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Primeira Edição: Em Marcha, 3 de Outubro de 1980
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Desenha-se com nitidez crescente a derrota eleitoral da AD. Vem ao de cima a aversão do povo pelo governo reaccionário dos ricos. Nesta ponta final da campanha, o que está em jogo é demonstrar ao maior número possível que o voto para a derrota da AD é o voto UDP e não o voto FRS ou APU.
A FRS criou, associada com Eanes, a imagem da alternativa possível de um governo estável. Daí a deslocação para o seu lado de massas hesitantes, desejosas de acreditar nas promessas de Soares.
É preciso repetir que o PS no governo recomeçará a mesma política de direita que tem feito até hoje. Forçosamente. Porque nova Constituição, estímulo aos investidores, lei Barreto, “não retaliação”, NATO, CEE — é o mesmo programa de restauração do grande capital, cujos representantes mais fiéis são o PPD e o CDS.
O PS quer pois a derrota eleitoral da AD para a forçar a um entendimento. O “pacto de regime” anteontem proposto por Soares e as ofertas de Jaime Gama preparam um acordo de centro-direita, essencial ao PS para governar.
Não ó justo que o povo tenha de sofrer a prova de novo governo de direita sob cores socialistas para perceber que foi de novo enganado. Cabe-nos explicar agora que o voto anti-AD não deve ser na FRS.
Muitos trabalhadores e democratas esperam que a APU funcione como força de vigilância e defesa das liberdades e conquistas. É um engano que deve ser desfeito.
O PC, cuja oposição à AD tomou tons radicais (sempre dentro da ordem), vai a partir de agora regressar à oposição colaborante que fez aos anteriores governos. Vai espalhar a ilusão de que o PS pode mudar de política e pedir que as movimentações dos trabalhadores não comprometam a sobrevivência do governo para "não fazer o jogo da reacção". É a política do cheque em branco. Isto porque o PC não tem uma alternativa de mudança do regime.
É o que vão descobrir milhares de trabalhadores e antifascistas quando passar a euforia da vitória sobre a AD. Poupar-lhes esse logro é explicar-lhes agora que o voto anti-AD não é na APU.
Pedimos o voto na UDP, não apenas como manifestação de simpatia pela inteireza e desassombro de um pequeno partido de esquerda, mas para introduzir uma dinâmica nova na política nacional: fazer entrar na Assembleia um grupo parlamentar revolucionário que torne impossível o recomeço do jogo — PS a reboque da direita, PC a reboque do PS — jogo que entrega nas mãos da reacção os destinos do povo português.
É preciso pôr por cima dos 130 mil votos de Dezembro mais 40, 50 mil votos UDP. Votos firmes contra a AD. Votos úteis na liberdade. Votos no caminho popular. Votos que marcarão o declínio irrecuperável da política novembrista que há cinco anos assaltou o Portugal de Abril.
Inclusão | 06/09/2019 |