A Batalha da Rotunda

Francisco Martins Rodrigues

30 de Junho de 1981


Primeira Edição: Em Marcha, 30 de Junho de 1981

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Caro Dr. Cunhal

Os meus cumprimentos pela estrondosa vitória do seu partido na histórica batalha da Rotunda, no sábado.

Foi de facto empolgante a bravura com que os seus homens investiram, espancando às cegas e rasgando as faixas dos infiéis esquerdistas. Faixas onde se liam provocações intoleráveis, como “Balsemão p'ra rua”, “Fora a NATO”, “Greve Geral”, “O trabalho contra o capital”. Era o que faltava!

A destruição das faixas subversivas na Rotunda enfileira a partir de agora entre os feitos mais gloriosos do seu partido depois do 25 de Abril. Você já tinha o rachanço das greves em Maio de 74, o boicote à manifestação da Lisnave, às vésperas do 28 de Setembro, o apelo de Fevereiro de 1975 para o povo de Lisboa receber com cravos os marinheiros da NATO, a campanha contra a Unidade Popular nas presidenciais de 1976, os conselhos aos trabalhadores da Reforma Agrária para não resistirem, porque “bastará um dia para recuperar tudo, quando vier um governo democrático”... Mas tudo isso foi superado por esta grande luta.

Se quer que lhe diga, quando vi o anúncio oficial da sua presença na manifestação, cheirou-me logo a esturro. Você foi lá para vincar que na CGTP há uma política e uma só — a sua. Você está a jogar todos os seus trunfos para tentar trazer o PS ao bloco eanista. Precisa mostrar que tem na Reforma Agrária e na CGTP uma retaguarda obediente e limpa de revolucionários. A gente compreende.

Mas é um jogo perigoso, doutor, este de pôr trabalhadores a fazer de vulgares capangas, excitar o sectarismo cego, tratar a central sindical como uma secção do PCP. Muita gente, inclusive dirigentes sindicais, está neste momento a querer saber como se gerou o conflito, porque foram destruídas faixas de sindicatos, porquem foram parar ao hospital trabalhadores que gritavam “CGTP, unidade sindical”.

Estas coisas são o diabo, doutor! A CGTP sempre é um bocado maior que o PCP. E ninguém gosta de se sentir manipulado. Sobretudo, há já muita gente farta das minigreves rotativas de duas horas e dos aumentos especiais para as chefias. É isso justamente que dá vida à minoria sindical revolucionária. É ainda uma minoria, é verdade, mas que tende a crescer. E que não vai sair da CGTP, desengane-se!

As suas dores de cabeça ainda agora começaram, doutor.


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha

Inclusão 02/12/2018