Contra o fascismo, unidade popular

Manifesto


Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra (original).

Transcrição e HTML: Marcelo Cabral.


Nota do transcritor

Desconhecem-se tanto o autor como a data de publicação, sabendo-se apenas pelo conteúdo do texto que este manifesto foi publicado depois de 25 de Novembro de 1975. É também possível que tenha pertencido à coleção de Francisco Madeira Luís.

A TODOS OS TRABALHADORES
A TODOS OS DEMOCRATAS E ANTIFASCISTAS

O dia 25 de Abril for para o povo português um dia de intensa alegria e de esperanças renovadas.

A queda do fascismo, o fim da PIDE, o fim da guerra colonial, onde morreram ou ficaram mutilados milhares de homens na flor da idade, foram saudados por todo o povo oprimido e violado nos seus direitos fundamentais durante 48 anos.

Foi igualmente a possibilidade de uma vida mais digna para milhares de famílias durante anos e anos obrigadas a uma vida de privações e de fome enquanto os governantes fascistas e suas famílias engordavam as suas fortunas à custa da miséria do povo português e dos povos das ex-colónias.

O 25 de Abril venceu a ditadura fascista, mas não derrotou completamente os fascistas que continuam impunes e em liberdade conspirando contra o povo e as suas conquistas alcançadas após o 25 de Abril.

Durante a ditadura, o dia 10 de Junho sempre foi aproveitado pelo regime para enaltecer a criminosa guerra colonial e as figuras do fascismo. Os governantes e a hierarquia militar fascista, em aparatosas paradas militares, distribuíam hipocritamente as medalhas com que pretendiam consolar as famílias enlutadas pela perda dos seus filhos numa guerra injusta a que eram obrigados.

O povo repudiava estes actos e forjava no dia a dia a sua unidade e luta contra o fascismo.

Hoje as forças negras da reacção e do fascismo pretendem de novo aproveitar o dia 10 de Junho para publicamente manifestarem o seu ódio ao 25 de Abril e ás liberdades alcançadas e enaltecer as figuras da ditadura fascista e a sua política colonialista racista.

Para tal servem-se de Pides e legionários, das suas juventudes nazis, dos bombistas, organizando concentrações e desfiles que mais não são do que a exaltação pública dos actos e da política de uma ditadura que o nosso povo sempre odiou e combateu.

Há que lutar para impedir que as polícias privadas dos grandes capitalistas lancem o terror nas empresas numa clara afronta ao 25 de Abril e aos trabalhadores! Há que lutar para impedir que os nazis lancem o terror e a desordem nas escolas, através de bombas e perseguindo antifascistas e democratas!

Há que denunciar e repudiar a tentativa de formação de uma nova polícia política que iria de novo violentar e oprimir o nosso povo! Há que denunciar o papel da imprensa reaccionária porta-voz da idealogia fascista e que vem propagandear concentrações fascistas convocadas para Lisboa e Porto para o próximo dia 10 de Junho.

Os trabalhadores, os democratas e as organizações populares apoiantes deste Manifesto Unitário, perante a preocupante escalada arrogante das forças reaccionárias decidem:

  1. Denunciar a política saída do golpe reaccionário de 25 de Novembro, chefiado pelo general Eanes, que os sucessivos governos têm vindo a aplicar debaixo das orientações do Presidente da República, do FMI e da NATO;
  2. Responsabilizar publicamente os Governos Civis de Lisboa e Porto pelo facto de continuarem a autorizar concentrações e desfiles, de objectivos claramente fascistas tal como os previstos e já anunciados no jornal fascista "O Diabo" contrariando na prática o espírito da Constituição da República;
  3. Exigir a proibição das manifestações fascistas previstas para o dia 10 de Junho;
  4. Apelar à unidade e mobilização de todos os trabalhadores antifascistas e democratas, contra o avanço do fascismo e pela defesa dos ideais do 25 de Abril e das conquistas alcançadas.

CONTRA O FASCISMO! UNIDADE POPULAR!

Das centenas de apoiantes deste Manifesto Unitário transcrevem-se entre outros os seguintes: