve dos hotéis. Foi expulso do WPUS por indisciplina durante a greve, depois disso se uniu a Oehler. George Vereecken (1896-1978): Representante de uma tendência sectária dentro da sessão belga do Movimento pro IV Internacional. Ropeu com Trotski quando a sessão belga entrou no Partido Operário Belga, mais tarde se reconciliou com ele, para finalmente se separar na véspera da Conferência de fundação e formar seu próprio grupo. (retornar ao texto)

Inclusão: 13/03/2019
Última alteração: 20/12/2021