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Primeira Edição: ....
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
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Caso único, a morte do velho marechal Tito conseguiu unir no mesmo pesar os patrões da política mundial. Todos se inclinam perante "o ultimo dos grandes estadistas", “o campeão do socialismo descentralizado, do não-alinhamento e da paz". O homem da rua, pasmado, cogita que “muito bom devia ser esse tal Tito para não haver quem lhe atire uma pedra". Mas a verdade é bem outra. A cena de lagrimas em Belgrado, como todas as cenas edificantes deste mundo podre, esconde interesses sujos.
Que a obra de Tito na Jugoslávia não tem nada a ver com socialismo, é facto que não precisa de grandes demonstrações. A não ser que se chame socialista a um regime onde prosperam os empresários, onde os patrões do campo têm milhões de hectares, onde há 735 mil desempregados inscritos, 800 mil emigrantes e uma inflação de 20% ao ano. Socialismo jugoslavo? Não brinquemos.
Que o marechal Tito vendeu a Jugoslávia ao FMI (ou seja, aos Estados Unidos) por um acordo celebrado em 1951, é um facto histórico que não vale a pena discutir. Quem tiver dúvidas, vá ver os escritórios das multinacionais instalados em Belgrado.
Que o presidente Tito, desde então, não contribuiu para a vitória de quaisquer insurreições populares ou guerras de libertação mas, pelo contrário, passou a agir como alcoviteiro do imperialismo, minando o socialismo e arrastando os pequenos países para o laço das "ajudas" dos EUA, é outra evidência bem documentada na história dos últimos 30 anos. Falemos da contra-revolução húngara, da morte de Lumumba, da venda de Sadate, da farsa da "nova ordem internacional".
Sem dúvida, Tito pregou bastante a favor da paz, do neutralismo, da repartição equitativa das riquezas. Como os Papas. Pregou a mudança para que tudo continue na mesma. Por isso a sua morte se assemelha tanto à morte de um Papa. A mesma romaria de chefes de Estado do Ocidente e do Leste, o mesmo coro de lamentações compungidas e hipócritas. Aos que estão por cima convém manter o mito, para iludir os que estão por baixo.
Neste 13 de Maio, quando a Igreja celebra com pompa mais um aniversário da aparição de Fátima aos pastorinhos, apetece dizer: desconfiem dos milagres. O milagre de Tito, como o da senhora de Fátima, é falcatrua.
Inclusão | 17/05/2018 |