A Carta Chinesa


Prólogo à presente edição da Carta dos 25 Pontos e dos Nove Comentários reunidos (1)


São passados já 37 anos, mas para muitos que podem se recordar daqueles momentos, certamente ecoam ainda em suas lembranças as vozes que traziam para todos os continentes as notícias da revolução. De lá, daquela que durante muitos anos foi a base de apoio dos povos de todo o mundo, sob o comando do Presidente Mao, os proletários revolucionários da China, diariamente, levavam ao proletariado e aos povos que lutavam pela sua libertação as transmissões da emissora internacionalista. No instante marcado, anunciava-se as faixas de radiofrequência unindo o pensamento comunista e todos os setores que ousavam lutar contra o Imperialismo, seguidos os acorde de A Internacional: “Aqui, Rádio Pequim”.

Nenhuma outra rádio imprimiu tanto ânimo revolucionário aos ouvintes, quando li, um a um eram desvendados os planos urdidos pelo Imperialismo e pelo social-imperialismo, pela reação e pelo revisionismo irmanados. Toda arrogância do Imperialismo e dos ideólogos falsificadores do marxismo iam por terra, porque (se por um lado, ao findar-se a Primeira Onda da Revolução Proletária Mundial, 1848 - 1976, não o sabíamos ainda) se aproximava a hora das novas revoluções como resultado necessário e inevitável das leis do desenvolvimento da sociedade com a vitória da revolução proletária (isso o Presidente Mao havia explicado muito bem); com a vitória cabal e irreversível da “teoria e da tática da revolução proletária em geral e da teoria e da tática da ditadura do proletariado” e (disso não sabíamos ainda) com o advento da terceira e superior etapa do marxismo: o maoismo.

Assim, era, “camaradas e amigos”, que se editavam as notícias sobre o movimento pela reconstituição do partido comunista, sobre a guerra popular e o fortalecimento da frente única revolucionária na Ásia, África e América Latina, sobre a guerra contra o revisionismo na falsa URSS, na própria China e em todo o mundo. Porque a guerra de classes, a guerra da produção e a guerra da ciência, eram encaradas como movimentos dirigidos por uma mesma revolução, onde mais do que envolver as massas, se estimulava a guerra das massas pelo Poder, “uma vez que a revolução proletária é o instrumento mais importante do proletariado na sua luta” contra o Imperialismo e seus lacaios internos, contra as doutrinas, teorias, estratégias e táticas saídas do mesmo arsenal da reação.

Se a doutrina de Marx, Engels, Lenin, Stalin e do Presidente Mao sobre a revolução proletária constitui a única arma eficaz da causa do socialismo e do comunismo, da ditadura do proletariado e das sucessivas revoluções e do comunismo, da ditadura do proletariado e das sucessivas revoluções culturais até a sociedade sem classes, dois caminhos estavam claramente delineados para o proletariado revolucionário e para os povos que lutavam pela sua libertação: o caminho burocrático e do poder futurível, guiado pelos revisionistas, e o caminho da revolução socialista nos países capitalistas desenvolvidos e naqueles oprimidos pelo Imperialismo a revolução da Nova Democracia, da ditadura conjunta das classes que aderem à revolução sob a hegemonia do proletariado, indo direto ao Socialismo, às revoluções culturais e ao Comunismo. Em suma, a linha que subestimava as massas e elegia um punhado de “notáveis” para comandar as suas vidas, e aquela que mobilizava, politizava e organizava as massas considerando como tarefa principal a construção do Poder.

A linha burocrática e de subestimação das massas é a que, desde 1895, aliou-se à reconstrução e ao aperfeiçoamento do Estado e do Imperialismo (a que consequentemente evoluiu com o sistema de exploração e de dominação) enquanto que a linha do proletariado revolucionário afirma-se sempre mais como sendo a da construção e da consolidação do Partido, a que indica em se programa como tarefa principal a construção do Poder, a que aponto o revisionismo como o perigo principal e indica a linha de massas como o método de direção que assegura a ligação da organização de vanguarda do proletariado com as massas.

Com efeito, que outro modo há de organizar as classes revolucionárias para colocar em prática e desenvolver a luta revolucionária das massas, senão que instituindo o seu Poder passo a passo, senão que construindo os três instrumentos da revolução?

Os revisionistas, demonstrava o marxismo-leninismo-Pensamento Mao Tsetung (como se denominava à época), nada mais fazem que opor-se radicalmente à reconstituição do quartel-general do proletariado revolucionário, à unidade do destacamento de vanguarda do proletariado, assim como, ficou desmascarado, era esse o significado verdadeiro dos códigos doutrinais, das catequeses com novas falas, como a do legalismo, a das Três Pacíficas e os Dois Todos, do “socialismo desenvolvido” e, muitos anos depois, do “socialismo real”; o de desviar a passagem da luta do proletariado para a sua fase superior, a da Guerra Popular, como sabotar de todas as maneiras a formação da Frente Única Revolucionária, acenando com o sufrágio universal do direito burguês e frentes ecléticas, totalmente destituídas do caráter de classe revolucionário, etc., etc.

A luta ideológica que o maoismo ousou realizar (e vencer) trouxe grandes lições históricas que, ao longo dos anos, foram invocadas (outras vezes desprezadas por nós), na experiência da nossa revolução. Mas, por acaso, há outro modo de organizar as classes revolucionárias sem declarar (e, efetivamente, dedicar-se à) “guerra total contra o revisionismo e o oportunismo”? É possível fazer vigorar a vontade única reconstituindo o Partido com uma direção vazia de chefaturas proletárias revolucionárias? É possível tolerar o caráter burguês da crítica (que a considera como sendo a alma da revolução, quando a revolução é a alma da crítica) e desprezar o respeito que os revolucionários proletários nutrem pelos princípios científicos da revolução proletária, pelo Partido e suas direções? Onde reside a lógica dialética que demonstra ser viável a existência do Partido sem a luta de duas linhas? Igualmente, como estabelecer a resistência ativa do Partido descartando a militarização (justo quando a contrarrevolução aplica impiedosamente seus golpes contra ele), quando se pretende destruir o inimigo na medida em que se constrói o novo Poder? Um Partido, em cuja base de unidade partidária não se encontram algumas (mas justificadas) razões para divulgar a Carta de 25 Pontos e os Nove Comentários, assim como tudo o que de melhor pode haver na literatura revolucionária de todos os tempos, que outros motivos poderiam legitimar sua existência?

A liderança do Presidente Mao acabara de ser retomada no Partido e, entre as massas, ela se encontrava enraizada nacionalmente desde o período da guerra antijaponesa. A firme conduta do PCCh sob a direção do Presidente Mao Tsetung, todavia, fez ver para as massas oprimidas a existência de duas linhas em luta no Partido Comunista da China: 1) a que trilhava o caminho da revolução proletária, a teoria e prática do movimento de emancipação do proletariado, a teoria e a tática da revolução socialista e da ditadura do proletariado, a teoria da construção da sociedade comunista que evolui para a sua superior e terceira etapa: o maoismo que, no geral, desenvolver a Nova Democracia, a Guerra Popular, a Frente Única Revolucionária, o Socialismo e as Revoluções Culturais Proletárias(2) e 2) a que indicava o caminho burocrático, a do social-imperialismo que desembocava forçosamente na restauração capitalista e na contrarrevolução.

A dura experiência da luta de classes patenteou que para certos comunistas não são os movimentos de emancipação do proletariado, nem as lutas de libertação dos povos e a passagem dos grandes meios de produção para as mãos das massas trabalhadoras o que há de mais importante. Para esses, viver à sombra da guerra final das classes, selando em separado a “paz” com o inimigo, abonando as pérfidas acusações contra a moral dos chefes do proletariado e atribuições sobre a responsabilidade de capitulação, outras vezes apregoando o fim dos embates de classe e conclamando as massas para alinharem-se sob a harmonia do “sufrágio universal” e a dos direitos humanos entre explorados e exploradores, ou a baterem-se sob as denúncias que ocultam cinicamente as razões de todos o sofrimento das massas, sob as teorias que saúdam o fim da História, o encarceramento da ciência, o ressuscitar de todas as doutrinas reacionárias com os favores que dá decorrem, eis o que de mais importante pode existir para os oportunistas e revisionistas.

Naqueles dias, o Imperialismo empregava todos os esforços ambicionando o momento tão sonhado de exercer o controle absoluto sob o modo de pensar no mundo. Mas para que o Imperialismo e seus lacaios lograssem lançar confusões sobre os avanços na luta de emancipação do proletariado e as de libertação nacional, não era suficiente que, neste terreno, o poder da sua contrapropaganda fosse superior à potência das máquinas de guerra e ao efetivo do genocidas a seu serviço, em permanente ação, onde quer que houvesse homens para explorar e populações inteiras que pudessem ser massacradas.

Para que tudo parecesse se curvar ante a organização mundial dos potentados e consagrada a crença do Imperium definitivo, decantado pelos mais sanguinários saqueadores dos povos em todas épocas, seria necessário destruir inteiramente o proletariado revolucionário, o que equivale a tentar tampar o sol ou abolir a matéria. A Rádio seguia anunciando o mobilizar das massas, a reconstituição do Partido no plano internacional, o combate ao revisionismo, a pausada leitura dos artigos teóricos que expunham os princípios do movimento de emancipação do proletariado, a tática de revolução proletária, a da sua ditadura, os rumos da construção da sociedade comunista, além das notícias sobre a grande rebelião dos povos na forma de guerra popular; enfim, quando prenunciava a narrativa da teoria e da prática das tormentas proferindo o inconfundível chamamento: “Camaradas e amigos:

Ninguém, nem o mais sofisticado anticomunismo, especializado em falsear o marxismo-leninismo, encontrou recursos para desmentir e, muito menos, calar a realidade dos primeiros dias do socialismo na China e da Grande Revolução Cultural Proletária. As redes de comunicação do Imperialismo e do social-imperialismo eram incapazes de conter a mensagem da revolução das massas na Ásia, África e América Latina. Em todos os países, o proletariado começava a entender que havia um novo timoneiro no movimento comunista internacional, que a revolução dera um passo à frente, e que tampouco Stalin havia corrompido o Partido e o Poder dos sovietes para oprimir o povo, como fazia crer Kruschov traidor.

II

Desde o X Congresso do PCCh (1973), dias em que a contrarrevolução aliada aos revanchistas anunciava o retorno dos velhos mandarins, o Imperialismo imaginou ter selado em definitivo a sorte do Partido, seja na China, no sempre preocupante território que ainda chamava URSS, e em todo o Terceiro Mundo onde despontavam contingentes dos mais avançados quadros do proletariado revolucionário.

Quando finalmente nos dias de agosto de 1973, os kruschov’s chineses e traidores de diferente estirpes (entre eles, os falsos maoistas) ocuparam vários postos destinados aos comunistas durante o X Congresso, ouviram e proclamaram os informes odiosos lançados contra a primeira fase da GRCP, acompanharam de elogiosas considerações à economia chinesa, ao que consideravam “os novos progressos políticos e econômicos da China”, então os cargos usurpados, o regozijo dos contrarrevolucionários, faziam antever o fim próximo da Primeira Grande Revolução Cultural Proletária e de toda uma época de revoluções. Eram os dias da contraofensiva do Imperialismo.

Durante três anos resistiu a revolução chinesa. Visitas oficiais e extra-oficiais de chefes dos governos imperialistas e de credenciados do capital financeiro, destacando-se as do imperialismo ianque, eram acolhidas constantemente pela ala direita do governo chinês. Tudo fazia crer que se partiam os elos da revolução mundial e as esperanças das revoluções de libertação nacional em vários pontos do mundo. Em 9 de setembro de 1976 falece o Presidente Mao Tsetung. De pronto, desapareceram os cronistas que chegavam costumeiramente à China, principalmente aqueles que tanto se encantavam com o que lhe assopravam aos ouvidos os dirigentes da “revolução cultural sem excessos”.

O mar de sangue não tardou. Na noite de 6 de outubro, Hua Kuo-feng, primeiro-ministro (ainda não era presidente do Partido), lidera um golpe de Estado. Desde o início, as mais violentas ações colheram a camarada Chiang Ching(3) e os maoistas. Calaram-se todos os editores progressistas, as personalidades democráticas, notadamente os maiores e menores expoentes dos direitos humanos do capital. A esses se juntaram as instituições internacionais “mantenedoras da paz e das liberdades humanas” (à frente a United Nations — ONU, com seus órgãos especiais e agências, subsidiárias etc.), firmando o grande pacto da omissão e do crime. Os dirigentes oportunistas que, até então, veneravam o “Pensamento Mao Tsetung”, silenciaram sobre a eliminação física de milhares e milhares de quadros do proletariado revolucionário e se perfilaram sob as ordens da restauração capitalista.

Hoje, o Imperialismo administra a escravidão assalariada como ninguém logrou fazer e, parece, nada impede o morticínio, a aplicação sofisticada dos Três Tudo do fascismo japonês: “queimar tudo, roubar tudo, matar a todos”. Para exercer a mais cruel censura de todos os tempos, o inimigo busca espionar, deter e anular a informação de classe e levar às últimas consequências o monopólio da comunicação, sofisticando sua tecnologia, o que por outro lado ele próprio não pode deixar de processar e “popularizar”. Mas não é o domínio da técnica que decide o caráter e a vitória da revolução, não é o território invadido e as panelas quebradas que interrompem o processo revolucionário, porque a revolução é o resultado necessário das leis da sociedade de classes, é a derrota de um regime, do Estado e das classes caducas, o destroçar do velho, “no mais fundamental e básico” (Lenin), dando lugar a um novo regime, a uma nova organização de Poder e a nova classe dirigente.

É preciso reconhecer, o Presidente Mao foi o Lenin que não teve um Stalin para lhe suceder imediatamente. Disso o inimigo pensou ter se livrado. Mas que escolha pensa ter feito o Imperialismo? O inimigo está enredado na armadilha da história da luta de classes. É certo que, a curto e a médio prazo, não foi possível dispor de um novo Stalin, mas em todo caso haverá muitos Gonzalos, quantos forem necessários, comprova o materialismo histórico. E isso o inimigo não pode impedir. Quem, em breve, terá o anticomunismo (do mais sincero ao mais dissimulado discurso “marxista”) que enfrentar abertamente? Apenas um punhado de dirigentes que o inimigo, quando infiltrado, pode isolar e destruir? Deverá acrescentar ao rol de seus inimigos apenas as novas gerações de quadros e militantes do Partido — que vai se reconstituindo em diversos países — , estudiosas e temperadas na luta de classes? O revisionismo terá que enfrentar ambos, além das massas revolucionárias porque compete também a elas, em nossos dias e mais do que nunca, compreender os princípios e a essência do maoismo. Hoje, as massas, desde os camponeses, começam a lutar contra o oportunismo, repelindo a organização, orientação, discursos apaziguadores e a conciliação de classes, exigindo dos dirigentes revolucionários a orientação de medidas igual revolucionárias em cada avanço que o movimento de massas descreve, porque essa é uma revolução de massas majoritárias, porque a revolução é a tendência principal da história, porque os grandes embates se aproximam. E isso também o inimigo não pode impedir.

III

O velho Comitê Central, oriundo do grupo da CNOP e responsável pelo Manifesto-Programa de 1962 e que retomou o nome de Partido Comunista do Brasil (foi destruído pela repressão durante a guerrilha do Araguaia e no “massacre da Lapa”, convertendo-se seus sobreviventes no mais completo oportunismo, capitulando da guerra popular), fez publicar em A Classe Operária, quando ainda circulava legalmente, alguns dos Nove Comentários do PCCh. A dura clandestinidade imposta ao instaurar-se a contrarrevolução em abril de 1964, todavia, subtraiu também os recursos de impressão gráfica no Partido (não se tornando duvidoso dizer, principalmente o seu tênue vínculo com as massas), enquanto que a produção doméstica dos mimeógrafos tornava volumosos os textos impressos. Foi nessas condições, e há poucos meses da VI Conferência Nacional Extraordinária, de 1966, que o CC editou um dos mais completos e esclarecedores artigos naquela época: O Falso Comunismo de Kruschov e Suas Lições Histórias, e publicou no período outros dois, se tanto.

A violenta perseguição promovida aos comunistas, de forma preventiva e seletiva (o gerenciamento militar no Brasil, à época, era considerado o quarto mais violento do mundo, em tempo de paz), somadas às drásticas medidas administrativas que tanto caracterizavam a respostas do conjunto do CC às lutas internas no Partido, realmente trouxeram nos primeiros dias sucessivos prejuízos às forças revolucionárias, consequentemente aos seus recursos ideológicos, políticos, organizativos e materiais.

A perda de contatos diretos com a revolução chinesa, via CC, acrescentou maiores dificuldades aos quadros intermediários rebeldes (alguns haviam cursado a escola de quadros intermediários na China do Presidente Mao) que foram obrigados a manter uma organização própria, sem contudo abrir mão do nome do Partido, para tanto, adotando uma designação que a descaracterizasse como submissa à qualquer das duas direções oportunistas que falavam em nome dos comunistas: o grupo prestista, Partido Comunista Brasileiro, e o grupo oriundo da CNOP, o que retomou a sigla do Partido Comunista do Brasil. O aparecimento (ao final da década de 60) de um círculo de estudos e de divulgação das obras do Presidente Mao, que imediatamente veio a integrar a organização dos quadros rebeldes, permitiu ampliar consideravelmente a quantidade de títulos e de exemplares das obras maoistas, a partir das seguidas aquisições de edições estrangeiras em língua portuguesa ou espanhola, além de outras publicações chinesas, em particular a revista China Ilustrada, facilitando o acesso a mais farta literatura da primeira fase da Grande Revolução Cultural Proletária. As mesmas fontes, todavia, jamais conseguiram reunir os Nove Comentários, enquanto que os disponíveis foram intensamente divulgados, tanto quando verdadeiramente tornou possível fazê-lo em seu curto período de existência.

Portanto, é provável que, naquelas circunstâncias, a ala vermelha do Partido estivesse inteiramente impedida de reproduzir, na íntegra, entre as prioridades de seus planos editoriais, os Nove Comentários, cabendo apenas mencionar trechos desses mesmos materiais nas suas críticas (ao social-imperialismo, ao grupo prestista, ao velho CC, aos dirigentes oportunistas de maior expressão em outros países, etc.), e editar os títulos disponíveis em separado.

A questão é que uma leitura atenta da Carta e dos Nove Comentários deixa claro que esses títulos não se limitaram a criar grande desconforto aos apaniguados dirigentes do social-imperialismo russo. Artigos dessa natureza tinham a propriedade de corroer e danificar progressivamente muitas das organizações que juravam ser as mais “ferrenhas inimigos do revisionismo”, veio provar a renúncia de inúmeros partidos da “linha chinesa” na América Latina, algum tempo depois.

Cedo, a camarilha que se mantinha na direção do Partido percebeu a grande enrascada em que havia se metido ao apoiar a linha do presidente Mao, e manobrou em direção ao grupo de Enver Hoxha visando assegurar seu futuro. Assim, o fenômeno do silêncio que, criminosamente, por várias décadas pairou sobre a Carta e os Nove Comentários, bem como sobre tantos documentos de inestimável valor, acabava por incorporar novos e surpreendentes adeptos. Em nosso país, os indébitos apropriadores do nome do Partido (aquele que, mais ainda, passada a repressão, ao longo de 20 anos serviram-se avidamente da literatura legal), igualmente se recusaram a retomar a luta contra o revisionismo, mesmo porque, coincidentemente, durante um tempo considerável não caberia publicar o material do qual o Sr. Enver Hoxha copiou frases inteiras e as divulgou como se fossem suas, prática seguida com a mesma esperteza pelos dirigentes do revisionismo atuantes em outras áreas.(4)

O fato é que a mais completa literatura marxista, da literatura política clássica, passando pelas de ficção, como o realismo socialista, ou mesmo novos documentos sobre a história da luta de classes, no que havia de mais importante na reconstituição do movimento comunista internacional, tudo encontrava-se disponível nos arquivos chineses e, muitos deles, até nos arquivos albaneses, para não dizer, principalmente nos arquivos do PCUS. As correntes que (no Brasil) desfrutavam do apoio desses três partidos que se encontravam no poder, tinham acesso aos mais imprescindíveis documentos e poderiam trazê-los, editados em língua portuguesa, às toneladas, sem dúvida (ainda que a sua distribuição, sendo clandestina, permanecesse restrita), porque divulgações esses grupos sempre fizeram, segundo seus interesses.

Na “esquerda jovem”, com seu trotskismo facilmente identificável, o maoismo é um episódio já passado e a restauração do capitalismo na China nada mais foi que um amontoado de erros (os quais não cabe lembrar), cujas pegadas os revolucionários das colônias e semicolônias seguiram inadvertidamente em razão do simples fato que são seguidistas por natureza. Assim, põem um fim no que denominam de “tendência chinesa”, para acentuar o mofo “tecnologizado” da conciliação na enunciação dos princípios, opondo-se à burguesia em palavras, mas renunciando à prática de revolução. Para esses críticos, certamente não restou um só comunista em toda a China, em toda a Rússia, ou no seu próprio país.

É preciso conhecer o poder de fogo do revisionismo, na sua forma clássica ou nas diferentes tipificações encontradas, em particular compreender a sua capacidade de exercer a censura, tal como aconteceu e acontece no movimento comunista internacional.

Já durante o famigerado AI-5, as livrarias estavam repletas de “curiosidades marxistas”, de “literatura crítica”. Contra quem se dirigia a crítica, senão que contra o proletariado revolucionário? Quem ajudou a ressuscitar Gramsci, Trotsky, toda a literatura e “arte” anticomunista, toda a intriga, as mais sórdidas acusações que levassem a comparar Hitler a Stalin, como fazem hoje, distribuiu quadros nos mais diversos meios de comunicação do Imperialismo, nas organizações patronais e associações amarelas, em colaboração com os projetos do Imperialismo, “depressa, antes que a direita o faça”?

A propósito, quando foram publicadas as mais importantes obras do marxismo em nosso país? No “período da legalidade” (para empregar uma expressão tão ao gosto dos revisionistas), ou no período da ditadura do proletariado na URSS (como seguimos chamando), ao tempo em que ela desfrutava de um imenso prestígio entre os povos e atraía a simpatia dos setores verdadeiramente progressistas e revolucionários? Trata-se do “período da legalidade” ou dos momentos em que o próprio Partido em nosso país exerceu uma grande influência nas lutas do povo, no tempo em que os comunistas significavam para as massas gente combativa, sincera, honrada, que jamais se apartava dos explorados e oprimidos? Numa palavra (e sem pretensão de avaliar quaisquer dos momentos da produção literária dos comitês centrais oportunistas), foi e continua sendo publicado o que sempre se comprovou conveniente publicar, apesar das dificuldades. Do contrário, como sonegar obras marxistas (sonegar, por exemplo, precisamente as mesmas que, na época de Stalin, de forma tão prestimosa os carreiristas editavam) e desdizer o marxismo?

Com respeito à Carta e aos Nove Comentários, é oportuno lembrar, esses textos guardam outros significados igualmente preciosos, que são o desvendar dos crimes dos revisionistas perpetrados contra o movimentos comunista internacional, o desmascarar dos atos que suscitam a fúria dos povos que lutam pela sua libertação, a demonstração de como o Presidente Mao ousou enfrentar os criminosos que usurparam a direção daquela que, até então, era a mais renomada academia do marxismo, derrotando fragorosamente os teóricos da conciliação de classes, até que finalmente se desenvolveu a ponto de retomar e erguer a bandeira da revolução proletária, devenindo-se em maoismo.(5)

Reunir a Carta dos 25 Pontos e os Nove Comentários numa única edição e divulgá-los entre os contingentes dos mais aguerridos militantes dos movimentos populares de nosso País é uma façanha que somente hoje, aos estudiosos do marxismo, no desenvolver da nova onda da revolução proletária mundial, compete realizar. Da mesma forma que é inteiramente inútil vasculhar a história sem buscar o seu desenrolar em bases concretas, sem massas, sem analisar o terreno em que elas se produzem e de como se desenvolver o melhor das suas tradições, a compreensão de combater resoluta e impiedosamente o revisionismo é justa, porém esse alcance somente se materializa compreendendo, ao mesmo tempo, que o proletariado revolucionário, armado de sua teoria, é o único que pode vencer e destruir o monstro fascista, a polícia política do Imperialismo, do qual o revisionismo faz parte desde o início do século passado.

Tal como os clássicos de uma maneira geral, a Carta dos 25 Pontos e os Nove Comentários se elevam no mar revolto tendo o maoismo como grande timoneiro, porque o seu estudo significa ir ao encontro da História, algumas vezes descobrir, outras, recapitular suas lições, seguindo sempre em frente com as massas; é ter o privilégio de encarar as experiências de todas as fases do marxismo sistematizadas no calor dos últimos combates da primeira onda da revolução proletária mundial (1848 – 1976) e atrever-se a conviver com os conhecimentos científico adquiridos no longo e luminoso sendeiro da luta de classes, da luta pela produção e pela experimentação científica e que prosseguem na crista da nova onda que se agiganta no mundo.

Nesse aspecto, vale lembrar, até um pouco mais adiante, nos limites do IX Congresso do PCCh, é possível entender, hoje, a trajetória do maoismo sem os aportes do Presidente Gonzalo. Mas o “elo perdido” da revolução de nossos dias, o maoismo, o proletariado revolucionário do Peru, o seu partido e sua chefatura, restituíram e ofereceram ao mundo no momento mais trágico da ofensiva imperialista. Foi precisamente o quartel-general do proletariado do Peru, sob a direção do Presidente Gonzalo, quem reconheceu (e demonstrou cientificamente com a Guerra Popular) ter o pensamento mao-tsetung, o pensamento guia da revolução na China, devenido em maoismo, ou seja, reconheceu a sua “vigência universal e, em consequência, sua condição de terceira, nova e superior etapa da ideologia do proletariado internacional: o marxismo-leninismo-maoismo, principalmente o maoismo, que adotamos, defendemos e aplicamos” (Presidente Gonzalo – GP 1: 396). Essa inestimável contribuição à revolução mundial tornou-se realizável e decisiva, em razão da tenaz luta pela aplicação justa e criadora do marxismo na revolução peruana, o que erigiu, em decorrência, o Pensamento Gonzalo.(6)

É sintomático que as condições concretas da revolução no Peru tenham se elevado à fase superior de luta. “As revoluções geram um pensamento que as guia, resultado da aplicação da verdade universal da ideologia do proletariado internacional às condições concretas de cada revolução”, pensamento que se identifica com o nome de quem os plasmou, no plano teórico e prático. A parte mais desenvolvida do Pensamento Gonzalo encontra-se na linha política geral do Partido. Longe de (à maneira dos Napoleões, figuras tão comuns na “esquerda”) arvorar-se em grande marxista, autodenominar-se herdeiro de algum chefe máximo do proletariado, de aceitar comendar feitas de frivolidades e imposturas conferidas por amigos pessoais, o Presidente Gonzalo fundamentou admiravelmente o surgimento da terceira e superior etapa do marxismo, o maoismo, compreendeu profundamente o significado das revolução peruana, a questão do capitalismo burocrático, a necessidade da reconstituição do Partido, a questão fundamental: a conquista do Poder (no Peru, inexoravelmente ligado ao Poder do proletariado no plano internacional) e defendê-lo com Guerra Popular. O Pensamento Gonzalo é resultado dos êxitos revolucionários de criar e desenvolver concentricamente os três instrumentos da revolução (Partido, a Frente Única e o EGP, o exército de novo tipo), das justas linha política geral e militar, das bases de apoio (que formam a República Popular de Nova Democracia) com suas direções, bem como da forja na luta de duas linhas, com a qual travou decisivos combates contra os representantes nacionais do oportunismo e revisionismo, incluindo os planos de liquidacionismo que inevitavelmente os acompanha.

Com efeito, como se referia Lenin, no momento em que a revolução se aprofunda no mundo, e sem a mínima necessidade de conciliação na enunciação dos princípios, surgem novas situações que a revolução proletária deve enfrentar e resolver, no plano teórico e prático, no que muitos concordam, cada qual segundo suas conveniências. Inúmeros grupos, no passado, cerraram fileiras em torno das posições maoistas quando o proletariado resistia no Poder; desprezaram-nas abertamente tão logo o Presidente Mao faleceu e teve início o extermínio político, e mesmo físico, dos maoistas. Cargos e sinecuras que lhes propiciam a miserável legalidade burguesa, em seguida, fazem com que os oportunistas dispensem Stalin, redescobrindo “erros”, ato seguinte proclamando “ir até Lenin, apenas”, o que, de forma alguma, se atrevem a levar à prática, a começar porque é impossível ir até Lenin apenas, visto que não há outro modo de concordar com a ditadura do proletariado sem atrever-se a construí-la e, muito menos, sem dar-lhe prosseguimento.(7)

Em que pese o Presidente Mao ter, em seu país, fundado o Partido Comunista da China, o Exército Vermelho de Operários e Camponeses, guiado seu povo à libertação, estabelecido o Poder da Frente Única (a Nova Democracia, ditadura conjunta das classes revolucionárias sob a hegemonia do proletariado) e erigido uma nova economia capaz de arrancar o feudalismo e o semifeudalismo, ou que sob sua direção a China tenha se transformado numa grande potência de homens livres, foram os critérios científicos, a luta revolucionária e a luta pela produção (de tal forma, conduzidas e desenvolvidas pelo Presidente Mao) que resultaram em grandes aportes ao Marxismo-Leninismo. Assim sendo, o Presidente Mao desenvolveu o caminho do cerco da cidade pelo campo, desenvolveu a teoria da guerra popular (a teoria militar do proletariado, “do poderio do povo armado”), a teoria do Exército Popular, a teoria da Nova Democracia rumo ao socialismo, a do Novo Salto Adiante, estabeleceu as premissas da luta contra o revisionismo moderno e contemporâneo, e conduziu a Primeira Grande Revolução Cultural Proletária do mundo, “continuação da revolução socialista sob a ditadura do proletariado”, observa o Presidente Gonzalo.

Entre os ensinamentos universais trazidos pelo proletariado chinês e seu pensamento-guia, coube ao Presidente Mao desenvolver a lei que é a medida da dialética, a contradição. Na Economia Política do proletariado revolucionário , aponta o Presidente Gonzalo, a dialética foi aplicada admiravelmente pelo Presidente Mao, desenvolvendo a ideia leninista da política como expressão concentrada da economia, estabelecendo que a política é o mando e o trabalho político é a linha vital do trabalho econômico, o que permitiu rechaçar as teses revisionistas de tudo transformar numa simples política econômica. Ainda em economia, o Presidente Mao desenvolveu a teoria do capitalismo burocrático e a economia política do socialismo, desde as Bases de Apoio, assim como a questão da objetividade e subjetividade durante o socialismo. No plano do socialismo científico, desenvolveu a teoria da análise de classes, da violência revolucionária e, definitivamente, a questão da tomada do Poder nas nações oprimidas. O Presidente Mao retomou a questão da luta de classes sob o socialismo, as possibilidades de restauração capitalista e a Grande Revolução Cultural Proletária. No desenvolvimento da teoria marxista do Estado (dos três tipos de ditadura), envolvendo a questão das Bases de Apoio, e da República Popular de Nova Democracia (nova política, nova economia e nova cultura), cristalizando-se o seu sistema de Estado e sistema de Governo, enfim.

Foi dessa forma que o maoismo se habilitou a recuperar e a desenvolver os princípios da teoria revolucionária do proletariado, a enunciação dos problemas fundamentais da revolução, a aplicação e o aprofundamento do marxismo-leninismo, que por vários anos, habilmente, os revisionistas haviam alterado como forma de persuadir considerável parte da vanguarda proletária a trilha o caminho traçado pela burguesia e a não aceitar o confronto aberto de ideias. O que então fundamental do maoismo? Responde o Presidente Gonzalo: “O fundamental do maoismo é o Poder. O Poder para o proletariado, o Poder para a ditadura do proletariado, Poder baseado numa força armada dirigida pelo Partido Comunista. Mais explicitamente: 1) o Poder sob a direção do proletariado na revolução democrática; 2) o Poder para a ditadura do proletariado, nas revoluções socialistas e culturais; 3) o Poder baseado numa força armada dirigida pelo Partido Comunista, conquistado e defendido mediante a Guerra Popular”.

IV

Em que ambiente produziram-se a Carta e os Nove Comentários entre 14 de junho de 1963 a 21 de novembro de 1964? Os povos, dizia a burguesia, “estavam esgotados pela guerra e a Europa clamava pela sua reconstrução”. Mas o proletariado e as massas trabalhadoras em geral clamavam principalmente por uma reconstrução revolucionária e não foram os combatentes organizados na resistência, nos mais diversos pontos da Europa, os que depuseram as armas por livre e espontânea vontade, mas fizeram-no quando forçados pelos oportunistas que haviam galgado postos na direção na resistência que, ato seguinte, se venderam em troca de altos cargos nos governos de conciliação, tal como os instruíra personalidades como Togliatti.

À época da invasão das tropas nazistas ao território soviético, um grande número de quadros revolucionários foi eliminado, o que favoreceu enormemente o aparecimento de elites oportunistas na URSS que rapidamente se assenhoraram dos aparelhos do Partido e do Estado, disseminando o indiferentismo e a condenação a todo tipo de guerra, incluindo às guerras justas. Floresceram o intelectualismo, o economicismo de reconstrução nacional e o apoliticismo. O inimigo galgou paulatinamente posições no aparelho de Estado e no Partido, e exerceu sua política insidiosa, isolando e destruindo os quadros revolucionários. A escola de quadros tomou ares escolásticos e adotou o estilo acadêmico burguês, o que também facilitou o rápido cerco aos velhos bolcheviques e ao próprio camarada Stalin. Em vários pronunciamentos, Stalin já havia se manifestado em relação aos perigos de degeneração do Partido e restauração do capitalismo na URSS. Seus últimos embates foram com a instituição dos chamados “Julgamentos de honra” e a crítica ao “Manual de Economia Política”, em que atacou duramente o pensamento anti-marxista que se assenhorava da produção teórica no país.

A consigna da luta pela manutenção da paz, ou seja, os esforços dos partidos comunistas que deveriam ser carreados para a luta pela não agressão à URSS, e pelo seu pronto restabelecimento econômico, igualmente era interpretada pelas correntes oportunistas que assumiam o poder nos partidos comunistas dos diversos países como mudança estratégica que possibilita a renúncia à luta pelo Poder.

Imediatamente após o desaparecimento do camarada Stalin, sucessivos e terríveis golpes atingiram os quadros do Partido e o aparelho de Estado, com a participação de tecnoburocratas que haviam formado uma classe pequeno-burguesa estrategicamente fortalecida em todo território da URSS. Em diversos países, vários dirigentes respondiam afirmativamente aos golpes da nova burguesia “comandada” por Kruschov traidor, em troca de apoio material e de prestígio político do PCUS.

Dois meses após o repugnante pronunciamento da camarilha de Kruschov, durante o XX Congresso do PCUS, repleto de infâmias e de difamações contra a memória do camarada Stalin – das “teses” sobre o fim da guerra imperialista e de que era possível a passagem para o socialismo pela via pacífica – em abril de 1956, o PCCh fazia publicado no Diário do Povo a sua primeira advertência ao PCUS e, em dezembro, retoma publicamente à questão. Desde então, sucederam-se cartas ao PCUS e pronunciamentos internos, dentre eles o notável Sobre o Tratamento Correto das Contradições no Seio do Povo, 27 de fevereiro de 1957, as campanhas de retificação e o exercício da autocrítica que vão apontando o curso do embate mortal entre o PCCh, sob a direção do Presidente Mao, e o revisionismo contemporâneo.

“Viva o Leninismo”, publicado em abril de 1960, pelo PCCh, retirava todas as dúvidas sobre o definitivo antagonismo entre os dois partidos. Na conferência dos 81 Partidos, em novembro de 1960, o PCUS teve que acatar inúmeras correções apontadas pelo PCCh. Mas em novembro mesmo, o PCUS volta à carga “corrigindo” a Declaração de 1960.

Em 1959, no Tibet, os senhores feudais fizeram um levante, mas o governo chinês, apoiado nas massas, sufocou o plano de conotações imperialistas e Gyatso(8) refugiou-se na Índia. Em seguida, o governo indiano provocou um conflito fronteiriço com a China. Em 1962, a Índia bombardeia o Tibet e sua infantaria avança mais ainda sobre as fronteiras da China, no que é rechaçada inapelavelmente. Kruschov censura os chineses “por baterem-se em defesa e territórios montanhosos sem valor”.

Por vários meses, em 1960, a China foi vítima de grandes catástrofes que comprometeram mais de 110 milhões de hectares cultivados. A URSS rompe unilateralmente o acordo de colaboração técnica com a China.

Em junho de 1960, dá-se o encontro da Federação Sindical Mundial - FSM, em Pekim, Os revisionistas passam a minar a gloriosa FSM, o que favorece enormemente a Confederação Internacional das Organizações do Sindicalismo Livre – CIOLs, até então, uma insignificante oposição financiada pelos magnatas do USA em aliança com a burguesia alemã e inglesa, fundamentalmente.

No XXII Congresso do PCUS, outubro de 1961, Kruschov lança mais duas teses reacionárias, seus Dois Todos (o Partido de Todo o Povo e O Estado de Todo o Povo), além de reintroduzir as Três Pacíficas: tomada do poder pela via pacífica, coexistência pacífica e emulação pacífica. A teoria maior do revisionismo moderno se fundamenta, portanto, nas linhas conhecidas como “As Três Pacíficas e os Dois Todos”, assim sistematizadas pelo Presidente Mao como sendo a essência do revisionismo moderno.

Logo após o falecimento de Stalin, uma junta governativa chefiada por Nikita Kruschov apoderou-se do Estado e do PCUS. Essa junta representava a facção dirigente da burguesia de Estado que havia crescido como lodo na economia, política e ideologia soviéticas, cujo propósito era o de restaurar o capitalismo na URSS. Publicamente, essa facção teve Kruschov (administração: 1953 a 1964) como seu representante legal e maior. Com ele, outros tantos quadros contrarrevolucionários, traidores que haviam ascendido à direção do Partido, mantiveram-se despercebidos, conservaram falsa reputação de gente fiel ao marxismo-leninismo e à chefatura do camarada Stalin.

Esse grupo traidor se encontrava infiltrado no aparelho do Partido e do Estado, desde há muito, suficientemente fortalecido, e controlava a estrutura da sociedade soviética (necessariamente exercia o controle sobre o movimento comunista internacional, com fortes vínculos nos mais diferentes e prestigiados partidos no mundo inteiro), a ponto de, no XX Congresso do PCUS, fevereiro de 1956, declarar a extinção da ditadura do proletariado. E o fez primeiramente enlameando a figura do camarada Stalin, por ser ele (até então, mesmo após alguns anos do seu falecimento) o dirigente proletário mais próximo e de maior prestígio entre as massas.

A campanha de intrigas e de difamações, que a ânsia própria dos pérfidos e detratores tratava de divulgar em fevereiro daquele ano, o esperto Nikita dera o singular e burlesco nome de “relatório secreto”. Este foi um dos recursos, sob o invólucro de assuntos internos e confidenciais (afinal, tratava-se do Congresso do PCUS, não de uma Internacional) que assegurou a muitos dos dirigentes dos diversos partidos convidados ao Congresso (incluindo alguns membros do CC do PCB) renunciar à qualquer comentário oficial acerca do comportamento das plenárias, sobre as teses, acerca da estranha ausência de dezenas de velhos bolcheviques, ou a inexplicável omissão centre as mais antigas e destacadas personalidades soviéticas no transcorrer dos trabalhos e, finalmente, sobre o golpe de Estado naqueles dias, ao que não faltaram as ameaçadoras manobras do Exército em plena Praça Vermelha.

Posteriormente à divulgação do relatório Kruschov generalizou-se uma profunda comoção nos quadros dos partidos comunistas em todo o mundo. Um malograr de esperanças e uma crescente lassidão fez-se sentir com a debandada dos velhos militantes, dos intelectuais, e o consequente arrefecimento da luta tomou corpo nas diversas frentes. Outros tantos resistiram à sua maneira e voltaram seu pensamento para a continuidade da revolução com a ideologia e as oportunidades que puderam dispor, desde então e ao longo de suas vidas.

Mas, para muitos, as notícias caíram como uma luva diante de suas pretensões carreiristas.(9)

Mas quem haveria de opor-se aos pareceres dos sábios de Moscou, os que davam consistência teórica ao novo revisionismo? Quem poderia contrariar tais acusações, se aprovadas no Congresso, “demonstradas cientificamente” pelos mais autorizados “peritos e eruditos” da ciência do marxismo? Quem, além disso, poderia contrariar as teses de Nikita aprovadas pelos partidos que viviam sob o regime de democracias populares (muitas das quais se consentiam chamar de: “países socialistas!”), seguidas pelos demais partidos comunistas nas duas Conferências de Moscou?

Pois foram exatamente as tais Conferências de Moscou, de novembro de 1957 e de novembro de 1960 (resultaram nas duas respectivas Declarações), que deveriam avalizar as teses kruschovistas, as primeiras a sofrer inúmeras reformas por propostas do PCCh.

Menos de vinte anos antes da realização do XX Congresso, o proletariado revolucionário da URSS acabava de liquidar internamente os Bukharin, Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Piatakov, Radek, Toukhatchevski, Iakir, Ros, Krestinki, Rosengolz e demais espiões, sabotadores e traidores que promoveram complôs contra Lenin, tentativas de prisão, de aniquilamento físico de Lenin, de Stalin e Sverdlov, e assassinatos de incontáveis quadros com disparos à queima-roupa (entre eles, Sergei Kirov, a 1º de dezembro de 1934) ao tratamento premeditadamente inverso à medicação de que suas vítimas necessitavam receber nos hospitais, até sobrevir a morte, como foi o caso de Viacheslav Menjinski (diretor OGPU), em 10 de maio de 1934; Valerian Kuibychev (diretor do Supremo Conselho de Economia Nacional), 25 de janeiro de 1935; Máximo Gorki, 18 de junho de 1936 (também seu filho, Pechkov, 11 de maio de 1934), e tantos outros. Até então, as cidades da URSS viviam em chamas. Explosões de fábricas, de centros de abastecimento, mudanças não autorizadas de planos econômicos, desvio de víveres, segredos de Estado violados e entregues às potências capitalistas, montagem de redes de sabotagem e de informações a Gestapo nascente, aos serviços ingleses, ianques, franceses etc. Novas ofensivas terroristas sucederam-se após o golpe de Estado nazista, em 1933, mas o Bloco das Direitas e dos trotskystas se formara um ano antes, enquanto outras organizações contrarrevolucionárias seguiam fundindo-se, algumas vezes atuando de forma paralela, segundo as ordens do Imperialismo.(10)

Porém, data da década de 20 a proliferação dos mais terríveis acordos e tratados secretos que se voltaram para destruir o cérebro dos movimentos revolucionários proletários e de libertação nacional mais avançados. Assim, corporações se fundiam e se desmembravam, tratados de domínio público eram anulados de imediato e substituídos por acordos lesivos aos povos. As potências consentiam ingerências internas e mesmo invasões de tropas estrangeiras em cujo território soprasse a mais tênue brisa de liberdade, seguidas de testes das mais terríveis armas químicas e biológicas que contrariavam os mais diversos acordos de paz e não agressão. Dessa forma, fontes de matérias-primas e territórios inteiros eram permutados, tais como os mais modernos e completos arsenais militares, enquanto que países se transformavam em colônias da noite para o dia. Vivia-se os preparativos da segunda grande guerra de coligações. Os nazistas, os fascistas italianos, japoneses e os imperialistas ianques proclamavam cada um, ser aquele o seu século.

O Poder Soviético, inabalável, fez prosseguir o desenvolvimento da indústria e da agricultura, concluindo antecipadamente o Segundo Plano Quinquenal e obtendo a coletivização na agricultura. São liquidados os grandes grupos contrarrevolucionários que operavam internamente e promovida uma ampla democracia para as massas trabalhadoras. A invasão da URSS é respondida com a Guerra Patriótica, que uniu milhões de trabalhadores, proletários ou não.

Ao longo de quatro anos, o Poder Soviético deteve as hordas hitlerianas, pondo-as a retroceder. Privou a Wermacht dos meios que permitiam dar prosseguimento às atrocidades imperialistas. Sob o comando do marechalíssimo Stalin, as tropas da Iugoslávia, Polônia, Albânia e Tchecoslováquia (e depois das insurreições populares na Bulgária e na Romênia), foi garantida a vitória das democracias populares e nenhuma outra tropa de choque do Imperialismo ousou desafiar aqueles povos, num confronto aberto, tornando possível muitos anos de liberdade na Europa, de desenvolvimento das condições materiais, técnicas e culturais de existência dos povos, enquanto que, revertidas as expectativas imperialistas, a URSS erguia-se sobre os escombros e 22 milhões de mortos. O Exército Vermelho havia assegurado a libertação de grande parte da Europa e a constituição de várias repúblicas democráticas. Porém, a guerra contra o proletariado revolucionário não cessara. Ao contrário, o Imperialismo empenhou-se sempre mais em desmoralizar e assassinar seletivamente os quadros revolucionários proletários e seus aliados, substituindo-os por impostores para falsificar e suprimir as experiências revolucionárias, para destruir as organizações do Partido, fazer cair no esquecimento o programa geral da revolução e desfigurar o caráter de classe do Poder proletário até torná-lo irreconhecível.

Sucederam-se organizações e reorganizações, especializações e departamentizações dos serviços de sabotagem e contrapropaganda (como a Central Intelligence AgencyCIA, organizada em 1947, em virtude da Lei de Segurança Nacional; o Intelligence Service da Inglaterra; a Confederação Internacional dos Sindicatos Livres – CIOLs, fundada em 1949 etc, as organizações internacionais do “trabalho”, de sabotagem, de espionagem, as “humanitárias”, as que representam diretamente blocos de agressão, os programas e planos contrarrevolucionários que implantaram teorias e doutrinas da moda tais como o americanismo, o desenvolvimentismo, enfim a “guerra fria”; as linhas da Quinta Estratégia do Imperialismo ianque, o “foquismo”, o militarismo de “esquerda”, a “linha pacífica e democrática”, etc., etc, ao que se juntaram o clericalismo das modalidades cristã, islâmica, budista, espiritualista etc., as teorias “científicas” da geopolítica (o etnocentrismo, o geneticismo, o neo-malthusianismo, neo-hegelianismo, o determinismo tecnocrático na economia, o “ambientalismo”, os “espaços vitais” dos: Ocidente; Atlântico Norte, Atlântico Sul, Cone Sul, América do Sul e Caribe etc., etc., do conceito binário do “está a nosso favor ou contra nós”, da contrarrevolução exportada que diz combater o “narcoterrorismo”, dos conceitos humilhantes e hipócritas de “cidadania” dos oprimidos, dos “direitos humanos”, “governo saído de eleições” da exploração do homem pelo homem, da “ética” sem honra, “globalização”, “neoliberalismo”, etc). Desde então, tudo o que alimenta os sacerdotes da reação e do revisionismo, todos os estilos do entreguismo, do capitulacionismo, do liquidacionismo etc., foram desenvolvidos e levados às últimas consequências da decadência e da destruição total do ser humano para preservar o Imperialismo em seus estertores, mantendo-o a poder de drogas e de sangue.

Ao final da 2º Guerra Mundial, a URSS revolucionária e os partidos comunistas alcançaram condições políticas surpreendentes. Vários países se libertaram do jugo do imperialismo e, com exceção dos USA, as demais potências capitalistas saíram bastante debilitadas. Por algum tempo, a burguesia não só fez concessões ao proletariado como decidiu evitar o confronto aberto, preferindo voltar-se para o trabalho de sabotagem e as infiltrações, escolhendo os pontos que apresentavam maior debilidade nas organizações comunistas. À direção da resistência na Europa havia entregue as armas nos primeiros dias do cessar fogo. Em troca, a grande burguesia europeia deu à aristocracia operária o Estado de Bem-Estar Social, o browderismo, o Plano Marshall (Guerra Fria: entre 1948 a 1952, os USA injetam 13 bilhões de dólares na reativação das corporações monopolistas da Europa, visando associação de capitais e hegemonia ianque) a OTAN etc.

Os planos do Estado de Bem-Estar Social se fundamentam numa teoria reformista destinada a ocultar o caráter antiproletário e antipopular do Estado burguês de nossos dias. Essa expressão surgiu por volta de 1940, e sua “formulação teórica” foi atentamente examinada pelas burguesias da Inglaterra e França, defendida antes da Segunda Guerra Mundial, e retomada na Europa do pós-guerra. Essa teoria buscava convencer a aristocracia operária e setores da pequena-burguesia que o Estado burguês contemporâneo se esforçava para “promover o bem-estar de todos os cidadãos”. Nessas condições, o Estado burguês deixava de ser uma ditadura das classes exploradoras, a “força pública de repressão”, mas, insistindo em ser um organismo acima das classes, colocava em pé de igualdade “ricos” e “pobres”, como na formulação “teológica progressista” que entumecendo as mentes de idealismo oculta a exploração do homem pelo homem e o caráter de classe dessa exploração.

As potências imperialistas, conseguindo criar situações insulares, ao expulsar os “resíduos nocivos” do capitalismo para as colônias e semicolônias, prometiam a prosperidade material, a vigência dos direitos difusos, “liberdades políticas”, “socialização dos bens espirituais” etc. À continuação da política de partilhas do mercado de trabalho e territórios nacionais, por outros meios, todavia, fez adiar esses projetos demagógicos durante a guerra de coligações. Tais projetos foram retomados a partir de 1946 pelos oportunistas (particularmente os revisionistas), colaborando para que esses planos “humanistas” do Estado burguês os levassem a um socialismo sem revoluções proletárias e que fosse possível finalmente desprezar a Ditadura do Proletariado.

O período relativamente pacífico do pós-guerra, correspondeu ao de maior desenvolvimento, até então, da aristocracia operária e da burocracia sindical, enquanto que a composição social dos partidos sofreu, uma considerável alteração pequeno-burguesa. Vários países europeus aderiram ao sistema de repúblicas democráticas. Apoiando-se na URSS, demonstravam os dirigentes revisionistas das tais “repúblicas democráticas” a fragilidade de suas intenções socialistas e a verdadeira recusa em desenvolver a tarefa fundamental da revolução. As potências como a França, Inglaterra, a parte capitalista da Alemanha e principalmente o USA, esforçaram-se para reconhecer a independência de suas colônias, ao mesmo tempo em que buscavam mantê-las na condição de semicolônias. Nesses países, dava-se a transformação do colonialismo em semicolonialismo.

O Partido Comunista da China igualmente desenvolveu uma grande experiência na democracia das massas, na construção ideológico-política e material do Poder de Novo Tipo, no combate às classes contrarrevolucionárias e seus agentes no interior do Partido e do Estado. Portanto, enquanto a forma principal de organização das massas e do Poder na Rússia foram os sovietes, nas condições particulares da China e de um novo tempo, “a forma principal da luta foi a guerra e a de organização, o exército”, embora não se dispensasse nenhuma outra forma consequente de luta, inclusive “antes do estalar de uma guerra, todas as organizações e lutas têm por finalidade prepará-la (…) Depois do estalido de uma guerra, todas as organizações e lutas se coordenam de modo direto ou indireto com a guerra” (Presidente Mao, Problemas da Guerra e da Estratégia).

Ao fazer a guerra, simultaneamente, aos senhores do feudalismo, do capital burocrático em sua aliança com as potências imperialistas, ao expulsar o exército japonês, ao aniquilar as forças de Chiang Kai-chek, em nenhum momento deixou o PCCh de dirigir a construção do poder das massas, com seu caráter de classe proletário definido, seja na forma das primeiras bases de apoio, passando pela Revolução de Nova Democracia, ou sob o euro período do Socialismo e da Primeira Grande Revolução Cultural Proletária.

Os fatores objetivos e subjetivos que permitiram o surgimento e consolidação do revisionismo no Poder (do moderno revisionismo e do revisionismo contemporâneo que já se faz passar por maoismo), não são fenômenos de um “desenvolvimento espontâneo”, mas produto da ação articulada do Imperialismo, nas formas que assumem a luta de classes no estágio mais agudo das contradições, do ponto de vista institucional e político. O revisionismo no Poder é a restauração capitalista, dizia o Presidente Mao. E o que há de tão espantoso nisso?

“Quando a humanidade se desfaz em geral de um erro, e aceita uma verdade, uma nova verdade começa a lutar contra as novas ideias errôneas. Essa luta não cessará jamais. Esta é a lei do desenvolvimento da verdade e, desde logo, a lei do desenvolvimento do marxismo”.

Enquanto perdurar a luta de classes, o revisionismo será uma ameaça.

V

No que resultou o aprofundamento do kruschovismo

Lenin ensina que o proletariado revolucionário deve desembaraçar-se das debilidades, da maneira mais radical (precisamente porque se trata de uma revolução e não há outra forma de realizá-la), envidar todos os esforços para construir o Poder a cada passo e. finalmente, derrotar os exploradores e todo o seu mecanismo estatal, assim como instruir, educar, conduzir, infundir confiança, encorajar e disciplinar as massas para a luta implacável, desapiedada e última contra os opressores.

Tudo, absolutamente tudo, deve estar sob influência do proletariado revolucionário, quer seja, do maoismo, da Internacional e do Partido de vanguarda do proletariado de cada país. Somos nós os que vão destruir o Imperialismo, a semifeudalidade, o semicolonialismo; destruir o último opressor em seu derradeiro reduto com a teoria que lhe restar. O proletariado somente se constitui como classe revolucionária e socialista quando procede como vanguarda de todos os trabalhadores e explorados. Para isso, o seu Partido tem que concentrar todos os esforços no sentido de assinalar (e assegurar no trabalho prático) os caminhos e métodos da destruição do inimigo e da construção da Nova Democracia forjando os Três Instrumentos fundamentais da revolução: partido comunista, exército popular e frente única revolucionária.

Da “soberania limitada” à “soberania suprema”

Referindo-se à linha dos renegados da II Internacional, Lenin dizia tratar-se de ... “socialismo em palavras, imperialismo nos atos, transformação do oportunismo em Imperialismo” (Sobre as Tarefas da III Internacional).

Em idêntica forma, os revisionistas “soviéticos” passaram do revisionismo ao social-imperialismo. A grande diferença é que os antigos revisionistas da II Internacional não dispunham do poder de Estado. Aqueles se serviam apenas do Imperialismo (geralmente do seu país, não importa muito), mas não haviam se alçado ao status de dirigentes do Estado e do governo em nenhum país, até mesmo figurando entre os mais ricos. O revisionismo moderno aparece num momento centenas de vezes mais privilegiado (e degradado) da burguesia rentista, a qual serviram os revisionistas iugoslavos, depois os “soviéticos” que, valendo-se do poder de Estado que usurparam e controlando todo o sistema de governo, erigiram o social-imperialismo e, com ele, a sistemática pilhagem e subjugação dos países sob sua influência. O conjunto de relações que os revisionistas modernos estabeleceram, em meio ao qual operavam suas trapaças, evoluiu sempre.

À medida que era garantido o apoio da contrarrevolução na URSS, o revisionismo ampliou seu espaço pelas repúblicas democráticas, retomou as teorias mais nocivas manifestadas pelo oportunismo, ressuscitando os renegados do marxismo, especialmente os bandidos Trotsky e Bukharin, em que Kruschov traidor e seus asseclas foram colher ensinamentos para restaurar o capitalismo na URSS. Simultaneamente, o revisionismo kruschovista atingiu os partidos comunistas em todos os continentes. Com a vitória da contrarrevolução na URSS, ainda sob a administração kruschovista, o revisionismo se uniu ao clericalismo.

Os revisionistas modernos foram mais longe. Sustentando-se numa estrutura, a princípio sólida e independente, de seu país e das “democracias populares”, perverteram-na ao transformá-la em capital burocrático, a partir dos estímulos materiais de consumo, seguindo, por exemplo, o caminho inverso da coletivização gradual, ao invés de colocar sempre mais os grandes meios de produção nas mãos do povo. Simultaneamente, faziam valer as tradicionais leis soviéticas, extremamente severas para com a corrupção, quando se tratava de concorrentes ou de bandos gerados pelo próprio capitalismo ressurgente, em fase de restauração, processo que necessitava ser cunhado com nomes sutis, enganadores, teorias e doutrinas socialistas metafóricas para justificar a contrarrevolução, a ordem fascista hitleriana, ao menos durante o tempo necessário que permitisse destruir os últimos vestígios do poder soviético.(11)

O fato é que, toda vez que um país socialista cai em mãos dos revisionistas, ele transforma-se em Estado social-imperialista (como a ex- União Soviética) ou fica reduzido à condição de país dependente, ou colônia, como a Tchecoslováquia, a República Popular da Mongólia, China a partir do golpe da camarilha tengsiaopinguista (1976), etc.. Sob os governos revisionistas, a ex-URSS transformou o Pacto de Varsóvia e o Conselho de Assistência Econômica Mútua — Comecon (criados no período de So em aparelhagem de dominação política e militar da “comunidade socialista”, convertendo aqueles países em seus mercados, oficinas auxiliares de transformação, pomares, hortas e centros de criação de gado para proceder a profunda e monstruosa exploração de seus povos, com trocas comerciais não equitativas, exportação de capitais, etc.; a pilhagem de recursos e a mais aberta ingerência nos negócios internos dos Estados sobre sua influência, ao que não faltaram a criação de governos fantoches impondo o “princípio feudal de privilégios”.

Dizendo recorrer às armas para enfrentar o Imperialismo, inclusive alegando ter que se antecipar ao adversário, os revisionistas “soviéticos” enveredaram pelo caminho do militarismo. Fizeram acordos militares que serviram apenas para desenvolver a chantagem nuclear contra os povos, como as experiências subterrâneas que, longe de interromper os testes nucleares, o aperfeiçoaram ainda mais.

Os países que se encontravam mais próximos de sua órbita de influência receberam toda a assistência para combater os revolucionários. Assim aconteceu com a Indonésia e com a Índia. Porém isso é o que se sabia até o golpe final na China, desfechado pelos kruchov’s chineses. As relações com determinados grupos “marxistas-leninistas” que diziam apoiar Presidente Mao, na América Latina, trouxeram tão grandes prejuízos ao movimento comunista internacional, a ponto de sonegar importantes informações sobre a ação do social-imperialismo soviético nas revoluções latino-americanas, via Cuba, que somente agora começam a ser desvendadas.

As teorias kruschovistas evoluíram para outras formas mais degeneradas, que a crítica revolucionária alcançará, dessa feita, após a conclusão dos Nove Comentários (mas por eles previstos), como por exemplo, durante a administração Brejnev, quando são criadas inúmeras peças fascistas sob a designação de “doutrina Brejnev”. Chegou-se a formular a teoria da “soberania limitada” fundada na defesa dos “interesses socialistas”. O que vem a ser isso? Proclamavam os revisionistas pós-Kruschov, abertamente, o direito da falsa URSS decidir sobre os destinos de outros países, incluindo-se os das respectivas soberanias, em função da “soberania suprema”, lembravam os camaradas chineses. Deveriam ter usado a expressão de Hitler, “soberania conjunta”. Porém, foram mais longe!

Os revisionistas “soviéticos” chegaram ao ponto de afirmar que a URSS havia transformado a “ditadura do proletariado, de nacional em internacional, capaz de exercer uma influência decisiva sobre a totalidade da política mundial”. E a quem responsabilizaram por isso? Lenin. Porque em “Esboço Preliminar das Teses Sobre a Questão Nacional e Colonial”, para o II Congresso da III Internacional, Lenin havia se referido à... “transformação da ditadura do proletariado, de nacional (quer dizer, existente em um país e incapaz de determinar uma política mundial) em internacional (quer dizer, a ditadura do proletariado de, pelo menos, alguns países avançados e capaz de exercer uma influência decisiva sobre a totalidade da política mundial)”. Mas o que Lenin disse é claro, ou seja, que é preciso se ater ao internacionalismo proletário e trabalhar pela propaganda em favor da revolução mundial do proletariado.

Também criaram a teoria da “divisão internacional do trabalho”. E o que vem a ser? “Cooperação” (foi o nome que deram) “às possibilidades adicionais de amplo aproveitamento da superioridade da divisão internacional do trabalho. Nós podemos comprar a esses países, em produção cada vez maiores, os seus produtos tradicionais - algodão, lã, peles, concentrados minerais de metais não ferrosos, óleos vegetais, fruta, café, nozes de cacau, diversas matérias primas e também produtos acabados”.

Quem vive numa semi-colônia sabe muito bem o que significa “produtos tradicionais”, uma vez que o Imperialismo costuma fixar produções em função das condições naturais de cada país, obrigando-os 2 converter-se em fontes de matérias primas e a permanecer num estágio atrasado de economia.

Uma outra doutrina de Brejnev: “interesses implicados”, afirmava que a frota “soviética” navegaria por toda a parte onde exigissem os Interesses da segurança de seu país. Tais arroubos, semelhantes aos do Imperialismo ianque, já eram encontrados nos discursos dos comandantes em chefes das forças navais.

O camarada Stalin explicava que quando Lenin dizia ser o Imperialismo o “capitalismo agonizante” era porque ele “leva as contradições do capitalismo aos últimos limites, à derradeira fronteira para lá da qual começa a revolução”. O social-imperialismo russo encontrava-se, desde então, assaltado por todas as contradições inerentes ao Imperialismo. Já o Presidente Mao assinalava:

“Os Estados Unidos são um tigre de papel; não creiam nele, é possível traspassá-lo ao primeiro golpe. A União Soviética revisionista também é um tigre de papel”. E o que os camaradas chineses previam é que a entrada de tanques em Praga e em outros países demonstrava que o social-Imperialismo russo estava com os pés enterrados no pântano e que isso pressagiava o seu desmoronamento. Que se passou com a ocupação do Afeganistão pelo social-imperialismo?

A União Soviética era, originariamente, uma união multinacional de Estados socialistas, sob o sistema de Estado federal único, de colaboração fraternal entre os povos. Previa-se, porém, apenas na condição de manter o socialismo, numa base de igualdade e livre consentimento, tal união poderia estabelecer-se, consolidar-se e desenvolver-se. Estados multinacionais capitalistas não resultariam em coisa melhor do que a experiência da Áustria- Hungria. Lenin não deu tréguas jamais às posições reacionárias de Trotsky e as inconsequentes de Rosa Luxemburgo sobre a questão nacional e colonial. Em “Sobre a palavra de ordem dos ‘Estados Unidos da Europa’”, afirmou: “Do ponto de vista das condições econômicas do imperialismo, isto é, da exportação de capitais e da partilha do mundo pelas potências coloniais ‘avançadas’ e ‘civilizadas’, os Estados Unidos da Europa, sob o capitalismo, ou são impossíveis ou são reacionários (…) No capitalismo é impossível o crescimento uniforme do desenvolvimento econômico das diferentes economias e dos diferentes Estados. No capitalismo são impossíveis outros meios de restabelecimento de tempos a tempos do equilíbrio alterado que não sejam as crises na indústria e as guerras na política.”; e “A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo”.

O Pan-eslavismo

O pan-eslavismo é uma invenção do gabinete de São Petersburgo”.

Assim Engels sublinhou a prática dos velhos czares, os que se serviam desse malabarismo para preparar a guerra como última tábua de salvação do czarismo e da reação russa.

No período em que foram publicados os Nove Comentários, já se previa a desagregação da URSS com guerras de agressões aos povos soviéticos. Não sem razão, portanto, o social-imperialismo russo costumava dizer que o colonialismo havia desaparecido ou que estava a ponto de desaparecer e que sua liquidação entrara na fase final. Formalmente inúmeros países haviam conquistado a sua independência, porém de forma alguma, se desembaraçaram inteiramente do controle ce da escravidão imperialista, consequentemente colonialista e semicolonialista.

Em alguns países, os colonialistas transformaram-se em neocolonialistas e, através de agentes por eles preparados, continuaram mantendo o seu domínio colonial. “Noutros, enquanto o lobo saía pela porta da frente, o tigre entrava pela porta traseira; o colonialismo foi substituído pelo neocolonialismo mais poderoso e perigoso – o colonialismo norte-americano” (“Apologistas do Neocolonialismo”, Diário do Povo e Bandeira Vermelha, V Comentário).

Prossegue o artigo: “Uma das mais importantes características do neocolonialismo reside em que o Imperialismo se viu obrigado a alterar a sua velha forma de dominação colonial direta e adotar uma nova formaa de dominação e exploração colonialista, através de agentes por eles escolhidos e preparados. Através da organização de blocos militares, do estabelecimento de bases militares ou da formação de ‘federações’ e ‘comunidades’, o Imperialismo, encabeçado pelo USA sustenta os regimes fantoches e submete ao seu controle e escravidão os países coloniais e os que já proclamaram a sua independência. (…) Além disso, servem-se da ONU como importante instrumento para intervir nos assuntos internos desses países e contra eles perpetrar agressões militares, econômicas e culturais. Onde não pode manter a sua dominação por meios ‘pacíficos’, trama golpes militares de Estado, desenvolve atividades subversivas e, inclusive, recorre à intervenção e às agressões armadas diretas”. (Idem, citado).

O neocolonialismo(12) é a política mais perniciosa e sinistra do colonialismo.

A direção do PCUS havia inventado uma teoria segundo a qual o movimento de libertação nacional entrara numa nova etapa, em que à tarefa econômica era a principal, “o elo fundamental do desenvolvimento ainda maior da revolução”.

Na realidade, a nova etapa de que não desejava falar o PCUS, é o despertar nunca visto do movimento revolucionário dos povos, à nova onda revolucionária, surgida na etapa (não há outra) Imperialista. À teoria de “nova etapa” do PCUS e da “extinção do colonialismo” servem apenas para colorir o neocolonialismo com as agudas contradições entre o Imperialismo e as nações oprimidas e paralisar a luta revolucionária dos povos. E já que o “colonialismo está a ponto de desaparecer”, deixou de ser necessária a luta contra o Imperialismo, o colonialismo e o neocolonialismo e seus lacaios, sendo que a tarefa central do movimento de libertação nacional seria atualmente a de “desenvolver a economia”.

Para tanto, foram criadas várias receitas, entre elas as “Coexistência Pacífica” e a “Emulação Pacífica”, com a qual, dizia-se, as lutas de libertação haviam alcançado grandes vitórias. No entanto, essas duas “pacificas” não podiam substituir a luta revolucionária das massas porque nenhum país amigo pode substituir a luta de um povo pela sua libertação. Mas o social-imperialismo dizia também que as massas deveriam aguardar pelo colapso natural do Imperialismo. Mas quando, quantos anos depois do colapso do PCUS, se dará o colapso do Imperialismo ianque?

A ajuda aos países atrasadosKruschov dizia que essa ajuda evitaria que países recém-independentes retornassem à situação anterior, o que significa dizer, ao se libertar do Imperialismo, um povo deve cair nas garras do social-imperialismo, imediatamente. E quem Kruschov ajudava? Os governos mais reacionários sob sua área de influência. E quem Kruschov saudava pela ajuda que destinavam aos países atrasados? Saudava os USA, o principal baluarte do semi-colonialismo!

O desarmamentoKruschov dizia que o desarmamento significava a desativação das forças de guerra, a liquidação do militarismo, o fim da intervenção armada estrangeira e a liquidação do colonialismo. Porém como convencer ao agressor a depor as armas, senão que envolvendo-o, aniquilando suas forças e fazendo-o prisioneiro?

A eliminação do colonialismo através da ONUKruschov se perguntava: quem vai liquidar o regime colonial de administração, senão que a ONU? Entendia Kruschov que as massas da Ásia, da África e da América Latina não eram competentes para se libertar e que, para isso, só podiam contar com a ONU. Mas quem é a ONU e quem a dirige? O Imperialismo libertará as colônias, por quê? Fará antes uma seleção de países e, depois, distribuirá prêmios de independência?

O risco da conflagração mundialAlém da teoria da subjugação nacional, há também a da subjugação internacional. A sublevação leva à conflagração mundial, necessariamente uma guerra termonuclear e a aniquilação da humanidade, afirmava. Kruschov dizia que era necessário apagar as faíscas, por serem perigosas, independente de haver guerras justas, opondo-se descaradamente à revolução. Invocando essas razões, o social-imperialismo russo recusou-se a reconhecer a independência da Argélia, apoiou o envio de tropas da ONU para o Congo.

O revisionismo da etapa do Imperialismo é representado por diversas correntes, sendo que as mais nocivas chegaram a deter o poder de Estado, no primeiro momento, na Iugoslávia e, depois, na própria URSS e nas Democracias Populares da Europa do Leste. Porém, esse revisionismo (moderno) se fortaleceu, desde então, e se expandiu por toda a Europa, atingindo a Espanha, a França, a Itália, sendo que na década de 60 chegou a se autodenominar “eurocomunismo” , “movimento de mudanças estratégicas”, por fim atingindo os demais países socialistas e de democracia popular. Ou seja, uma intensa e bem orquestrada campanha de desbolchevização foi ganhando corpo, amparada pelo Imperialismo e pelo social-imperialismo, ressuscitando todos os “marxismos” e “socialismos” e adequando-os a nova realidade da contrarrevolução mundial, ao que não poderia faltar o arsenal de terminologias, fraseologias e conceitos muitíssimos complicados (situações criadas para suprir questões que certamente Lenin “se esqueceu de estudar e prever”), usadas por todos os falsos comunistas para ocultar sua adesão à restauração capitalista na URSS e ao social-imperialismo russo; à sua traição à causa do proletariado revolucionário, enfim.

Por essa época, desfilaram os: marxismo legal, austro-marxismo; pós-marxismos; marxismo ocidental ou marxismo crítico (assim como à “teoria crítica”, uma das contribuições de Gramsci, de Lukács, da Escola de Frankfurt etc); marxismo não-dogmático; filosofia da práxis; marxismo estruturalista (de Althusser); o da “sociedade de consumo” (de Herbert Marcuse) que descobre ter o proletariado perdido seu caráter revolucionário, agora retomado pelo lumpesinato; bem como os: marxismo asiático, socialismo de mercado, o determinismo tecnológico (este último defende o nível de desenvolvimento técnico como determinante para caracterizar o tipo de sociedade, de estruturas sociais etc. Essa teoria encontra como fundamento os conceitos de “sociedade industrial” e “sociedade pós-industrial”, à tecnocracia, o cosmopolitismo burguês (opõe-se ao internacionalismo proletário) etc., etc.

Segundo o dicionário fascista, editado sob responsabilidade de Tom Bottomore (muitíssimo divulgado em nosso país), por exemplo, há quatro períodos distintos no “marxismo-soviético”. São eles: “o jacobino-ideológico (período de Lenin), o totalitário-manipulador (período de Stalin), o da busca reformista da dimensão ideológica perdida (período de Kruschov) e o conservador-iconográfico (período de Brejnev)”. Além da ignorância e da bestialidade, o fascismo invoca também a loucura, portanto.

 

Núcleo de Estudos do Marxismo-leninismo-maoismo
Rio de Janeiro — maio de 2003

 


Notas de rodapé:

(1) Cabe esclarecer, a presente edição traz 13 documentos, e não apenas a Carta e Nove Comentários. Portanto, quais são os Nove Comentários e de que Carta de 25 Ponto falamos?

A Carta de 25 Pontos ou Carta Chinesa é a própria Proposição acerca da Linha Geral do Movimento Comunista Internacional – 14 de junho de 1963, uma contundente resposta do CC do PCCh à carta do CC do PCUS, de 30 de março de 1963. Essa carta do PCUS (de 30 de março), portanto, motivou a Carta de 25 Pontos (do PCCh), enquanto que a “Carta Aberta do PCUS às organizações do Partido e a todos os comunistas” (de 14 de julho de 1963) suscitou como resposta os Nove Comentários.

A primeira carta do PCUS (30 de março de 1963) aqui aparece como documento número 12. A segunda, a “Carta Aberta” (14 de julho de 1963), tem o número 13. Todas as Cartas e os Nove Comentários encontram-se aqui publicados na íntegra. Os Nove Comentários originalmente foram numerados em algarismos romanos, referência que conservamos aqui.
Todavia, entre 15 de dezembro de 1962 a 8 de março de 1963, foram escritos sete artigos.
1) “Proletários de todos os países, unamo-nos para lutar contra nosso inimigo comum”;
2) “As divergências entre o camarada Togliatti e nós”,
3) “O leninismo e o revisionismo contemporâneo”;
4) “Unamo-nos sobre as bases das Declarações de Moscou”;
5) “De onde procedem as divergências? Resposta ao camarada Thorez e outros camaradas”:
6) “Uma vez mais sobre as divergências entre o camarada Togliatti e nós – alguns problemas importantes do leninismo no mundo contemporâneo”;
7) “Um comentário sobre a declaração do Partido Comunista dos EUA”,

OBS. O primeiro desses sete artigos e segundo (dos Nove Comentários), juntamente com Sobre o Estudo da História do Imperialismo (de Che Kiun); Leninismo ou Social-imperialismo? (editados por Reimin Ribao/Honggi/Jiefangjun Bao) e Povos de Todo o Mundo, Uni-vos e Derrotai os Agressores Norte-Americanos e todos os seus Lacaios (Declaração de 20 de maio de 1970, Presidente Mao Tsetung, Edições em Línguas Estrangeiras, Pekim), publicados pela Edições Estrela Vermelha, coleção Cadernos de Teoria Política (Dinalivro - Lisboa), foram reproduzidos pelas Edições Seara Vermelha há seis anos.

A esses sete artigos se juntam o “Viva a Vitória da Guerra Popular”, informe de Lin Piao ao IX Congresso do PCCh, que se constituem nos mais raros documentos, entre as respostas do Partido sob a liderança do Presidente Mao aos revisionistas pseudo-soviéticos, bem como as últimas diretivas do maoismo, títulos que não figuram na presente edição, inclusive, na sua totalidade ainda não puderam ser recolhidos pelo Núcleo de Estudos do Marxismo-Leninismo-maoismo.

Seguem-se à Carta dos 25 Pontos os Nove Comentários (editados entre 6 de setembro de 1963 a 14 de julho de 1964, no Diário do Povo e no Bandeira Vermelha). A Proposição Acerca da Linha Geral do Movimento Comunista Internacional responde a carta do CC do PCUS (de 30 de março de 1963). Essa carta do PCUS é reproduzida nesta edição, o mesmo acontecendo com a de 14 de julho de 1963 (Carta Aberta do CC do PCUS dirigida às organizações do PCUS e a todos os comunistas da URSS), a que motivou os Nove Comentários, figurando como o último documento da presente edição.
01) Proposição à Linha Geral do Movimento Comunista Internacional (Carta dos 25 Pontos), 14 de junho de 1963.
02) A Origem e o Desenvolvimento das Divergências entre a Direção do PCUS e nós, com seus três anexos; comentário sobre a carta aberta do CC do PCUS – I – 6 de setembro de 1963.
03) Sobre o Problema de Stalin – comentário sabre a carta aberta do CC do PCUS, II, 13 de setembro de 1963.
04) A Iugoslávia é um País Socialista?, comentário sobre a carta aberta do CC do PCUS - ITI, 20 de setembro de 1963;
05) Apologistas do Neocolonialismo – comentário sobre a carta aberta do CC do PCUS - IV, 22 de outubro de 1963;
06) Duas Linhas Diferentes no Problema da Guerra e da Paz – comentário sobre a carta aberta do CC do PCUS, V — 19 de novembro de 1963;
07) Duas Políticas de Coexistência Pacífica Diametralmente Opostas - comentário sobre a carta aberta do CC do PCUS, VI – 12 de dezembro de 1963;
08) Os Dirigentes do PCUS são os Maiores Divisionistas de Nossa Época - comentário sobre a carta aberta do CC do PCUS, VII — 4 de fevereiro de 1964;
09) A Revolução Proletária e o Revisionismo dê Kruschov – comentário sobre a carta aberta do PCUS, VIII - 31 de março de 1964;
10) O Falso Comunismo de Kruschov e suas Lições Históricas – comentário sobre a carta aberta do CC do PCUS, IX – 14 de julho de 1964;
11) Por que caiu Kruschov? - editorial da Revista Hongqi – 21 de novembro de 1964;
12) Carta do Comitê Central do PCUS ao Comitê Central do Partido Comunista da China – 30 de março de 1963;
13) Carta aberta do CC do PCUS, às organizações do Partido, a todos os comunistas da URSS – 14 de julho de 1963. (retornar ao texto)

(2) A rigor, a luta para estabelecer o Pensamento Mao Tsetung na China tem início em 1935 na Reunião de Tsunyi, momento em que o Presidente Mao assume a direção do PCCh. Em 1945, no VII Congresso, ficou acordado que o PCCh se guiava pelo marxismo-leninismo e as ideias Mao Tsetung, o que foi suprimido no VIII Congresso, onde prevaleceu uma linha direitista. No glorioso IX Congresso (1969), o partido encontra-se unido em Prólogo torno da Grande Revolução Cultural Proletária c sanciona que o PCCh se guia pelo marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsetung. O Pensamento Mao Tsetung passa a desfrutar de imenso prestígio a partir da década de 1950, mas se eleva poderosamente com a GRCP e o Presidente Mao torna-se reconhecido como chefe da revolução mundial e gerador de uma nova etapa do marxismo-leninismo, chegando ao ponto de um grande número de partidos adotarem a denominação marxismo-leninismo-pensamento Maotsetung. Muitas correntes no mundo inteiro reconhecem os grandes aportes do Presidente Mao, porém enquanto algumas persistem em denominar a teoria revolucionária do proletariado apenas de marxismo-leninismo e outras aceitam Pensamento Presidente Mao Tsetung. A mais avançada linha, a do Pensamento Gonzalo, reconhece e fundamenta o maoismo como nova, terceira e superior etapa do marxismo, juntamente a alguns outros partidos.

– O revisionismo se transforma, desde os primórdios do Imperialismo, numa arma sempre mais letífera, fundindo-se com a reação, tornando-se mais danoso quando no poder. Em resumo, historicamente as teorias mais perniciosas do revisionismo têm seus fundamentos nas concepções de Bernstein, Kautsky, Browdher, Trotsky, Tito, Kruschov, com Enver Hoxha, Teng Siao-ping etc. O moderno revisionismo é o que assume inteiramente o poder, caracterizado pelo revisionismo de Tito, Kruschov, Brejnev, Hua Kuo feng, Teng etc., e o revisionismo contemporâneo, principalmente o falso maoismo, que se apresenta como antirrevisionistas de boca, enquanto que conciliadores e capitulacionistas de fato.

– A propósito, no informe do camarada Dimitrov, apresentado no VII Congresso da Comintern, em 2 de agosto de 1935, ele caracteriza o que viria a ser, na época, as concepções fundamentais do fascismo e o seu estilo anticomunista, assim como seus os fiéis aliados: o oportunismo e o revisionismo, nos trajes de gala da ala direita da social-democracia, do “socialismo cristão”, do trotskysmo etc., etc.

– Igualmente, em nosso país, é inevitável o choque mais violento entre o proletariado revolucionário e as subsidiárias da CIOLs (PT, CUT, MST), da Internacional Socialista, do clero. Todavia, além dessas teorias, é preciso seguir combatendo, no todo ou na parte que oportunamente nos convêm, as concepções clássicas do fascismo, do nazifascismo, do social-imperialismo e da social-democracia, as concepções clássicas do liberalismo e as do clericalismo. Do revisionismo, passando pelas formas clássicas do fascismo e do clericalismo, chegando às teorias “pós-modernas”, todas são correntes do anticomunismo, que de uma forma e de outra de fundem, sendo o revisionismo o principal inimigo interno. Essas são as formas com que se apresentam o anticomunismo e o fascismo de nossos dias. O combate à essas concepções são tão imprescindíveis quanto a propaganda das concepções do Programa Geral da Revolução de Nova Democracia e dos princípios do programa específico para a atual etapa revolucionária em nosso país (ou seja, contido no programa geral da Nova Democracia), que é o da Revolução Agrária e de Defesa dos Direitos do Povo, enfim, das concepções gerais da Nova Democracia (sistema de Estado e de Governo), do Socialismo, das Revoluções Culturais e do Comunismo. (retornar ao texto)

(3) Sobre a camarada Chiang Ching, uma lacônica versão de seu falecimento circulou atestando suicídio, em 1991. A contrarrevolução também sustentou a simulação de identidade entre a sua indissolúvel posição ideológico-política e as facções incertas, a acusação do bandido Chu Shi-you de que ela tentara envenenar o Presidente Mao, assim como o decreto que prescrevia, em 10 de outubro de 1976, estar, para todo o sempre, “afastada do Partido e do mundo”. Chiang Ching, todavia, durante toda a sua militância revelou-se uma das mais fiéis e incontestes personalidades da prática e do pensamento revolucionário proletário na China. Vale lembrar, a primeira notável experiência da Nova Democracia, o socialismo na China e a Grande Revolução Cultural no mundo tiveram, entre seus mais destacados e honrados dirigentes, uma mulher de nome Chiang Ching. (retornar ao texto)

(4) Os revisionistas seguidores de Hoxha fingiram inicialmente defender o Pensamento Mao Tsetung, quando, na realidade, defendiam o governo da China e tudo o mais que advinha da solidariedade do proletariado chinês no Poder que lhes parecia conveniente preservar. Mas tão logo se manifestaram as reais possibilidades de vitória da reação, esses velhos comensais se libertaram de seus compromissos com a revolução na China e atacaram de forma sórdida o pensamento do presidente Mao e sua própria pessoa. Proclamaram-se apenas defensores intransigentes de Stalin. Com a queda do governo albanês, sob o risco de perder todas as fontes de pensão alimentícia, tornou-se aconselhável aos tipos como o Sr. João Amazonas dizer que ele, e outros fiéis serviçais do Imperialismo, defenderam Stalin, porém “jamais foram stalinistas”, fazendo valer apenas a forma pejorativa da expressão stalinismo (Resoluções do 8' Congresso do PC do B, Informe Político: 6. À Direção de Stalin). Hoje, o grupo de Amazonas critica severamente o finado socialismo albanês, assim como Stalin, enquanto coexiste pacificamente com o regime burocrático, semifeudal e semicolonial dominante no Brasil, sendo parte integrante da nova gerência do seu velho e podre Estado. (retornar ao texto)

(5) Nenhum desses comentários (inclusive a própria Carta dos 25 Pontos) devem ser encarados como uma espécie de processo em que somente o kruschovismo figura como réu. É preciso considerá-los (entre os mais aplicados estudos sobre a inexorável elevação do marxismo à terceira e superior etapa, a do marxismo-leninismo-maoismo, principalmente maoismo), momento riquíssimo da teoria e prática da revolução proletária que caracteriza o ataque frontal ao elemento mais que se juntou aos aparatos ideológicos fundamentais do anticomunismo: o revisionismo (e que se afirma, hoje, como o perigo principal), com suas instituições próprias ou emprestadas. Portanto, às obras clássicas e aos comentários deve-se acrescentar outras peças que denunciem todo o mecanismo do velho, moderno e contemporâneo anticomunismo, aquele que se debate para distorcer a essência da teoria revolucionária do proletariado, enquanto categoricamente afirma defender os princípios dessa mesma teoria. (retornar ao texto)

(6) Em 12 de setembro de 1992, os bandidos da CIA conseguiram capturar o Presidente Gonzalo que, em 24 de setembro do mesmo ano, proferiu o bravo chamamento ao Partido, aos comunistas e aos povos do mundo inteiro, no sentido de concentrar todos os esforços, superar todas as dificuldades, cumprir todas as tarefas porque isso significa seguir “conquistando as metas, os êxitos, a vitória”. Imediatamente os contrarrevolucionários armaram as mais terríveis patranhas com a “lei do arrependimento”, as “Cartas de Paz”, enxurrada de notícias sobre o “aprisionamento de toda a militância”, “repúdio do povo ao PCP e ao Presidente Gonzalo”, “fragorosas derrotas no plano militar” etc. (retornar ao texto)

(7) As refutações (patrocinadas pelos falsos revolucionários) às acusações imputadas aos pensamentos de Stalin e do Presidente Mao, ou à pessoa desses grandes chefes do proletariado, são de tal forma impregnadas de desconfiança que terminam por endossar “erros”, “crimes” e uma definitiva “crise do socialismo”. Não fazem outra coisa, portanto, que prestar imenso serviço ao anticomunismo. Essas mesmas acanhadas “defesas” (destituídas de interesse, consequentemente de moral proletária) não passam, portanto, de sutis acordos quanto à procedência das inculpações perpetradas pelos mais ferozes inimigos da revolução proletária. (retornar ao texto)

(8) Trata-se de Tenzin Gyatso, monge tibetano, 74, Dalai-Lama chefe supremo do lamaísmo, (junção das correntes budismo e hinduísmo, que acrescenta cultos mágicos, ocultismo, iogue e adoração de imagens) que assumiu o poder político no Tibet em 1950. Gyatso nasceu em 1935 e é uma espécie de papa de sua religião. O Museu da Revolução, em Pequim, dedicava considerável espaço às peles humanas inteiras (retiradas em longos rituais de suplício), entre as inúmeras peças que comprovavam a “compaixão” de que se nutriam os senhores latifundiários e seus monges em relação aos camponeses desobedientes ao sistema feudal no Tibet. (retornar ao texto)

(9) Certos dirigentes jamais pensaram em se libertar da proteção dos Kruchov’s (administração: 1953 — 1964, com suas teses tais como: As Três Pacíficas e os Dois Todos e outras degenerações como Ajuda aos países atrasados, o Desarmamento, a Eliminação do Colonialismo através da ONU, o risco da conflagração mundial etc); dos Leonid Brejnev’s (Administração: 1964 — 1982, e as doutrinas do tipo: da Soberania Limitada à Soberania Suprema, a Ditadura Internacional do Proletariado, a Divisão Internacional do Trabalho, os Interesses Implicados, o Pan-eslavismo, a Tarefa econômica como principal); de Yuri Andropov’s (1982 — 15 meses — 1983); de Konstantin Chernenko’s (Administração: 13 meses); de Mikhail Gorbachov’s (Administração: 1985 a 19 de agosto de 1991, com os seus: Socialismo Real, Glasnost – transparência – e Perestróika – reestruturação); de Yeltsin’s (agosto 1991 a dezembro de 1991, comunista restaurador, após isso, apenas restaurador), um dos que acompanharam o féretro da república pseudo-soviética até desfazerem-se da bandeira e do nome da URSS, substituindo-a primeiramente pela “Comunidade dos Estados Independentes – CEI”, um breve fórum de coordenação de repúblicas burguesas burocráticas. (retornar ao texto)

(10) Rapidamente, as organizações da quinta-coluna nazista desencadearam suas ações na Europa, nos USA, na América Latina, na África, no Japão e na China, com o inusitado patrocínio de um “Ministério Público para os Negócios Exteriores do Partido Nazista”, comandados por Alfredo Rosenberg e Rudolph Hess. Rosenberg foi quem primeiro estabeleceu contatos com Trotsky, Hess os cimentou. Não faltaram fundos, passaportes, transportes, contrapropaganda, toda a sorte de gente mais infeliz, entre corruptos, loucos, oportunistas, revisionistas, assassinos profissionais com planos e ações concretas, porque não faltaram as grandes alianças da burguesia reacionária e suas conspirações contrarrevolucionárias para atingir o mundo inteiro, tais eram os intentos da grande partilha. Mas, a propósito, disso não querem saber hoje os “críticos” de Stalin, por exemplo. (retornar ao texto)

(11) Esses elementos foram promovidos a representantes da burguesia de Estado, capatazes do capital. Acumularam imenso poder econômico pessoal, a exemplo do filho de Teng (“paralítico, em consequência das torturas a que foi submetido pelos líderes da Revolução Cultural”) que, após o golpe de 1976, anunciava seu hobby, ou seja “distribuir dinheiro aos pobres”. Tito vivia nababescamente em Belgrado, dedicava-se à caça e ao turismo interno, comodamente transportado, de um sítio ao outro, em seu famoso “trem azul”.

Salazar, primeiro-ministro do fascismo português, ao longo de quase 40 anos, devolvia religiosamente aos cofres públicos o seu salário de professor universitário. Enquanto fazia alarde de sua honestidade, ele e monstros assim, reinavam em seu país sem ter uma única despesa (juntamente com seus familiares e todos os de sua confiança), acumulando imensas fortunas de “homens simples e probos”. A princípio nada tinham de seu, exceto tudo: a maior e a mais livre participação na economia do país, a partir de sua direção, ou seja, do controle do Estado e dos negócios do Estado. (retornar ao texto)

(12) Neocolonialismo foi uma terminologia adotada à época pelo PCCh, mas que os revisionistas distorceram profundamente, em particular para justificar o conceito de “países em desenvolvimento” que estavam sob a esfera do Imperialismo ianque. Os maoistas preferiram adotar a expressão semicolonialismo para designar a forma de política colonialista na época da degeneração do sistema colonial do Imperialismo. (retornar ao texto)

 

Inclusão: 29/05/2023