Primeira publicação: “Pravda” (“A Verdade”), n.° 18. 25 de março de 1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 29-30.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
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Em sua conhecida entrevista de 23 de março o ministro do exterior, senhor Miliukov, expôs seu “programa” sobre as finalidades da guerra atual. Os leitores souberam pelo número de ontem da Pravda(1) que essas finalidades são imperialistas e referem-se à ocupação de Constantinopla e da Armênia, à partilha da Áustria e da Turquia, à ocupação da Pérsia Setentrional.
Ao que parece, os soldados russos derramam seu sangue nos campos de batalha não já para “defender a pátria” ou “pela liberdade”, como nos assegura a vendida imprensa burguesa, mas para ocupar territórios estrangeiros em benefício de um punhado de imperialistas.
Assim, pelo menos, diz o senhor Miliukov.
Mas em nome de quem o senhor Miliukov fala publicamente e com tanta franqueza de tudo isso?
Por certo, não em nome do povo russo. De fato o povo russo, os operários, os camponeses e os soldados russos são contrários à violência exercida contra os povos. Fala eloquentemente a esse respeito o conhecido “apelo” do Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado, que interpreta a vontade do povo russo.
De quem se faz porta-voz então o senhor Miliukov?
Talvez de todo o governo provisório?
Eis o que declara em seu número de ontem o Vietchérneie Vrêmia:(2)
“A propósito da entrevista do ministro do exterior Miliukov, publicada pelos jornais de Petrogrado, de 23 de março, o ministro da justiça Kerenski autorizou o bureau de imprensa junto ao Ministério da Justiça a declarar que os objetivos da política externa da Rússia na guerra atual, enunciados na entrevista, exprimem a opinião pessoal de Miliukov e não representam de maneira alguma o ponto de vista do governo provisório.”
A se dar fé a Kerenski, o senhor Miliukov não exprime portanto o ponto de vista do governo provisório a respeito da questão essencial das finalidades da guerra.
Em suma: o ministro do exterior, senhor Miliukov, ao declarar diante de todo o mundo os fins agressivos da guerra atual, não só foi contra a vontade do povo russo, como também contra o governo provisório de que é membro.
Desde a época tzarista o senhor Miliukov sempre afirmou que os ministros devem ser responsáveis perante o povo. Estamos de acordo com ele ao julgar que os ministros devem ser plenamente responsáveis perante o povo ao qual devem prestar contas de suas ações. E perguntamos: reconhece ainda o senhor Miliukov o princípio da responsabilidade dos ministros? E se o reconhece ainda, por que não se demite?
Ou talvez o comunicado de Kerenski não seja... exato?
De duas uma:
Um caminho intermediário não existe.
Notas de fim de tomo:
(1) A Pravda, em seu número de 25 de março de 1917 publicou um artigo de fundo intitulado Abaixo a política dos imperialistas! , no qual se analisava a política exterior do governo provisório.
A Pravda (A Verdade), diário bolchevique, foi fundada em 1912, conforme indicação de Lênin e por iniciativa de Stálin. Entre 1912 e 1914 o jornal foi suprimido oito vezes, mas reapareceu sob outros nomes. Recomeçou a publicação a 5 de março de 1917, como órgão central do Partido Bolchevique. Stálin passou a fazer parte do corpo de redação em seguida à decisão tomada na reunião ampliada do Bureau do C.C. do P.O.S.D.R.(b) a 15 de março de 1917. Em abril, após seu retorno à Rússia, Lênin assumiu a direção da Pravda. Redatores e colaboradores principais do jornal foram V. M. Mólotov, I. M. Svérdlov, M. S. Olminski, F. N. Samoilova, etc.
A 5 de julho foi a redação da Pravda empastelada pelos alunos da escola militar e pelos cossacos. Após as jornadas de julho, quando V. I. Lênin foi obrigado a passar para a ilegalidade, Stálin tornou-se redator-chefe do jornal. De junho a outubro a Pravda, perseguida pelo governo provisório, mudou de nome várias vezes. A partir de 23 de julho, a organização militar do C.C. do P.O.S.D.R. (b) conseguiu publicar, como órgão central do Partido, o Rabótchi i Soldat (O Operário e o Soldado), que desenvolveu notável atividade no sentido de unir os operários e os soldados em torno do Partido Bolchevique e de preparar a insurreição armada. A partir de 13 de agosto de 1917, o órgão central dos bolcheviques, que fora suprimido a 5 do mesmo mês, reapareceu sob o nome de Proletári (O Proletário), após a supressão deste sob o nome de Rabótchi (O Operário) e depois como Rabótchi Put (O Caminho Operário). Este último órgão publicou-se até 26 de outubro de 1917. A 26 de outubro de 1917 a Pravda, órgão central do Partido Bolchevique, recomeçou regularmente as publicações. (retornar ao texto)
(2) Vietchérneie Vrêmia (O Tempo da Tarde), vespertino de orientação reacionária, fundado por A. S. Suvórin. Publicou-se em Petersburgo de 1911 a 1917. (retornar ao texto)