O Despertar do Leste

Manabendra Nath Roy

15 de julho de 1920


Primeira edição: The Call, em 15 de julho de 1920

Tradução e HTML: Guilherme Corona.

Fonte para a tradução: seção inglesa do Arquivo Marxista na Internet

Direitos de reprodução: Domínio público.


A revolução mundial, para cumprir sua grande missão, deve atravessar as fronteiras dos chamados Países Ocidentais, onde o capitalismo alcançou seu clímax. Até recentemente esta verdade era quase totalmente desconhecida entre os revolucionários da Europa e da América, que, em geral, dificilmente prestavam atenção às condições sociais e econômicas dos asiáticos. Era geralmente defendido que, devido a seu atraso industrial, os milhares de milhões das massas no Leste não contribuiriam em nada na grande luta entre o explorador e o explorado. Consequentemente, o “Mundo” da revolução mundial estava limitado a Europa e a América.

Mas a revolução é o resultado de condições objetivas; ela se levanta do lugar mais insuspeito se lá há forças dinâmicas. O resultado inevitável da opressão é que mais cedo ou mais tarde os oprimidos se rebelam. Isto está acontecendo hoje nos países orientais, onde miríades de trabalhadores, que têm sofrido sob a mesma exploração que os seus mais afortunados e menos esmagados camaradas do Ocidente, têm levado adiante uma luta heroica. O Leste está despertando: e quem sabe se a onda formidável que derrubará a estrutura capitalista da Europa Ocidental não virá de lá. Isso não é um sonho inútil, ou uma maquinação sentimental. O fato de que vitória final da Revolução Social na Europa dependerá grandemente, se não inteiramente, de um levante simultâneo das massas laboriosas do Oriente, pode ser provado cientificamente.

A teoria da superprodução é bem conhecida; e é igualmente bem conhecido e aceito por todos os expoentes da Revolução Proletária que a altamente centralizada organização capitalista desmoronará sob o peso da superprodução. Mas os países europeus onde o sistema de produção em larga escala alcançou a mais alta perfeição têm sido o lar da superprodução por um tempo consideravelmente longo. Mesmo assim, esses países ainda são as cidadelas mais fortes do Capitalismo. A solução fácil para o problema da superprodução eles encontraram na expansão Imperialista – levando seus padrões de exploração para as terras habitadas por povos menos politicamente conscientes do que seus companheiros europeus. Essas possessões imperialistas, ricas em recursos naturais e repletas de mão de obra humana, forneceram aos capitalistas europeus, há mais de um quarto de século, um tremendo super-lucro em troca da superprodução doméstica. Ou, em outras palavras, a expansão colonial se provou um remédio muito poderoso (ainda que apenas preventivo) para a epidemia de superprodução na qual, como Marx previu, o capitalismo perecerá.

Assim como a ascensão da democracia burguesa estava destinada a triunfar sobre o feudalismo na Europa, as massas exploradas deverão eventualmente derrubar o Capitalismo. Ele domina hoje toda a raça humana, e onde ele chegou e se estabeleceu, levou em seu próprio organismo as causas latentes de sua certa destruição. Ele chegou às longínquas colônias e possessões imperiais para escapar do desastre da superprodução. Mesmo os seus mais amargos inimigos, por um longo tempo, falharam em compreender a imperatividade de combater esse movimento estratégico. Durante quase um século o Capitalismo Mundial continuou se revigorando ao sugar o sangue dos trabalhadores das colônias. Mas junto com a espada sangrenta da exploração organizada, ele levou em seu ventre as forças incipientes que estavam destinadas a se levantar contra ele e a construir uma nova sociedade sobre suas ruínas. Hoje essas forças se manifestam na crescente fermentação revolucionária entre os povos orientais, que até outro dia eram considerados fatores irrelevantes na Revolução Mundial. Este despertar do Leste deve abrir a visão nos líderes revolucionários da Europa. Deve-se mostrar a eles a maneira na qual a retirada do inimigo sagaz pode ser interrompida. Um levante formidável dos povos colonizados e “protegidos” tirará do domínio do Capitalismo Imperialista o super-lucro que o ajudou até agora; contra-arrestando os efeitos da superprodução. Se o maior profeta da história humana não se provar errado – se a superprodução for a cova da sociedade capitalista, então a Revolução Mundial deve assumir um caráter mundial. E, vejam, ela está rapidamente encontrando seu caminho para os confins dos países asiáticos habitados pelos povos industrialmente atrasados, por que lá fica o local mais vulnerável da linha inimiga. A disrupção do Império é a única coisa que levará a bancarrota total do capitalismo europeu; e os levantes revolucionários nos países asiáticos estão destinados a levar ao desmoronamento da orgulhosa estrutura imperial do capitalismo. Então, o despertar do Leste é, talvez, o quinto ato da Revolução Mundial.