Operários do Cáucaso, Chegou a Hora de Nos Vingarmos!

J. V. Stálin

8 de Janeiro de 1905


Primeira Edição: Publicado segundo o texto da proclamação impressa a 8 de janeiro de 1905 na tipografia clandestina (de Avlabar) da União Cáucasica do P.O.S.D.R. Assinado: O Comitê da União.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 1º vol., pg. 69 a 71. Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML:
Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

capa

Dispersam-se os batalhões tzaristas, perece a frota tzarista, afinal Porto Artur rendeu-se ignominiosamente, e, assim, mais uma vez se revela a flacidez senil da autocracia tzarista...

A má alimentação e a falta de quaisquer medidas sanitárias espalham entre os soldados moléstias contagiosas. Essas condições insuportáveis são ainda agravadas pela falta de quaisquer alojamentos toleráveis e de equipamento. Os soldados debilitados, esgotados, morrem como moscas. Isto depois de terem caído sob as balas dezenas de milhares! E todas essas coisas suscitam entre os soldados a efervescência, o descontentamento. Os soldados despertam de sua sonolência, começam a sentir-se homens, já não se submetem cegamente às ordens dos superiores e muitas vezes acolhem com vaias e ameaças os oficiais de carreira.

Eis o que nos escreve um oficial do Extremo Oriente:

"Fiz uma tolice! Por ordem de meu superior, apresentei-me, há alguns dias, aos soldados, para lhes fazer um discurso. Mal tinha começado a falar da necessidade de resistir pelo tzar e pela pátria, cobriram-me de vaias, injúrias e ameaças... Fui obrigado a retirar-me p»ra um lugar afastado da tropa enfurecida..."

Assim vão as coisas no Extremo Oriente!

Acrescente-se a isso a agitação dos soldados da reserva na Rússia, suas demonstrações revolucionárias em Odessa, Iekaterinoslav, Kursk, Penza e outras cidades, os protestos dos recrutas em Gúria. Imerétia, Kartalínia, na Rússia meridional e setentrional; considere-se que nem a prisão nem as balas detêm aqueles que protestam (recentemente, em Penza, dispararam contra uma demonstração de alguns soldados da reserva) e compreender-se-á facilmente o que pensa o soldado russo...

A autocracia tzarista perde seu principal apoio, suas "tropas fiéis"!

Por outro lado, o tesouro do tzar vai ficando cada dia mais vazio. Derrotas sucedem-se a derrotas. O governo tzarista perde gradualmente seu crédito aos olhos dos estados estrangeiros. Com dificuldade consegue o dinheiro de que necessita e não está longe o dia em que se verá privado de qualquer crédito! "Quem nos pagará quando te derrubarem? E tua queda, sem dúvida, não está longe" — eis as palavras com que se enxota o governo tzarista que perdeu todo o crédito! E o povo, o povo miserável, esfomeado, que poderá dar ao governo tzarista, quando ele próprio não tem com que se alimentar?!

A autocracia tzarista perde, assim, seu segundo apoio principal: um tesouro rico com um crédito que o sustente!

Ao mesmo tempo, a crise industrial aguça-se dia a dia, fecham-se fábricas e oficinas, milhões de operários pedem pão e trabalho. Com nova força vai a fome grassando entre a exausta população pobre do campo. Erguem-se cada vez mais alto as vagas da cólera popular, golpeiam cada vez mais vigorosamente o trono do tzar, e vacila pela base a decrépita autocracia tzarista.

A autocracia tzarista, ameaçada, larga como uma serpente, sua velha pele, e, enquanto a Rússia descontente se prepara para o assalto decisivo, deixa de lado (aparentemente) seu chicote e, vestindo a pele do cordeiro, anuncia uma política de reconciliação!

Estais ouvindo, camaradas? Pedem-nos que esqueçamos o estalar do chicote e o zunido das balas, as centenas de heróicos companheiros, assassinados, suas sombras gloriosas, que rondam em volta de nós e que nos murmuram: "Vingai-nos!"

A autocracia nos estende cinicamente a mão ensanguentada e aconselha a conciliação! Publicou um certo "decreto soberano"[N25], em que nos promete uma certa "liberdade"... Velhos bandidos! Pensam alimentar com palavras milhões e milhões de proletários russos famintos! Esperam contentar com palavras os milhões e milhões de camponeses reduzidos à miséria e à exaustão! Querem enxugar com promessas o pranto das famílias órfãs, das vítimas da guerra! Miseráveis! Estão se afogando e querem agarrar-se a uma palha!...

Sim, companheiros, o trono do governo tzarista vacila pela base. O governo que despende os impostos que nos foram extorquidos para pagar nossos carrascos, ministros, governadores, chefes de comarcas e diretores de prisões, comissários, gemdarmes e espiões; que obriga os soldados, tirados de nosso meio, nossos irmãos e filhos, a derramar o nosso próprio sangue; que apoia por todos os meios os proprietários de terras e os patrões em sua luta quotidiana contra nós; que nos acorrentou de pés e mãos e nos reduziu à condição de escravos privados de todos os direitos; que ridicularizou e feriu bestialmente nossa dignidade de homens, nossas coisas mais sagradas, é este mesmo governo que hoje vacila, que sente o terreno fugir sob seus pés!

É tempo de vingar-nos! É tempo de vingar nossos companheiros gloriosos assassinados ferozmente pelos facínoras do tzar em Iaroslavl, Dombrov, Riga, Petersburgo, Moscou, Batum, Tíflis, Zlatoust, Tikhorétskaia, Mikhailov, Kichniov, Gomei, Iakutsk, Gúria, Baku e em outras cidades! É tempo de exigir do governo a prestação de contas por esses infelizes, completamente inocentes, que às dezenas de milhares tombaram nos campos do Extremo-Oriente! É tempo de enxugar as lágrimas de suas mulheres e de seus filhos! É tempo de exigir que responda pelos sofrimentos e pelas humilhações, pelas cadeias que desonram o homem e com que por tanto tempo nos mantiveram agrilhoados. É tempo de acabar com o govêrno do tzar e de abrir o caminho para a ordem socialista ! É a hora de destruir o governo do tzar.

E nós o destruiremos!

É em vão que os senhores liberais se esforçam por salvar o vacilante trono do tzar! É em vão que estendem as mãos ao tzar para ajudá-lo! Tentam, com suas súplicas, obter dele uma esmola e incliná-lo em favor de seu "projeto de constituição"[N26], a fim de abrir, com uma pequena reforma, o caminho da dominação política, para transformar o tzar num instrumento seu, para substituir a autocracia do tzar pela autocracia da burguesia e sufocar, assim, sistematicamente, o proletariado e os camponeses! Mas em vão! É tarde, agora, senhores liberais! Vede o que vos deu o governo do tzar, examinai seu "altíssimo decreto": uma pequena "liberdade", "instituições rurais e urbanas", uma pequena "garantia" contra as "limitações dos direitos das pessoas privadas", uma pequena "liberdade de imprensa" e a grande imposição da "absoluta imutabilidade das leis fundamentais do império", da "aplicação de medidas efetivas no sentido de conservar a plena força das leis, principal sustentáculo do trono no estado autocrático"!... E então? Não se havia ainda conseguido digerir o ridículo "decreto" de um ridículo tzar e já choviam como granizo as "advertências" aos jornais, já se verificavam incursões de gendarmes e de agentes policiais, já se proibiam até mesmo pacíficos banquetes! O próprio governo do tzar se empenhava em demonstrar que, em suas promessas insignificantes, não passara de míseras palavras.

Por outro lado, as massas populares indignadas preparam-se para a revolução e não para a reconciliação com o tzar. Elas se aferram obstinadamente ao provérbio: "só a cova endireita o corcunda".

Sim, senhores, são vãos os vossos esforços! A revolução russa é inevitável. Tão inevitável como o nascer do sol! Podeis deter o sol nascente? A força principal desta revolução é o proletariado urbano e rural e seu porta-bandeira é o Partido Operário Social-Democrata, e não vós, senhores liberais! Por que esqueceis "ninharia" tão evidente?

Já sopra a tempestade que anuncia a aurora. Ainda ultimamente o proletariado do Cáucaso, de Baku a Batum, exprimiu unanimemente seu desprezo pela autocracia tzarista. Não há dúvida alguma de que esta gloriosa tentativa do proletariado do Cáucaso não será inútil para o proletariado das outras partes da Rússia. Considerai, além disso, as inúmeras resoluções dos operários que exprimem um desprezo profundo pelo governo do tzar, escutai o surdo mas ameaçador murmurar dos campos, e vos convencereis de que a Rússia é um fuzil carregado, com o gatilho armado, que pode disparar ao menor choque. Sim, companheiros, não está longe o tempo em que a revolução russa içará as velas e "varrerá da face da terra" o trono infame do desprezível tzar!

É nosso dever sagrado estarmos preparados para esse momento. E nós nos prepararemos, camaradas! Semeai a boa semente nas grandes massas do proletariado. Estenderemos as mãos uns aos outros, e cerraremos fileiras em torno dos comitês do Partido! Não devemos esquecer um instante sequer que só os comitês do Partido podem dirigir-nos do modo adequado, que só eles iluminarão o caminho para a "terra prometida", que se chama mundo socialista! O Partido que nos abriu os olhos e que nos mostrou o inimigo, que nos organizou num formidável exército e que nos guiou na luta contra os inimigos, que na alegria como na dor nunca nos abandona e marcha sempre à nossa frente, é o Partido Operário Social-Democrata da Rússia! Será ele que nos há de guiar também no futuro, somente ele!

A Assembléia Constituinte, eleita à base do sufrágio universal, direto e secreto: eis o objetivo pelo qual deveremos agora lutar!

Só essa assembléia nos dará a república democrática, que nos é extremamente necessária em nossa luta pelo socialismo?

Portanto, avante, camaradas! Quando a autocracia tzarista vacila, nosso dever é prepararmo-nos para o ataque decisivo! Chegou a hora de nos vingarmos!

Abaixo a autocracia tzarista!

Viva a Assembléia Constituinte de todo o povo!

Viva a República Democrática!

Viva o Partido Operário Social-Democrata da Rússia!


Notas de fim de tomo:

[N25] O "altíssimo decreto soberano" promulgado pelo tzar Nicolau II, a 12 de dezembro de 1904, foi publicado em 14 de janeiro de 1905, juntamente com um comunicado governamental. O decreto prometia algumas "reformas" de cárater secundário, afirmava a inabalabilidade do poder autocrático e continha ameaças não só com relação aos operários e os camponeses revolucionários, como também contra os liberais que haviam ousado apresentar ao governo timidas reivindicações constitucionais. Segundo a expressão de Lênin, o decreto de Nicolau II foi "uma verdadeira bofetada nos liberais". (retornar ao texto)

[N26] O "projeto de constituição" fora elaborado por um grupo de membros da "União da Liberdade" liberal em outubro de 1904 e saíra em folheto sob o título: Lei Fundamental de Estado do Império Russo. Projeto de constituição russa, Moscou, 1904. (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 11/12/2010