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Tinha tido uns estrebuchos contestatários ao lado do MRPP, quando passei pela faculdade, e uma campanha de alfabetização em bairros de barracas na zona onde vivia. O primeiro lº de Maio é que me conquistou, e de forma definitiva.
Recordo o meu «serviço militar» prestado no Arquivo Geral de Marinha, lado a lado com os marinheiros, todos os dias com uma reivindicação nova ao oficial na reserva responsável, que não dizia ai nem ui, não fossem lembrar-se de pôr em prática a ameaça de saneamento que pairava pelos quatro cantos do quartel... A ausência forçada no estrangeiro, dois meses, e o primeiro contacto com a Voz do Povo, no regresso... A ocupação de três casas, uma delas em conjunto com a Comissão de Moradores de S. Mamede; o apoio às operárias de uma pequena fábrica de confecções na Damaia que queriam a autogestão; o trabalho na colectividade local, com espectáculos de teatro e canto livre; as colagens e as pinturas noite dentro... A mobilização, quase porta a porta, para as manifestações, misto de militância e de festa...
Finalmente, a organização no núcleo da UDP e a ida para a Associação de Amizade Portugal-China. Ainda hoje, o orgulho de nessa altura ter acedido ao estatuto de simpatizante de uma organização marxista-leninista se sobrepõe ao sentimento de luta inglória que o trabalho me deixou!
E o 25 de Novembro... Na Calçada da Ajuda, com o núcleo da Amizade a fugir às pedradas que vinham não sei de onde e um camarada a gritar «ninguém arreda pé! Ninguém arreda pé!». Arredámos mesmo. Um ou dois dias depois, explicavam-me, em reunião expressamente convocada, que se impunha a unificação dos grupos e a constituição do Partido. Que era essa a tarefa prioritária. Quem sabe se com o Partido...
Lembro-me, mais tarde, já numa reunião de célula, ao fazer-se o balanço dos acontecimentos, de alguém dizer que dificilmente voltaríamos a viver um período idêntico ao que decorrera naqueles meses. Já lá vão 20 anos, mas continuo esperançada.
★★★
“O nosso diário é para unir os caseiros. Pois, como todos sabem, os senhores ricos fazem as suas reuniões nas suas casas de luxo, nos hotéis, nos seus fartos jantares. Têm carros que até sobram. Mas nós, infelizmente, não temos essas possibilidades. Somos vistos como uns tristes, uns analfabetos. É assim que nos tratam. E nós é que pagamos tudo, nós é que plantamos a batata e a fruta para alimentar esses senhores. Por meio destas páginas, os caseiros ficam a saber que não estão sós, que todos estão alertas e firmes para defender os seus direitos”
(Editorial do jornal da Madeira, O Caseiro, Outubro 1974)
Na manifestação do funcionalismo frente a S. Bento em 8 de Julho de 74, há faixas que dizem: “O preço da batata é o mesmo para o pequeno e para o doutor”, “A palavra camarada é apenas teoria”, “Não comemos com percentagens, comemos com dinheiro”.
Inclusão | 23/11/2018 |