Primeira publicação: O artigo Alternativa fora publicado anteriormente com alguns cortes no Proletári, n.° 10, 24 de agosto de 1917, sob o título Qual é a saída?. Utilizado na publicação a versão publicada no “Rabótchi” (“O Operário”), n.° 1. 25 de agosto de 1917. Artigo não assinado.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 251-255.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
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Os acontecimentos sucedem-se. Forma-se uma coalizão após outra. Às repressões na frente seguem-se as repressões no interior, porém “com medíocres resultados”, uma vez que a chaga principal que hoje nos faz sofrer, o esfacelamento geral do país, continua a espraiar-se como no passado, assumindo um caráter cada vez mais ameaçador.
O país está nas vésperas da fome. Kazan e Níjni Nóvgorod, Jaroslavl e Riazan, Khárkov e Rostov, a bacia do Donetz e a região industrial da Rússia Central, Moscou e Petrogrado, a frente e a retaguarda imediata: todas essas e muitas outras zonas estão atravessando uma crise alimentar aguda. Começaram já motins causados pela fome que os agentes da contrarrevolução exploraram de maneira ainda canhestra...
“Os camponeses não entregam o trigo”, lamenta-se por toda a parte.
Mas os camponeses “não entregam o trigo” não “por estupidez”, mas porque perderam a confiança no governo e não o querem mais “ajudar”. Nos meses de março e abril os camponeses tinham confiança nos soviets e, através deles, no governo, e o trigo afluía em abundância quer às cidades quer à frente. Agora os camponeses estão perdendo a confiança no governo que defende os privilégios dos latifundiários e o trigo desapareceu. Os camponeses põem de lado as reservas e preferem aguardar “tempos melhores”.
Eles “não entregam o trigo” não por má vontade, mas porque não têm a possibilidade de trocá-lo por outros produtos. Os camponeses têm necessidade de tecidos de algodão, de calçados, de ferro, de querosene, de açúcar, mas esses produtos são-lhes fornecidos em quantidade insignificante; e não tem sentido trocar o trigo por papel-moeda, com o qual não se podem comprar os produtos manufaturados e que ainda por cima diminui de valor.
Nem falemos sequer na “desorganização” dos transportes, demasiado inadequados para servirem igualmente bem a frente e o interior.
Tudo isso, ligado à mobilização contínua que tira do campo as melhores forças trabalhadoras e leva à diminuição da superfície semeada, conduz inevitavelmente à crise alimentar, de que sofrem igualmente o interior e a frente.
Simultaneamente cresce e estende-se a crise industrial, que por sua vez aguça a crise alimentar.
A “grande escassez” de carvão e de petróleo, a “crise” do ferro é do algodão, provocam a parada dos estabelecimentos têxteis, metalúrgicos, etc.: essa é a situação bem conhecida que coloca o país diante do perigo do esfacelamento industrial, do desemprego em massa e da crise comercial.
Não se trata somente do fato de que as oficinas e as fábricas, trabalhando principalmente para a guerra, não podem concomitantemente satisfazer na mesma medida às necessidades do interior, mas do fato de que toda essa “grande escassez” e essas “crises” são artificialmente agravadas pelo capital, ou para aumentar os preços das mercadorias (especulação!) ou para quebrar a resistência dos operários que procuram obter aumento de salários por causa da carestia da vida (greves brancas dos capitalistas!), ou para criar o desemprego através do fechamento das oficinas (“lockouts”!) e induzir os operários a explosões desesperadas, com o objetivo de acabar de “uma vez por todas” com suas “reivindicações desmedidas“.
Não é segredo para ninguém que os industriais do carvão na bacia do Donetz provocam a contração da produção e o desemprego.
Todos sabem que os industriais algodoeiros do Transcáspio, embora fazendo barulho por causa da “grande escassez” de algodão, enfurnam eles próprios milhões de toneladas de algodão para especular. E os seus amigos industriais têxteis, colhendo os frutos dessa especulação* que eles mesmos organizam, gritam hipocritamente que falta algodão e fecham as fábricas agravando o desemprego.
Todos se recordam da ameaça de Riabuchinski no sentido de “apertar pela garganta” o proletariado revolucionário “com a mão descarnada da fome e da miséria”.
Todos sabem que os capitalistas já passaram das palavras aos fatos, obtendo o despovoamento de Petrogrado e de Moscou e o fechamento de uma série de oficinas.
É de se prever, por conseguinte, a paralisação da vida industrial e o perigo de que as mercadorias desapareçam de todo.
Nem falemos sequer na profunda crise financeira que a Rússia atravessa atualmente. Dívidas no montante de 50 a 55 bilhões de rublos e que exigem o pagamento anual de 3 bilhões em juros, ao passo que diminui o nível geral das forças produtivas, falam com suficiente precisão da grave situação das finanças russas.
Os últimos “reveses” na frente, com tanto êxito provocados por algumas mãos hábeis, não fazem senão completar o quadro geral.
O país caminha irresistivelmente para uma catástrofe sem precedentes.
O governo, que efetuou em curto prazo mil e uma repressões e nenhuma “reforma social”, é absolutamente incapaz de salvar o país do perigo mortal.
Pelo contrário. Enquanto de um lado executa a vontade da burguesia imperialista e do outro não quer eliminar logo “os soviets e os comitês”, o governo provoca uma explosão de descontentamento geral seja à direita seja à esquerda.
Por um lado, a camarilha imperialista, guiada pelos cadetes, bombardeia o governo exigindo dele medidas “resolutas” contra a revolução. Purichkévitch, que há dias afirmou que é necessária a “ditadura militar” dos “governadores gerais” e “a prisão dos soviets”, não fez senão exprimir sinceramente as aspirações dos cadetes. São estes apoiados pelo capital aliado, que exerce pressão sobre o governo fazendo cair repentinamente a cotação do rublo na Bolsa e solta o grito: “A Rússia deve combater e não perder-se em tagarelices” (Daily Express, vide Rússkaia Vólia,18 de agosto).(1)
Todo o poder aos imperialistas patrícios e aliados: essa é a palavra de ordem da contrarrevolução.
Por outro lado aumenta o descontentamento já profundo das amplas massas dos operários e dos camponeses, condenados a permanecer sem terra e desempregados, submetidos às repressões e à pena de morte. As eleições de Petrogrado, tendo minado a força e a autoridade dos partidos conciliadores, refletiram com particular clareza o deslocamento para a esquerda das massas dos soldados-camponeses que ainda ontem confiavam nos conciliadores.
Todo o poder ao proletariado, apoiado pelos camponeses pobres: essa é a palavra de ordem da revolução.
Ou de um lado ou de outro!
Ou com os latifundiários e com os capitalistas, e então triunfará completamente a contrarrevolução.
Ou com o proletariado e com os camponeses pobres, e então triunfará completamente a revolução.
A política das conciliações e das coalizões está condenada ao fracasso.
Qual é a saída?
É preciso romper com os latifundiários e dar a terra aos comitês camponeses. Os camponeses compreenderão isso, e haverá trigo.
É preciso romper com os capitalistas e organizar o controle democrático dos bancos, das fábricas, das oficinas. Os operários compreenderão isso, e a “produtividade do trabalho” aumentará.
É preciso romper com os especuladores e os açambarcadores, organizando em base democrática as trocas entre a cidade e o campo. A população compreenderá isso, e a fome será liquidada.
É preciso romper os laços imperialistas que amarram a Rússia por todos os lados e apresentar justas condições de paz. Então o exército compreenderá por que se acha em armas e se Guilherme repelir essa paz os soldados russos bater-se-ão contra ele como leões.
É preciso “transferir” todo o poder para as mãos do proletariado e dos camponeses pobres. Os operários do Ocidente compreenderão isso e, por seu turno, iniciarão a ofensiva contra suas próprias camarilhas imperialistas.
Isso assinalará o fim da guerra e o início da revolução operária na Europa.
Essa é a saída indicada pelo desenvolvimento da Rússia e por toda a situação mundial.
Notas de fim de tomo:
(1) Daily Express, diário inglês conservador, fundado em 1900, um dos órgãos do poderoso trust jornalístico do grupo Beaverbrook. Rússkaia Vólia (A Vontade da Rússia), jornal burguês, financiado pelos grandes bancos. Publicou-se em Petrogrado de 15 de dezembro de 1916 a 25 de outubro de 1917. (retornar ao texto)