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Fonte: Problemas Revista Mensal de Cultura Política, nº 64, dezembro 1954 a fevereiro de 1955.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo,
novembro 2006.
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Saudação apresentada, em nome do Partido Comunista Paraguaio, por Oscar Creydt, membro da Comissão Política do Comitê Central.
O camarada Oscar Creydt, entre outras coisas, disse:
Camaradas delegados:
A Comissão Política do Comitê Central de nosso Partido me encarregou de fazer chegar a este grandioso IV Congresso do Partido Comunista do Brasil a saudação fraternal e vibrante dos combatentes do Partido Comunista Paraguaio, saudação que interpreta os calorosos sentimentos de solidariedade da classe operária e de todos os homens avançados de nosso país.
Em nome da direção de nosso Partido saúdo com particular afeto os camaradas do Comitê Central de vosso Partido e muito especialmente o querido camarada Luiz Carlos Prestes, guia e mestre dos comunistas do Brasil, líder e símbolo da luta nacional libertadora do grande povo brasileiro.
Tenho o encargo de expressar, da alta tribuna do IV Congresso do Partido irmão do Brasil, o profundo sentimento de gratidão dos comunistas paraguaios pela ajuda solidária que nosso Partido recebeu do vosso. Neste sentido, jamais poderemos olvidar que, há um quarto de século, em um momento crucial da história das lutas do povo paraguaio, nosso velho amigo, o camarada Luiz Carlos Prestes, nos prestou uma ajuda importante nos primeiros passos que conduziram à formação do Partido Comunista Paraguaio.
Nosso povo se sente vivamente estimulado pelas grandes e vitoriosas lutas que a classe operária, os camponeses, as forças antiimperialistas do Brasil, impulsionadas e guiadas pelo vosso Partido, desencadeiam sem descanso contra os planos de dominação e guerra dos círculos financeiros e governantes dos Estados Unidos e contra os planos entreguistas e fascistas do governo dos latifundiários e grandes capitalistas e dos generais a serviço do EstadoMaior norte-americano.
Sob o regime ditatorial de tipo fascista, que nega o direito de reunião a todos os partidos com a única exceção da camarilha ou fracão dominante do partido oficial, o Partido Colorado, e que não permite nenhum jornal fora de três diários governistas e pro-ianques, os patriotas comunistas de nosso país organizam e orientam as lutas unidas dos operários, dos camponeses, de todo o povo. Impulsionam a luta contra a fome, a crise e o atraso, contra as perseguições, contra a entrega da soberania nacional, pela conquista de melhores condições de vida, pela liberdade, pela independência pátria e pela paz.
Pressionado pelo imenso descontentamento popular e por uma série de lutas operarias e democráticas, o governo do Partido Colorado, velho partido de grandes estancieiros, não pôde impedir que sua base de massas se estreitasse mais e mais. O ex-presidente Chaves, servidor do Departamento de Estado de Washington, foi perdendo o controle das organizações operárias na mesma medida em que conseguimos desenvolver a ação unida dos operários por suas reivindicações e pelas liberdades sindicais. Sucedeu a Chaves algo parecido ao que sucedeu a Getúlio Vargas. Quando as empresas norte-americanas e os grandes estancieiros se deram conta que Chaves, como Vargas, já não tinha forças para esmagar o amplo movimento unido da classe operária por um aumento do salãrio mínimo proporcional a alta vertiginosa do custo de vida, a Embaixada norte-americana decidiu substituir o velho governo, já gasto, por um governo de aparência «forte». O golpe de Estado de 4 de maio no Paraguai corresponde ao golpe de Estado de 24 de agosto em vosso país.
Estes golpes de Estado expressam uma política definida do Departamento de Estado de Washington. Em todos os países latino-americanos, os «técnicos» norte-americanos, que operam como verdadeiros interventores oficiais, apresentam e exigem aos governos que a inflação seja detida por meio do congelamento dos salários, por meio da repressão das lutas operárias, camponesas e populares. Esta é uma das condições principais que impõem os monopólios dos Estados Unidos para fazer grandes inversões em Sul e Centro América.
Tanto em nosso país como no vosso, o propósito principal dos generais golpistas é impedir que continue o desenvolvimento do movimento operário, democrático e antiimperialísta. Seu propósito é intensificar a colonização do país e sua organização sistemática para uma guerra norte-americana pela dominação do mundo.
O general Stroessner, chefe do governo surgido do golpe de 4 de maio, é um velho agente político dos círculos nazifascistas do exército brasileiro e, como estes, obedece às ordens de comando norte-americano da zona do Caribe.
Os protestos e as lutas das massas, o temor de perder todo o apoio popular, obrigaram que os generais fascistas mantivessem no poder alguns homens do Partido Colorado — tipo Café Filho — com o objetivo de dissimular o golpe de força sob uma aparência legal. Mas a camarilha dos generais vende-pátria não renuncia a seu plano de restabelecer uma ditadura militar-policial-fascista aberta, parecida à que exerceu o general Higino Morinigo. O fator principal que os faz vacilar e os freia, é que a classe operária — ajudada e orientada pelos comunistas — não se deixou intimidar nem enganar, como eles esperavam.
Os generais golpistas tremem diante do crescimento impetuoso da luta unida da classe operária por um salário-mínimo mais justo. Sentem-se alarmados diante do fato de que os estudantes, os camponeses e outros setores sociais, longe de retroceder, se lançam à luta. Inquietam-se porque o povo manifesta seu descontentamento em alta voz, apesar do ruído dos sabres e das esporas, apesar das citações policiais e das ameaças, das prisões e das torturas. Quanto mais forte pisam com suas botas para se firmar, mais sentem mover a terra sob seus pés.
O Comitê Central do Partido Comunista Paraguaio seguiu com profundo interesse a elaboração e discussão do novo Programa de vosso Partido. Aderimos à opinião de que este programa é uma contribuição ao tesouro internacional do marxismo-leninismo, uma aplicação criadora da teoria cientilica de Marx, Engels, Lênin e Stalin às condições peculiares de um pais dependente da América Latina.
Desde o primeiro momento consideramos que o projeto de Programa do vosso Partido tínha uma significação parecida a dos programas dos Partidos Comunistas da Índia e do Japão, isto é, uma signiiicação que transcende as fronteiras do Brasil, uma signiiicação internacional. Por razões evidentes, esta significação é particularmente grande para nosso país e, sem dúvida, para o movimento comunista de todos os países latino-americanos.
O Comitê Central de nosso Partido considera que o Programa do Partido irmão do Brasil deve ser utilizado como um elemento judicioso e de valor extraordinário nos trabalhos de elaboração do novo programa que o Partido Comunista Paraguaio decidiu apresentar à classe operária, aos camponeses, à toda a nação.
Este novo Programa do Partido irmão do Brasil adquire uma importância excepcional numa situação internacional que se caracteriza, entre outras coisas, pelos esforços violentos que estão fazendo os imperialistas norte-americanos para destruir a fé dos povos latino-americanos em sua luta libertadora, para destruir sua fé na possibilidade de sacudir o jugo imperialista.
Com este propósito o governo dos Estados Unidos agrediu a Guatemala, impôs o acordo intervencionista de Caracas e intervém por meio de golpes fascistas na política interna dos paises latino-americanos. Esta política de violência tende a inculcar nos povos a idéia e o temor de que qualquer movimento democrático, qualquer governo de origem popular seriam esmagados por uma intervenção norte-americana.
Não existe nada mais falso e mais perigoso do que superestimar a força do imperialismo norte-americano. Conduz à passividade, ao seguidismo, à capitulação. Se os imperialistas norte-americanos se esforçam febrilmente por converter todo o continente em um só acampamento de guerra, é porque estão perdendo seus pontos de apoio na Europa e na Ásia. Não é porque se sintam mais fortes, mas, ao contrário, porque se sentem mais isolados, mais débeis. Recorrem à violência aberta porque temem o ascenso das lutas nacional-libertadoras no Brasil e em todos os países latino-americanos. Recorrem à violência porque suas promessas de «ajuda» encontram, a cada dia, menos crédito e apoio nos países Sul e Centro americanos. Até em setores das classes dominantes destes países cresce a decepção e o descontentamento.
O mais importante que os agressores norte-americanos conseguiram com sua agressão à Guatemala foi levantar contra si a opinião de setores sociais cada vez mais amplos em todos os países latino-americanos.
Já não estamos no período final do século XIX, período de auge do colonialismo. Já não estamos no período posterior à primeira guerra mundial. Estamos vivendo uma época em que a União Soviética se converteu numa formidável potência de gravitação mundial, que desbarata os planos norte-americanos de dominação mundial. Estamos vivendo a época da revolução chinesa, a maior revolução antiimperialista da história da humanidade. Esta não é uma época para retroceder.
Pela primeira vez, desde a guerra civil de 1947, entramos num período de aseenso das lutas populares. Às lutas operárias somam-se as lutas dos camponeses pela terra, a luta dos estudantes contra a intervenção do governo na Universidade, a luta da população contra a carestia e a fome.
A ditadura antinacional se dá conta de que o Partido Comunista começou a trabalhar de uma maneira nova. Por esta razão resolveu promulgar uma nova lei de repressão ao «comunismo» à base de um documento enviado por seu embaixador em Washington. Neste documento se «acusa» nosso Partido de que, numa guerra contra a União Soviética, apoiará a União Soviética. Nosso Partido responde que esta «acusação» confirma nossa acusação de que o governo dos generais fascistas e de seus ajudantes colorados se propõem arrastar o Paraguai a uma guerra agressiva, antinacional e desastrosa contra o glorioso país do socialismo e contra as democracias populares. Assinalamos ao povo que a projetada lei «anticomunista» seria, na realidade, uma lei contra todo o movimento democrático, e fazemos esforços para organizar uma luta unida contra esta lei e pelo levantamento do estado de sítio.
O Partido multiplica seus vínculos com diversos setores sociais e políticos, se fortalece nas empresas e começa a crescer.
Nestes e noutros aspectos, nosso Partido está dando os primeiros passos numa direção mais justa. Estes progressos se devem, em grande parte, a que o Partido começou a trabalhar com objetivos programáticos mais justos e mais claros, e realiza uma firme luta ideológica interna contra as idéias freadoras de direita e de «esquerda».
Levo deste IV Congresso de vosso Partido a certeza de que estais realizando progressos muito importantes na assimilação do novo Programa, na consolidação da unidade ideológica do Partido e na tarefa central de transformar o Programa do Partido em programa de todos os setores descontentes da nação, através de lutas pelas mais diversas reivindicações econômicas e democráticas.
O Partido Comunista do Brasil conta com quadros capazes, ligados estreitamente às grandes massas, intensamente preocupados em conhecer a fundo os problemas de sua região, de sua empresa, de toda a população. Quadros que ligam a prática à teoria, à luta ideológica. Quadros que não têm medo de analisar abertamente os defeitos de seu trabalho. Quadros com um amor profundo à União Soviética, ao grande Partido de Lênin e Stálin. Quadros com a idéia da revolução na cabeça, e no coração aquele fogo revolucionário sem o qual nenhuma revolução é possível.
Um Partido com tais quadros pode receber golpes, mas não pode ser impedido de conduzir o povo à vitória.
Na medida em que ganhardes o povo para o novo Programa, este Partido modificará o velho Brasil semifeudal e semicolonial, criará uma nova vida para milhões de brasileiros. Desta maneira dará um estímulo poderoso às lutas nacional-libertadoras dos povos latino-americanos. Assestará um golpe demolidor nos planos de guerra dos monopólios e governantes dos Estados Unidos. E ao fazer isto, prestará uma ajuda eficaz .às forças que estão construindo, numa ampla extensão do mundo, a sociedade nova, livre de exploradores, o ideal de justiça e felicidade sonhada pela humanidade há séculos — o comunismo.
Inclusão | 12/11/2006 |