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Primeira Edição: Tese apresentada por FMR no “Suplemento ao Boletim Interno nº 1” da OCPO, para ser discutida na reunião de 16 de Junho de 1985 sobre “A experiência do PC(R) e da corrente ML em Portugal”.
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
A partir de 1968, passado o marasmo que se seguiu a destruição da FAF, a influência da “revolução cultural” chinesa, dos movimentos de libertação e guevaristas, dos movimentos radicais na Europa, da reanimação da oposição sob o marcelismo (campanha eleitoral da CDE em 1969) provocou a multiplicação de grupos maoístas entre os estudantes avançados que descobriam o reformismo do PCP.
As condições da clandestinidade e a inexperiência política favoreceram a dispersão e instabilidade desses grupos. Mas isso não chega para explicar a extrema pobreza nos terrenos da propaganda, agitação e organização.
A fórmula do “grupismo caciquista pequeno-burguês” com que o PC(R) caracterizou este período desviou as atenções da sua raiz política pare manifestações derivadas. As guerras entre chefezinhos estudantis de seitas eram produto da pobreza ideológica centrista da corrente ML internacional. Como era impedido um balanço crítico às causas da degenerescência do PCUS, da União Soviética, do MCI e do PCP não se podiam elaborar ideias novas sobre a luta de classes internacional e nacional, sobre o carácter da revolução e a reconstrução do Partido Comunista. Um “marxismo-leninismo” feito da repetição de fórmulas e de proclamações anti-revisionistas criava um terreno propício ao oportunismo. O centrismo foi o principal responsável pelo grupismo.
Cada grupo tinha as suas taras, que o impediam de desempenhar um papel positivo. O CMLP usou o reconhecimento internacional para se intitular Partido Comunista e herdeiro “oficial” do PCP; praticava a abstenção de luta sindical e político, na continuidade das teses “esquerdistas” da “Revolução Popular”; dedicava-se a uma pseudoformação teórica aos quadros. O MRPP negava que alguma vez tivesse existido um partido comunista em Portugal e com isto incapacitava-se para tirar alguma lição da sua experiência; expunha ideias frentistas vulgares sob paragonas vermelhas; propunha-se fazer sair o Partido da “luta de massas”, que na realidade se limitava a um agitativismo fanfarrão. “O Comunista”/OCMLP combinava a agitação populista espontaneista nos bairros pobres com um grande eclectismo ideológico, misturando tendências guevaristas, trotskistas, etc.
Todos os grupos se empenhavam mais em declarar fidelidade aos “mestres” – Lenine, Staline, Mao, Enver – do que em estudar o marxismo-leninismo. Todos se intitulavam a “vanguarda do proletariado” e os restantes como “provocadores”. Todos tinham grande dificuldade em passar além da actividade associativa nas escolas. Todos viviam numa dependência total do maoísmo, sofrendo o abalo das interrogações que começava a despertar a política externa chinesa (Biafra, Nixon, Paquistão, Carrillo, Carrero Blanco, etc).
Isto ajuda a compreender que os grupos não tenham conseguido servir de pólo de atracção para os sectores operários mais radicais do PCP. A agitação dos grupos conseguiu fazer penetrar lentamente no movimento estudantil e num ou noutro núcleo operário a consciência do revisionismo e reformismo do PCP. Mas não conseguiu esboçar uma alternativa comunista coerente. Daí que a corrente ML tenha chegado ao 25 de Abril isolada do movimento operário e minada por fortes tendências direitistas nos três principais grupos (PCPML, MRPP, OCMLP), que se precipitaram com a viragem da China à direita.
Inclusão | 05/09/2018 |