Os S.U.V. em Luta
(manifestos, entrevistas, comunicados)


O que são os S.U.V.
SEGUNDA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DOS SUV 21/9/1975


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«Eu estou aqui mandatado pela SUV do Porto (Soldados Unidos Vencerão) organização de classe no interior do Exército, organização dos trabalhadores no interior do Exército. E somos obrigados a aparecer desta maneira clandestina diante de vós não porque seja essa a nossa intenção, fazer «clandestinites», mas porque efectivamente nós não temos os direitos mais elementares do expressão, e somos portanto obrigados a recorrer a estes métodos.

Camaradas, a questão que se põe da organização dos soldados no interior dos quartéis é uma questão que é decisiva. Fora dos quartéis os trabalhadores nos bairros, nas fábricas e nos campos, souberam encontrar as suas formas organizativas através das quais eles defendiam os seus interesses. Organizados nas comissões de moradores, nas comissões de trabalhadores, nos conselhos de aldeia, os trabalhadores sabiam como discutir os problemas que são os seus e sabiam como impor a sua força.

Nós dentro dos quartéis temos também efectivamente problemas. Porque temos esses problemas idênticos aos nossos irmãos de classe fora dos quartéis, nós necessitamos também de uma forma do organização de classe, autónoma, que nos defenda a nós, trabalhadores, enquanto trabalhadores fardados.

As questões põem-se sempre em termos que não podem ser escamoteados. Há explorados e há exploradores. Há oprimidos e opressores. Nós estamos do lado da barreira dos oprimidos e explorados. Nós, os soldados, para defender os nossos interesses, mesmo os mais elementares, porque realmente pouco se modificou neste sentido (as reivindicações concretas depois do 25 de Abril não foram resolvidas: questões do pré, dos transportes, da disciplina, da disciplina militarista; fazer lembrar que o R.D.M. é ainda o R.D.M, fascista) para defender o direito de nos exprimirmos enquanto soldados e podermo-nos organizar enquanto tal no interior dos quartéis, recusar toda e qualquer espécie de tentativa de fazer com que nós trabalhadores fardados, ataquemos os nossos irmãos de classe lá fora, só poderemos resolver todas estas questões se nós tivermos a possibilidade de nos organizarmos, enquanto trabalhadores, se nós tivermos a oportunidade de apresentar uma alternativa que seja nossa, como trabalhadores, e o formos à trela de absolutamente ninguém.

Neste aspecto quero referir-me a uma determinada cedência que nós, como movimento de classe, já fizemos o que estamos a pagar bem caro, inclusivamente ao perder o apoio de determinados sectores como os nossos irmãos camponeses, ao perder a combatividade de alguns nossos camaradas por causa dessas mesmas cedências, por ter sido posto à trela do M. F. A., organização de oficiais do Exército e do conjunto das Forças Armadas.

Nós não somos contra os oficiais. Nós não queremos fazer passar os oficiais para o outro lado da barreira. Nós dizemos precisamente aos oficiais que se eles efectivamente querem estar com a revolução têm que ter posições bem claras acerca de um conjunto do pontos. Têm que estar dispostos a lutar contra a reacção. Devem aceitar que esta luta só é possível com uma ligação bem estreita entre nós, trabalhadores fardados, e os trabalhadores de fato de macaco e os trabalhadores com a enxada às costas. Devem concretamente recusar qualquer espécie de repressão que a disciplina militarista e os oficiais reaccionários querem infligir, querem impor. Se os oficiais tomarem uma posição bem concreta sobre estes pontos, nós estamos certos que poderemos catalisar e agregar a nós dezenas e dezenas de oficiais.

Vemos pois que, tal como os camaradas de classe fora dos quartéis, nós também tivemos necessidade de nos organizar. Mas também constatamos que se a organização dos trabalhadores, através das suas formas autónomas com as comissões de moradores, as comissões de trabalhadores, os conselhos de aldeia, que atingiram fora dos quartéis já uma representatividade efectiva, que já demonstraram uma força real, que conquistaram vitórias, e algumas delas decisivas, não foram contrabalançadas no interior dos quartéis por um tipo idêntico autónomo, de classe, não foram contrabalançadas pois por uma existência de idêntica força de comissões de soldados. É por causa disso, camaradas, que o S.U.V. existe. «Soldados Unidos Vencerão!» é uma frente que pretende incentivar as condições que permitam precisamente que os soldados tenham a possibilidade de afirmar aquilo que eles são: trabalhadores que foram, trabalhadores que são, trabalhadores que serão.

Tivemos essa consciência no Norte porque lá o inimigo era claro, era real, era constante. E por causa disso tivemos de dar também uma resposta imediata. S.U.V. foi essa resposta!.

E nada melhor que a manifestação de 10 de Setembro, que demonstrou a nossa força, a nossa capacidade de implantação, a nossa determinação. A manifestação do Porto de 10 de Setembro é isso: é a nossa força.

É a nossa força porque ela foi unitária. Toda a gente a compreendeu como tal. É a nossa força porque ela foi autónoma, de classe, sem qualquer espécie de concessão. Todos os trabalhadores o compreenderam como tal. Compreenderam os trabalhadores fardados que fizeram a maior manifestação de trabalhadores fardados deste país, até agora: 1500 soldados na rua, apesar de todas as tentativas de repressão.

Pois aquilo que nós queríamos foi compreendido por dezenas e dezenas de comissões de trabalhadores e de moradores, que mobilizaram os nossos irmãos de classe para essa manifestação. Compreendeu-o de uma maneira clara e inequívoca a população do Porto ao estar em massa como nunca esteve desde o 1.º de Maio de 1974, a apoiar uma manifestação, a viver uma manifestação, a estar com eles a gritar com os soldados.

Qero-me referir, porque considero efectivamente representativa da voz da população do Porto, aquela mulher que no comício, quando se gritou Viva os S.U.V.! gritou também Viva o S.U.V, para imediatamente perguntar depois ao seu marido ao lado, o que é que é isso dos S.U.V. ? E como alguém tivesse perguntado. Então a senhora não sabe o que é S.U.V. e vem a uma manifestação dos S.U.V. e grita as palavras de ordem dos S.U.V., a senhora disse. Eu não sei o que é que é S.U.V., isso não me interessa. O que eu vejo é o meu filho fardado que está ali à frente, que está a lutar para não nos matar!

Camaradas, aquilo que nós dissemos que queríamos através da manifestação, fazer uma bola de neve, imprimir uma dinâmica revolucionária que pudesse efectivamente, concretamente, dar uma primeira resposta ao aumento da reacção no Norte, nós, conseguimo-lo. Essa bola de neve, essa capacidade de dinamizar, de mobilizar os trabalhadores no seio dos quartéis, efectivamente aconteceu.

A maior resposta, a mais digna resposta dos trabalhadores portugueses ao assassino Pinochet, a maior prova de solidariedade aos nossos irmãos do Chile foi dada pelos trabalhadores fardados do C.I.C.A., que no dia seguinte à manifestação vieram para a parada, soldados, recrutas, 300 homens, com a G3 na mão, fazer um minuto de silêncio por todos os camaradas que tombaram sob a besta fascista, vitoriar os trabalhadores do Chile, e quando o comandante e alguns oficiais vieram a referir-se à existência de uma manobra gritaram: Reaccionários fora dos quartéis! Esses camaradas do C.I.C.A. responderam, camaradas, como nós devemos responder: através da luta, do combate.

Camaradas, nós consideramos que a actual situação é uma situação grave. As nossas conquistas, aquilo que nós temos, os nossos direitos, são efectivamente conquistas que estão em perigo.

A função fundamental do actual Governo é estabelecer a disciplina fora e dentro dos quartéis, pôr os trabalhadores na batalha da reconstrução do capitalismo, atacar as massas trabalhadores nas suas conquistas. O ataque que foi feito ao Conselho Municipal do Porto é um exemplo disso.

Para responder a esta tentativa de restabelecer esta disciplina nós temos de dar uma resposta. É uma questão que nos diz respeito. Os nossos irmãos trabalhadores, operários e camponeses, que serão atacados, porque é essa a intenção do actual Governo, serão atacados por ele, contam connosco. Porque nós não temos dúvidas que quando se fala na disciplina no interior do exército, esses senhores referem-se sobretudo à capacidade que eles necessitam de ter de nos manipular, de nos manobrar, de fazer virar a nossa força, as nossas armas contra os nossos irmãos de classe. Isto é o sentido da disciplina que eles têm. Só a nossa resposta organizada, camaradas, que terá de ser efectivamente formidável, poderá pôr um termo a esta situação.

É por causa disso que nós existimos. Nós vamos incentivar as condições para que efectivamente os trabalhadores fardados, os soldados, nunca virem as armas contra os seus irmãos de classe.

É por causa disto que o S.U.V. existe! Começou a existir no Porto e hoje, camaradas, estou contente de afirmar que existimos a nível nacional.

A voz é de um camarada militante dos S.U.V., de um quartel de Lisboa.

A implantação dos S.U.V. nesta zona do Pais é, como referiu o camarada há bocado, o efeito da bola de neve que teve entre outras causas o avanço da reacção, que os soldados como trabalhadores fardados não podem tolerar.

O M.F.A. mostrou as suas limitações.

Neste momento reconhecemos a necessidade urgente de nos organizarmos, como já se organizaram as Comissões de Trabalhadores e de Moradores. É portanto a necessidade reconhecida pelos próprios trabalhadores de se organizarem dentro dos quartéis, como futuro braço armado do Povo.

Passarei a referir o nosso manifesto que foi aprovado a nível nacional.

continua>>>
Inclusão 21/04/2019