Primeira publicação: “Pravda” (“A Verdade”), n.° 32. 14 de abril de 1917. Editorial. Assinado: K. Stálin.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 41-43.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Os camponeses da governadoria de Riazan declararam ao ministro Chingariov que lavrarão as terras deixadas sem cultivo pelos latifundiários, mesmo que estes não estejam de acordo. Os camponeses afirmam que a recusa dos latifundiários no sentido de efetuar as semeaduras leva à ruína, que o cultivo imediato das terras incultas é o único meio para assegurar o pão não só à população na retaguarda, como também ao exército na frente.
Como única resposta, o ministro Chingariov (vide seu telegrama)(1) proíbe categoricamente o cultivo não autorizado, chamando-o de “arbitrário” e propõe aos camponeses que aguardem até à convocação da Assembleia Constituinte: esta decidirá tudo.
Mas uma vez que não se conhece a data de convocação da Assembleia Nacional Constituinte, visto como essa convocação é adiada pelo governo provisório de que o senhor Chingariov é membro, segue-se daí que, de fato, a terra deve permanecer inculta, que os latifundiários ficam com a terra, os camponeses permanecem sem-terra, e a Rússia, os operários, os camponeses e os soldados não têm bastante pão.
Tudo isso para não ofender os latifundiários, mesmo que a Rússia venha a ser presa da fome.
Essa é a resposta do governo provisório de que o ministro Chingariov é membro.
Essa resposta não nos causa admiração. Um governo de industriais e de latifundiários não pode agir de maneira diferente com os camponeses: que lhes importam os camponeses, contanto que vivam e prosperem os latifundiários!
Por isso convidamos os camponeses, todos os camponeses pobres de toda a Rússia, a tomar nas próprias mãos sua causa e levá-la avante.
Dirigimos-lhes um apelo para que se organizem em comitês camponeses revolucionários (comunais, distritais, etc.), apoderem-se através desses comitês das terras dos latifundiários e cultivem-nas por iniciativa própria, de maneira organizada.
Conclamamo-los a fazer isso imediatamente, sem aguardar a Assembleia Constituinte e sem ligar importância às proibições reacionárias do ministro, que colocam travas entre as rodas da revolução.
Dizem-nos que a ocupação imediata das terras dos latifundiários quebraria a “unidade” da revolução, desligando desta as “camadas progressistas” da sociedade.
Mas seria ingênuo pensar-se em poder fazer progredir a revolução sem romper com os industriais e com os latifundiários.
Os operários, com a introdução da jornada de trabalho de oito horas, não terão talvez “afastado” da revolução os industriais e os que estão do lado destes? Quem ousará sustentar que a revolução perdeu ao melhorar a situação dos operários, reduzindo a jornada de trabalho?
Sem dúvida, o cultivo não autorizado das terras dos latifundiários e sua ocupação por parte dos camponeses “afastam” da revolução os latifundiários e quem está do seu lado. Mas quem ousará dizer que, unindo em torno da revolução milhões e milhões de camponeses pobres, enfraquecemos as forças da revolução?
Os que desejam influir no curso da revolução devem compreender de uma vez por todas:
Seria uma utopia reacionária dificultar esse processo benéfico através do qual a revolução purifica-se dos “elementos” inúteis.
A política da expectativa e do adiamento até à Assembleia Constituinte, a política da proibição “temporária” dos confiscos, favorecida pelos populistas, pelos trudovikí(2) e pelos mencheviques, a política que consiste em manobrar com destreza entre as classes (só para não ofender ninguém!) e em marcar passo ignominiosamente, não é a política do proletariado revolucionário.
A marcha vitoriosa da revolução russa varrerá essa política como ferro velho, útil e vantajoso somente para os inimigos da revolução.
Notas de fim de tomo:
(1) O texto do telegrama de Chingariov é reproduzido no artigo de Lênin: “Acordo voluntário” entre latifundiários e camponeses? publicado na Pravda, n.° 33, 15 de abril de 1917 (vide V. I. Lênin, Obras Completas em língua russa, IV edição, vol. 24, pág. 108). (retornar ao texto)
(2) Trudovikí ou “Grupo do Trabalho”: grupo de democratas pequeno-burgueses, constituído em abril de 1906 pelos deputados camponeses da I Duma de Estado. Os trudovikí reivindicavam a abolição de todas as limitações nacionais e de camadas sociais, a democratização das administrações autônomas locais, urbanas e rurais, o sufrágio universal para as eleições à Duma de Estado e antes de mais nada a solução da questão agrária. Em 1917 os trudovikí fundiram-se com o partido dos social-populistas. (retornar ao texto)