O governo da ditadura burguesa

J. V. Stálin

27 de setembro de 1917


Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), n.° 21. 27 de setembro de 1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 305-308.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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Após as fraudes em detrimento da Conferência e o esboroamento escandaloso do governo, após as “trocas de vistas” com os especuladores da Bolsa de Moscou e as misteriosas visitas a Sir Buchanan, após os encontros amorosos no Palácio de Inverno e após uma série de traições por parte dos conciliadores, formou-se finalmente o “novo” (com efeito novo!) governo.

Seis ministros capitalistas como núcleo do “gabinete” e dez ministros “socialistas” a serviço destes últimos, na qualidade de executores da sua vontade.

A declaração do governo ainda não foi publicada, mas seus traços fundamentais são conhecidos: “luta contra a anarquia” (leia-se: contra os soviets!), “luta contra o esfacelamento” (leia-se: contra as greves!), “aumento da combatividade do exército” (leia-se: continuação da guerra e “disciplina”!).

Este é, de um modo geral, o “programa” do governo KerenskiKonoválov.

O que significa: os camponeses não terão a terra, os operários não obterão o controle, a Rússia não conquistará a paz.

O governo KerenskiKonoválov é o governo da guerra e da ditadura burguesa.

Os dez ministros “socialistas” são um anteparo atrás do qual a burguesia imperialista desenvolverá sua atividade no sentido de reforçar seu domínio sobre os operários, sobre os camponeses e sobre os soldados.

Aquilo que Kornílov desejava fazer direta e simplesmente com sistemas próprios de general, o “novo” governo se esforçará para pôr em prática gradativamente e sem rumor, pelas mãos dos próprios “socialistas”.

Em que se distingue a ditadura da burguesia da ditadura do proletariado e dos camponeses revolucionários?

Distingue-se pelo fato de que a ditadura da burguesia é o domínio da minoria sobre a maioria, que se realiza somente através da violência sobre a maioria e exige o recurso à guerra civil contra a maioria. Ao invés, a ditadura do proletariado e dos camponeses revolucionários, como domínio da maioria sobre a minoria, pode abster-se completamente da guerra civil. Mas disso decorre que a política do “novo” governo será uma política no sentido de provocar movimentos parciais destinados ao fracasso, com o fim de afogar em sangue as forças da revolução, incitando os soldados contra os operários ou a frente contra a retaguarda.

Distingue-se ainda pelo fato de que a ditadura da burguesia é uma ditadura oculta, embuçada, atrás dos bastidores, que tem necessidade de certo mascaramento aliciante para enganar as massas. Ao invés, a ditadura do proletariado e do campesinato revolucionário é uma ditadura aberta, uma ditadura das massas, que não tem necessidade de recorrer aos enganos na atividade política interna e à diplomacia secreta nos negócios estrangeiros. Mas disso decorre que os nossos ditadores burgueses esforçar-se-ão para resolver as questões mais importantes da vida do país, como por exemplo a questão da paz e da guerra, por trás das costas das massas e sem as massas, através de intrigas contra as massas.

Isso aparece com clareza desde os primeiros passos do governo KerenskiKonoválov. Julgai vós mesmos. Para a política externa os postos de maior responsabilidade são confiados aos membros mais proeminentes do partido cadete e da camarilha de Kornílov. Terechtchenko é ministro dos negócios estrangeiros. Nabókov é embaixador em Londres, Maklákov é embaixador em Paris e Efrémov é embaixador em Berna, onde atualmente se reúne a Conferência Internacional (preliminar!) da Paz. E esses homens, desligados das massas, inimigos declarados das massas, decidirão das questões da guerra e da paz às quais está ligada a vida de milhões de soldados!

Ou ainda mais: como noticiam os jornais, “hoje partem para o quartel-general Kerenski, Terechtchenko, Verkhovski, Verderevski”, e lá, “além do exame da situação geral na frente, com a participação de Terechtchenko realizar-se-á uma conferência dos adidos militares das potências estrangeiras acreditados junto ao quartel-general” (Bírjovka, edição da tarde)… Tudo isso na expectativa da conferência aliada, aonde, na qualidade de Sancho Pança do senhor Terechtchenko, é também enviado um certo Tsereteli, não totalmente desconhecido. Sobre que poderão confabular esses indivíduos devotados à causa do imperialismo, senão sobre os interesses dos imperialistas patrícios e aliados, e a que podem reduzir-se na realidade suas negociações secretas sobre a paz e sobre a guerra, senão a um complô contra os interesses do povo?

Nenhuma dúvida é possível. O governo KerenskiKonoválov é o governo da ditadura da burguesia imperialista. Provocação da guerra civil: essa é a sua política interna. Solução, por trás dos bastidores, das questões da guerra e da paz: essa é a sua política externa. Instauração do domínio da minoria sobre a maioria da população da Rússia: esse é o seu objetivo.

A tarefa do proletariado como cabeça da revolução russa e arrancar a máscara desse governo e mostrar às massas sua verdadeira fisionomia contrarrevolucionária. A tarefa do proletariado é agrupar em torno de si amplas camadas de camponeses e soldados e impedi-los de executarem ações prematuras. A tarefa do proletariado é cerrar fileiras e preparar-se incansavelmente para as próximas batalhas.

Os operários e os soldados da capital já deram o primeiro passo exprimindo sua desconfiança contra o governo KerenskiKonoválov e convidando as massas “a cerrar fileiras em torno dos seus soviets, a abster-se de ações parciais” (ler a resolução do Soviet de Petrogrado.(1) Agora a palavra está com a província.


Notas de fim de tomo:

(1) A resolução do Soviet de Petrogrado foi publicada no n.° 21 do Rabótchi Put a 27 de setembro de 1917. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024