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Mas como o Partido pôde se calar? O relatório de Thaelemann que significou uma reviravolta de 180 graus na questão do referendo foi adoptado sem discussão. Tal foi a proposição vinda de cima: e o que é proposto, é ordenado. Todos os relatos da Rote Fahne testemunham que, em todas as reuniões do Partido, o referendo foi adoptado ''unanimemente''. Esta unanimidade é apresentada como um sinal de força particular do Partido. Onde e quando houve na história do movimento revolucionário um tal ''monolitismo'' mudo? Os Thaelmann e os Remmele juram pelo bolchevismo. Mas toda a história do bolchevismo é a história das lutas internas intensas, nas quais o Partido adquiria as suas opiniões e forjava os ses métodos. As crónicas do ano 1917, a mais importante na história do Partido, estão cheias de lutas internas intensas, como é igualmente o período dos cinco primeiros anos que seguiram a tomada do poder: e isso, sem cisão, sem uma só exclusão importante por motivos políticos. E todavia à cabeça do Partido bolchevique se encontravam chefes de uma outra estatura, de outra tempera e de uma outra autoridade que Thaelmann, Remmele e Neuman. Donde vem então esse ''monolitismo'' assustador de hoje, esta unanimidade funesta que transforma cada viragem dos chefes inoportunos numa lei absoluta para um Partido gigantesco?
«Nenhuma discussão!» Porque como explica a Rote Fahne, ''numa tal situação é preciso actos e não discursos ''. Hipocrisia repugnante! O Partido deve cometer ''actos'' renunciando a examiná-los antes. E de qual ''acto'' se trata no caso dado? Trata-se de colocar uma pequena cruz num quadrado de um papel oficial, e a soma dessas pequenas cruzes proletárias não pode ser feita, de modo que é mesmo impossível de saber se uma tal cruz proletária ou um cruz gamada. Aceita sem hesitações, sem reflexões, sem objecções, mesmo sem inquietação no olhar, o novo salto de ovelha dos chefes designados pela Providência, senão tu és um renegado e um contra-revolucionário. Eis o ultimato que a burocracia estalinista internacional aplica como um revólver sobre a cabeça de cada operário avançado.
Aparentemente, parece que a massa tolera esse regime e que tudo funciona maravilhosamente. Mas não! A massa não é de forma nenhuma a terra de barro que se pode modelar como se quer. Ela reage à sua maneira, lentamente mas tanto mais solidamente, contra os erros e estupidez da direcção. Ela opunha-se à sua maneira ao ''terceiro período'' boicotando as jornadas vermelhas inumeráveis. Ela abandona os sindicatos unitários em França quando ela não aceita opor-se pela via normal às experiências de Lozovsky—Monmousseau. Não tendo aceite ''a ideia'' do referendo vermelho, centenas de milhares e de milhões de operários evitaram de participar nisso. É muito mais do que a contrapartida dos crimes de burocracia centrista que imita de maneira indigna o inimigo de classe mas que, em contrapartida, segura solidamente as goelas do seu próprio Partido.
Estaline verdadeiramente sancionou previamente o novo zig-zag? Ninguém sabe, como ninguém não sabe igualmente as opiniões de Estaline sobre a revolução espanhola. Estaline cala-se. Quando os chefes mais modestos, a começar por Lénine, queriam influenciar a política de um partido irmão, eles pronunciavam discurso ou escreviam artigos. Era porque eles tinham qualquer coisa a dizer. Estaline, ele, não tem nada a dizer. Ele utiliza a manha com o processo histórico da mesma maneira que o faz com os homens. Ele não pensa ajudar o proletariado alemão ou espanhol, a fazer um passo em frente, mas procura assegurar-se para ele próprio um recuo político.
A atitude de Estaline nos acontecimentos alemãs de 1923 é uma amostra incomparável de sua duplicidade nas questões fundamentais da revolução mundial. Lembremos o que ele escrevia Zinoviev e a Bukarine em Agosto do mesmo ano:
«Será que os comunistas devem se encaminhar (no estado actual) para a tomada do poder sem a social-democracia, estarão eles maduros para isso? Eis, no meu ver, a questão. Quando nós tomámos o poder, nós tínhamos na Rússia reservas tais que: a) a paz; b) a terra aos camponeses; c) apoio da maioria enorme da classe operária; d) a simpatia do campesinato. Os comunistas alemãs não têm, hoje, nada disso. Bem entendido, eles têm na sua vizinhança o país dos Sovietes, o que nós não tínhamos, mas que lhe podemos dar nesse momento? Se, hoje, o poder na Alemanha se desmorona por si próprio, para dizer assim, e se os comunistas não o tomam, eles falharão com estrondo. Isso - ''no melhor dos casos''. E no pior dos casos, eles serão reduzidos em migalhas e lançados para trás. No meu ver, é preciso reter os Alemães e não encorajá-los».
Assim, Estaline se encontrava à direita de Bradler que, em Agosto-Setembro 1923, considerava, pelo contrários, que se podia conquistar o poder na Alemanha sem dificuldade, mas que as dificuldades começariam no dia depois da conquista do poder. A opinião oficial da Internacional Comunista consiste hoje em dizer que os brandleristas deixaram escapar em 1923 uma situação particularmente revolucionária. A acusador supremo dos brandleristas, é … Estaline. Explicou-se ele, todavia, com a Internacional Comunista sobre a sua própria posição em 1923? Não, não há qualquer necessidade: basta proibir às secções da Internacional Comunista de levantar esta questão.
Estaline tentará, sem dúvida, fazer a mesma encenação na questão do referendo. Thaelmann, mesmo se ele ousasse(1), não poderia se confundir. Estaline empurrou o Comité central alemão por intermédio dos seus agentes, ele próprio retirou-se prudentemente. Em caso de sucesso da nova política, todos os Manuilsky e todos os Remmele teriam declarado que a iniciativa pertence a Estaline. E em caso de derrota, Estaline guardou toda a possibilidade de encontrar o culpado. É nisso que consiste a quinta-essência da sua estratégia.
Nesse domínio ele é forte.
Notas de rodapé:
(1) A questão de saber se Thaelmann se opôs efectivamente à última viragem e não fez mais do que se submeter a Remmele e a Neumann que tiveram o apoio de Moscovo, não nos interessa aqui, como sendo uma questão puramente pessoal e episódiaca: trata-se do sistema. Thaelmann não ousou apelar ao Partido e tem por consequência toda a responsabilidade. (retornar ao texto)
Inclusão | 14/05/2017 |