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Primeira Edição: Política Operária, nº 90, Mai-Jun 2003
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
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De todos os espectáculos repugnantes que a onda recente de escândalos nos dá, o menor não é certamente o da hipocrisia bem-pensante de estadistas e comunicadores, que diariamente fazem votos pelo prestígio das instituições e proclamam a sua confiança inabalável na independência e isenção da justiça.
Que um comércio sórdido e odioso como o da exploração sexual de crianças tenha podido prosseguir impunemente durante vinte anos depois de ter sido denunciado na imprensa, e tenha mesmo desde então ganho dimensões ainda mais terríveis eis o que deita por terra todas as pretensões de legitimação moral do regime. É óbvio para todos que ordens superiores mantiveram o caso abafado e que a Justiça “independente” acatou essas ordens. Se neste momento os investigadores “cortam a direito” é apenas porque os ajustes de contas entre os chefes partidários lhes abrem uma porta momentânea.
A longa impunidade dos abusadores de crianças demonstra na prática o que vale o tão exaltado princípio da “justiça igual para todos”: privilégios e segurança para os de cima, privações e ausência de direitos para os de baixo. E assim vai continuar a ser, por muito que nos jurem que, a partir de agora, tudo será diferente. Mesmo que uns tantos depravados sejam condenados, as condições para a repetição de casos semelhantes mantêm-se. As leis não-escritas deste regime são inalteráveis. O direito soberano de exploração do homem pelo homem, que é o verdadeiro pilar do “Estada de direito", contamina toda a vida social.
Inclusão | 18/08/2019 |