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Primeira Edição: ....
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
As esquinas perigosas da História, Valério Arcary, 237 pp., ed. Xamã, São Paulo, 2004.
Neste livro que tem por subtítulo “Situações revolucionárias em perspectiva marxista”, este professor de história de São Paulo e dirigente do trotskista PSTU, que viveu entre nós, militantemente, a crise do 25 de Abril, analisa algumas das revoluções sociais e políticas mais importantes do século XX — Rússia, sobretudo, sempre, mas também China, Cuba, Vietname, Nicarágua, Irão, Haiti, Filipinas, Indonésia, Zaire, etc. —, procurando deslindar, pela correlação das forças em presença, as causas do rumo que seguiram.
Na parte final do livro, interrogando-se sobre o futuro, conclui: “Os primeiros três anos do século XXI na América do Sul indicam o começo de uma sexta vaga revolucionária internacional” que promete processos anticapitalistas. No entanto, as intervenções norte-americanas na Jugoslávia, Afeganistão e Iraque estabeleceram “um perigosíssimo precedente de chantagem terrorista sobre a luta dos povos contra o imperialismo”. Reconhecendo “os limites políticos das direcções nacionalistas”, admite que os processos revolucionários estagnem, mas aponta as perspectivas abertas pelo novo internacionalismo que levou milhões à rua em 2003.
Como nota Arcary, o facto de as revoluções do século XX terem sido derrotadas não significa que não ocorram novas vagas revolucionárias. Longe de serem um “fenómeno ‘residual’ de países muito pobres, uma herança tardia do século XIX”, as crises revolucionárias continuarão a realizar as mudanças necessárias às sociedades humanas. O próximo período histórico produzirá “uma nova fase de convulsões sociais, na qual os centros dos impérios dificilmente serão poupados”, embora sendo imprevisíveis a forma e o tempo em que esses fenómenos se revelarão.
Sabendo que isto é indubitável e que, obviamente, “são necessários grandes intervalos de tempo para que a classe trabalhadora possa recuperar-se da experiência de derrotas e consiga gerar uma nova vanguarda”, não vemos todavia como se possam equacionar as perspectivas revolucionárias na época actual sem uma explicação (de fundo, não circunstancial) para as derrotas ocorridas. E aí, não vemos que o trabalho de Arcary, com toda a sua riqueza e argúcia de análise às experiências revolucionárias vividas ao longo do século XX, vá ao fundo da questão: quais os limites económico-sociais que fizeram descambar as “transições para o socialismo” em acumulações capitalistas; que amarraram o proletariado das metrópoles ao reformismo imperialista; que renovam sem cessar a influência do nacionalismo burguês sobre as massas; que esvaziaram o campo do comunismo e estancaram a elaboração marxista revolucionária... Afinal, qual a imaturidade histórica que tem bloqueado a passagem da humanidade ao socialismo e que está a permitir ao capitalismo senil arrastar a humanidade para o poço da barbárie.
Quanto ao resto, mais produtivo do que arrumar os acontecimentos em épocas, situações e conjunturas, construir modelos, identificar padrões, julgamos que será seguir Lenine, para o qual a melhor teoria política da revolução era, como lembra Arcary... a análise concreta de cada situação concreta.
Inclusão | 26/07/2019 |