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Amílcar Cabral nasceu em 12 de Setembro de 1924 em Bafatá (Guiné-Bissau). É estudante do Liceu de São Vicente (ilhas de Cabo Verde), quando começa a afirmar o seu comportamento de rotura com a política assimilacionista praticada pelo governo colonial português. Após a sua chegada a Lisboa em 1945, data em que inicia os estudos universitários no Instituto Superior de Agronomia, manifesta uma grande preocupação em integrar-se nas correntes de pensamento político e cultural que então agitavam o mundo. Traduz essa preocupação participando na campanha pela paz, nos movimentos da juventude progressista e sobretudo no lançamento das bases para a conscientização dos estudantes africanos.
No período de férias de 1949, dirige um programa cultural de rádio em Cabo Verde (na praia) o qual tem considerável repercussão em todos os meios sociais das ilhas, a tal ponto que as autoridades coloniais proíbem a sua difusão.
Em Lisboa, Portugal, Amílcar e um grupo de companheiros, estudantes africanos originários das colônias que mantinha esse país travam várias lutas no sentido de reencontrarem as suas raízes africanas e de adotarem em conjunto os meios adequados de combate contra o colonialismo, é nesta perspectiva que procuram revitalizar a "Casa D'África" e animam algumas iniciativas culturais na "Casa dos Estudantes do Império".
Criam em 1951 o "Centro de Estudos Africanos" que, pela execução do seu programa de "reafricanização dos espíritos", exerce uma notável influência na futura constituição dos organismo» políticos unitários. No termo dos seus estudos, Amílcar trabalha como investigador na Estação Agronômica de Lisboa - o que lhe permite aprofundar os seus conhecimentos sobre a situação do povo português. Regressa ao seu país natal e aí põe o seu saber tecnológico de engenheiro-agrônomo ao serviço da análise das realidades dos guineénses. Faz o recenseamento agrícola da Guine. Cria o Club Desportivo local, interditado em 1954 pelo governo local. Obrigado pela conjuntura política repressiva a deixar Guine onde só lhe é permitido permanecer uma vez por ano, alarga a sua experiência concreta de luta contra a dominação colonial: participa nomeadamente na eclosão dos movimentos nacionalistas de Angola, enquanto realiza trabalhos agronômicos sobre a cultura do algodão e da cana-de-açúcar.
Em 19 de Setembro de 1956, Amílcar Cabral e cinco dos seus primeiros camaradas fundam em Bissau, o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde). Um ano mais tarde, ele tem a iniciativa da "Reunião de consulta e estudo para o desenvolvimento da luta nas colônias portuguesas realizada em Paris. Desse encontro nasce clandestinamente em Lisboa, o MAC (Movimento Anti-Colonialista).
Imediatamente após o massacre de Pidjiguiti, em 3 de Agosto de 1959, regressa a Bissau onde preside em 19 de Setembro a histórica reunião do PAIGC que decide a mobilização prioritária das massas camponesas.
Participa, em Janeiro de 1960, na Conferência dos Povos Africanos, em Tunis e em Junho do mesmo ano duma conferência de imprensa em Londres, em nome dos povos em luta contra o colonialismo lusitano. Neste ano é publicado em Londres, o folheto "Factos acerca das colônias Africanas de Portugal, de sua autoria, sob o codinome Abel Djassi. Este trabalho serviu de texto à 1ª Conferência Internacional denunciando o colonialismo português.
No mesmo período inclusive, começa a funcionar em Guiné-Conakry o Secretariado Geral do Partido sob a chefia de Amílcar Cabral.
1961 - Abril - tem lugar a "Conferência das Organizações Nacionalistas das Colônias Portuguesas" (CONCP) criada em Rabat, Marrocos da qual Amílcar é um dos principais promotores e onde de desempenha durante um dado espaço de tempo as funções de Presidente, em representação de todos os movimentos das colônias lusitanas.
Julho: Amílcar escreve um importante Relatório, análise geral da marcha da luta do PAIGC e das características e taras do colonialismo português, com o nome de "Rapport General" (Relatório Geral).
1962 — Junho: o PAIGC apresenta-se pela primeira vez diante das Nações Unidas com um trabalho profundo de análise e crítica ao colonialismo e de defesa dos interesses do povo na Guiné e Cabo Verde, intitulado "O povo da Guiné perante as Nações Unidas", da autoria de Amílcar Cabral.
1963 — Janeiro: De acordo com a decisão do PAIGC, é desencadeada a luta armada, no dia 23.
1964 — Amílcar Cabral dirige o 1º Congresso do PAIGC, em Cassacá, nas regiões libertadas ao Sul, que operou uma mudança decisiva na marcha da luta (13 a 17 de Fevereiro).
Maio: Amílcar participa em Treviglio (Itália), num Seminário organizado pelo Centro Franz Fanon de Milão, cujo tema de discussão é "A luta das classes exploradas pela sua emancipação nos países subdesenvolvidos dominados pelo imperialismo". A sua intervenção suscita enorme interesse em todo o mundo e é amplamente divulgada em diversos países sendo o primeiro texto de análise profunda da estrutura social da Guiné.
1965 — Amílcar escreve "As palavras de Ordem" que é o mais célebre documento do PAIGC, no qual se indicam as normas a seguir na ação revolucionária a levar a cabo em Guiné e em Cabo Verde, em todos os domínios.
1966 — Janeiro: Dirige a delegação do PAIGC à reunião em Havana (Cuba), que criou a "Organização de Solidariedade dos Povos da Ásia, África e América Latina" (Tricontinental), na qual fez uma intervenção que foi muito discutida no mundo e altamente apreciada. Essa intervenção é considerada, em geral, como uma contribuição teórica original no plano histórico-filosófico, no que respeita à análise da marcha da luta dos movimentos de libertação nacional em África e dos fundamentos e objetivos da luta.
1968 – Os crimes dos colonialistas portugueses, denuncia Amílcar perante a Comissão dos Direitos do Homem na ONU.
1969 — Janeiro: Realiza-se a Conferência de Kartum (Sudão) de Solidariedade para com os povos das colônias portuguesas, a qual serve de base à preparação da Conferência de Roma. Nesta, Amílcar desempenha um papel fundamental e decisivo.
Abril: Nova denúncia de Amílcar contra os portugueses, perante a Comissão dos Direitos do Homem na ONU.
Novembro: Efetua-se em Guiné-Conakry, um importante Seminário de Quadros, no qual participam várias dezenas de quadros políticos e militares, sobre os problemas fundamentais da vida e da luta do PAIGC.
Dezembro: Organizado por Richard Handyside e publicado pelas Edições SATAGE 1, aparece em Londres, Inglaterra, uma seleção de textos e discursos do Secretário-Geral do PAIGC.
1970 — Janeiro: A editora "François Maspero" publica o livro de Amílcar "O Poder das Armas", na sua coleção "Cahiers Libres" nº 162.
Fevereiro: A convite da Universidade de Siracusa (Estados Unidos) Amílcar dá uma conferência numa reunião especial organizada em homenagem à memória do Dr. Eduardo Mondlane, Presidente da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), covarde e traiçoeiramente assassinado pelos colonialistas. A esta conferência, cujo tema era "Libertação Nacional e Cultura" assistiram eminentes personalidades universitárias vindas de diversos pontos dos Estados Unidos e do Canadá e um grande número de representantes das organizações americanas que se interessam pelos problemas da África. Nesta ocasião, Amílcar Cabral proferiu também uma conferência sobre a luta do PAIGC em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, e em Washington, perante a Comissão dos Negócios Estrangeiros do Congresso Americano, à que seguiu um animado debate.
O mesmo Congresso americano editou mais tarde uma brochura contendo a exposição de Amílcar Cabral e o debate que então teve lugar.
Abril: Em Moscou, União Soviética, combatentes do PAIGC participam ao lado de outros partidos e movimentos de libertação nacional, na grande festa da comemoração do centenário de Lenine, por meio do seu Secretário-Geral. Naquela oportunidade: Amílcar disse: "Como um ser humano integral, Lenine soube amar e odiar. Amar a causa da libertação do homem de todas espécies de opressão, a aventura maravilhosa que é a vida humana, tudo o que há de belo e de construtivo sobre o planeta. Odiar os inimigos do progresso e da felicidade do homem, o inimigo de classe, os oportunistas, a covardia, a mentira, todos os fatores de aviltamento da consciência social e moral do homem. Porque ele sempre considerou o homem como o valor supremo do Universo". Junho: Tem lugar a Conferência de Roma de Solidariedade para com os povos das colônias portuguesas, onde 171 organizações nacionais e internacionais, representando 64 países, estudaram e estabeleceram os meios de desenvolver a solidariedade política, moral e material à luta dos povos Africanos contra o colonialismo português. Esta reunião foi a mais importante do ano e representou uma grande derrota dos portugueses no plano internacional. Ainda, nessa altura, o Papa Paulo VI recebeu os dirigentes do PAIGC, FRELIMO e MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola). Amílcar respondeu ao Papa em nome também de Agostinho Neto e de Samora Machel.
1971 — Abril: Pela voz de Cabral, o PAIGC denuncia a situação de fome nas ilhas de Cabo Verde, em Estocolmo (Suécia) e lança um apelo à solidariedade internacional para uma ajuda concreta e urgente ao povo caboverdense; pede à ONU, e ao seu Secretário-Geral, U Thant, para que tome medidas exigidas pela situação. Junho: Amílcar fala em nome dos Movimentos de Libertação Africanos, na sessão de encerramento da VIIIa Conferência dos Chefes de Estado e de Governos da Organização da Unidade Africana (OUA), realizada em Addis-Abeba, Etiópia. O chefe do PAIGC declarou naquela cimeira: "Há pessoas ou combatentes que desesperam, mas os povos nunca desesperam, é necessário confiar nos povos e nós, combatentes da liberdade Africana, nós que estamos prontos para morrer e vimos camaradas tombar ao nosso lado, nós não temos qualquer razão para não acreditar no destino da África, na capacidade de qualquer que seja o povo Africano de se libertar totalmente do jugo colonial e racista e de tomar nas suas mãos o seu destino, como vós próprios o fizestes".
Naquela oportunidade, Amílcar encontrou-se com o Imperador Haile Selassie, da Etiópia, Moktar Ould Daddah, da Mauritânia, Leopold Sedar Senghor, do Senegal, David Diawara, da Gâmbia é Keneth Kaunda, da Zâmbia.
Agosto: Realiza-se a reunião do Conselho Superior da Luta (CSL), órgão supremo do Partido entre dois Congressos, sob a presidência de Amílcar.
Outubro: O Secretário Geral do PAIGC visita sucessivamente Helsínquia, Londres e Dublim, encontra-se com dirigentes sindica- lutas britânicos e dá uma conferência na Câmara dos Comuns. A imprensa britânica e a BBC dão a maior cobertura à visita. Inclusive na Finlândia foi recebido pelo Presidente da República — o que acontecia pela primeira vez a um. representante de um movimento de libertação — e pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros. Tudo isto se traduziu em estrondosas vitórias do PAIGC.
1972 — Fevereiro: Amílcar Cabral, falando na 163ª sessão do Conselho de Segurança da ONU, realizada pela primeira vez em África, em Addis-Abeba (Etiópia), renova o convite à Assembleia das Nações Unidas para que envie uma delegação à Guiné-Bissau, a fim de conhecer a realidade do PAIGC.
Abril: Grande vitória do PAIGC. Uma comissão especial das Nações Unidas visita as regiões libertadas na Guiné.(1)
Junho: Mais uma reunião cimeira da OUA, em Rabat (Marrocos). Amílcar Cabral é convidado a falar diante dos Chefes de Estado Africanos, em nome dos movimentos de libertação desse Continente.
Julho: O trabalho de Amílcar Cabral intitulado “Sobre o Papel da Cultura na Luta pela Independência” é apresentado numa reunião de peritos sobre as noções de raça, identidade e dignidade, realizada em Paris pela UNESCO, e para a qual o Secretário-Geral do PAIGC foi uma das 20 personalidades convidadas.
Setembro: Amílcar dirige a delegação do PAIGC aos seguintes países: China, Japão e Coreia. Encontra-se com Shianouk, chefe de Estado de Camboja e com Kim II Sung, presidente da Coreia do Norte.
Outubro: Perante a IV Comissão da Assembleia da ONU, Amílcar em nome do povo da Guiné e Cabo Verde, é o primeiro representante de um povo em luta a usar a palavra na qualidade de observador. A sua brilhante intervenção é altamente apreciada pela Comissão, que toma a decisão de a reproduzir, na íntegra, nos relatórios da sessão. Amílcar é então recebido pelas mais altas individualidades: o Secretário-Geral da ONU, o Presidente da Assembleia Geral, o Comissário-Geral Adjunto da Comissão de Tutela e o Presidente do Comitê de Descolonização.
1973 — Janeiro: No dia 20, Amílcar Cabral é barbaramente assassinado na Guiné-Conakry, por agentes do colonialismo português infiltrados no PAIGC, e ao mando do general Antonio Spínola, nesse momento governador colonial da Guiné-Bissau.
Notas de rodapé:
(1) A Missão compunha-se de Horácio Sevilha Borja (Equador), na qualidade de presidente, Folke Löfgren (Suécia) e Kamel Belkhiria (Tunísia). (retornar ao texto)