De Uma Carta ao Camarada Kaganovitch e a outros Membros do Comitê Central do Partido Comunista (bolchevique) da Ucrânia

J. V. Stálin

26 de Abril de 1926.


Primeira Edição: ...
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1946. Tradução de Brasil Gerson. Pág: 295-298.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.

capa

Nas declarações de Shumski existem algumas ideias acertadas. É certo que na Ucrânia se formou e se desenvolve um amplo movimento em prol de uma cultura e de uma vida social ucranianas. É certo que não se pode, de maneira alguma, deixar esse movimento nas mãos de elementos que nos sejam estranhos. É verdade que na Ucrânia toda uma série de comunistas não compreende o sentido e a importância desse movimento e não adota as medidas necessárias para haver-se com ele. É verdadeira a necessidade de introduzir mudança radical nos quadros de nossos ativistas do Partido e dos Sovietes, que estão imbuídos de um espírito de ironia e cepticismo com relação ao problema da cultura e da vida social ucranianas. É verdadeira a necessidade de selecionar minuciosamente e formar quadros com homens capazes de haver-se com o novo movimento na Ucrânia, tudo isso é certo. Mas, ao mesmo tempo, Shumski comete pelo menos dois graves erros.

Em primeiro lugar, confunde a ucranianização de nosso aparelhamento do Partido e dos Sovietes com a ucranianização do proletariado. Pode-se e deve-se ucranianizar nossos aparelhamentos de Partido, de Estado, etc., que estejam a serviço da população, observando, ao fazê-lo, um determinado ritmo. Mas não se pode ucranianizar o proletariado a partir de cima. Não se pode obrigar as massas operárias russas a renunciar ao idioma russo e à cultura russa e a reconhecer como próprios a cultura e o idioma ucranianos. Isso estaria em contradição com o princípio do livre desenvolvimento das nacionalidades. Isso não seria uma liberdade nacional, mas uma forma particular de opressão nacional.

É indubitável que a composição do proletariado ucraniano se irá modificando na medida do desenvolvimento industrial da Ucrânia, na medida em que vão afluindo para a indústria operários ucranianos procedentes das aldeias vizinhas. É indubitável que a composição do proletariado ucraniano se irá ucranianizando, da mesma forma que o proletariado da Letônia e da Hungria, por exemplo, que tinha um caráter alemão e depois se foi letonizando e magiarizando. Mas esse processo é lento, espontâneo, natural. Tentar substituir esse processo espontâneo pela ucranianização violenta do proletariado, a partir de cima, significa realizar uma política utópica e prejudicial, capaz de provocar na Ucrânia um chovinismo anti-ucraniano entre as camadas não ucranianas do proletariado. Parece-me que Shumski interpreta erroneamente a ucranianização e não atenta nesse último perigo.

Em segundo lugar, acentuando com acerto o caráter positivo do novo movimento que se efetua na Ucrânia em prol da cultura e da vida social ucranianas, Shumski não percebe, entretanto, os lados negativos desse movimento. Shumski não vê que, em razão da debilidade dos quadros comunistas do país, esse movimento na Ucrânia, frequentemente dirigido por intelectuais não comunistas, pode adquirir às vezes o caráter de luta por isolar a cultura e a vida social ucranianas do conjunto da cultura e da vida social soviéticas, o caráter de luta contra “Moscou" em geral, contra os russos em geral, contra a cultura russa e sua suprema manifestação: o leninismo. Não vou deter-me em demonstrar que esse perigo se torna cada vez mais real na Ucrânia. Apenas quero dizer que mesmo certos comunistas ucranianos não estão livres desse defeito. Refiro-me a um fato de todos conhecido, como é o artigo do conhecido comunista Khvylevoy, publicado na imprensa ucraniana. Sua exigência da “desrussificar imediatamente o proletariado” na Ucrânia; sua opinião de que “a poesia ucraniana deve fugir o mais depressa possível da literatura russa e de seu estilo”; sua declaração de que “as ideias do proletariado nos são suficientemente conhecidas sem a arte de Moscou”; seu entusiasmo por não se sabe que papel messiânico da “jovem” intelectualidade ucraniana; sua intenção ridícula e não marxista de separar a cultura da política, todos esses fatos e outros semelhantes, soam agora (e não podem deixar de soar) de modo mais que estranho na boca de um comunista ucraniano. Enquanto os proletários da Europa ocidental e seus Partidos Comunistas estão cheios de simpatia para com "Moscou”, para com essa cidade do leninismo e do movimento revolucionário internacional, enquanto os proletários da Europa ocidental olham com entusiasmo a bandeira que ondula em “Moscou”, o comunista ucraniano Khvylevoy não tem nada a dizer em favor de “Moscou”, a não ser convidar os militantes ucranianos a fugir de “Moscou”, “o mais rapidamente possível”. E a isso se chama internacionalismo! Que dizer então de outros intelectuais ucranianos do campo não comunista, se os comunistas começam a falar, e não apenas a falar, mas também a escrever na nossa imprensa soviética com a linguagem de Khvylevoy? Shumski não compreende que só é possível haver-se com o novo movimento que se desenvolve na Ucrânia em prol de uma cultura ucraniana, lutando contra os excessos de Khvylevoy, nas fileiras comunistas.

Shumski não compreende que somente lutando contra esse excessos é possível converter a cultura e a vida social ucranianas, que começam a elevar-se, numa cultura e numa vida social soviéticas.


Inclusão 20/03/2013