Europa connosco

Francisco Martins Rodrigues

Maio/Junho de 2004


Primeira Edição: Política Operária nº 95, Maio-Junho 2004

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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Quem tal diria, a velha guerra europeia entre stalinistas e trotskistas prolonga-se na época actual. Mas agora sob a forma caricata de um despique entre “pós-comunistas” e “neotrotskistas”, uns e outros devidamente convertidos aos “valores da nova esquerda”.

Em 8 e 9 de Maio, por iniciativa da Refundação Comunista italiana, reuniu-se em Roma uma conferência destinada a constituir o Partido da Esquerda Europeia, tendo as organizações presentes decidido avançar para a formação do partido a breve prazo. (O BE esteve presente apenas na qualidade de convidado). O problema é que, para que o novo partido seja reconhecido pelas estruturas da UE e receba os competentes fundos, precisa de ter deputados eleitos em pelo menos sete países da União. E isto leva a Refundação, o “irmão mais velho” da família, a dar a sua preferência aos PCs reciclados, que dispõem quase todos de representação parlamentar, deixando de fora os agrupamentos trotskistas, como é o caso da LCR e da Lutte Ouvrière em França.

O Bloco, que se tem esforçado por aproximara Refundação italiana dos partidos trotskistas de França, Inglaterra, Escócia, Dinamarca, vê-se agora colocado perante uma difícil escolha: aderir ao partido europeu em formação significará optar pela ala mais reformista, que navega nas águas da social-democracia (é o caso cada vez mais nítido da própria Refundação); mas constituir um bloco com grupos mais radicalizados, como o Socialist Workers Party, a Lutte Ouvrière, os socialistas escoceses, etc., será marginalizar-se das benesses de Bruxelas. E se Miguel Portas privilegia desde sempre a aproximação à Refundação (Bertinotti esteve em Lisboa não há muito no comício de aniversário do BE), já os trotskistas do Bloco, com destaque para a FER, reclamam que se forme um outro agrupamento, da “esquerda anticapitalista europeia”. Como Portas é o responsável da política externa do BE, se for eleito em 13 de Junho dificilmente deixará de fazer prevalecer o seu ponto de vista. A integração europeia poderá trazer abalos ao interior do Bloco.


Inclusão 21/08/2019