MIA> Biblioteca> Francisco Martins Rodrigues > Novidades
Primeira Edição: Em Marcha, 22 de Julho de 1981
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Tantos motivos de indignação e desprezo nos deu a AD esta semana que a dificuldade é escolhe: o maior.
O cinismo de Morais Leitão, a lançar-nos para cima a nova pacotada dos preços com o argumento de que é para nosso bem? A baixeza do governo, a justificar a carestia com a subida do dólar, a balança de pagamentos, a seca, quando toda a gente sabe que estão a cumprir ordens recebidas por carta do FMI? A desfaçatez do Balsemão, a jurar que a lei das desnacionalizações não é para dar o país aos monopólios e que, se a economia não se endireita, a culpa é do Conselho da Revolução? A desfaçatez do mesmo Balsemão, a pregar moral sobre a austeridade, para fingir que não concordou com o aumento dos deputados? A vigarice do "Tempo", a relatar com todos os pormenores uma reunião do Conselho da Revolução que não tinha chegado a realizar-se? O adiamento sorrateiro do inquérito ao golpe da EPAC, que o ministro Cardoso e Cunha dizia não recear porque tinha as mãos limpas? O decreto a proibir as UCPs e cooperativas de vendar a sua própria cortiça, para lhes apressar a agonia?
O rol de poucas vergonhas consegue bater todos os recordes desde o 25 de Abril. Grande parte daqueles que no ano passado se deixaram enrolar pela banha de cobra da AD percebem agora que se meteram nas mãos do governo dos ricaços e voltam os olhos para a Oposição, à procura de quem nos livre da ladroeira.
Mário Soares? Ainda há dias foi ao Congresso distrital do Porto prometer que as bases do partido serão ouvidos à cerca de qualquer modificação em matéria de alianças, mas... "não nos queiram amarrar as mãos!” Percebem? Duas moções propondo que o PS não faça alianças à sua direita foram rejeitadas por intervenção de Soares. Entendem?
Há ainda o PCP, é verdade, muito duro com as trafulhices do governo. Que esperança por esse lado? A do costume. Cunhal em Braga não foi gago: "Este governo pode ser demitido, pode ser designado um governo de gestão, podem ser convocadas eleições antecipadas”. Mas quem demite, quem designa, quem convoca? Eanes, claro! E em Eanes que vão desaguar todas as esperanças do Cunhal, como as orações dos crentes vão para o céu.
De modo que nos dão a escolher entre pintar a fachada da AD com o PS, especialista em maquilhagens "democráticas”, ou ir buscar outra vez o Nobre da Costa. Fraca escolha! O Balsemão merece enterro melhor. Na rua.
| Inclusão | 04/08/2019 |