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Para o outono de 1905, o movimento revolucionário se estendeu a todo o país, adquirindo, além disso, um impulso esmagador.
A 19 de setembro estalou em Moscou uma greve dos operários tipógrafos. De Moscou se estendeu a Petersburgo e a outras cidades. Em Moscou, foi apoiada pelos operários de outras indiístrias e se converteu numa greve geral de caráter político.
Nos primeiros dias de outubro começou a greve na estrada de ferro de Moscou a Kazan. No dia seguinte, estavam em greve os operários de todo o centro ferroviário de Moscou. Rapidamente a greve se estendeu a todas as ferrovias do país. Pararam também os empregados dos Correios e Telégrafos. Os operários de diversas cidades da Rússia se reuniram em grandes meetings e concordaram em abandonar o trabalho. A greve ia-se estendendo de uma fábrica a outra, de uma empresa a outra, de uma cidade a outra e de uma a outra região. Faziam causa comum com os operários grevistas os pequenos empregados, os estudantes, os intelectuais, advogados, engenheiros, médicos, etc.
A greve política geral de outubro se estendeu a toda a Rússia, se comunicou a quase todo o país, até as comarcas mais remotas, e arrastou quase todos os operários, até as camadas mais atrasadas. Nesta greve geral de caráter político tomaram parte cerca de um milhão de homens, contando somente os operários industriais sem incluir os ferroviários, os empregados dos Correios e Telégrafos, nem outros ramos de trabalho, que deram também contingente de grevistas. Toda a vida do país licou paralisada. O governo via-se atado de pés e mãos.
A consigna dos bolcheviques sobre a greve política de massas dava seus frutos.
A greve geral de outubro evidenciou a força, a potência do movimento proletário, e obrigou o czar, morto de medo, a lançar sua mensagem de 17 de outubro de 1905. Nesta mensagem, o czar prometia ao povo "as bases irremovíveis das liberdades políticas: inviolabilidade efetiva da personalidade, liberdade de consciência, de palavra, de reunião e de coalizão". Prometia, além disso, convocar uma Duma legislativa, concedendo direitos eleitorais a todas as classes da população.
A força da revolução se encarregou, pois, de varrer a Duma puramente consultiva de Bulguin. A tática bolchevique de boicote contra esta caricatura de parlamento fora acertada. Entretanto, a mensagem de 17 de outubro era uma manobra para enganar as massas do povo, um engodo do czar, uma espécie de respiro de que necessitava para aturdir os incautos, ganhar tempo, forças e logo depois descarregar um golpe contra a revolução. O governo czarista, ainda que prometesse de palavra conceder a liberdade, não dava nada de substancial ao povo. De momento, os operários e camponeses não haviam recebido do governo outra coisa senão promessas. Em vez da grande anistia política que se esperava, a 21 de outubro foram anistiados somente um punhado de presos políticos. Ao mesmo tempo, com o objetivo de semear a discórdia entre as forças do povo, o governo organizou uma série de sangrentos progroms de judeus, nos quais pereceram milhares e milhares de seres, criou vários grupos policiais, como a "União do povo russo", a "Liga do Arcanjo S. Miguel", etc, destinadas a reprimir a revolução. Estas organizações, nas quais predominavam os latifundiários e comerciantes reacionários, os popes e alguns elementos dignos de cadeia por vadiagem, foram batizados pelo povo com o nome de "Centúrias Negras". Os indivíduos destes grupos, em colaboração com a polícia, espancavam e assassinavam impunemente os operários avançados, intelectuais e estudantes revolucionários, botavam fogo nos locais e dissolviam a tiros os meetings e as manifestações. A isto se reduziam, no momento, os resultados tangíveis da mensagem do czar. Entre o povo circulava então esta quadra:
"O czar todo assustado,
lançou uma mensagem:
liberdade aos mortos,
os vivos ao cárcere".
Os bolcheviques faziam ver às massas que a mensagem do czar era uma cilada. Fustigavam como uma provocação a conduta do governo depois de dar a mensagem. Chamavam os operários às armas, a preparar a insurreição armada.
Os operários dedicavam-se ainda mais energicamente a formar suas milícias armadas. Compreendiam claramente que aquela primeira vitória de 17 de outubro, arrancada pela greve política geral, os obrigava a continuar desenvolvendo seus esforços, a continuar lutando pela derrocada do czarismo.
Lenin, julgando a mensagem de 17 de outubro, caracterizava-a como um monumento de certo equilíbrio provisório de forças, no qual o proletariado e os camponeses, havendo arrancado do czar aquela mensagem, não tinham ainda força para derrubar o czarismo, porem este já não podia governar exclusivamente com os meios antigos e via-se obrigado a prometer de palavra "liberdades políticas" e uma Duma "legislativa".
Nos dias agitados da greve política de outubro, sob o fogo da luta contra o czarismo, a iniciativa criadora revolucionária das massas operárias forjou uma nova e poderosa arma: os Soviets de deputados operários.
Os Soviets de deputados operários, assembléias de delegados de todas as fábricas e empresas industriais, eram uma organização política de massa da classe operária, sem precedente no mundo. Estes Soviets, que aparecem pela primeira vez em 1905, haviam de ser o protótipo do Poder Soviético, criado pelo proletariado, sob a direção do Partido bolchevique, em 1917. Os Soviets eram uma nova forma revolucionária, fruto da invenção popular. Foram criados exclusivamente pelas camadas revolucionárias da população, saltando por cima de todas as leis e normas do czarismo. Foram obra da iniciativa própria das massas, lançados à luta contra o regime czarista.
Os bolcheviques viam nos Soviets o gérmen do Poder revolucionário. E entendiam que a força e a importância dos Soviets dependiam da força e dos êxitos da insurreição.
Os mencheviques não consideravam os Soviets nem como órgãos incipientes do Poder revolucionário nem como órgãos da insurreição. Viam neles simplesmente, órgãos de autonomia local, uma espécie de juntas urbanas democratizadas.
A 13 (26) de outubro de 1905, efetuaram-se em todas as fábricas e empresas industriais de Petersburgo as eleições ao Soviet de deputados operários. Pela noite se celebrou a primeira sessão do Soviet. Pouco depois do de Petersburgo, se organizou o Soviet de deputados operários de Moscou.
O Soviet de deputados operários de Petersburgo, por ser o do centro industrial e revolucionário mais importante da Rússia, o da capital do Império czarista, estava chamado a desempenhar um papel decisivo na revolução de 1905. Porém sua má direção, que estava nas mãos dos mencheviques, o impediu de cumprir com sua missão. Como é sabido, por aquela época Lenin ainda não se achava em Petersburgo; continuava no estrangeiro. Os mencheviques, aproveitando-se de sua ausência, se infiltraram no Soviet de Petersburgo e se apoderaram da sua direção. Nestas condições, não é de se estranhar que os mencheviques Yruslatiev, Trotsky, Parvus e outros conseguissem pôr o Soviet de Petersburgo contra a política da insurreição. Em vez de aproximar os soldados do Soviet e incorporá-los à luta geral, exigiram que fossem afastados de Petersburgo. Em vez de armar os operários e prepará-los para a insurreição, o Soviet dava voltas e mais voltas sem mover-se do lugar e adotava uma atitude negativa frente à preparação do movimento insurrecional.
Totalmente diferente foi o papel que desempenhou na revolução o Soviet de deputados operários de Moscou. O Soviet de Moscou levou a cabo desde os primeiros dias de sua existência uma política revolucionária conseqüente. A direção deste Soviet estava nas mãos dos bolcheviques. Graças a isto, surgiu em Moscou, ao lado do Soviet de deputados operários, um Soviet de deputados soldados. O Soviet de Moscou se converteu no órgão da insurreição armada.
Durante os meses de outubro a dezembro de 1906, criaram-se Soviets de deputados operários numa série de grandes cidades e em quase todos os centros operários. Houve tentativas de organização de Soviets de deputados, de soldados e marinheiros e de fusão destes com os deputados operários. Em alguns lugares, surgiram Soviets de deputados operários e camponeses.
A influência dos Soviets era imensa. Apesar de que com freqüência brotavam de um modo espontâneo, sem estarem estruturados nem terem uma composição coerente, atuavam como Poder. Os Soviets implantaram por via de fato a liberdade de Imprensa e a jornada de 8 horas e se dirigiram ao povo incitando-o a não pagar os impostos ao governo czarista. Em alguns casos, procediam ao confisco do dinheiro do erário czarista e o invertiam nas necessidades da revolução.
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Inclusão | 01/11/2010 |
Última alteração | 15/12/2010 |