MIA > Stálin > Imprensa Proletária > Revista Problemas nº 32 > Novidades
Camaradas! Antes de passar à essência da questão, permití-me que faça algumas observações preliminares.
A PRIMEIRA questão é a questão da luta dentro de nosso Partido, de uma luta que não começou ontem e que ainda não terminou.
Se considerarmos a história de nosso Partido desde o momento de sua origem na forma de grupos bolcheviques em 1902 e acompanharmos as suas etapas posteriores até os dias de hoje, pode-se então afirmar sem exagero que a história de nosso Partido é a história da luta das contradições dentro do próprio Partido, a história da superação destas contradições e o fortalecimento gradual de nosso Partido na base da superação destas contradições. Pode-se pensar que os russos sejam demasiadamente briguentos, gostem de discutir, criem divergências e por isso o desenvolvimento do Partido se processa entre nós através da superação das contradições internas do Partido. Isto não é verdade, camaradas. O problema aqui não é o de se ser belicoso. O problema aqui está na existência das divergências de princípios que surgem na marcha do desenvolvimento do Partido, no curso da luta de classes do proletariado. O problema aqui está em que só se pode superar as contradições por meio da luta por estes ou aqueles princípios, por estes ou aqueles objetivos da luta, por estes ou aqueles métodos de luta que nos conduzam ao objetivo que temos em vista. É possível e é necessário estabelecer quaisquer acordos com os heterodoxos dentro do Partido quanto às questões da política corrente, quanto às questões de caráter puramente prático.
Mas se estas questões se acham ligadas à divergências de princípios, então nenhum acordo e nenhuma linha "intermediária" pode salvar a situação. Não há e não pode haver uma linha "intermediária" nas questões que tenham caráter de princípios. Estes ou aqueles princípios devem ser colocados na base do trabalho do Partido. Uma linha "intermediária" nas questões de princípios é uma "linha" de confusão nas cabeças, uma "linha" de dissimulação das divergências, uma "linha" de degeneração ideológica do Partido, uma "linha" de morte ideológica do Partido.
Como vivem e se desenvolvem atualmente os Partidos social-democratas no Ocidente? Há entre eles contradições dentro do Partido, divergências de princípios? Há, sem dúvida. Revelam eles estas divergências e se esforçam no sentido de superá-las honrada e francamente perante as massas do Partido? Não. Não, sem dúvida! A prática da social-democracia consiste em ocultar e esconder estas contradições e divergências. A prática da social-democracia consiste em transformar as suas conferências e congressos numa vazia mascarada de exibição de bem-estar que oculta e dissimula cuidadosamente as divergências internas. Mas disto não se pode obter nada mais do que a confusão nas cabeças e o empobrecimento ideológico do Partido. Nisto se encontra uma das causas da decadência da social-democracia da Europa Ocidental que outrora foi revolucionária mas que atualmente é reformista.
Mas assim não podemos viver e progredir, camaradas. Uma política em que haja uma linha "intermediária" de princípios não é a nossa política, A política em que há uma linha "intermediária" de princípios é a política dos Partidos que se acham num processo de definhamento e de degeneração. Uma tal política não pode deixar de conduzir à transformação do Partido num aparelho burocrático vazio que marcha à reboque dos acontecimentos e isolado das massas operárias. Este caminho não é o nosso caminho.
Todo o passado de nosso Partido constituí uma confirmação da tese de que a história de nosso Partido é a história da superação das contradições internas do Partido e do fortalecimento incessante das fileiras de nosso Partido na base desta superação.
Consideremos o primeiro período, o período da "Iskra" ou o período do IIº Congresso de nosso Partido quando pela primeira vez surgiram divergências dentro de nosso Partido entre os bolcheviques e os mencheviques e quando os dirigentes de nosso Partido se dividiram, no final de contas, em duas partes: na parte bolchevique (Lênin) e na parte menchevique (Plekhanov, Axelrod, Mártov, Zassulitch e Potressov). Lênin se achava então em minoria. Se soubésseis quantos gritos e exclamações houve então a respeito dos "insubstituíveis" que haviam se afastado de Lênin! A prática da luta e a história do Partido demonstraram, porém, que estas divergências se apoiavam numa base de princípios e que estas divergências constituíam uma etapa necessária para a formação e o desenvolvimento de um Partido realmente revolucionário e realmente marxista. A pratica da luta demonstrou então que, em primeiro lugar a questão não é de quantidade, mas de qualidade e, em segundo lugar, a questão não é de unidade formal, mas de que a unidade tenha uma base de princípios. A história demonstrou que Lênin tinha razão e que os "insubstituíveis" estavam errados. A história demonstrou que sem a superação destas contradições entre Lênin e os "insubstituíveis" não teríamos um autêntico Partido revolucionário.
Consideremos o período seguinte, o período que abrange as vésperas da revolução de 1905, quando os bolcheviques e os mencheviques ainda se defrontavam dentro de um mesmo Partido como dois campos cem duas plataformas inteiramente diferentes, quando os bolcheviques se achavam às vésperas de uma cisão formal no Partido e quando eles foram forçados a convocar o seu congresso particular, o III Congresso, para a defesa da linha de nossa revolução.
Por que a parte bolchevique do Partido conquistou então a supremacia, por que conquistou as simpatias da maioria do Partido?
Porque não dissimulava as divergências de princípios e lutava pela superação destas divergências por meio do isolamento dos mencheviques.
Eu poderia citar, também, a terceira etapa de desenvolvimento de nosso Partido, o período posterior à derrota da revolução de 1905, o período de 1907, quando uma parte dos bolcheviques, os chamados "otzovistas"(2), chefiados por Bogdanov, romperam com o bolchevismo. Foi um período crítico na vida de nosso Partido. Foi o período em que toda uma série de bolcheviques da velha guarda abandonaram Lênin e seu Partido. Os mencheviques apregoavam então o fracasso dos bolcheviques. O bolchevismo, porém, não pereceu e a prática da luta de cerca de ano e meio demonstrou que Lênin seu Partido estavam certos ao travarem a luta pela superação das contradições dentro das fileiras do bolchevismo Estas contradições foram superadas não por meio de sua dissimulação, mas por meio da revelação de sua essência e por meio da luta para o bem e em proveito de nosso Partido.
Eu poderia citar, ainda, o quarto período da história de nosso Partido, o período de 1911 a 1912, quando os bolcheviques restabeleceram o Partido que havia sido destruído pela reação tsarista e expulsaram dele os liquidacionistas. Aí também, tanto quanto nos períodos anteriores, os bolcheviques se encaminharam no sentido do restabelecimento e fortalecimento do Partido não através da dissimulação das divergências de princípio com os liquidacionistas, mas através de sua descoberta e superação.
Eu poderia me referir, lambem, à quinta etapa de desenvolvimento de nosso Partido, ao período anterior à Revolução de Outubro de 1917, quando uma parte dos bolcheviques, chefiada por conhecidos líderes do Partido Bolchevique, vacilou e não quis marchar para a insurreição de Outubro, considerando-a uma aventura. Sabe-se que também esta contradição foi superada pelos bolcheviques não por meio da dissimulação das discordâncias, mas por meio de uma luta aberta pela Revolução de Outubro. A prática da luta demonstrou que sem a superação destas discordâncias poderíamos ter colocado a Revolução de Outubro em situação crítica.
Eu poderia citar, finalmente, os últimos períodos de desenvolvimento de nossa luta interna no Partido, o período da paz de Brest, o período de 1921 (discussão sindical) e os demais períodos que são conhecidos de todos nós e sobre os quais não me alongarei aqui. Sabe-se que em todos estes períodos, tanto quanto no passado, o nosso Partido cresceu e se fortaleceu através da superação das contradições internas do Partido.
Quais são, portanto, as conclusões a que chegamos?
Em primeiro lugar, chega-se à conclusão de que o PC (b) da URSS cresceu e se fortaleceu através da superação das contradições internas do Partido.
Em segundo lugar, chega-se à conclusão de que a superação das divergências internas no Partido através da luta constitui uma lei de desenvolvimento de nosso Partido.
Alguns poderão nos dizer que se trata de uma lei para o PC (b) da URSS e não para outros Partidos proletários. Isto não é verdade. Esta lei é uma lei de desenvolvimento para todo e qualquer grande Partido, trate-se do Partido proletário da URSS ou dos Partidos proletários do Ocidente. Se se pode, desta ou daquela forma, dissimular as divergências que se verifiquem num pequeno Partido de um pequeno país, cobrindo-as com a autoridade de uma ou algumas pessoas, por outro lado num grande Partido de um grande país o desenvolvimento através da superação das contradições constitui um elemento inevitável de crescimento e de fortalecimento do Partido. Assim se colocava o problema no passado. Assim se coloca o problema no presente.
Eu desejaria, aqui, invocar a autoridade de Engels que dirigiu, ao lado de Marx, os Partidos proletários no Ocidente durante dezenas de anos. Trata-se dos anos da década 80 do século passado, época em que vigorava na Alemanha uma lei de exceção contra os socialistas(3) e em que Marx e Engels se achavam em Londres, como emigrados, e quando "O Social-Democrata"(4), órgão ilegal da social-democracia alemã editado no estrangeiro, dirigia na realidade o trabalho da social-democracia alemã. Bernstein era então um revolucionário marxista (ele ainda não havia se passado para o lado dos reformistas) e Engels mantinha com o mesmo uma ativa correspondência sobre as questões mais atuais e de maior interesse da política da social-democracia alemã. Eis o que ele escreveu então a Bernstein (1882):
"É evidente que qualquer Partido operário de um grande país só pode se desenvolver na luta interna e em completa concordância com as leis do desenvolvimento dialético em geral. O Partido alemão se tornou o que ele é atualmente na luta entre os Eisenaquianos e os Lassalianos onde a própria luta representava um importante papel. A união só se tornou possível quando o bando de patifes criados especialmente por Lassale para lhe servir de instrumento já havia fracassado, e então os nossos marcharam com muita rapidez para essa unificação. Na França as pessoas que, embora tenham sacrificado a teoria bakuninista, continuam, porém, a lançar mão dos métodos bakuninistas de luta e ao mesmo tempo querem sacrificar o caráter de classe do movimento aos seus objetivos particulares, devem também, em primeiro lugar, superar a si mesmas antes que novamente se tome possível a unificação. Seria a maior estúpidas pregar a união em tais circunstâncias. Os sermões morais não dão resultado contra as doenças infantis que em vista das circunstâncias atuais são inevitáveis"(5).
Ou então, como o afirma Engels em outro local (1885):
"As contradições nunca poderão ser dissimuladas por longo tempo, são resolvidas pela luta".(6).
Eis que é necessário, antes de tudo, explicar a existência de contradições dentro de nosso Partido e o desenvolvimento de nosso Partido através da superação destas contradições por meio da luta.
MAS de onde partem estas contradições e divergências, onde se encontram a sua origem?
Penso que as origens das contradições internas dos Partidos proletários residem em duas circunstâncias.
Que circunstâncias são estas?
Trata-se, em primeiro lugar, da pressão da burguesia e da ideologia burguesa sobre o proletariado e seu Partido nas condições da luta de classes — pressão a que frequentemente cedem as camadas menos firmes do proletariado, o que quer dizer também as camadas menos firmes do Partido proletário. Não se pode considerar que o proletariado esteja completamente isolado da sociedade e que se mantenha fora da sociedade. O proletariado é uma parte da sociedade e se acha ligado às suas diferentes camadas por numerosos fios. Mas o Partido é uma parte do proletariado. É por isso que o Partido não pode estar livre das ligações e influências das diferentes camadas da sociedade burguesa. A pressão da burguesia e de sua ideologia sobre o proletariado e seu Partido se manifesta no fato de que as idéias, os costumes, os hábitos e o estado de espíritoburgueses penetram frequentemente no proletariado e seu Partido através de determinadas camadas do proletariado que se encontram desta ou daquela forma ligadas à sociedade burguesa.
Trata-se, em segundo lugar, da heterogeneidade da classe operária, da existência de diferentes camadas no seio da classe operária. Penso que se poderia dividir o proletariado, como classe, em três camadas.
A primeira camada é constituída pela massa fundamental do proletariado, o seu cerne, a sua parte constante, é a massa dos proletários "puro-sangue" que já rompeu de há muito as suas ligações com a classe capitalista. Esta camada do proletariado constitui o esteio mais firme do marxismo.
A segunda camada é constituída pelos elementos recém-saídos das classes não proletárias, do campesinato, das fileiras da pequena burguesia e da intelectualidade. Trata-se de elementos provenientes de outras classes que apenas recentemente se integraram na composição do proletariado e que introduzem na classe operária os seus hábitos, os seus costumes, as suas vacilações e as suas indecisões. Esta camada constitui o campo mais favorável para todo gênero de agrupamentos anarquistas, semi-anarquistas e "ultra-esquerdistas".
E finalmente temos a terceira camada — é a aristocracia operária, a cúpula da classe operária, a parte do proletariado mais acomodada, com a sua tendência a estabelecer compromissos com a burguesia, com o seu estado de espírito predominante no sentido da adaptação aos poderosos do mundo, com a sua tendência a "vencer na vida". Esta camada constitui o campo mais favorável para os reformistas e oportunistas rematados.
Apesar da diferença exterior, estas duas últimas camadas da classe operária representam mais ou menos o melo comum que alimenta o oportunismo em geral, o oportunismo descarado, quando predominam os estados de espíritoda aristocracia operária, e o oportunismo que se cobre com uma fraseologia "de esquerda", quando predominam os estados de espírito das camadas semi-burguesas da classe operária que ainda não romperam inteiramente com o meio pequeno-burguês, o fato de que os estados de espírito "ultra-esquerdistas" coincidem frequentemente com o estado de espíritode um oportunismo descarado — é um fato que nada apresenta de extraordinário. Lênin, afirmou por mais de uma vez que a oposição "ultra-esquerdista" é o reverso da oposição de direita, menchevique e francamente oportunista. E nisto ele tem toda razão. Se um elemento "ultra-esquerdista" é pela revolução somente pelo fato de que espera para amanhã mesmo a vitória da revolução, então se torna claro que ele deve cair em desespero e se desiludir da revolução se se verificar um atraso da revolução, se a revolução não vencer amanhã mesmo.
É natural que em cada reviravolta do desenvolvimento da luta de classes e em cada aguçamento da luta e intensificação das dificuldades a diferença de opiniões, nos hábitos e nos estados de espírito das diferentes camadas do proletariado deve se manifestar inevitavelmente sob o aspecto de determinadas divergências dentro do Partido e a pressão da burguesia e da sua ideologia devem aguçar inevitavelmente estas divergências, apresentando-as sob a forma de luta dentro do Partido proletário.
Tais são as origens das contradições e divergências internas do Partido.
Pode-se evitar estas contradições e divergências? Não, não se pode. Pensar que se possa evitar essas contradições significa enganar-se a si mesmo. Engels tinha razão quando afirmou que não se pode dissimular as contradições dentro do Partido por longo tempo e que estas contradições são resolvidas pela luta.
Isto não quer dizer que o Partido deva ser transformado em clube de discussão. O Partido proletário, ao contrário, é e deve continuar a ser uma organização de luta do proletariado. Eu quero apenas dizer que não se pode passar por alto e fechar os olhos em face das divergências dentro do Partido se estas divergências assumem um caráter de princípios. Quero apenas dizer que é somente por meio da luta pela linha marxista de princípios, que se poderá preservar o Partido proletário da pressão e influência da burguesia. Quero apenas dizer que é somente por meio da superação das contradições internas do Partido que se poderá conseguir a pureza e o fortalecimento do Partido.
PERMITÍ-ME que eu passe agora das observações preliminares para a questão da oposição no PC (b) da URSS.
Desejaria, em primeiro lugar, assinalar algumas particularidades da nossa oposição interna no Partido. Tenho em vista as suas particularidades exteriores, que saltam aos olhos e por enquanto não me refiro à essência destas divergências. Penso que se poderia reduzir estas particularidades a três particularidades principais. Trata-se, em primeiro lugar do fato de que a oposição no PC (b) da URSS é uma oposição unificada e não uma "simples" oposição qualquer. Trata-se em segundo lugar, do fato do que a oposição tenta mascarar o seu oportunismo com uma fraseologia "de esquerda", ostentando palavras de ordem "revolucionárias". Trata-se, em terceiro lugar, do fato de que a oposição, em vista da sua imprecisão de princípios, queixa-se de vez em quando de que não é compreendida e que os seus líderes representam na realidade uma fração de "incompreendidos". (Risos).
Comecemos pela primeira particularidade. Como se explica o fato de que a oposição se apresente entre nós como uma oposição como bloco de todas e quaisquer tendências condenadas anteriormente pelo Partido e em que ela se apresenta não como uma simples oposição, mas tendo à frente o trotskismo?
Este fato é explicável pela seguinte circunstância.
Em primeiro lugar, pelo fato de que todas as tendências que se unem em bloco — os trotskistas, a "nova oposição", os restos do "centralismo democrático"(7) e os restos da "oposição operária(8) — todas elas são tendências mais ou menos oportunistas que ou lutam contra o leninismo desde que surgiram ou iniciaram ultimamente a luta contra o mesmo. Não é preciso dizer que este traço comum devia facilitar a sua unificação em bloco para a luta contra o Partido.
Em segundo lugar, o caráter de reviravolta do período que atravessamos e a circunstância de que o atual período de reviravolta coloca sem rodeios as questões básicas de nossa revolução e como todas estas tendências se afastaram e continuam a se afastar do nosso Partido quanto a tais ou quais questões da revolução, é natural, então, que o caráter geral do período atual, ao fazer um balanço de todas as nossas divergências, pusesse todas estas divergências num só bloco, num bloco contra a linha fundamental de nosso Partido. Não é preciso dizer que esta circunstância não pôde deixar de facilitar a unificação das diferentes tendências oposicionistas num campo comum.
Em terceiro lugar, a poderosa força e coesão de nosso Partido, por um lado, e a fraqueza de todas as tendências oposicionistas sem exceção e seu isolamento das massas, por outro lado, é uma circunstância que não podia deixar de fazer com que a falta de unidade destas tendências na luta contra o nosso Partido a tornasse bastante insegura e que, em vista disso, as tendência oposicionistas deviam enveredar inevitavelmente pelo caminho da unificação de forças para, com a junção de grupos separados, compensara sua fraqueza e por isso mesmo aumentar, embora aparentemente, as probabilidades da oposição.
Pois bem, e como se explica o fato de que sejam precisamente os trotskistas que se, apresentam à frente do bloco oposicionista?
Em primeiro lugar, pelo fato de que o trotskismo constitui a tendência mais completa do oportunismo em nosso Partido entre todas as tendências oposicionistas existentes (O V Congresso da Internacional Comunista estava certo ao qualificar o trotskismo como um desvio pequeno-burguês)(9).
Em segundo lugar, pelo fato de que nenhuma tendência oposicionista em nosso Partido sabe mascarar, com tanta habilidade e artifício, o seu oportunismo com uma fraseologia "de esquerda" e revolucionária, como o trotskismo (Risos).
Não é a primeira vez, na história de nosso Partido, que o trotskismo se apresenta à frente das tendências oposicionistas contra o nosso Partido. Desejaria me referir a um precedente conhecido que teve lugar, na história de nosso Partido, de 1910 a 1914, quando se formou um bloco, chefiado por Trotski, de tendências oposicionista» e anti-partidárias, o chamado bloco de Agosto. Eu desejaria me referir a este precedente porque ele representa uma espécie de protótipo do atual bloco oposicionista. Nessa ocasião Trotski unificou, contra o Partido, os liquidacionistas (Potressov, Mártov e outros), os otzovistas (os "vperiodistas") e o seu próprio grupo. E atualmente ele tenta unificar num bloco oposicionista a "oposição operária", a "nova oposição" e o seu próprio grupo.
Sabe-se que Lênin lutou então contra o bloco de Agosto durante três anos. Eis o que escreveu Lênin então a respeito do bloco de Agosto, às vésperas de sua formação:
"Por isso declaramos, em nome do Partido em seu conjunto, que Trotski segue uma política anti-partidária; — que ele infringe os estatutos do Partido e se lança pelo caminho da aventura e da cisão... Trotski cala a respeito desta verdade incontestável porque, em virtude dos objetivos reais de sua política, a verdade lhe é insuportável. E os seus objetivos reais tornam-se cada vez mais claros e tornam-se evidentes até mesmo para os membros do Partido menos clarividentes. Estes objetivos reais são a constituição de um bloco anti-partidário dos Protessov com os vperiodistas, bloco que Trotski apóia e organiza... Este bloco, sem dúvida, apóia o "fundo" de Trotski e da conferência, anti-partidária por ele convocada porque tanto os senhores Potressov como os vperiodistas conseguem aqui o que lhes é necessário; a liberdade para suas frações, a sua consagração, uma máscara para a sua atividade e a sua defesa legal perante os operários.
E eis que justamente do ponto de vista das "bases de principio" não podemos deixar de considerar este bloco como aventurismo no sentido mais preciso da palavra. Trotski não ousa disser que ele vê nos Potressov e nos otzovistas autênticos marxistas e verdadeiros defensores dos princípios do social-democratismo. Nisto está a essência da posição de aventureiro que ele se esforça permanentemente por mascarar. O bloco de Trotski com Potressov e os vperiodistas é uma aventura precisamente do ponto de vista das "bases de princípio". Isto não é menos verdadeiro do ponto de vista das tarefas político-partidárias... A experiência do ano decorrido após o pleno demonstrou de fato que são precisamente os grupos de Potressov e que é justamente a fração dos vperiodistas que encarnam esta influência burguesa sobre o proletariado... E finalmente, em terceiro lugar, a política de Trotski é uma aventura do ponto de vista da organização, porque, como já o indicamos, ela infringe os estatutos do Partido e, ao organizar uma conferência em nome de um grupo do estrangeiro (ou em nome de um bloco constituído de duas frações anti-partidárias, os golossoviets e os vperiodistas) envereda diretamente pelo caminho da cisão".(10)
Assim se manifestou Lênin a propósito do primeiro bloco das tendências anti-partidárias chefiadas por Trotski.
O mesmo é preciso dizer no fundamental, mas com dureza ainda maior, quanto ao bloco atual das tendências anti-partidárias chefiadas também por Trotski.
Eis o motivo pelo qual a nossa oposição manifesta atualmente na forma de oposição unificada e se manifesta não "simplesmente" mas chefiada pelo trotskismo.
Tal é a situação do problema no que se refere à primeira particularidade da oposição.
Passemos a segunda particularidade. Eu já afirmei que a segunda particularidade da oposição consiste na sua tendência, que se fortaleceu, a encobrir o seu trabalho oportunista com uma fraseologia "de esquerda", "revolucionária".
Eu não considero possível me alongar aqui quanto aos fatos que demonstram as constantes divergências entre as palavras "revolucionárias" e os atos oportunistas que se verificam na vida prática de nossa oposição. Basta consultar, por pouco que seja, as teses sobre a oposição, aprovadas pela conferência do PC (b) da URSS(11) para se compreender, o mecanismo desse mascaramento. Eu só desejaria citar alguns exemplos da história de nosso Partido que afirmam que todas as tendências oposicionistas em nosso Partido durante o período decorrido após a tomada do poder se esforçavam no sentido de mascarar os seus atos anti-revolucionários com uma fraseologia "revolucionária", criticando invariavelmente o Partido e a sua política "de esquerda".
Consideremos, por exemplo, os comunistas "de esquerda" que se manifestaram contra o Partido no período da paz de Brest (1918). Sabe-se que criticavam o Partido do ponto de vista "da esquerda" ao se manifestarem contra a paz de Brest e ao qualificarem a política do Partido como oportunista, anti-proletária e conciliadora em relação aos imperialistas. E de fato se verificou que, ao se manifestarem contra a paz de Brest, os comunistas "de esquerda" impediam que o Partido conseguisse uma "trégua" para a organização e o fortalecimento do Poder Soviético, ajudavam aos social-revolucionários e aos mencheviques que eram então contra a paz de Brest e facilitavam a tarefa do imperialismo que visava sufocar o Poder Soviético no próprio nascedouro.
Consideremos a "oposição operária" (1921). Sabe-se que ela também criticou o Partido do ponto de vista "da esquerda", "fulminando" de todas as formas a política da NEP. (Nova Política Econômica) e "pulverizando" a tese de Lênin de que é necessário iniciar o restabelecimento da indústria pelo desenvolvimento da agricultura que fornece as matérias primas e os gêneros alimentícios para a indústria, "pulverizando" esta tese de Lênin como esquecimento dos interesses do proletariado e como desvio camponês. Mas na realidade se verificou que sem a política da NEP, sem o desenvolvimento da agricultura que fornece as matérias primas e os gêneros alimentícios à indústria não teria havido entre nós nenhuma indústria e o proletariado perderia as suas características de classe. Sabe-se, além disso, em que sentido a "oposição operária" começou a progredir depois de tudo isso, para a direita ou para a esquerda.
Consideremos, finalmente, o trotskismo que já há alguns anos critica o nosso Partido do ponto de vista "da esquerda" e que constitui, ao mesmo tempo, segundo a correta classificação do V Congresso da Internacional Comunista, um desvio pequeno-burguês. O que pode haver de comum entre um desvio pequeno-burguês e a verdadeira revolução? Não é verdade que uma fraseologia "revolucionária" constitui aqui apenas a cobertura de um desvio pequeno-burguês?
Já não falo da "nova oposição", cuja gritaria "esquerdista" serve para dissimular a sua escravização ao trotskismo.
O que nos revelam todos estes fatos?
Eles nos revelam que o mascaramento "esquerdista" de sua atividade oportunista constitui um dos traços característicos de todas e quaisquer tendências oportunistas no nosso Partido durante o período posterior à tomada do poder.
Como se explica esse fenômeno?
Explica-se pelo espírito revolucionário do proletariado da URSS e pelas imensas tradições revolucionárias que possui o nosso proletariado. Isto se explica pelo intenso ódio dos trabalhadores da URSS aos elementos contra-revolucionários e oportunistas. Isto se explica pelo fato de que os nossos operários simplesmente se negarão a ouvir um oportunista notório e por isso a máscara "revolucionária" constitui o engodo que deve, embora de forma aparente, atrair a atenção dos operários e inspirar-lhes confiança na oposição. Os nossos operários não poderão, por exemplo, compreender por que até agora os operários ingleses não chegaram a perceber a necessidade de afogar traidores da espécie de um Thomas, a necessidade de jogá-los no poço. (Risos). Todo aquele que conhece os nossos operários compreenderá facilmente que não haveria lugar entre os trabalhadores soviéticos para pessoas e oportunistas da espécie de Thomas. E apesar disso todos nós sabemos que os trabalhadores ingleses não somente não pretendem afogar os senhores Thomas, mas ainda os reelegem para o Conselho Geral(12) e não simplesmente os reelegem mas ainda lhes fazem uma demonstração de apreço. É claro que esses operários não exigem do oportunismo uma máscara revolucionária porque eles atualmente aceitam de boa vontade os oportunistas em seu meio.
E como se explica esse fato? Explica-se pela ausência de tradições revolucionárias entre os operários ingleses. Elas, estas tradições revolucionárias, começam a se formar agora. Surgem e se desenvolvem e não temos motivos para duvidar de que os operários ingleses se temperarão nos combates revolucionários. Mas até que isso aconteça permanece a diferença existente entre os operários ingleses e soviéticos. Esta circunstância explica, em particular, o fato de que seja arriscado para os oportunistas se aproximarem dos operários da URSS sem algum disfarce "revolucionário".
Eis onde residem as causas do disfarce "revolucionário" do bloco oposicionista.
Consideremos, finalmente, a terceira particularidade da oposição. Já afirmei que esta particularidade reside na imprecisão de princípios do bloco oposicionista, na sua falta de princípios, na sua forma rudimentar e nas constantes queixas que daí decorrem dos líderes da oposição no sentido de que "não são compreendidos", "deturpam o seu pensamento" e lhes são atribuídas afirmações "que não fizeram", etc. Trata-se, realmente, de uma fração de "incompreendidos". A história dos partidos proletários nos ensina que esta particularidade ("não nos compreendem!") constitui a particularidade mais comum e mais conhecida do oportunismo em geral. Deveis saber, camaradas, que "aconteceu" exatamente o mesmo com os conhecidos oportunistas Bernstein, Volmar, Auer e outros nas fileiras da social-democracia alemã em fins de 1890 e em princípios de 1900, quando a social-democracia alemã era revolucionária e quando esses oportunistas incorrigíveis se queixaram, por muitos anos, de que "não eram compreendidos" e que "desfiguravam" o seu pensamento. Sabe-se que os social-democratas revolucionários alemães chamavam então a fração de Bernstein de fração dos "incompreendidos". Não se pode considerar casual o fato de que tenhamos, dessa forma, que incluir o bloco oposicionista nas fileiras da fração dos "incompreendidos".
Tais são as particularidades principais do bloco oposicionista.
Notas:
(2) O otzovismo, ou liquidacionismo de esquerda, era uma tendência oportunista que surgiu nas fileiras da social-democracia após a revolução de 1905. O otzovismo pregava a rejeição total das formas legais do trabalho partidário entre as massas e a renúncia dos deputados bolcheviques à Duma. Sob a máscara de uma fraseologia "esquerdista", punha em prática, no essencial, uma política de liquidação do Partido. - nota da redação (retornar ao texto)
(3) (I) A lei de exceção contra os socialistas foi decretada na Alemanha em 1878 pelo governo de Bismark. Essa lei lançou à ilegalidade todas as organizações do Partido Social-Democrata, as organizações operárias de massa e a imprensa operária. Na base dessa lei confiscou-se a literatura socialista e se desencadearam as repressões contra os social-democratas. O Partido Social-Democrata Alemão foi forçado a passar à ilegalidade. A lei foi revogada em vista da pressão do movimento operário de massas, em 1890. (retornar ao texto)
(4) "O Social-Democrata" ("Der Sozialdemokrat") — Jornal ilegal, órgão da social-democracia alemã; foi publicado de setembro de 1879 a setembro de 1890, a princípio em Zurique (Suíça) e a partir de outubro de 1888 em Londres. (retornar ao texto)
(5) K. Marx e F. Engels — "Cartas Escolhidas', pgs. 358-359, edição russa, 1947. Moscou. (retornar ao texto)
(6) Idem, pg. 371. (retornar ao texto)
(7) Refere-se aqui ao grupo anti-partldárlo existente no PC (b) da Rússia e que se denominava grupo do "centralismo democrático". Esse grupo se formou na época do comunismo de guerra e era chefiado por Sapronov e Ossinskl. Os "centralistas democráticos" negavam o papel dirigente do Partido nos Soviets; manifestavam-se contra o princípio do comando único e da responsabilidade pessoal dos diretores na Indústria e contra a linha leninista nas questões de organização; exigiam a liberdade de frações e de grupos no Partido. Os IX e X Congressos do Partido condenaram com firmeza os centralistas democráticos. Em 1927 o grupo dos "centralistas democráticos" foi expulso do Partido pelo XV Congresso do PC (b) da URSS juntamente com alguns ativos elementos da oposição trotskista. (retornar ao texto)
(8) A "Oposição Operária" era um grupo anti-partidário e anarco-sindicalista existente no PC (b) da Rússia: os seus líderes eram Shliapnikow. Medvedlev e outros. Esse grupo se formou na segunda metade de 1920 e travou luta contra a linha leninista do Partido. O X Congresso do PC (b) da Rússia condenou a "oposição operária" e qualificou a propaganda das idéias do desvio anarco-sindicalista incompatível com a qualidade de membro do Partido Comunista. Posteriormente os restos da fracassada "oposição operária" se juntaram ao trotskismo contra-revolucionário e foram esmagados como inimigos do Partido e do Poder Soviético. (retornar ao texto)
(9) O V Congresso Mundial da Internacional Comunista que se realizou de 17 de junho a 8 de julho de 1934, em Moscou, após haver debatido a questão “A Situação Econômica da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a Discussão no PC (b) da Rússia, apoiou unanimemente o Partido Bolchevique na sua luta contra o trotskismo. O Congresso ratificou a resolução da XIII Conferência do PC (b) da Rússia: “Os resultados da discussão e o desvio pequeno-burguês no Partido”, aprovada pelo XIII Congresso do PC (b) da Rússia e deliberou publicá-la como resolução sua. (retornar ao texto)
(10) V. I. Lênin — Obras, tomo XVI pgs. 65 e 67-70, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(11) A XV Conferência do PC (b) da URSS teve lugar de 26 de outubro a 3 de novembro de 1926. J. V. Stálin, por incumbência do Bureau Político do C.C. do PC (b) da URSS, escreveu as teses "O bloco oposicionista no PC (b) da URSS" Em 3 de novembro essas teses foram unanimemente aprovadas pela Conferência como uma resolução da Conferência. No mesmo dia a resolução foi ratificada pelo Pleno Unificado do Comitê Central e da Comissão Central de Controle do PC (b) da URSS. (retornar ao texto)
(12) O Conselho Geral é o órgão executivo do Congresso dos sindicatos Ingleses; foi eleito, pela primeira vez, em 1931. (retornar ao texto)
Inclusão | 12/11/2008 |