Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), n.° 10. 14 de setembro de 1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 286-290.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
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Hoje instala-se a Conferência Democrática.
Não discutiremos o fato de que seja convocada justamente uma Conferência e não o Congresso dos Soviets. Não há dúvida de que o Comitê Executivo Central eleito pelo Congresso, que em um difícil momento histórico não apelou para o Congresso dos Soviets, mas para uma Conferência de que participam elementos da burguesia, não só cometeu do ponto de vista formal um abuso vulgar, como substituiu de maneira inadmissível a vontade das classes revolucionárias pela vontade das classes antirrevolucionárias. Evidentemente os líderes do Comitê Executivo Central tinham “a ideia” de fazer a todo custo eleger os ricos...
Nem falaremos sequer do fato de que toda uma série de soviets dos operários e dos Soldados, que venceram em campo aberto os destacamentos da contrarrevolução, foram privados do direito de voto na Conferência que é convocada para resolver a questão do poder, ao passo que os ricos, que direta e indiretamente apoiaram a contrarrevolução, obtiveram esse direito. Na história das revoluções, em geral, a burguesia deixou de caso pensado que os operários e os camponeses se batessem sozinhos, por sua conta e risco, mas sempre lutou para que os operários e os camponeses vitoriosos não gozassem dos frutos da sua vitória e não subissem eles próprios ao poder. Não pensáramos que o Comitê Executivo Central desacreditar-se-ia definitivamente seguindo, desse ponto de vista, o mesmo caminho da burguesia...
É de todo compreensível que uma série de organizações locais de operários e de soldados, no interior e na frente, nas regiões da Rússia Central e em Khárkov, na bacia do Donetz e na Sibéria, em Samara e em Dvinsk, tenham protestado vivamente contra essa clamorosa violação dos direitos da revolução.
Mas, como repito, não falaremos disso. Passemos à questão essencial.
A Conferência foi convocada para indicar as condições indispensáveis à “organização do poder revolucionário”.
Como organizar, pois, o poder?
Não há dúvida de que se pode organizar aquilo que se tem: não se pode organizar o poder que se encontra em mãos de outrem. Uma Conferência que se prepara a fim de organizar um poder que ela não tem, poder concentrado nas mãos de Kerenski e que este já uma vez exerceu contra os “soviets e os bolcheviques” em Petrogrado, essa Conferência pode cair em uma situação ridícula na sua primeira tentativa de passar das palavras aos fatos.
De fato, de duas uma:
Mas admitamos por um instante que por um milagre qualquer o poder seja tomado e não reste senão organizá-lo. Perguntamos: como organizá-lo? Sobre que princípios fundá-lo?
— Na base da coalizão com a burguesia — respondem em coro os Avkséntiev e os Tsereteli.
Não há salvação sem a coalizão com a burguesia, gritam o Dién, a Vólia Naroda e os outros porta-vozes da burguesia imperialista.
Mas temos atrás de nós seis meses de coalizão com a burguesia. Que nos deu essa coalizão, senão o agravamento da ruína e dos tormentos da fome, senão o prolongamento da guerra e da crise econômica, senão quatro crises do poder e a revolta de Kornílov, senão a exaustão do país e a escravização financeira ao Ocidente?
Será isso talvez pouco para os senhores conciliadores?
Fala-se na força e na potência da coalizão, na “ampliação da base” da revolução, etc. Mas por que a coalizão com a burguesia, a coalizão com os cadetes se desfez em pó ao primeiro sopro da revolta de Kornílov? Acaso os cadetes não desertaram do governo? Onde está essa “força” da coalizão, onde está essa “ampliação da base” da revolução?
Compreenderão um belo dia os senhores conciliadores que é impossível “salvar a revolução” aliando-se a desertores?
Quem defendeu a revolução e as suas conquistas durante a revolta de Kornílov?
Talvez a “burguesia liberal”? Mas esta em alguns dias achava-se no mesmo campo dos sequazes de Kornílov contra a revolução e contra os seus comitês. Miliukov e Maklákov dizem-no agora abertamente.
Talvez as “classes comerciais e industriais”? Mas essas também, naquelas jornadas, enfileiraram-se com Kornílov. As “personalidades públicas” que estavam adidas ao ex-quartel-general de Kornílov, Gutchkov, Riabuchinski e companhia, agora dizem-no abertamente.
Compreenderão um belo dia os senhores conciliadores que a coalizão com a burguesia é uma aliança com os Kornílov e com Lukomski?
Fala-se no agravamento da ruína industrial e com os fatos na mão prova-se que os capitalistas, os quais recorrem aos “lockouts”, reduzem deliberadamente a produção... Fala-se em falta de matérias-primas e com os fatos na mão prova-se que os comerciantes especuladores enfurnam algodão, carvão, etc.… Fala-se na fome que assola as cidades e com os fatos na mão podem ser acusados os bancos especuladores de impedirem astuciosamente o transporte do trigo. Compreenderão um belo dia os senhores conciliadores que a coalizão com a burguesia, a coalizão com os ricos é uma aliança com os velhacos e com os especuladores, com os açambarcadores e com os responsáveis pelos “lockouts”?
Mas não é óbvio que somente lutando contra os latifundiários e os capitalistas, somente lutando contra os imperialistas de todos os naipes, somente lutando contra eles e vencendo-os será possível salvar o país da fome e do esfacelamento, da exaustão econômica e da derrocada financeira, do desastre e da barbárie?
Se os soviets e os comitês foram o baluarte principal da revolução, se os soviets e os comitês venceram a contrarrevolução insurreta, acaso não será evidente que eles e somente eles devem constituir agora os órgãos fundamentais do poder revolucionário do país?
Perguntareis: como organizar o poder revolucionário?
Mas ele já está sendo organizado fora da Conferência e, provavelmente, malgrado a conferência, no curso da luta movida no sentido de esmagar a contrarrevolução, no terreno da ruptura efetiva com a burguesia, na luta contra essa burguesia, pelos operários, pelos camponeses e pelos soldados revolucionários.
Os elementos desse poder são os comitês e os soviets revolucionários no interior e na frente.
Embrião desse poder é aquele grupo de esquerda que provavelmente se formará na Conferência.
A Conferência deverá traçar as linhas desse processo de desenvolvimento do poder revolucionário e levá-lo a termo, ou então deverá ficar à mercê de Kerenski e desaparecer da cena.
O Comitê Executivo Central já tentou ontem tomar o caminho revolucionário rejeitando a coalizão com os cadetes.
Mas os cadetes são o único partido burguês sério.
Compreenderão os senhores conciliadores que já não mais existem círculos burgueses com os quais seja possível fazer bloco?
Terão a coragem de fazer essa escolha?
Quem viver verá.