Dossier Brigadas Revolucionárias


O QUE A PIDE SABIA


A PIDE pouco ou nada sabia das Brigadas Revolucionárias. As suas acções sucediam-se sem que a polícia tivesse tocada na estrutura das Brigadas. E assim vieram até Março de 1974, altura em que se deu a última acção das BR.

Aquilo que a PIDE sabia àcerca das Brigadas Revolucionárias saldava-se ao conhecimento da identidade daquele que era o seu responsável. Sobre outros militantes a PIDE apenas tinha suspeitas. Por fim conseguiu atingir aquilo a que chamou «Um agrupamento de cristãos», que considera colaborar em maior ou menor grau com o PRP - BR. Por aqui ficaram os elementos que a PIDE conseguiu adquirir.

A fúria contra as Brigadas levava a Polícia a uma terrível obsessão transformando a perseguição às Brigadas num objectivo n.º 1. Quando foi possível observar por dentro as instalações da PIDE, pôde encontrar-se o curioso fenómeno de haver um chefe de Brigada, Pereira André, que mobilara todo o seu gabinete com «recordações» das Brigadas: envólucros de bombas, fotografias, panfletos, um aparelho ampliador e... um caixote com restos do vestuário, do calçado, da arma dum dos camaradas que morreram vítimas da explosão. Neste estranho e macabro gabinete até o tapete pertencera a uma casa de apoio abandonado pelas Brigadas Revolucionárias e assaltada pela polícia. Este cenário decerto lembrava a este homem de triste memória, agora preso em Caxias, a sua tarefa principal.

A PIDE desesperava-se de ver sucederem-se as acções das B.R. sem que estas fossem atingidas. Nunca se sabia onde seria e como seria a próxima acção — em casos como este o poder nada controla, apesar de todo o seu aparelho.

A perseguição da PIDE, a vigilância serrada que hoje se confirma ter feito a alguns militantes, a brutalidade dos interrogatórios, não lograram atingir a estruturá das Brigadas Revolucionárias. Hoje ainda esta estrutura se mantém desconhecida.

UMA FALSA PISTA

Muitas tériam sido as falsas pistas que a PIDE seguiu, julgando, que encontrariam as Brigadas Revolucionárias. O documento que se segue mostra uma dessas falsas pistas. Nele se observa também o papel que a denúncia podia ter.

Trata-se duma carta enviada pelo 1.º sargento da GNR de Coruche à PIDE relatando a denúncia por sua vez feita por um feitor da Companhia Previdente.

Os jovens de que fala, transportados por este feitor no seu carro, claro que nada tinham a ver com as Brigadas Revolucionárias.

«Terão interesse, estes elementos?...», termina a carta.

Não tinham interesse. Estes, e muitos outros de nada serviram. Mas entre as múltiplas informações algumas resultavam. E assim funcionava a teia.

SABOTAGEM EM CAMIÕES BERLIET EM LISBOA
Carta da PIDE

Para superior conhecimento de Vossa Excelência, cumpre-me transcrever, na integra, o texto duma carta do 1.º Sargento, Comandante do Posto da G.N.R. de Coruche, datada de ontem, 13 do corrente, dirigida ao Ex.º Senhor Capitão Baptista da Silva, Comandante da 3º Companhia da G.N.R. desta cidade que, pelo mesmo me fói facultada e que é do seguinte teor:

Coruche, 13/7/72

Meu Ex.º Capitão.

Em conversa passada hoje, durante um almoço com pessoas amigas, falou-se o seguinte:

O Senhor Manuel Matias, feitor da Companhia Previdente — Monte dás Figueiras - Coruche, disse: Que no dia dé sabotagêm dos carros em Lisboa, cerca das 16.00 h, encontrava-se na Portagém de Sacavém uma rapariga e um rapaz que lhe pediram boleia e diziam que desejavam ir para a Figueira da Foz, porém, no caminho já lhe servia a boleia para Torres Novas. Foram ultrapassados algumas vezes por um carro encarnado, e que notou preocupação nos ocupantes do veículo que falaram à boca pequena é diziam — «serão agêntes», por outro lado quis-lhe parecêr que procuravam outro companheiro.

Preocupado, foi-lhe feita paragem na recta do Cabo por um guarda e pensou em lhe pedir para identificar a menina mas como visse o guarda muito novo, nada disse e então mais à frente parou, e disse para esperarem enquanto ele ia à propriedade resolver um assunto. Passada cerca de uma hora depois de os deixar à entrada da propriedade, já os veio encontrar junto da Ponte do Porto Alto a pedir boleia para o lado de Lisboa e já com outro indivíduo também novo junto deles.

Características:

Rapariga — cerca de 20 anos, loura, calça às riscas compridas, bem constituída, camisola vermelhada justa ao corpo, altura média, desembaraçada, fácil conversação.

Companheiro — cerca de 17 anos, louro, fraco, cabelo comprido, blusa amarela e segundo pensa, a calça era preta, calçado de ambos vulgar e não traziam bagagem.

O outro individuo que já estava na Ponte com eles era também do mesmo tipo e cabelo comprido.

Terão interesse estes elementos?...

O Comandante do Posto
Francisco Teixeira
1º Sarg.

Aproveito a oportunidade para apresentar a Vossa Exceléncia os meus respeitosos cumprimentos.

À BEM DA NAÇÃO

Santarém e Posta da DGS 14 de Julho de 1972

O Chefe do Posto
José Orlando Teixeira de Lucena
Subinspector


Inclusão 17/06/2019