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Primeira Edição: Publicado em volante
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 194-200, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Quem não conhece Bebel, o líder venerado dos operários alemães, o “simples” torneiro de outrora e o eminente homem político de hoje, aquele que, com a sua crítica, comparável a marteladas, fez várias vezes recuarem “cabeças coroadas” e cientistas diplomados, aquele que, com a palavra convincente, como a de um profeta, mantém desperta a atenção do proletariado da Alemanha, que conta milhões de homens?
A 22 de fevereiro deste ano completou ele setenta anos.
Nesse dia o proletariado militante de toda a Alemanha, o Bureau internacional socialista, os operários organizados de todos os países do mundo festejaram solenemente o septuagésimo aniversário do velho Bebel.
De que maneira Bebel tornou-se merecedor dessa honra, que fez pelo proletariado?
De que maneira saiu das camadas operárias inferiores, de que maneira pôde, de “simples” torneiro, transformar-se num grande combatente do proletariado mundial?
Qual é a história da sua vida?
Bebel passou a infância na miséria e nas privações. Tinha apenas três anos quando perdeu o pai, um pobre suboficial tuberculoso, único arrimo da família. Para dar um novo arrimo aos seus filhos, a mãe de Bebel casou-se de novo, desta vez com um carcereiro, e com os filhos passou da caserna, onde havia vivido até então, para o edifício da prisão.
Mas após três anos morre também o segundo marido. Ficando sem arrimo, a família transfere-se para a aldeia de origem, um rincão perdido no interior da província, onde leva uma existência de sofrimentos. Dada sua extrema indigência, Bebel é admitido na “escola dos pobres”, que frequenta com bons resultados até aos quatorze anos. Porém, no penúltimo ano do curso, uma nova desgraça o golpeia: perde a mãe, seu último apoio. Órfão de pai e mãe, abandonado a si mesmo, sem possibilidades de continuar os estudos, Bebel entra como aprendiz junto a um torneiro seu conhecido.
Começa para ele uma vida exaustiva, de forçado. Permanece na oficina das cinco da manhã às sete da noite. Os livros, a cuja leitura dedica todo o tempo livre, trazem algum derivativo à sua vida. Com os quatro soldos que percebe por semana levando todas as manhãs água à sua patroa, antes do trabalho, toma assinatura junto a uma biblioteca.
É evidente que a miséria e as privações não só não aniquilaram o jovem Bebel, não só não extinguiram nele a aspiração à luz, mas, pelo contrário, temperaram ainda mais a' sua vontade, aguçaram a sua sede de saber, fizeram surgir nele perguntas às quais procurava com avidez uma resposta nos livros.
Assim, na luta contra a necessidade formou-se o futuro incansável combatente pela emancipação do proletariado.
Aos dezoito anos Bebel termina o período de aprendizado e começa a sua vida de torneiro independente. Aos vinte anos participa já de uma reunião operária em Leipzig e ouve os discursos de operários socialistas. Foi a primeira reunião onde Bebel se encontrou face a face com oradores operários. Não é ainda socialista, simpatiza com os liberais, mas sente-se realmente feliz quando escuta as intervenções dos operários com espírito independente, inveja-os, arde do desejo de tornar-se também, como eles, um orador operário.
A partir de então uma nova vida começa para Bebel: ele já escolheu o seu caminho. Entra para as organizações operárias e aí trabalha intensamente. Bem depressa adquire influência e é eleito membro do comitê dos sindicatos operários. Enquanto trabalha nos sindicatos, luta contra os socialistas, está com os liberais, mas, justamente nessa luta, se convence pouco a pouco de que os socialistas têm razão.
Aos vinte e seis anos já é social-democrata. A notoriedade de Bebel cresce tão rapidamente que depois de um ano (em 1867) é eleito presidente do comitê dos sindicatos e primeiro deputado dos operários no parlamento.
Assim Bebel lutando e vencendo supera passo a passo os obstáculos que o circundam, sai por fim das camadas operárias inferiores para transformar-se num líder dos operários combatentes da Alemanha.
Já então fala abertamente a favor da social-democracia. Seu objetivo imediato é o de combater os liberais, de ajudar os operários a libertarem-se de sua influência, de unir os operários em seu partido operário social-democrata.
E atinge o seu objetivo no ano seguinte, em 1868, no Congresso de Nuremberg. Um hábil e impiedoso ataque de Bebel àquele congresso dá como resultado a derrota completa dos liberais, e sobre as ruínas do liberalismo nasce a social-democracia alemã.
A emancipação dos operários pode ser somente obra dos próprios operários, diz Bebel ao congresso, os operários devem por isso romper com o liberalismo burguês e unir-se num partido operário deles. E a imensa maioria do congresso, a despeito do grupinho dos liberais, repetiu depois dele as grandes palavras de Carlos Marx.
Para a sua completa emancipação, os operários de todos os países devem unir-se, diz Bebel; é preciso portanto aderir à Associação internacional dos operários; e a maioria do congresso repete depois dele as palavras do grande mestre.
Assim nasceu o Partido Social-Democrata da Alemanha. Foi Bebel quem deu a contribuição decisiva para o seu nascimento.
A partir de então a vida de Bebel funde-se com a vida do Partido, as suas dores e as suas alegrias fundem-se com as dores e as alegrias do Partido. O próprio Bebel torna-se o benjamim e o animador dos operários alemães, porque não é possível para os seus companheiros deixar de amar um homem que tanto se sacrificou para habilitar os operários a marcharem sozinhos, para libertá-los da tutela dos liberais burgueses e dar-lhes um verdadeiro partido operário.
O ano de 1870 submete o jovem partido à primeira prova. Tem início a guerra contra a França. O governo exige do parlamento, de que Bebel é membro, fundos para a guerra: é necessário pronunciar-se de maneira precisa pró ou contra a guerra. Bebel naturalmente compreende que a guerra só é vantajosa para os inimigos do proletariado; mas todas as camadas da sociedade na Alemanha, dos burgueses aos operários, estão tomadas de um falso ardor patriótico, e a recusa de dar dinheiro ao governo é chamada traição à pátria. Mas Bebel, sem de- ter-se diante dos preconceitos “patrióticos”, sem temer ir contra a corrente, declara em voz alta da tribuna parlamentar : eu, como socialista e republicano, não sou pela guerra, mas pela fraternidade entre os povos; não sou pelo ódio contra os operários franceses, mas pela sua união com os nossos operários alemães. Repreensões, escárnio, desprezo até da parte dos operários: tal a resposta ao corajoso discurso de Bebel. Fiel aos princípios do socialismo científico, Bebel não permite que nem sequer por um instante a bandeira se arrie até aos preconceitos de seus irmãos; pelo contrário, ele procura por todos os modos elevar esses seus irmãos à clara compreensão do caráter funesto da guerra. Em seguida os operários compreenderam o seu erro e amaram ainda mais o seu tenaz e forte Bebel. Em compensação, o governo premiou-o com dois anos de cárcere, onde ele, contudo, não perdeu tempo e escreveu o célebre livro A mulher e o socialismo.
O fim do decênio 1870-1880 submete o Partido a novas provas. O governo alemão, alarmado com o desenvolvimento da social-democracia, promulga as “leis de exceção contra os socialistas”, destrói as organizações do Partido e as sindicais, suprime sem exceção todos os jornais social-democratas, suprime a liberdade de reunião e de associação; o Partido Social-Democrata, ainda ontem legal, é jogado na ilegalidade. Com todas essas medidas, o governo queria provocar a social-democracia a ações prematuras, ruinosas, queria desmoralizá-la e destruí-la. Eram necessárias uma particular firmeza e uma perspicácia sem igual para não perder a cabeça, modificar a tempo a tática, adaptar-se com inteligência às novas condições. Muitos social-democratas deixaram-se apanhar nas redes da provocação e caíram no anarquismo. Outros de- gradaram-se totalmente e acabaram entre os liberais. Mas Bebel permaneceu sempre no seu posto, encorajando uns, moderando o ímpeto irracionável de outros, desmascarando o farisaísmo de outros mais e orientando com habilidade o Partido em direção ao caminho justo, sempre para a frente, só para a frente. Após dez anos o governo foi obrigado a ceder diante da força crescente do movimento operário e abrogou as “leis de exceção”. Ficou provado que a linha de Bebel era a única justa.
Nos últimos anos do século passado e nos primeiros de 1900 o Partido teve de superar ainda uma prova. Encorajados pela ascensão industrial e pela relativa facilidade das vitórias econômicas, os elementos moderados da social-democracia começaram a negar a necessidade de uma luta de classes implacável e da revolução socialista. Não é a intransigência o de que precisamos, nem a revolução, diziam eles, mas a colaboração de classes; devemos pôr-nos de acordo com a burguesia e com o governo para melhorar, juntamente com eles, a ordem social existente: votemos pois a favor do orçamento do governo burguês, participemos do governo burguês existente. Com essas afirmativas, os moderados minavam as bases do socialismo científico, a tática revolucionária da social-democracia. Bebel compreendeu todo o perigo da situação e, juntamente com outros chefes do Partido, declarou uma guerra implacável aos moderados. No Congresso de Dresden (1903) bateu em toda a linha Bernstein e Vollmar, chefes dos moderados alemães, proclamando a necessidade dos métodos revolucionários de luta. E no ano seguinte, em Amsterdam, diante dos socialistas de todos os países, derrotou Jean Jaurès, chefe internacional dos moderados, proclamando mais uma vez a necessidade de uma luta implacável. A partir de então, não deu trégua aos “inimigos moderados do Partido” infligindo-lhes uma derrota após outra em Iena (1905), em Nuremberg (1908). Com isso conseguiu que o Partido saísse da luta intestina unido e forte, extraordinariamente consolidado, desmesuradamente desenvolvido; e de tudo isso o Partido é devedor sobretudo a Augusto Bebel...
Mas Bebel não se contenta com uma atividade desenvolvida unicamente no âmbito do Partido. Os poderosos discursos no parlamento alemão, com os quais flagela os nobres corruptos, arranca a máscara aos liberais e expõe ao vitupério o “governo imperial”, sua longa atividade nos sindicatos: tudo isso nos diz que Bebel, sentinela fiel do proletariado, encontrava-se por onde quer que fervesse a luta, onde era necessária a sua impetuosa energia proletária.
Eis por que os socialistas alemães e de todo o mundo têm por Bebel uma tão grande veneração.
Por certo, Bebel também cometeu erros — e quem não os comete? (só os mortos não se enganam) — mas todos os pequenos erros empalidecem diante dos grandes serviços prestados ao Partido, o qual hoje, após quarenta e dois anos sob a direção de Bebel, conta mais de 600.000 membros inscritos, tem quase dois milhões de operários organizados nos sindicatos, goza da confiança de 3 a 4 milhões de eleitores e a um sinal seu faz baixar às ruas centenas de milhares de prussianos.
E é significativo que as solenes manifestações de apreço a Bebel recaiam justamente nos dias em que a potência da social-democracia alemã se manifesta da maneira mais evidente, nos dias em que se desenvolvem, incomparavelmente bem organizadas, as grandes demonstrações em prol do sufrágio universal na Prússia.
Bebel tem pleno direito a dizer que não trabalhou em vão.
Esta é a vida, a atividade do velho Bebel. Ele é muito velho de anos, sim, mas muito jovem de espírito e, como sempre, está firme no seu posto, na expectativa de novas batalhas, de novas vitórias.
Somente no seio do proletariado combatente podia nascer um Bebel, este homem cheio de vida, eternamente jovem, sempre projetando-se para a frente, como se projeta para a frente o próprio proletariado. Somente a teoria do socialismo científico podia oferecer amplo campo de atividade à natureza ardente de Bebel, propensa incansavelmente à destruição do velho, apodrecido mundo capitalista.
A vida e a atividade de Bebel são um testemunho da força e da invencibilidade do proletariado, da inelutabilidade da vitória do socialismo...
Enviemos pois a nossa saudação, camaradas, ao nosso caro mestre, o torneiro Augusto Bebel!
Sirva ele de exemplo a nós, operários russos, que temos particularmente necessidade de outros Bebel em nosso movimento operário.
Viva Bebel!
Viva a social-democracia internacional!
O Comitê de Baku do P.O.S.D.R
Inclusão |