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Primeira Edição: Die Aktion, 18 de Setembro de 1920. Esta tradução foi feita a partir da tradução francesa no jornal (Dis)continuité no. 11, junho de 2001.
Fonte: Crítica Desapiedada - https://criticadesapiedada.com.br/2021/03/16/moscou-e-nos-otto-ruhle/
Tradução: Traduzido por Felipe Andrade e Revisado por Mateus Alves - a partir da versão disponível em: https://libcom.org/library/moscow-us-otto-r%C3%BChle
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
A Primeira Internacional foi a Internacional do despertar.
Seu papel foi chamar o proletariado mundial a acordar; foi dar-lhe a grande palavra de ordem do socialismo.
Sua tarefa se inseria no domínio da propaganda.
A Segunda Internacional foi a Internacional da organização.
Seu papel foi reunir, formar e preparar para a revolução as massas que tinham despertado para a consciência de classe.
Sua tarefa se inseria no domínio da organização.
A Terceira Internacional é a Internacional da revolução.
Seu papel é colocar as massas em movimento e iniciar sua atividade revolucionária; é realizar a revolução mundial e estabelecer a ditadura do proletariado.
Sua tarefa é uma tarefa revolucionária.
A Quarta Internacional será a Internacional do comunismo.
Seu papel é fundar a nova economia, organizar a nova sociedade e realizar o socialismo. É desmantelar a ditadura, abolir o Estado e trazer ao mundo uma sociedade sem dominação – finalmente livre!
Sua tarefa é a realização da ideia comunista.
A Terceira Internacional se descreve como a Internacional Comunista. Ela que ser mais do que ela é capaz. Ela é a Internacional Revolucionária, nem mais, nem menos. Ela está localizada no ponto mais alto até hoje na escala graduada das Internacionais e realiza a maior tarefa que a acompanha e que é possível alcançar hoje em dia.
Poderíamos chamá-la de Internacional Russa. A sua criação foi um produto da Rússia. Ela é dominada pela Rússia. Seu espírito é um resumo perfeito do espírito da revolução russa e do Partido Comunista Russo.
É exatamente por isso que ela já não pode ser a Internacional Comunista.
O que atrai o olhar do mundo para a Rússia – olhares de terror ou admiração -, ainda não é o comunismo.
É a revolução, é a luta de classe do proletariado contra a burguesia, conduzida com resolução, heroísmo e um formidável espírito determinado, é a sua ditadura.
A Rússia ainda está muito longe, quilômetros distantes, do comunismo. A Rússia, o primeiro país que chegou à revolução e a conduziu vitoriosamente ao fim, será o último país a chegar ao comunismo.
Não, absolutamente não, a Terceira Internacional não é uma Internacional Comunista!
Os bolcheviques chegaram ao poder na Rússia, não graças à luta revolucionária pela ideia do socialismo, mas sim através de um golpe pacífico.
Eles prometerem paz ao povo.
E terra – propriedade privada – aos camponeses.
Isto é como eles tinham todo o povo por trás deles.
E o golpe foi bem-sucedido.
Eles saltaram todo um período, o período de desenvolvimento do capitalismo.
Do feudalismo, cujo colapso começou em 1905 e foi acelerado e completado pela guerra, eles transformaram através de um fantástico salto em socialismo.
Eles pensaram que ao menos a tomada do poder pelos socialistas seria o suficiente para inaugurar uma época socialista.
Eles acreditavam que o poder poderia, de uma forma construtiva, fazer que aquilo crescesse e lentamente amadurecesse como o produto de um desenvolvimento orgânico.
Para os bolcheviques, a revolução e o socialismo eram principalmente um assunto político. Como poderiam tais marxistas excepcionais terem esquecido que se tratava principalmente de um assunto econômico?
A produção capitalista mais madura, a tecnologia mais desenvolvida, a classe operária mais educada, o mais alto nível de produção – para mencionar apenas esses – são as pré-condições essenciais para uma economia socialista e, portanto, do socialismo em geral.
Onde se poderiam encontrar essas condições prévias na Rússia?
Um progresso rápido pela revolução mundial poderá preencher esse vazio. Os bolcheviques têm feito de tudo para desencadeá-lo. Mas, até agora, não aconteceu.
Assim, nasceu um vácuo.
Um socialismo político sem uma base econômica.
Uma construção teórica. Um conjunto de regulações burocráticas. Uma coleção de decretos existentes somente no papel. Uma frase para fins de agitação. E uma decepção terrível. O comunismo russo está suspenso no ar. E permanecerá lá até que a revolução mundial possa criar as condições para sua realização nos países que são os mais desenvolvidos em termos de capitalismo, os mais maduros para o socialismo.
A avalanche revolucionária está em movimento. Ela está se movimentando sobre a Alemanha. Em breve, ela alcançará outros países.
Em cada país, ela encontra relações econômicas diferentes. Uma estrutura social diferente. Tradições diferentes. Em cada país, o grau de desenvolvimento político do proletariado é diferente; a sua relação com a burguesia é diferente; seu método de luta de classe é diferente.
Em cada país, a revolução assume a sua própria aparência. Ela cria suas próprias formas. Ela desenvolve suas próprias leis.
Embora se espalhe como um assunto internacional, inicialmente a revolução é uma questão que diz respeito a cada país e cada povo em si.
Por mais valiosa que a experiência revolucionária da Rússia possa ser para o proletariado de um país, por mais importante que ela seja para o conselho de seu irmão e pelo apoio de seu vizinho, a revolução é seu próprio negócio; ela deve ser autônoma em sua luta, livre em suas resoluções e não deve ser influenciada e constrangida em seu desenvolvimento e exploração da situação revolucionária.
A revolução russa não é a revolução alemã, e esta não é a revolução mundial!
Em Moscou, eles mantêm uma opinião diferente.
Ali, eles têm um projeto revolucionário padrão.
Supostamente, a revolução russa foi bem-sucedida de acordo com esse projeto.
Os bolcheviques conduziram suas lutas de acordo com esse projeto.
Consequentemente, a revolução também deve estar de acordo com esse projeto no resto do mundo.
Consequentemente, os partidos de outros países devem conduzir também suas lutas de acordo com esse projeto.
Nada mais fácil e simples do que isso.
Aqui, temos uma revolução… aqui, temos um partido revolucionário… o que mais é necessário fazer?
Nós tomamos o projeto revolucionário padrão (patenteado por Lênin) de nosso bolso, nós aplicamos… urra! A revolução começa… e boom! A revolução está ganha!
E como aparenta ser este maravilhoso projeto padrão?
“A revolução é interesse do partido. O Estado é interesse do partido. A ditadura é interesse do partido. O socialismo é interesse do partido”.
E mais do que isso:
“O partido é disciplina. O partido é disciplina de ferro. O partido é o poder dos dirigentes. O partido é o mais rigoroso centralismo. O partido é militarismo. O partido é o militarismo de ferro, absoluto, o mais rigoroso”.
Traduzindo concretamente o significado deste projeto:
Logo acima os líderes, logo abaixo as massas.
Acima: autoridade, burocracia, culto da personalidade, ditadura dos líderes, poder aos dirigentes.
Abaixo: obediência cega, subordinação, atenção.
Um sistema de múltiplos mandarins.
Uma liderança do KPD levada ao extremo.
Não é possível aplicar o sistema Ludendorf na Alemanha pela segunda vez, mesmo que ele coloque um uniforme bolchevique.
Não vale a pena falar do método russo de revolução e de socialismo para a Alemanha, ou para o proletariado alemão.
Nós o recusamos. Absolutamente. Categoricamente.
Ele seria um desastre.
Mais do que isso, ele seria um crime.
Ele levaria a revolução à sua ruína.
É por isso que não queremos – nem podemos ter – nada em comum com uma Internacional que impõe, até mesmo pela força, o método russo sobre o proletariado mundial.
Devemos preservar uma completa liberdade e autonomia.
O proletariado alemão fará a sua Revolução Alemã, como o proletariado russo fez a sua Revolução Russa.
A revolução chegará mais tarde.
Ela deve ser enfrentada com muita dificuldade.
Mas, ela chegará ao comunismo mais cedo e de uma forma mais correta.