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VI - O Problema da Vitória do Socialismo num só País
O folheto Sobre os Fundamentos do Leninismo (primeira edição, abril de 1924), contem duas formulações sobre a vitória do socialismo num só país. À primeira parte diz:
"Antes, considerava-se impossível a vitória da revolução num só país. Tal conceito significava que, para alcançar o triunfo sobre a burguesia, era necessária a ação conjunta dos proletários de todos os países adiantados ou, pelo menos, da maioria deles. Hoje, este ponto de vista já não corresponde à realidade. Hoje, é preciso partir da possibilidade deste triunfo, pois o desenvolvimento desigual, aos saltos, dos diferentes países capitalistas, sob as condições do imperialismo, o desenvolvimento dentro do imperialismo de contradições catastróficas que conduzem a guerras inevitáveis, o incremento do movimento revolucionário todos os países do mundo, tudo isso conduz não só à possibilidade, inclusive à necessidade da vitória do proletariado em diversos países tomados em separado. (Veja-se Sobre os Fundamentos do Leninismo).
Esta tese é completamente certa e não necessita de comentários. É dirigida contra a teoria dos social-democratas, que consideram utopia a tomada do poder pelo proletariado num só país se não for acompanhada, ao mesmo tempo, pela revolução vitoriosa noutros países.
Mas, no folheto Sobre os Fundamentos do Leninismo há também outra formulação que diz:(1)
"Mas derrubar o poder da burguesia e instaurar o poder do proletariado num só país, não significa ainda garantir o êxito do socialismo. Fica para resolver a missão principal do socialismo: a organização da produção socialista. Pode-se cumprir essa missão, pode-se conseguir a vitória definitiva do socialismo num só país sem os esforços conjuntos dos proletários de alguns países adiantados? Não, não se pode. Para derrubada da burguesia bastam os esforços de um só país, como o indica a história da nossa revolução. Para a vitória definitiva do socialismo, para a organização da produção socialista, já não bastam os esforços de um só país, principalmente de um país tão camponês como a Rússia; para isso fazem falta os esforços dos proletários de alguns países adiantados" (Veja-se: Sobre os Fundamentos do Leninismo, primeira edição russa).
Esta segunda formulação era dirigida contra a afirmação dos críticos do leninismo, contra os trotskistas, que declaravam não poder a ditadura do proletariado num só país, sem a vitória noutros país "sustentar-se contra a Europa conservadora".
Para esse fim — mas somente para esse fim — esta formulação foi então (abril de 1924) suficiente e prestou, indubitavelmente, certo serviço.
Mais tarde, porém, quando já se havia vencido dentro do Partido a crítica ao leninismo, no que se refere a esse assunto, e se pôs em ordem do dia um novo problema, o problema da possibilidade da construção da sociedade socialista completa com as forças de nosso país e sem o auxílio do exterior, a segunda formulação era já claramente insuficiente e, portanto, falsa.
Em que consiste o defeito dessa formulação?
Seu defeito consiste em juntar num só dois problemas diferentes: o problema da possibilidade de construir o socialismo com as forças de um só país, problema ao qual se deve dar uma resposta afirmativa, e o problema de saber se um país sob a ditadura do proletariado pode considerar-se completamente garantido contra a intervenção e, portanto, contra a restauração da velha ordem, sem uma revolução vitoriosa numa outra serie de países, problema ao qual se deve dar resposta negativa. Isso, sem falar que essa formulação pode dar motivo para se acreditar ser impossível organizar a sociedade socialista com as forças de um só país, o que, naturalmente, é falso.
Baseando-me nisso, no meu folheto A Revolução de Outubro e a tática dos comunistas russos (dezembro de 1924), modifiquei e corrigi essa formulação, dividindo esse problema em dois, no problema da garantia completa contra a restauração da ordem burguesa e no problema da possibilidade de construir a sociedade socialista completa num só país. Conseguiu-se isso, primeiro, tratando "o triunfo completo do socialismo" como "garantia completa contra a restauração da antiga ordem de coisas", triunfo que só é possível mediante "os esforços conjuntos dos proletários de alguns países" e, segundo, proclamando, na base do folheto de Lenine "Sobre a Cooperação", a verdade indiscutível de que contamos com todos os elementos necessários para a construção da sociedade socialista completa. (Veja-se A Revolução de Outubro e a Tática dos Comunistas Russos).(2)
Esta nova formulação foi a que serviu de base à conhecida resolução da XIV Conferência do Partido Sobre as Tarefas da Internacional Comunista e do P. C. (b) da Rússia, que trata do problema da vitória do socialismo num só país, em relação com a estabilização do capitalismo (abril de 1925) e considera possível e necessária a construção do socialismo com as forças de nosso país.
Esta formulação serviu também de base ao meu folheto Sobre o Balanço dos Trabalhos da XIV Conferência do Partido, publicado imediatamente depois dessa conferencia, em maio de 1925.
No que se refere à discussão do problema da vitória do socialismo num só país, afirmo nesse folheto:
"No nosso país apresentam-se dois grupos de contradições. Um grupo compreende as contradições internas existentes entre o proletariado e os camponeses [alude-se aqui à construção do socialismo num só país, J. Stalin]. O outro compreende as contradições externas existentes entre nosso país, como país do socialismo, e todos os demais países capitalistas [aqui alude-se ao triunfo definitivo do socialismo. J. Stalin]..." "Quem confunda o primeiro grupo de contradições, que é perfeitamente possível vencer com os esforços de um só país, com o segundo grupo de contradições, as quais para serem vencidas, exigem os esforços dos proletários de alguns países comete o mais grave erro contra o leninismo e é ou confusionista ou oportunista incorrigível'. (Veja-se Sobre o Balanço dos Trabalhos da XIV Conferência do Partido).
No que se refere à questão da vitória do socialismo em nosso país, esse folheto diz:
"Podemos construir o socialismo até terminá-lo e o construiremos pelo braço do camponês, sob a direção da classe operária"..., pois "sob a ditadura do premissas se encontram em nosso país... todas as premissas necessárias para construir a sociedade socialista completa, vencendo todas e a cada uma das dificuldades internas, visto que podemos e devemos vencê-las com as nessas próprias forças". (Obra citada).
No que se refere ao problema do êxito definitivo do socialismo, diz-se:
"O êxito definitivo do socialismo é a garantia completa contra as tentativas de intervenção, e, portanto, de restauração inclusive, pois uma tentativa de restauração, por pouco importante que seja, só pode ter lugar com um apoio considerável do exterior, com o apoio do capital internacional. Por isso, o apoio que os operários de todos os países emprestam à nossa revolução e, com maior razão, a vitória desses operários, ainda que seja somente em alguns países, é condição indispensável para garantir plenamente o primeiro país triunfante contra as tentativas de intervenção e de restauração, condição indispensável para o êxito definitivo do socialismo". (Obra citada).
Creio que está claro.
Já se sabe que nesse sentido se interpreta este problema no meu folheto Perguntas e Respostas (junho de 1925) e no informe político do C.C. no XIV Congresso do P.C. (b) da URSS (dezembro de 1925).
Tais são os fatos.
Creio que esses fatos são conhecidos de todo o mundo, e até mesmo de Zinoviev.
Se hoje, com quase dois anos de luta ideológica, mantida no seio do Partido, e depois da resolução adotada na XIV Conferência do Partido (abril de 1925), Zinoviev, em seu discurso-resumo, pronunciado no XV Congresso do Partido (dezembro de 1925), acha possível levantar a velha formula completamente insuficiente do folheto de Stálin, escrito em abril de 1924 como base para resolver o problema, já resolvido, da vitória do socialismo num só país, essa maneira peculiar de Zinoviev atesta apenas que se confundiu definitivamente nesse problema. Argumentar com o Partido de época passada, depois que este já se adiantou e fugir à resolução da XIV Conferência do Partido, depois de ter sido confirmada pelo pleno do C. C, significa emaranhar-se irremissivelmente em contradições, não ter fé na obra da construção do socialismo desviar-se do caminho de Lenine e decretar sua própria derrota.
Que significa a possibilidade da vitória do socialismo num só país?
Significa a possibilidade de resolver as contradições entre o proletariado e os camponeses com as forças internas de nosso país, a possibilidade do proletariado tomar o poder e o utilizar para edificar a sociedade socialista completa em nosso país, contando com a simpatia e o apoio dos proletários dos demais países, mas sem que previamente triunfe, nesses países, a revolução proletária.
Sem essa possibilidade, a construção do socialismo é uma construção sem perspectivas, uma construção sem a segurança de estruturar completamente o socialismo. Não se pode dar forma ao socialismo sem ter a segurança de poder construí-lo até o seu ponto final, sem ter a segurança de que o atraso técnico de nosso país não é um obstáculo insuperável para a construção da sociedade socialista completa. Negar esta possibilidade é não ter fé na causa da construção do socialismo, é separar-se do leninismo.
Que significa a impossibilidade do triunfo completo, definitivo, do socialismo num só país, sem a vitória da revolução noutros países?
Significa a impossibilidade de ter uma garantia completa contra a intervenção e, por conseguinte, contra a restauração da ordem burguesa, se não triunfar a revolução numa serie de países, pelo menos. Negar essa tese indiscutível é afastar-se do internacionalismo, é afastar-se do leninismo.
"Não vivemos apenas — diz Lenine — dentro de Um Estado, mas dentro de um sistema de Estados, e a existência da República Soviética juntoa aos Estados imperialistas é inconcebível durante um período de tempo prolongado. No fim de contas, acabará triunfando um ou outro. Mas, enquanto esse fim não chega, terão que se produzir, inevitavelmente, os choques mais terríveis entre a República Soviética e os Estados burgueses. Isso significa que, se a classe dominante, o proletariado, quer dominar e continuar dominando, tem que demonstrá-lo também por meio sua organização militar". (Lenine, t. XXIV, pág. 12 Informe do C.C. ao VIII Congresso do P.C. (b) d Rússia) .
"Estamos — diz Lenine, noutro trecho — frente um equilíbrio sumamente instável, mas que é, contudo, um certo equilíbrio indubitável, indiscutível. Durará muito tempo? Eu o ignoro e não creio que se possa saber. Por isso se exige de nossa parte a maior prudência. E o primeiro postulado de nossa política, nosso primeiro ensinamento, que se deriva de nossa atuação governamental durante esse ano, ensinamento que todos os operários e camponeses devem assimilar, é o de estar em guarda, o de recordar que estamos rodeados por homens, por classes, por governos que manifestam abertamente o maior ódio contra nós. Temos que recordar que estamos sempre a um passo da intervenção". (Lenine, t. XXVII, pág. 117, discurso pronunciado no IX Congresso do P.C. (b) da Rússia Sobre a Política Interna e Externa da República).
Creio que está claro.
Como apresenta Zinoviev o problema da vitória do socialismo num só país?
Vejamos:
"Por vitória definitiva do socialismo deve entender-se pelo menos: 1) a supressão das classes e, portanto, 2) a supressão da ditadura de uma só classe, nesse caso, da ditadura do proletariado"... "Para se aperceber com maior clareza — diz mais adiante Zinoviev — de como se coloca esse problema em nosso país, na URSS, em 1925, é preciso distinguir duas coisas: 1) a possibilidade garantida de construir o socialismo, possibilidade que pode também ser concebida plenamente, subentende-se, dentro dos limites de um só país, e 2) a construção, definitiva e a consolidação do socialismo, isto é, a implantação do regime socialista, da sociedade socialista".
Que pode significar tudo isso?
Que Zinoviev não entende por vitória definitiva do socialismo num só país a garantia contra a intervenção e a restauração, mas a possibilidade de construir a sociedade socialista. E por vitória do socialismo num só país, Zinoviev entende a construção do socialismo que não possa nem deva conduzir à construção definitiva do socialismo. Uma construção ao acaso, sem perspectivas, uma construção do socialismo empreendida com a impossibilidade de construir a sociedade socialista completa: tal é a posição de Zinoviev.
Construir o socialismo sem a possibilidade de construí-lo completamente: construir sabendo que a construção não se realizará por completo — eis a que incongruências chega Zinoviev!
Mas isto é contornar o problema e não resolvê-lo!
Eis outro trecho tirado do discurso-resumo de Zinoviev, no XIV Congresso do Partido:
"Vede, por exemplo, até onde se deixou levar o camarada Yakovlev na última Conferência do Partido na região de Kursk. "Poderemos — pergunta este camarada — construir num só país, cercado de inimigos capitalistas por todos os lados, poderemos nestas condições construir completamente o socialismo num só país?" E responde: "Baseando-nos no que foi exposto, temos o direito de dizer que não só construiremos o socialismo, como também que, apesar do sermos, no momento, os únicos, apesar de sermos o único pais soviético, o único Estado soviético do mundo, o construiremos completamente (Pravda de Kursk. n. 278, 8 de dezembro de 1925). Será esta uma maneira leninista de colocar o problema? Não tem isso, porventura, o cheiro de uma estreiteza nacional?". (sublinhado por Stálin)
De acordo, portanto, com Zinoviev, o fato de se reconhecer a possibilidade de construir o socialismo num só país significa adotar uma posição de estreiteza nacional e negar esta possibilidade significa adotar a posição do internacionalismo.
Mas, se isso fosse certo, valeria a pena lutar, de algum modo, pelo triunfo contra os elementos capitalistas de nossa economia? Isso não supõe a impossibilidade desse triunfo?
A uma capitulação diante dos elementos capitalistas de nossa economia: eis ao que conduz a lógica interna da argumentação de Zinoviev.
E Zinoviev propõe-nos esse absurdo, que não tem nada a ver com o leninismo, como se fosse "internacionalismo", "leninismo cem por cento"!
Eu afirmo que, no importantíssimo problema da construção do socialismo, Zinoviev se separa do leninismo, aproximando-se do ponto de vista do menchevique Sukhanov.
Voltemos a Lenine. Eis o que dizia Lenine, ainda antes da Revolução de Outubro, no mês de agosto de 1915, a respeito da vitória do socialismo num só país:
"A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Disso se deduz que é possível o socialismo começar por triunfar somente nalguns países capitalistas ou mesmo num só país isoladamente. O proletariado triunfante deste país, depois de expropriar os capitalistas e depois de organizar a produção socialista dentro de suas fronteiras (sublinhado por Stálin), terá de enfrentar todo o resto do mundo, o mundo capitalista, atraindo para seu lado as classes oprimidas dos demais países, organizando neles a insurreição contra os capitalistas, empregando, caso necessário, inclusive a força das armas, contra as classes exploradoras e seus Estados". (Lenine, i. XVHL págs. 232-233, A Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa).
Que significa a frase de Lenine que sublinhamos: "depois de organizar a produção socialista dentro de suas fronteiras"? Significa que o proletariado do país vitorioso pode e deve organizar, em seu país, depois da tomada do poder, a produção socialista. Que significa "organizar a produção socialista"? Significa construir definitivamente a sociedade socialista. Não é preciso demonstrar que esta tese de Lenine, clara e incisiva, não necessita de mais comentários. A não ser assim, seriam incompreensíveis os apelos de Lenine para que o proletariado tomasse o poder, em outubro de 1917.
Vede, pois, que esta tese tão clara de Lenine se distingue, como o céu da terra, da "tese" confusa e anti-leninista de Zinoviev, segundo a qual se pode construir o socialismo "dentro dos limites de um só país", sem a possibilidade de construí-lo.
Isto foi dito por Lenine em 1915, antes da tomada do poder pelo proletariado. Mas porventura se modificaram as suas concepções depois da experiência da tomada do poder, depois de 1917? Consultemos o folheto de Lenine "Sobre a Cooperação", escrito em 1923:
"Com efeito — diz Lenine —, todos os grandes meios de produção em poder do Estado e o poder estatal em mãos do proletariado; a aliança deste proletariado com os muitos milhões de pequenos e muito pequenos camponeses; a garantia de que o proletariado dirija os camponeses, etc., porventura não é isto tudo necessário para que, com a cooperação e tão somente com a cooperação, à qual antes apelidávamos de mercantilista e que, agora, sob a NEP, merece também, de certo modo, o mesmo tratamento, porventura não é isto tudo necessário para se construir a sociedade socialista completa? (sublinhado por Stálin) Não é ainda a construção da sociedade, mas é tudo o que é necessário e suficiente para esta construção". (sublinhado por Stálin) (Lenine, t. XXVII, pág. 292).
Dito por outros termos: podemos e devemos construir definitivamente a sociedade socialista completa, pois dispomos de tudo o que é necessário e suficiente para essa construção.
Parece que é difícil expressar com maior clareza.
Comparai esta tese clássica de Lenine com a replica anti-leninista de Zinoviev, feita a Yakovlev, o compreendereis que Yakovlev não faz mais do que repetir as palavras de Lenine acerca da possibilidade de construir o socialismo num só país, enquanto que Zinoviev, ao manifestar-se contra essa tese, ao criticar Yakovlev se separa de Lenine, adotando o ponto de vista do menchevique Sukhanov, o ponto de vista da impossibilidade de construir o socialismo em nosso país, por causa de seu atraso técnico.
Para que tomamos, então, o poder em outubro de 1917, se não nos propúnhamos a construir definitivamente o socialismo?
Não se devia ter tomado o poder em outubro de 1917: eis a conclusão a que leva a lógica interna da argumentação de Zinoviev.
Afirmo ainda que, no importantíssimo problema da vitória do socialismo, Zinoviev toma posição contrária a determinados acordos de nosso Partido, que são estabelecidos na conhecida resolução, da XIV Conferência do Partido "Sobre as tarefas da Internacional Comunista e do P.C (b) da Rússia, de acordo com o Plano Ampliado do CE, da Internacional Comunista".
Vejamos esta resolução. Aqui está o que ela diz acerca da vitória do socialismo num só país:
"A existência de dois sistemas sociais diametralmente opostos provoca a ameaça constante de um bloqueio capitalista, de outras formas de pressão econômica, de intervenção armada, de restauração. A única garantia para um êxito definitivo do socialismo, isto é, a garantia contra a restauração (sublinhado por Stálin), é, portanto, a vitória da revolução socialista numa série de países..." "O leninismo ensina que a vitória definitiva do socialismo no sentido de garantia completa contra a restauração (sublinhado por Stálin) da ordem burguesa só é possível num plano internacional..." "Daí não se depreende (sublinhado por Stálin), de modo algum, que seja impossível a construção da sociedade socialista completa (sublinhado por Stálin) num país tão atrasado como a Rússia, sem a "ajuda estatal" (Trotski) dos países mais desenvolvidos do ponto de vista técnico e econômico". (Veja-se a citada resolução).
Vistes, pois, que esta resolução trata do êxito definitivo do socialismo como sendo uma garantia contra a intervenção e a restauração, completamente ao contrário de modo como o considera Zinoviev em seu livro "O Leninismo".
Vistes, pois, que esta resolução reconheço a possibilidade da construção da sociedade socialista completa num país tão atrasado como a Rússia sem "ajuda estatal" dos países mais desenvolvidos no aspecto técnico e econômico, completamente ao contrário da afirmação feita por Zinoviev, em sua replica a Yakovlev, em seu discurso-resumo, pronunciado no XIV Congresso do Partido.
Como qualificar tal coisa senão como uma luta de Zinoviev contra a resolução da XIV Conferência do Partido?
Naturalmente, nem sempre são impecáveis as resoluções do Partido. Pode acontecer que as resoluções do Partido contenham erros. Falando em termos gerais, pode-se aceitar, por hipótese, que a resolução da XIV Conferência do Partido contenha também certos erros. É possível que Zinoviev considere que esta resolução contenha equívocos. Mas, neste caso, é preciso dizê-lo, clara e abertamente, como corresponde a um bolchevique. Zinoviev, entretanto, tem suas razões para não fazê-lo. Prefere seguir outro caminho, o caminho de atacar pelas costas a resolução da XIV Conferência do Partido silenciando a respeito desta resolução, sem a criticar de modo mais ou menos aberto. Zinoviev acredita, pelo que vemos, que este caminho conduz melhor ao seu objetivo. E seu objetivo não é senão o seguinte: "melhorar "a resolução e corrigir "um pouquinho" Lenine. Será preciso acaso demonstrar que Zinoviev se equivoca em seus cálculos?
Donde provem o erro de Zinoviev? Onde está a origem de seu erro?
A causa de seu erro reside, a meu ver, na segurança de Zinoviev sobre o fato do atraso técnico de nosso país ser obstáculo insuportável para a construção da sociedade socialista completa, de que o proletariado não pode construir o socialismo devido ao atraso técnico de nosso país. Zinoviev e Kamenev tinham procurado, certa vez, expor este argumento numa das sessões do C.C. do Partido, nas vésperas da Conferencia celebrada pelo Partido em abril. Mas lhes foi dada a réplica oportuna e viram-se obrigados a retroceder, submetendo-se formalmente ao ponto de vista oposto, ao ponto de vista da maioria do C.C. Mas, apesar de ter-se submetido formalmente, Zinoviev prosseguiu durante todo o tempo sua luta contra a maioria. Eis o que diz, a propósito desse "incidente", ocorrido no C.C. do P.C. (b) da URSS, o Comitê de Moscou de nosso Partido, em sua Resposta à carta da Conferencia do Partido da região de Leningrado:
"Não faz muito tempo, Zinoviev e Kamenev mantiveram no Bureau Político o ponto de vista de que não poderemos, segundo eles, vencer as dificuldades internas, por causa de nosso atraso técnico e econômico, se não nos vier salvar a revolução internacional. Mas nós, com a maioria do C.C., entendemos que podemos construir o socialismo, que o estamos construindo, e que o construiremos completamente, apesar de nosso atraso técnico e a despeito dele. Entendemos que esta construção irá, naturalmente, muito mais devagar do que iria sob as condições de um triunfo mundial, mas que, não obstante, avançamos e continuaremos avançando. Achamos também que o ponto de vista de Kamenev e de Zinoviev exprime a falta de confiança nas forças internas de nossa classe operária e das massas camponesas que a acompanham. Cremos que este ponto de vista significa desviar-se das posições leninistas". (Veja-se a Resposta citada).
Este documento apareceu na imprensa durante as primeiras sessões do XIV Congresso do Partido. Zinoviev teve, naturalmente, possibilidade de se manifestar contra este documento já no próprio Congresso. É característico que Zinoviev e Kamenev não encontrassem argumentos contra esta grave acusação que contra eles levantava o Comitê de Moscou de nosso Partido. Isso se deu por acaso? Creio que não foi por acaso. Pelo visto, a acusação acertou no alvo. Zinoviev e Kamenev deram — como "resposta" a esta acusação o silencio — porque não tinham nada para "responder".
A nova oposição sente-se ofendida pelo fato de se acusar Zinoviev de falta de confiança na construção socialista em nosso país. Mas, se Zinoviev, depois de discutir um ano inteiro o problema da vitória do socialismo num só país, depois de ter o Bureau Político do C.C. (abril de 1925) rechaçado o ponto de vista de Zinoviev, depois de ter o Partido uma opinião determinada sobre este assunto, opinião que é formulada na conhecida resolução da XIV Conferência do Partido (abril de 1925); se, depois de tudo isto, Zinoviev decide manifestar-se em seu livro "O Leninismo", em setembro de 1925, contrariamente ao ponto de vista do Partido; se, depois disto, continua repetindo essas manifestações no XIV Congresso, como explicar tudo isto, esta obstinação, esta insistência em defender o seu erro, a não ser que Zinoviev esteja contaminado, incuravelmente contaminado, pela falta de confiança na vitória da construção socialista em nosso país?
A Zinoviev apraz considerar esta sua falta de confiança como internacionalismo. Mas desde quando é usado entre nós considerar como internacionalismo o desviar-se do leninismo no problema cardial do leninismo?
Não seria mais exato dizer que quem peca, neste caso, contra o internacionalismo e a revolução internacional não é o Partido, mas Zinoviev? Pois o que é que representa o nosso país, o país do "socialismo em construção", senão a base da revolução mundial? Mas pode o nosso país ser a verdadeira base da revolução mundial se não é capaz de construir completamente a sociedade socialista? Pode o nosso país continuar a ser o maior centro de atração para os operários de todos os países, como indubitavelmente o é na atualidade, se não pode conseguir dentro de suas fronteiras a vitória sobre os elementos capitalistas de nossa economia, a da construção socialista? Eu creio que não. E não se conclui disso que a falta de fé na vitória da construção socialista e propugnar essa falta de fé faz com que nosso país se prive do prestigio como base da revolução mundial, e desprestigiar o nosso país leva, por sua vez, a debilitar o movimento revolucionário mundial? Quais eram os meios de que se valiam os senhores social-democratas para afugentar de nosso convívio os operários? Eles diziam que "os russos nada fariam de concreto". Com que combatemos agora os social-democratas, atraindo um serie de delegações operárias e reforçando com isso as posições comunistas do mundo todo? Com os nossos êxitos na construção do socialismo. E, depois disso, não está claro que quem prega a falta de confiança em nossos êxitos na construção do socialismo ajuda indiretamente aos social-democratas, debilita a amplitude do movimento revolucionário internacional, e afasta-se inevitavelmente do internacionalismo?...
Como vedes, "o internacionalismo" de Zinoviev fica nas mesmas péssimas condições que seu "leninismo cem por cento", no que se refere à construção do socialismo num só país.
Por isso, o XIV Congresso do Partido agiu acertadamente ao definir as concepções da nova oposição como "falta de confiança na construção do socialismo" e como "desvio do leninismo".
Notas de rodapé:
(1) Refere-se à primeira edição dessa obra (retornar ao texto)
(2) Esta nova formulação vem logo substituir a antiga nas lições posteriores de Sobre os Fundamentos do Leninismo (retornar ao texto)
Inclusão | 28/01/2012 |